terça-feira, setembro 30, 2008

Esperança e Valor



Uma esperança que não finda
Uma fé que tudo vence!
Um valor mais alto ainda
Um só nome: Barreirense!

(Jorge Soares)



Em 11 de Abril de 2008, recebi o Emblema de Ouro do Futebol Clube Barreirense (FCB) – o meu clube de sempre.
Não esquecerei aquela noite. Jamais!
Sei o que significa completar 50 anos de filiação e paixão clubista.
Tenho plena consciência da responsabilidade que assumo quando:
- evoco o nome do FCB
- participo nas votações em Assembleia-Geral
- aplaudo ou critico os Dirigentes que ajudei a eleger
- questiono o futuro do meu clube.
Darei sempre ao FCB aquilo que em cada momento for capaz.

Mas conheço hoje – bem melhor que há algum tempo atrás – os limites impostos à minha participação e ao meu tributo.
Realizam-se hoje duas Assembleias-Gerais (Extraordinária e Ordinária) de enorme importância para o presente e o futuro do FCB.
Espero contribuir esta noite – uma vez mais – para a Democracia, a Transparência, o Crescimento e a Perenidade do FCB.

Um e dois e três...

Três anos de vida…
Uma ideia. Um propósito.
Por construir. Por alcançar.
O melhor da Noite Barreirense.
Onde gostamos de estar.
Onde somos felizes.
Parabéns, BeJazz Cafe!

segunda-feira, setembro 29, 2008

Memória Barreirense (II)



“Não há um princípio para as coisas e para as pessoas,
tudo o que um dia começou tinha começado antes”
José Saramago

Não estivesse eu vigilante ao cumprimento da promessa de rigor feita a quem me lê, afirmaria sem desassossego que a minha ligação umbilical ao Futebol Clube Barreirense (FCB) começou poucas horas depois de cortado o cordão. De facto, ainda eu não completara metade de dia vivido, já o meu progenitor sentia o apelo da sua paixão clubista, e acrescentava mais um elemento à massa associada do FCB. Não surpreende então que, desde pequeno, tenha acompanhado o meu pai nas emoções domingueiras dos jogos da equipa de futebol e nas conversas de café – da tertúlia sedeada no nosso mítico Ginásio-Sede.
Conheci grandes Adeptos e grandes Dirigentes. Com eles vivi, em camarotes, bancadas e peões deste Portugal, algumas das gloriosas subidas à I Divisão, a vitória na Taça Ribeiro dos Reis, a participação na Taça das Cidades com Feira. E com eles comemorei algumas das inesquecíveis proezas do basquetebol sénior, como a Taça de Portugal conquistada em Almeirim, e muitas das vitórias dos escalões mais jovens.
Mais tarde, completada a minha licenciatura, António Martins Tonicha disse-me algumas vezes: “o Doutor tem de ser Director” e “o Doutor ainda há-de ser Director”. Eu, sorria… convicto da dificuldade em conciliar o meu percurso académico-profissional, com as tarefas e as responsabilidades de tão nobre quão exigente missão. Tempo para o ‘Manuel de Mello’ e para o Ginásio-Sede ainda se ia arranjando. Mas para mais…
Até que em 2004 a ‘coisa’ aconteceu. Num momento difícil para o FCB, em particular na relação entre as duas modalidades mais representativas – o futebol e o basquetebol –, aceitei levar até às últimas consequências o desafio que dirigira ao Presidente da Direcção numa Assembleia-Geral tensa, mas para mim memorável. E integrei a lista de Manuel Lopes, como Vogal da Direcção. Na noite de 21 de Julho, em dia de aniversário do meu filho, tomei posse. E jurei “cumprir com lealdade as funções que me foram confiadas”.
Completei 50 anos em Maio último. O que significa que sou Barreirense há 50 anos. Barreirense de nascimento e residência. Barreirense de filiação clubista. Quando receber, em 11 de Abril de 2008, o Emblema de Ouro do FCB, sei que uma emoção muito forte me percorrerá. Que uma alegria imensa brotará de mim. Vai ser bonito. Muito bom!
Aprendi, desde relativamente cedo, que Amizade significa Dar e Receber. A minha relação com o FCB é, foi sempre, muito para além de uma relação de Amizade. É, sempre foi, uma relação bem mais complexa. Recheada de Amor e de Paixão. Temperada pelas Vitórias e pelas Derrotas. Aprofundada por inesquecíveis momentos de Comunhão e Fraternidade. Enriquecida pelos Grandes Barreirenses que conheci, por contacto directo e pessoal, e pelo relato, oral ou escrito, dos que com Eles e Elas conviveram.
Num momento tão expressivo da minha vida, quis oferecer uma prenda ao meu Barreirense. E concebi este livro. É uma “prova devida”. Simples e despretensioso. Falarei de pessoas e de factos. Vitórias e derrotas. Alegrias e tristezas. Encontros e desencontros. Ilusões e desencantos. Amores e raivas. Uma “prova de vida”, sobretudo do clube, mas também minha. São estórias e memórias que vivi directamente, numa parte significativa, e que salpiquei com breves referências de carácter histórico do FCB, do Barreiro e de Portugal, para um necessário, e julgo que enriquecedor enquadramento do texto, sem exigências científicas, mas com um sincero esforço de rigor e exactidão.
Com António Torrado da Silva, um dos meus Mestres da Medicina, aprendi que “se deve dizer a verdade, apenas a verdade, mas nem sempre toda a verdade”. Foi o que procurei fazer. Julgo ter sido suficientemente verdadeiro. Mas, aqui e acolá, fui prudente na mensagem e comedido no adjectivo. Sem auto-censura, mas com sentido dos limites e das responsabilidades. Procurei uma escrita simples e leve, interessante e atraente. Empenhei-me, tanto quanto me foi possível, numa descrição e interpretação objectivas, dos personagens e das situações. Mas o comentário e a opinião também ocuparão o seu espaço. A subjectividade aí está, mais ou menos presente e intensa. Explicável, em boa medida, pela intensidade, o coração com que tantas vezes me embrenhei, quiçá excessivamente, nos acontecimentos. Falarei sobretudo do passado e da actualidade. Mas o futuro, que já começou, também estará presente. Com o propósito, firme e convicto, de desafiar os Barreirenses para uma reflexão séria, profunda e participada, acerca do clube que escolhemos como nosso, e que tanto amamos.
Espero que as descontinuidades e as oscilações cronológicas que caracterizam a estrutura do texto sejam bem compreendidas e aceites por todos. Alguns erros, inexactidões ou omissões, estarão inevitavelmente presentes neste trabalho. Os leitores não duvidarão que são involuntárias, e saberão certamente desculpar-me; assim como os protagonistas dos factos e das vivências que aqui descrevo.
Integrei alguns textos publicados nos últimos anos: no Jornal do Barreiro e em Rostos, órgãos de Comunicação Social dirigidos respectivamente por Miguel de Sousa e António Sousa Pereira, que têm prestado relevantes serviços ao Barreiro, ao Desporto e ao FCB; nos fora LCB.PT (entretanto extinto) e BasketPT; em http://www.fcbarreirense.pt/ (sítio
oficial do basquetebol do FCB) e na revista Barreirense Basket, de que fui Director. Desses textos conservei, quase sempre, a sua forma original. Apenas efectuei, pontualmente, pequenos ajustes, correcções e actualizações.
Este trabalho resultou de um forte impulso pessoal. Mas não teria sido possível sem o encorajamento e a contribuição do Ricardo Calhau e do Jacinto Nunes. Sem a compreensão de Vítor Serpa e Miguel de Sousa, que disponibilizaram os arquivos de A Bola e do Jornal do Barreiro. Sem a colaboração da Biblioteca Nacional, que me permitiu a consulta de jornais e revistas do seu vasto e riquíssimo espólio. Sem a leitura de obras como O Barreiro Contemporâneo (Armando da Silva Pais), 70 Anos de Vida do Futebol Clube Barreirense (José Rosa Figueiredo) e História do Basquetebol em Portugal (Albano Fernandes). E, sobretudo… sem os Barreirenses!
A todos, o meu Agradecimento.
Termino com palavras belas e generosas de César Oliveira (Os Anos Decisivos, Editorial Presença, 1993): “Este livro é, antes de mais, a história de um tempo que é a minha própria pele, o ‘sangue do meu sangue’, o meu próprio percurso por dentro de uma vida que foi sempre, mais do que algo de colectivo, uma vida-com-os-outros-que-fizeram-o-meu-próprio-tempo”.


[Prefácio do livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]

Mend(t)es


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"Mudar de vida – propostas para um país mais ético, justo e competitivo".
Assim titulou Marques Mendes o seu livro publicado no passado dia 25. Poucas horas depois de ter identificado a obra na montra de uma livraria, fui confrontado com declarações do jornalista Mário Crespo a uma estação de rádio. Afirmações graves, que, se totalmente verídicas – e nada me indicia o contrário – configuram pressões ilegítimas e inaceitáveis do antigo ministro de Durão Barroso sobre a redacção e os responsáveis editoriais da RTP.
Este é o mesmo indivíduo que vem agora propor um “país mais ético”. E que, qual Pedro Santana Lopes, também vai andar por aí.
A última edição do Expresso, na rubrica “Altos… e baixos”, da responsabilidade de João Garcia, concedeu uma valoração positiva a Marques Mendes. Escreveu o jornalista a dado passo: “Podem tentar pedir-lhe responsabilidades pelo passado, mas esse é o caminho fácil. Mais aconselhado é lerem bem o livro para lhe fazerem exigências no futuro”.
Futuro?
Portugal passa bem sem políticos desta estirpe. E agradece que se dediquem antes às suas muito respeitáveis actividades profissionais.
Dedicação à causa pública é certamente outra coisa. Prestação de serviço público não é com certeza isto.
Marques Mendes já tinha “boa imprensa” no Sol de José António Saraiva e José António Lima.
Só faltava agora o Expresso trilhar o mesmo caminho…
a

domingo, setembro 28, 2008

Memória Barreirense (I)


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Os livros e as cidades criam raízes em torno de marcas identitárias. Em tempos de globalização em que o nosso bem-estar pode ser ameaçado pela má disposição de um emir do petróleo, pelo dumping social de qualquer tigre longínquo ou pelo bater de asas de uma borboleta nos antípodas, é ainda mais importante a ligação a raízes culturais, linguísticas, ou religiosas, locais ou nacionais.
O fenómeno desportivo constitui um elemento singular de socialização, de sublimação das energias outrora dispendidas em conflitos tribais, de promoção de práticas de vida saudável ou de mobilidade social.
Também aqui a dialéctica global/local se faz sentir de forma impressiva. Nunca como hoje a multiplicação mediática dos canais desportivos e do espaço na comunicação social generalista cria fenómenos universais em torno do Real Madrid ou da NBA, de Cristiano Ronaldo ou de tão eficazes quanto sedutoras tenistas russas.
Mas a dimensão humana exige um espaço de proximidade, apela à auto-estima pelas raízes do nosso local de origem ou de adopção.
O Futebol Clube Barreirense é uma peça fundamental da idiossincrasia única deste nosso espaço à Beira Tejo. De uma terra nascida da relação com o rio, da abertura aos vastos espaços a sul, primeiro de colonização romana, depois da agricultura e da tecnologia árabe, mais tarde terra da Ordem de Santiago, o Barreiro conquistou nos sécs. XIX e XX características únicas associadas à sua localização privilegiada e ao desenvolvimento do que chegou a ser o maior pólo industrial da Península Ibérica.
As decisões de localizar aqui o terminal da linha ferroviária de Sul e Sueste, na segunda metade do séc. XIX, e de instalar a CUF em 1908 marcaram o destino de um caso único no contexto social português assente numa cultura de academia operária, em que a dimensão associativa constitui parte dos rituais de identificação, que fazem com que um barreirense nunca diga que é de Lisboa e só supletivamente se identifique com os clubes da cidade vizinha da margem norte do Tejo.
Fundado em 1911 o Futebol Clube Barreirense insere-se na história de uma vila que passou de oito mil habitantes em 1900 para 88 mil em 1981, que chegou a ter cinco bandas de música, vários teatros em actividade e caso único para além de Lisboa, três equipas nas duas principais divisões de futebol nos anos 60.
Podemos olhar como referências para Álvaro Velho ou Alfredo da Silva, Henrique Galvão ou Augusto Cabrita, mas sem a gesta heróica da construção do Ginásio-Sede, sem José Augusto, Albino Macedo, Chalana ou Betinho o nosso coração bateria a um ritmo diferente, o nosso imaginário seria mais pobre. Estamos a poucos anos de celebrar um século de percurso comum feito com o suor de tantos corticeiros, ferroviários e operários têxteis, metalúrgicos ou químicos. De tantos filhos adoptivos, sobretudo alentejanos e algarvios, que aqui procuraram trabalho e se fixaram recusando cruzar o Tejo. Esta terra que produziu a sua pequena elite orgulhosa das suas raízes, de Dulce Cabrita a Maria de Lurdes Resende, de Armando da Silva Pais ou Manuel Cabanas a Daniel Cabrita, de Manuel Figueira a Isabel do Carmo, de Alzira Seixo a Kira, para não falar na geração que me é próxima, de Octávio Ribeiro ou de Fernando Sobral, foi também a origem ao longo do século XX de uma escola de talentos desportivos.
Este livro de Paulo Calhau é um exemplo notável desta alma barreirense, escrito por um filho da diáspora algarvia que investiu na formação, que se distinguiu pelo seu brio como estudante, pela sua dedicação como médico, pelo seu empenhamento cívico, mas que não se sentiria completo sem a dádiva de emoção de 50 anos de filiação barreirense.
O texto a descobrir, esta “PROVA DeVIDA”, tem a marca do amigo mais velho que aprendi a admirar na nossa juventude na Verderena e nas tertúlias de estudo e de discussão política, desportiva e social do velho café Bonanza. O Paulo Calhau sempre se destacou pelo rigor da palavra, a discrição na afirmação pessoal e pela entrega solidária, primeiro aos amigos, mais tarde às crianças na sua vivência clínica na qual manifestou também a sua honradez e invulgar dedicação ao espírito de serviço público.
As memórias deste livro são as do Paulo, mas muitas são de toda a nossa geração. Uma história que nos antecede e de que ele faz parte desde o dia do nascimento, é a do Barreiro, a do Futebol Clube Barreirense, um fresco de leitura irresistível sobre as glórias e as tristezas com um pano de fundo das profundas transformações porque passaram, a cidade e o clube, ao longo de 50 anos tendo pelo meio a marca indelével do 25 de Abril.
Tenho com o Barreirense uma relação de paixão tranquila que nunca teve o empenho desportivo, emotivo e a dedicação do Paulo Calhau. Quis o acaso ser desafiado para aliar a participação cívica como então Presidente da Assembleia Municipal do Barreiro, à Presidência da Mesa da Assembleia Geral do Barreirense, em tempos que se vieram a revelar de decisões complexas e dolorosas para o futuro do Clube. A intervenção do Paulo Calhau na Assembleia Geral de 17 de Março de 2004, o testemunho que deu de paixão e rigor pela terra e pelo clube, marcaram de forma decisiva o empenho de um grupo que se revelou essencial para a salvaguarda da identidade desportivamente plural do Barreirense.
Com a sua participação activa Paulo Calhau teve uma voz serena mas firme para que decisões como a venda do D. Manuel de Mello, a definição dos futuros espaços desportivos ou o papel da escola de formação de basquetebol, fossem partilhadas por muitos, mas sobretudo fossem responsabilidade de todos.
A experiência directiva do Paulo Calhau no Barreirense correspondeu ao seu exemplo de vida com uma dedicação extrema ao interesse colectivo, deixando para trás as preocupações pessoais, profissionais ou familiares. O basquetebol consolidou-se como caso invulgar de sucesso nos escalões de formação, a presença na Liga foi garantida, entre Sevilha e Madrid a maior confirmação do Eurobasket foi Betinho, falta ainda reforçar os alicerces, escorar o edifício, assegurar o futuro.
Este livro é um testemunho maduro de meia vida, prova de um coração e inteligência barreirenses. É uma manifestação de generosidade com a qual todos aprendemos muito e nos reencontramos em algumas páginas, é um testemunho pessoal, não um ensaio ou uma tese de historiografia desportiva.
Para mim, que tenho a sorte de ter o Paulo por amigo há mais de trinta anos foi com surpresa e emoção que recebi este inesperado desafio para prefaciar uma parte das nossas histórias e destino em comum.
Este livro é uma merecida prenda para o quase centenário Barreirense e a certeza de que continuaremos a contar com o amigo, o cidadão, o autor… obrigado Paulo Calhau.

[Prefácio de Eduardo Cabrita ao livro
PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]

a

Comunismos

“Cada coisa tende a dividir-se em dois. As teorias não fazem excepção: também tendem a dividir-se. Por todo o lado onde existe uma doutrina revolucionária científica, a sua antítese, uma doutrina contra-revolucionária e anticientífica surge necessariamente do seu desenvolvimento.”
Chu Yang


A polémica começara antes, mas foi em 1960 que assumiu uma dimensão pública. Refiro-me à disputa político-ideológica entre o Partido Comunista Chinês (PCC) e o Partido Comunista da União Soviética (PCUS), à data os dois maiores partidos comunistas no poder.
A publicação em Abril de 1960 de VIVA O LENINISMO! – conjunto de três textos parcialmente escritos por Mao Zedong e publicados na revista teórica Hongki e no jornal Renmin Ribao criticando a política externa soviética – foi o mote para uma hostilização dos chineses para com a União Soviética e os seus aliados, que se acentuou progressivamente e não mais cessou.
É justamente o período inicial do conflito sino-soviético, a sua repercussão no movimento comunista internacional, a emergência dos movimentos marxistas-leninistas pró-chineses e pró-albaneses e a génese da primeira organização política portuguesa com estas características – a Frente de Acção Popular / Comité Marxista Leninista-Português – que O UM DIVIDIU-SE EM DOIS, o mais recente livro de José Pacheco Pereira (JPP), aborda ao longo de cerca de 180 páginas, numa edição da Alêtheia.
Possuidor da maior biblioteca privada portuguesa – recheada de mais de 60.000 volumes – JPP dedica há muito tempo uma atenção particular ao estudo do comunismo, sendo que um dos seus blogues tem precisamente essa designação. JPP publicou já uma interessante bibliografia sobre esta temática, de que destaco os primeiros três volumes de ÁLVARO CUNHAL – UMA BIOGRAFIA POLÍTICA, aguardando-se a publicação do quarto e julgo que último livro dessa magnífica série, cuja leitura me permito sugerir-vos.
O UM DIVIDIU-SE EM DOIS é uma pequena parcela da tese de doutoramento que JPP vem preparando, dedicada à história do radicalismo de extrema–esquerda, entre 1964 e 1974. Sustentado numa vasta pesquisa bibliográfica, o livro abrange o período compreendido entre 1960 e 1965, quando os chineses passaram a classificar as orientações soviéticas acerca da guerra nuclear e da luta de classes como “reaccionárias” e “revisionistas”.
A Conferência dos Partidos Comunistas (Moscovo, Novembro-Dezembro de 1960) foi o primeiro fórum internacional onde as posições do PCC (apoiadas pela Albânia de Enver Hodja) se digladiaram com o PCUS (apoiado pela maioria dos partidos comunistas). A repercussão das divergências não se fez esperar no seio do movimento comunista, onde emergiram vozes e movimentos alinhados com as orientações sino-albanesas. JPP dá particular realce às cisões verificadas um pouco por todo o mundo, do Brasil (João Amazonas) à Bélgica (Jacques Grippa), passando pela França (Jacques Jurquet) e por outras dissidências de maior ou menor expressão. Um dos aspectos mais estimulantes deste livro é a chamada de atenção de JPP para o facto de a emergência do conflito sino-soviético – fortemente decorrente da vitória de Krutchev no XX Congresso do PCUS (Fevereiro de 1956) – ter coincidido com um período muito crítico e conturbado do Partido Comunista Português (PCP), com a luta de Álvaro Cunhal contra o chamado “desvio de direita” protagonizado pela direcção de Júlio Fogaça, numa disputa que nas palavras de JPP “colocava, em teoria, o PCP e Cunhal mais próximos das teses chinesas do que das soviéticas”. Entretanto, Francisco Martins Rodrigues – funcionário do PCP, militante do partido desde 1951, e integrante do grupo de dirigentes que se evadiu da cadeia de Peniche com Álvaro Cunhal em Janeiro de 1960 – aderiu às teses sino-albanesas, foi expulso do PCP (Dezembro de 1963) e veio a constituir em Paris (Março de 1964) com Ruy d´Espinay e João Pulido Valente, a Frente de Acção Popular (FAP) e o Comité Marxista-Leninista Português (CMLP). A prisão de Francisco Martins Rodrigues e dos seus camaradas (Janeiro de 1966) determinou o desmantelamento daquela que foi a primeira organização de extrema-esquerda em Portugal.
O UM DIVIDIU-SE EM DOIS é um livro muito interessante, bem organizado, escrito de forma escorreita e facilmente compreensível – como é apanágio do seu autor. Constitui uma obra compreensivelmente atractiva para sectores relativamente restritos, interessados no aprofundamento do conhecimento e estudo do comunismo. Mas com indiscutível interesse histórico. É, nessa perspectiva, e na minha modesta opinião, mais uma excelente contributo de JPP.


[UM LIVRO DE QUANDO EM VEZ, 04/9/2008 www.rostos.pt]

Futebol a preto e branco


No passado fim-de-semana, durante a transmissão do Bolton-Arsenal (Liga Inglesa de Futebol) − partida que fui visionando aos fogachos enquanto escrevinhava alguns apontamentos − os adeptos da equipa caseira evidenciaram uma vez mais o amor da “Pátria de Sua Majestade” pelo chamado “Desporto-Rei”.
A derrota ao intervalo − desfecho que veio a confirmar-se no final da contenda − longe de desanimar ou afastar os supporters daquela cidade britânica noroestina integrante da área metropolitana de Manchester, estimulou-os para um apoio permanente e incondicional à sua equipa, ao longo de toda a etapa complementar, inclusivamente quando os “londrinos” sentenciaram o jogo com um segundo golo obtido quase ao “cair do pano”.
Fantástico!

Menos de vinte e quatro horas depois, no mesmo continente, mas em Portugal, vimos o reverso da medalha.
Na noite de domingo, as imagens do jogo Naval-Trofense, transmitidas num resumo televisivo, revelaram a pequena claque da equipa da Trofa descontente com o rumo dos acontecimentos, acenando lenços brancos ao treinador da sua equipa, António Conceição.
António Conceição que na época transacta fora um dos responsáveis pelo sucesso, que resultara na subida ao escalão máximo do futebol português − proeza que aquele pequeno clube nunca alcançara ao longo dos seus setenta e oito anos de história.
António Conceição que num curto lapso de tempo passou − à boa maneira lusitana − de herói a vilão. Decorridas três (!) escassas jornadas da Liga 2008-2009.
Lamentável!

Os adeptos e os associados dos clubes portugueses são recorrentes neste tipo de comportamentos. São useiros e vezeiros na insensibilidade que revelam quanto à realidade concreta do país, dos clubes que “apoiam”, das estruturas débeis em que estes se suportam e das conjunturas difíceis. Tudo isto parece que preferem ignorar.
São insensíveis e censórios. Quando deveriam ser conscientes e solidários.
Oferecem um chouriço e pedem um porco.
Exigem direitos, mas esquecem os deveres.
Triste sina!!!

[DESPORTO À PORTUGUESA, http://www.rostos.pt/]

sábado, setembro 27, 2008

Os limites da tolerância


Muitos dos processos de construção – individuais e colectivos – em que nos empenhamos ao longo da vida, não são isentos de escolhos e dificuldades. Estão baseados e suportados em valores de confiança, lealdade e partilha. São percursos lentos, complexos, contraditórios. A inveja e o ciúme que por vezes despertam e estimulam, não podem – não devem – fazer-nos vacilar e desistir. Bem pelo contrário. Sobretudo quando estamos conscientes e convictos da sinceridade e da grandeza dos nossos propósitos. É nossa obrigação, nesses momentos, seguir em frente – sem medos e sem tergiversações.
A aceitação do comentário e da crítica são fundamentais no processo criativo. São dialecticamente correctores dos nossos erros de análise. São promotores de novos contributos. São estimuladores de outras concepções e de práticas mais adequadas.

Mas, quando a crítica se torna permanente, obsessiva, destrutiva e atentatória do bom-nome e da honra… Desagrega, distancia, devasta.
“Tudo compreender é tudo perdoar”. Citei Jean Paul Sartre recentemente, noutro local e noutro contexto. Defini aquela expressão como “fantástica e simples (apenas na aparência)”. Reafirmo-o! Mas por vezes há limites. Que fazer então?

sexta-feira, setembro 26, 2008

Inquietação

A cópia é quase sempre pior que o original.
Inquietação por JP Simões é simplesmente diferente.
Sem a alma de José Mário Branco. Mas ainda assim com muito encanto.
Aqui vos deixo as palavras. Mas sugiro uma audição.

A contas com o bem que tu me fazes
A contas com o mal por que passei
Com tantas guerras que travei
Já não sei fazer as pazes

São flores aos milhões entre ruínas
Meu peito feito campo de batalha
Cada alvorada que me ensinas
Oiro em pó que o vento espalha

Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Ensinas-me a fazer tantas perguntas
Na volta das respostas que eu trazia
Quantas promessas eu faria
Se as cumprisse todas juntas

Não largues esta mão no torvelinho
Pois falta sempre pouco para chegar
Eu não meti o barco ao mar
Pra ficar pelo caminho

Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei

Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei

Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Mas sei
É que não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer
Qualquer coisa que eu devia resolver
Porquê, não sei

Mas sei
Que essa coisa é que é linda


[José Mário Branco, Álbum Ser Solid(t)ário, 1982]

Frio no Alaska

Reaccionária nos costumes. Conservadora na ideologia.
Charmosa no estilo. Óculos na moda.
Primeiro o basket e os concursos de beleza. Depois o jornalismo e o serviço público. Finalmente a política.
Em Novembro, se fosse americano, eu votaria. Para que a Sra. Sarah Palin dedicasse mais tempo - como parece gostar - à caça e à pesca.

Bolor

Fiel a velhos dogmas ideológicos e a práticas claramente desmistificadas pela História, o PCP vem agora reproduzir nas Teses ao XVIII Congresso - ontem publicadas no Avante e sumariamente divulgadas no Público - um conjunto de ideias, análises, concepções e propostas que constituem um repetido e cansativo dejá vu.
Defender que as décadas de 80 e 90 marcaram a derrota do socialismo é uma enorme mistificação - a União Soviética não era, como nunca foi, um país socialista.
Advogar que Cuba, China, Vietname, Laos e Coreia do Norte são o paradigma contemporâneo da construção do socialismo é hilariante. E, mais grave, atentatório do pensamento democrático.
Apetece perguntar: pode um partido com os fundamentos ideológicos do PCP aspirar a ser sufragado pelo povo português e constituir-se como Governo da República?

Por mim respondo: Jamais

quinta-feira, setembro 25, 2008

Parabéns!

ROSTOS
Seis anos de vida.

De crescimento.
De descoberta.
De afirmação.

Muitos mais virão.
Parabéns!

quarta-feira, setembro 24, 2008

Não me batas mamã

Tarde quente de Agosto.
Carolina [nome fictício], 8 anos, entra de mão dada com o irmão Jaime [nome fictício] numa esquadra da GNR.
Cansada das agressões maternas – recorrentes – e marcada no dorso e nas coxas – mais uma vez – por um cinto que a maltrata.
Com coragem e, dizem-me, com grande serenidade e frieza, denuncia a sua mãe.
À chegada à urgência hospitalar, Carolina impressiona. Pela força que revela, pela tranquilidade que transmite, pela maturidade que demonstra.
Afortunadas circunstâncias permitiram um desenlace rápido e feliz. E ao terceiro dia, Carolina e Jaime abandonaram o refúgio que lhes deu carinho e protecção.
Conhecerão um novo tecto. Na família. Com a mãe mais distante(?) mas não renegada.
Correu bem!
Não foi assim doutras vezes…

a

África


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Deposto Thabo Mbeki, o Congresso Nacional Africano designou Kgalema Motlanthe como Presidente da África do Sul.
São-lhe atribuídas qualidades de moderação – necessária pela conflitualidade existente entre as duas principais facções do partido maioritário.
Até aqui tudo bem.
Mas Jacob Zuma fica à espreita, para um lugar “há muito prometido”.
E isso preocupa Desmond Tutu – Prémio Nobel da Paz.
Eu… também fico preocupado.

a

terça-feira, setembro 23, 2008

Crise


a
No fim dos "anos 90" a Esquerda europeia detinha importantes posições no xadrez político continental.
Protagonizados, entre outros, por Tony Blair, Lionel Jospin e Gerhard Schröder, onze dos quinze países então integrantes da comunidade Europeia eram de orientação social-democrata.
No último ano foi a derrocada em Itália, Irlanda, Bélgica, Polónia, Dinamarca, Grécia, Estónia e Finlândia. Salvou-se a Espanha de Zapatero.
Se excluirmos a Alemanha e a Áustria – com governos de coligação entre social-democratas e conservadores – persistem governos com matriz de esquerda social-democrata em apenas sete dos restantes vinte e cinco países da União Europeia.

É esta realidade e a análise de algumas das suas causas, que Marion Van Renterghem desenvolve de forma sintética mas muito interessante na edição de hoje do prestigiado Le Monde.
Escreve a articulista: “La crise de la social-démocratie n'est pas seulement une addition de cas particuliers. Elle est d'abord identitaire. Son malaise est une question: comment la gauche peut-elle à la fois conserver son idéologie et son génie propre – création de l'Etat providence, justice sociale, redistribution des richesses – et intégrer une économie de marché bousculée par la mondialisation et les migrations internationales? La gauche plus libérale a sa réponse: la social-démocratie reste paralysée par la surestimation du rôle de l'Etat, quand celui-ci peine à se financer. La gauche radicale, encouragée par les ratés du capitalisme et maintenant par la crise financière, a sa réponse: la social-démocratie s'est perdue en cédant passivement aux sirènes libérales. Entre les deux, les sociaux-démocrates se cherchent à tâtons dans le noir. … Leur politique économique, en voulant s'adapter à la mondialisation, ne les distingue plus d'une droite pragmatique qui, de son côté, tend à se libéraliser sur les questions sociétales. Une droite qui sait maintenant proposer, analyse l'historien Marc Lazar, "un ensemble de valeurs contradictoires mais présentées de manière cohérente: individualisme et compassion sociale, libéralisme et protectionnisme, modernité et tradition, sécurité et lutte contre l'immigration". Une droite qui sait aussi habilement chiper à la gauche ses marques identitaires, comme l'écologie ou la justice sociale”.

Não há aqui qualquer originalidade na abordagem destas questões.
Mas a leitura do artigo permite-me reafirmar a constatação de que as "misérias" e as contradições da Esquerda Democrática europeia são também as da Esquerda Democrática portuguesa - protagonizada pelo Partido Socialista de José Sócrates.
a

Torrado da Silva

Ajudámo-lo no nascimento e no crescimento do Serviço de Pediatria do Hospital Garcia de Orta - Almada.
E com ele - grande Mestre - aprendemos muito...

A conhecer a Criança.
A amar a Criança.
A servir a Criança.

Nos primeiros passos desta nova aventura não poderia esquecê-lo.
Tinha de o trazer para perto de mim - para perto de nós.
Partiu cedo - inapelavelmente cedo.

Mas está todos os dias connosco.
Obrigado Professor Torrado.

Acelerar

Já vos tem certamente acontecido o mesmo.
Uma primeira audição que não desperta grande entusiasmo.
E depois... um gostar crescente, até à devoção.
Foi o que me aconteceu com o último álbum da banda de Michael Stipe.
Após quatro anos sem uma edição discográfica de temas originais, os R.EM. brindaram-nos com um grande disco - ACCELERATE. Conhecem?

segunda-feira, setembro 22, 2008

Regresso

Os clubes desportivos precisam de referências - atletas, dirigentes e associados - que sejam exemplos de lealdade, de dedicação e de competência.
Há uma ano, a sua saída do FC Barreirense foi dolorosa e mal explicada.
Reparado o engano, está de novo entre nós - Barreirenses.
Voltou. Espero que para sempre.
Felicidades António Pires.

Para sempre


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Nasceu em 1977 sob a direcção de António José Saraiva, Carlos L. Medeiros e José Baptista. Pereceu em 1981. Pelo caminho, a direcção de Helena Vaz da Silva. Assumiu-se como uma revista de “crítica e alternativas para uma civilização diferente”.
No seu manifesto inaugural podia ler-se: “Os burocratas, tecnocratas e salvadores políticos dos vários mundos, independentemente das suas diferenças de situação e doutrina, estão empenhados em consolidar um sistema em que a grande maioria dos homens executa mecanicamente as decisões tomadas por alguns. Torna-se cada vez mais urgente restituir a cada homem a sua humanidade, quadriculada e esquartejada num mundo cada vez mais programado. “Raiz e Utopia” não propõe uma nova doutrina no plano político e ideológico em que se exibem os actores do dia. Não contribui para o discurso dominante. Tão-pouco alinha com o que é moda chamar “ciência”. Recusa a ilusão do “progresso” considerando que a famosa “marcha da humanidade” é um comboio num túnel em forma de funil. Os problemas de raiz estão hoje escamoteados no discurso tecnoburocrata. É preciso mudar radicalmente a problemática a partir do quotidiano, transformar a atitude do espírito perante as coisas. A utopia não é um impossível: é um norte, a leste ou a oeste das ilusões confortáveis que hoje são servidas como ópio às massas resignadas”.
“Raiz e Utopia” fortaleceu a construção dos meus alicerces ideológicos. Ajudou-me a desvanecer, em definitivo, qualquer ilusão acerca do embuste comunista.
Em 2006, na celebração do cinquentenário, a Fundação Calouste Gulbenkian apoiou o Centro Nacional de Cultura na publicação de “Raiz e Utopia – Memória de uma revista 1977-1981 – Antologia”. O seu lançamento passou-me então completamente despercebido. Apenas agora a adquiri. Merece uma leitura!

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Augusto Cabrita

Foi um grande vulto da fotografia e do cinema português.
Deu nome a Escola Secundária e a Auditório Municipal. Na vila-cidade do Barreiro, onde nasceu e viveu.
A Wikipedia, essa "coisa" grandiosa e inesgotável que nos prenda a cada momento, é omissa a seu respeito.
Quem dá o primeiro passo?

domingo, setembro 21, 2008

Agá maiúsculo

Mais de um milhão de euros.
Foi quanto o General António Ramalho Eanes terá abdicado em retroactivos, pelo facto de não ter recebido durante anos a fio, e ao arrepio da lei, a acumulação das pensões de reserva como militar e de ex-Presidente da República.
Manifestação rara - raríssima - de dignidade, honra e sentido de Estado. Testemunho de um Homem que nunca recebeu o meu voto nas urnas, mas a quem reconheço qualidades cívicas exemplares, cuja reprodução na vida política nacional, a distanciariam do enorme e perigoso pântano em que se foi atolando.

PROVA DeVIDA

Em 8 de Março de 2008 apresentei "PROVA DeVIDA" no BeJazz Cafe.
Passados pouco mais de seis meses, continuo a pensar que valeu a pena ter empreendido aquela obra. Ainda hoje me emociono com a leitura de alguns excertos - o que tenho feito amiúde.
Os grandes momentos que vivi ao longo de cinquenta anos junto do Futebol Clube Barreirense - sobretudo os mais felizes - permanecerão eternos. Mas os problemas - passados e presentes - agravaram-se desde então. Por isso, os Barreirenses - todos os Barreirenses - devem estar conscientes das nuvens cinzentas e carregadas que pairam sobre o clube que ajudaram a construir.
As próximas semanas serão muito importantes. Será tempo de balanço e de clarificação. De refundação?

Rostos


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Foi em 2004 que tudo começou.
Era então vogal da Direcção e director da Secção de Basquetebol do FC Barreirense.
Encontrei em ROSTOS (http://www.rostos.pt/) uma tribuna de divulgação das actividades do Barreirense Basket e, pouco depois, um lugar de reflexão dos problemas que desafia(va)m o meu clube.
Concluído o mandato directivo, foi tempo para outras preocupações − mais estruturantes e intemporais − acerca do FC Barreirense, e o nascer de um impulso que frutificou na publicação de textos sobre temas muito diversos.
Mais tarde, entre Dezembro de 2007 e Julho de 2008, escrevi semanalmente “AOS DOMINGOS TAMBÉM SE ESCREVE”.
Desde Setembro colaboro em ROSTOS com as crónicas “DESPORTO À PORTUGUESA” e “UM LIVRO, DE QUANDO EM VEZ”.
ROSTOS é um espaço dinâmico e plural. De liberdade e controvérsia. Fundamental no pulsar diário do Barreiro. Faz parte da minha vida. Já o conhece?
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Sonho e realidade

Há cerca de oitenta anos que o Basquetebol é praticado no Barreiro. Conquistou um carinho especial dos barreirenses desde o início da sua implantação local. E obteve rapidamente um enorme destaque competitivo, protagonizado pelo FC Barreirense − desde logo e até à actualidade. Apesar deste clube − o meu clube − ter sido quase sempre o mais valoroso no panorama distrital e nacional, é justo destacar que outras colectividades camarras − com relevo para o GD da CUF e o Luso FC − contribuíram também para o seu crescimento e desenvolvimento. Na actualidade, FC Barreirense e Galitos FC (masculino) e GD da Escola Secundária de Santo André (feminino) dão uma expressão concreta e vitoriosa à modalidade na Cidade do Barreiro, considerada a “Capital Nacional do Basquetebol”.

Decorre então da História − passada e presente − que um número apreciável de barreirenses acompanha as incidências da modalidade com particular interesse, a nível de clubes mas também a nível de selecções (seniores ou escalões de formação). É portanto expectável que muitos daqueles que apreciam esta modalidade, tenham seguido com alguma ansiedade e interesse a participação da Selecção Nacional na fase de qualificação para o próximo campeonato europeu, que se disputará na Polónia em 2009. E que, diga-se em abono da verdade, mereceu uma cobertura aceitável por parte da comunicação social.

Em Setembro de 2007, Portugal participou − pela primeira vez de pleno direito desportivo − no Campeonato da Europa de Basquetebol, disputado na vizinha Espanha. Apesar da proximidade geográfica, não fomos mais de duzentos os que acompanhámos a nossa Selecção orientada tecnicamente pelo ucraniano Valentyn Melnychuk − treinador que regressaria pouco depois a Kiev para liderar a sua Selecção Nacional. A participação de Portugal − primeiro em Sevilha e depois em Madrid − foi valiosa. Com duas vitórias categóricas sobre a Letónia e Israel, e prestações muitos combativas e dignas contra a Espanha, Croácia, Rússia e Grécia − países claramente mais fortes no basquetebol europeu. O 9º lugar então alcançado pareceu-me algo desajustado − ainda bem, mas perigosamente − da realidade quantitativa e qualitativa da modalidade em Portugal. Mas constituiu um prémio merecido para um grupo de trabalho com várias presenças barreirenses − João “Betinho” Gomes, Miguel Minhava e Paulo Simão (atletas), Dr. Valério Rosa (médico), Prof. Manuel Fernandes (director técnico nacional) e Arqº Carlos Pires (vice-presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol).

Foi com novo comando técnico − assumido pelo competente e prestigiado galego Moncho Lopez, ex-seleccionador nacional de Espanha − algum optimismo, mas com natural sentido da realidade, que Portugal encetou a disputa da fase de qualificação para o EuroBasket 2009. A desilusão começou cedo, com uma derrota caseira frente à acessível Estónia (70-79), seguida de pesadas e desencorajadoras derrotas forasteiras diante da Letónia (85-48) e Macedónia (79-43). No início da segunda volta, a vitória em Tallinn (54-60) deu um novo alento, que os jogos subsequentes em território luso vieram a confirmar, com vitórias sobre a Macedónia (81-71) e Letónia (93-22). A recuperação obtida na segunda volta desta poule foi todavia insuficiente para nos apurar directamente para a fase final. Pudemos ainda assim − do mal o menos − permanecer na Divisão A. E poderemos ainda estar no EuroBasket2009 se conquistarmos o 1º lugar numa poule final especial, o que se me afigura claramente improvável.

Não considero particularmente importante tentar analisar neste texto as causas do nosso relativo insucesso. Não tenho, de resto, competência para o fazer. Prefiro antes realçar alguns aspectos:
1. Com quem travámos agora este combate? Curiosamente com tês países de independência relativamente recente, saídos do desmoronamento da URSS (Estónia e Letónia) e da Jugoslávia (Macedónia). Repúblicas jovens e com uma população muito inferior à de Portugal (Estónia: cerca de um milhão e trezentos mil habitantes; Letónia: cerca de dois milhões e trezentos mil; Macedónia: cerca de dois milhões).
2. Os três países supracitados são oriundos de duas grandes potencias do basquetebol europeu e mundial − a União Soviética foi por catorze vezes campeã europeia e a Jugoslávia levantou o “caneco” por oito vezes −, com avançadas escolas de formação e excelentes apoios e condições de trabalho para a elite dos melhores atletas e treinadores. Na actualidade, Letónia, Estónia e Macedónia terão ainda os “genes” dos países de onde se distanciaram, embora os dois últimos se encontrem, como Portugal, num nível qualitativo intermédio, seja no escalão sénior seja nos escalões de sub-20, sub-18 e sub-16. A Letónia − a quem ontem vencemos de forma heróica e espectacular − situa-se num nível ligeiramente superior, com um praticante de referência – o “gigante” Andris Biedrins, que actua nos Golden State Warriors da Liga NBA.
3. Temos um histórico positivo contra aqueles países? Não. Até ao início da presente poule apenas uma vitória contra a Macedónia em sete desafios, uma vitória em seis partidas frente à Letónia e uma vitória e três derrotas diante da Estónia. Ou seja escassas três vitórias em dezasseis jogos. À luz destes números, a não qualificação automática de Portugal não significa de per si uma anormalidade.
4. As três derrotas nestes últimos seis prélios não constituem algo de absolutamente inesperado. Mais surpreendente foi a dimensão diferencial dos resultados negativos verificados em Skopje e Riga, onde a produção ofensiva da nossa Selecção foi muito modesta, com um sub-rendimento decisivamente penalizador das nossas aspirações.

Posso não classificar particularmente entusiasmante e credível a actual − e já longa, demasiado longa? − liderança máxima da Federação Portuguesa de Basquetebol. Mas creio ser justo realçar a atenção e o carinho que os responsáveis técnicos federativos têm dedicado às selecções nacionais dos mais diversos escalões. Reconheço que não estou na posse de toda a informação, mas sinto que a organização dos estágios e dos torneios preparatórios, e o acompanhamento técnico e clínico têm decorrido − certamente que num contexto de limitações orçamentais − com a eficácia e a dinâmica possíveis. Acontece que o espectro de recrutamento da nossa Selecção sénior é limitado − pela dimensão demográfica do país, pelo crónico mas melhorado condicionamento do número de praticantes de estatura e envergadura elevadas, e pela exagerada contratação de atletas estrangeiros.

Pretendo desta forma concluir que, no actual contexto estrutural do basquetebol português, não teria sido expectável uma performance de muito maior sucesso da Selecção Nacional na poule de qualificação para o “Polónia 2009”. Embora pense − como muitos outros − que poderia ter decorrido assinalavelmente melhor.

Importa assim, e fundamentalmente, transformar e melhorar a realidade, dos alicerces até ao cume. Como?
- aumentando o número de praticantes
- incrementando a prospecção nas escolas
- limitando a contratação de jogadores estrangeiros
- melhorando a formação de treinadores e de dirigentes
- apoiando a prática da modalidade num número crescente de clubes
- credibilizando as competições nacionais.

Sei − sabemos − que é fácil criticar e reprovar. Reconheço − reconhecemos − que é mais simples e mais cómodo propor do que concretizar. Mas é justo e legítimo que o Basquetebol se assuma com mais vigor e maior distinção no panorama desportivo nacional. E que lute − agora que o Hóquei em Patins perdeu atracção e visibilidade − pelo estatuto de segunda modalidade, em disputa directa com o Andebol, o Futsal e o Voleibol.

Regressando ao Barreiro, e para finalizar esta peça que já vai longa, o FC Barreirense (Liga Portuguesa de Basquetebol), o Galitos FC (Proliga) e o GD da Escola Secundária de Santo André (Liga Feminina) aprestam-se para iniciar oficialmente mais uma época desportiva. Com as presentes dificuldades económicas e financeiras − que varrem o nosso país, mas não só − avolumam-se as dificuldades dos clubes desportivos. Os representantes barreirenses nos campeonatos mais representativos vêm a sua situação financeira agravar-se ano após ano. E sobrevivem com enormes sacrifícios e imensos constrangimentos. Mas estou certo de que saberão − uma vez mais − dignificar o Barreiro e o Basquetebol.


[DESPORTO À PORTUGUESA, www.rostos.pt]

sábado, setembro 20, 2008

Começar


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"A princípio é simples anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida"
(Sérgio Godinho, Álbum "Pano cru", 1978)

Tudo na vida tem um começo.
O meu blogue nasce hoje. Finalmente!
Depois da hesitação - o impulso.
Depois da dúvida - a decisão.
Espero que leiam, que gostem e que participem.
a