quinta-feira, julho 29, 2010

Foi


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Gosto muito do compositor. Do instrumentista. Do vocalista.
Elvis Costello aproxima-se da genialidade.
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Foi um excelente concerto. Como eu antevia.
Grande noite. Em Cascais.
Num espaço de eleição. Numa soirée quente.
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Não faltou SHE.
Mas houve outras. Muitas mais. Igualmente belas.
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Duas horas de enorme encantamento.
Presença destacada de sonoridades de influência country.
Aqui, a surpresa - para mim.
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Valeu bem a pena.
Quando voltarás, Elvis?
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quarta-feira, julho 28, 2010

Será?



A promoção do espectáculo - na MARGINAL (98.1 fm) e na RADAR (97.8 fm) - não se cansa de nos brindar com este "diamante".
Já falta pouco para o Elvis desta noite. Em Cascais.
Vamos ouvir SHE. Será?

Depressa ou devagar?


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Parece contraditório e paradoxal.
Mas não é.
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Umas vezes queremos que passe depressa.
Que seja célere na sua voracidade.
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Outras... desejamo-lo pachorrento, interminável.
Que não nos fuja. Que esteja connosco.
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O TEMPO.
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Linda!


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domingo, julho 25, 2010

Não voltar onde...


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As "novas" tecnologias do cabo permitem-nos estes pequenos/grandes prazeres.
Foi assim que completei hoje - quase 3 semanas depois da emissão em directo - a visualização da entrevista de Jorge Sampaio a António José Teixeira na SIC Notícias.
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O Jorge Sampaio de sempre.
Discurso fácil.
Inteligência.
Acutilância.
Sinceridade.
Cultura.
Conhecimento.
Sentido de Estado.
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Que saudades de um Presidente da República como ele foi.
Sei bem que não voltará.
Tenho pena! Muita pena...
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De barco… para Lisboa


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Tinha 8 anos quando, a 2 de Novembro de 1965, visitei pela primeira vez o Estádio do Sport Lisboa e Benfica, vulgarmente conhecido por Estádio da Luz. Na companhia de meu pai e de alguns seus amigos, atravessámos o Tejo, numa bonita tarde de domingo. Recordo-me do deslumbramento à chegada ao estádio, belo e majestoso. Mesmo com o terceiro anel ainda incompleto – obra que veio a ser concretizada na presidência de Fernando Martins – era já o maior estádio português.
Cerca de 30.000 espectadores presenciaram um jogo muito assimétrico em todas as suas vertentes: técnica, táctica e física. Não se verificava nesse tempo, o equilíbrio que hoje existe em termos de condições de trabalho, metodologia de treino, cuidados médicos. Os resultados desnivelados eram frequentes. E a nossa derrota (8-2) nessa jornada foi disso um (mau) exemplo.
Com Coluna, Simões e José Augusto, mas sem Eusébio, o Benfica de Bela Guttmann desbaratou a nossa linha defensiva onde na esquerda despontava Adolfo, futura aquisição das ‘águias’.
Na baliza do FCB, Bráulio cumpria a nona e última época ao seu serviço. E em 1 de Novembro de 1966, foi merecedor de uma justíssima homenagem, que decorreu no Campo D. Manuel de Mello. Amora, Oriental, CUF e FCB, quatro dos seis clubes que representou na sua carreira, associaram-se à festa, simples mas de enorme significado. Recordo-me que, alguns dias antes, na sala da Direcção, alguns Directores do FCB, entre os quais o meu pai, interrogavam-se acerca da prenda a oferecer a Bráulio. No cofre, enorme, escassos contos de réis como que se perdiam na sua imensidão. A conta bancária também era exígua. Estávamos, como quase sempre, financeiramente muito depauperados. A dificuldade resolveu-se com a oferta de um emblema de ouro do clube e eu, menino de 9 anos, tive a incumbência de entregar ao valoroso guardião uma caixa com três garrafas. Perdão: duas garrafas; já que uma das delas se partira até chegar ao relvado, onde decorreu a entrega de lembranças. Durante algum tempo, muito os amigos de meu pai se ‘meteram’ comigo, perguntando pela garrafa desaparecida…

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[Texto inserido no livro PROVA DeVIDA – Estórias e Memórias do meu Barreirense e publicado na edição de 23 de Julho de 2010 do JORNAL DO BARREIRO][Texto inserido no meu livro PROVA DeVIDA – ESTÓRIAS E MEMÓRIAS DO MEU BARREIRENSE, e publicado na edição de 23 de Julho de 2010 do JORNAL DO BARREIRO, na série RECORDAR E VIVER, alusiva ao Centenário do Futebol Clube Barreirense]
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sábado, julho 24, 2010

Eu já fui


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O convite para estar presente na inauguração da exposição Corpo – Estado, Medicina e Sociedade no tempo da I República mereceu-me imediato interesse.
Comissariada por Rita Garnel, integra-se nas Comemorações do Centenário da República e decorre até Outubro de 2010 no Torreão Poente do Terreiro do Paço.
Pareceu-me bem estruturada. É interessante. Gostei. Recomendo uma visita.
Ver o site da exposição em
http://corpo.centenariorepublica.pt/
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quarta-feira, julho 21, 2010

Parabéns!


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Meu caranguejo.
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segunda-feira, julho 19, 2010

A descoberta

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Confesso que tive alguma dificuldade em arrancar com uma leitura continuada do último romance de Inês Pedrosa. Certamente que não por culpa sua.
À terceira foi de vez. Embrenhei-me então profundamente.
E tive um enorme prazer em descobrir uma grande obra de uma escritora que não conhecia na área do romance.
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Na contracapa pode ler-se: "OS ÍNTIMOS é uma visita ímpar ao universo dos homens".
Aceito que sim. Mas entendo essa referência como uma visão algo redutora do seu conteúdo.
Leiam OS ÍNTIMOS (Publicações D. Quixote, 2010).
Não se vão arrepender. E talvez concordem comigo.
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Carnaval em Torres


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A cidade de Torres Vedras preparava já afincadamente o seu tradicional e afamado Carnaval, quando o FCB aí se deslocou para defrontar o Sport Club União Torreense.
Sob a orientação técnica de Luís Mira, almejávamos o regresso à I Divisão, objectivo que veio a ser alcançado pelo Estoril, treinado pelo polémico e carismático António Medeiros.
Abrantes, guardião titular da nossa baliza, era mais que um simples futebolista. Dirigente do Sindicato de Jogadores de Futebol, era à data um cidadão com um conjunto de preocupações em relação à sua classe, que o distinguiam pela positiva de grande parte dos seus pares. A maioria dos atletas da equipa profissional do FCB tinha uma escolaridade que não ultrapassava o 4º ano [antiga 4ª classe]. Com a colaboração de José Barbado, ilustre Barreirense e co-proprietário com Hélder Fráguas do Colégio Moderno do Barreiro, Abrantes estimulou, ajudou a conceber e a concretizar uma experiência inédita. Com efeito, mobilizou-se um conjunto de boas vontades e, o Colégio Moderno foi palco da frequência do primeiro ciclo por cerca de quinze futebolistas.
Concluído o curso liceal em 1974, inscrevera-me na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, para cumprir um sonho e desejo de criança: ser médico. Mas, na sequência da Revolução dos Cravos, a minha frequência universitária foi protelada, para cumprimento de um ano do chamado Serviço Cívico, imposto pelas autoridades educaticas governamentais. Os portugueses, depois de 48 anos de ditadura, estavam sedentos de participação cívica, mergulhados numa multiplicidade de organismos populares recém-criados, e (ainda) muito iludidos pela perspectiva de construção de uma pátria mais justa e mais próspera. Também eu aderi a causas belas e generosas.
Convidado por José Barbado – amigo de longa data de meu pai, e progenitor da Manuela Barbado, uma das maiores amigas da minha irmã – aceitei prontamente o desafio, e leccionei a disciplina de Ciências Naturais. E integrei o corpo docente, com José Barbado e os meus ex-companheiros de liceu, e ainda hoje grandes amigos, Eduardo Silva, João Mário Viana, José Manuel Sousa e Manuel Pedro.
A disponibilidade inicial da maior parte dos quinze atletas rapidamente se desvaneceu, mas três deles – José João, Serra e Carlos Mira – vieram a concluir nesse ano lectivo o primeiro ciclo liceal.
Foi, para todos nós, uma experiência inolvidável.
Para além da actividade docente acompanhámos a equipa em alguns jogos forasteiros. E fomos particularmente estimados por todo o grupo. Nesse domingo de 2 de Fevereiro de 1975, deslocámo-nos então a Torres Vedras, onde uma exibição portentosa do avançado Charouco abriu as portas a uma vitória do FCB (4-2). No final do jogo, numa manifestação sublime de fair play, os dirigentes do Torreense brindaram a comitiva Barreirense com uma magnífico churrasco, para o qual nós, os professores, fomos gentilmente convidados. Grande dia! Grande vitória! Grande lição de vida!
Em 2007, passados vinte e dois anos, voltei a Torres Vedras, ao Campo Manuel Marques. Para ver o FCB empatar e comprometer a permanência na II Divisão (terceiro escalão nacional). Destino que veio infelizmente a confirmar-se, poucas semanas depois.
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[Texto inserido no meu livro PROVA DeVIDA – ESTÓRIAS E MEMÓRIAS DO MEU BARREIRENSE, e publicado na edição de 16 de Julho de 2010 do JORNAL DO BARREIRO, na série RECORDAR E VIVER, alusiva ao Centenário do Futebol Clube Barreirense]
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Barreiro: velho ou novo?


[foto extraída do blog BARREIRO VELHO]
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Haverá certamente outras coisas (mais?) importantes para discutir e decidir na cidade.
A crise industrial, a crise demográfica, ... A crise!

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Não fui surpreendido pelo conteúdo do texto inserido numa placa identificativa do cidadão que, altivo e solitário, se ergue da renascida praça.
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Fazendo um paralelo linguístico com a nossa participação no South Africa 2010, apetece dizer:
- cumpriram-se os mínimos.

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Mas o cidadão Alfredo da Silva e o Barreiro mereciam mais. Digo eu.
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PS: reli hoje o texto "Agradeço, mas não esqueço" que publiquei em ROSTOS em 15 de Junho de 2008, inserido na série "AOS DOMINGOS TAMBÉM SE ESCREVE". Disponível em
http://rostos.pt/inicio2.asp?mostra=2&cronica=220087
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domingo, julho 18, 2010

Sim, acontece a todos

Hesitação


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O Expresso também já aderiu. Ao acordo ortográfico.
Confesso que ainda resisto. Mas será por pouco tempo.
Actual sem c? Lá chegarei.
A Primavera com p minúsculo? Será sempre uma estação linda.
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Ainda hoje, na Pública, a propósito do iMAC, Rui Tavares escreveu moderno e o Miguel Esteves Cardoso à moda antiga.
Que importa isso? Talvez não muito.
Que me interessa mais? O talento de ambos.
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Volto ao Expresso. E a Inês Pedrosa.
A Inês - que "escreve de acordo com a antiga ortografia" - não aprecia o Facebook.
"O nome da coisa (...) começa logo por me irritar". Escreveu.
Não gosta do conceito. Do facilitismo. Desconfia.
Mas podia ter sido mais consistente no argumento.
Estou particularmente à vontade nesta crítica que lhe faço.
Até porque também (ainda???) a ele não aderi.
Pela minha parte, alguns Amigos e uns quantos amigos terão de continuar à espera. Que não me levem a mal.
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Um pouco mais de MEC


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"Faz mal quem se antecipa tanto que lhe escapa a felicidade de saber o que lhe está a acontecer."
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sábado, julho 17, 2010

Bilhete Postal (II)



Somos de facto Amigos há muito, muito tempo.
Ouvimos isto tantas vezes...
Apeteceu-me recordá-lo. Hoje.
Abraço

Bilhete postal


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Sei que és um grande Amigo.
Que gostas de me "ver bem". Feliz.
E que fazes um curioso exercício quando me lês. Aqui.
Julgas percepcionar os meus "estados de alma".
Engraçado!
Umas vezes acertas. Outras... não.
Abraço
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quinta-feira, julho 15, 2010

quarta-feira, julho 14, 2010

No bom caminho


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José Silva, Miguel Graça e Pedro Pinto - jovens basquetebolistas que representam o FC Barreirense - integram os trabalhos da Selecção Nacional de Basquetebol que por estes dias prepara a sua participação no Campeonato da Europa da modalidade.
E David Gomes, João "Betinho" Gomes e Miguel Minhava - que fizeram a sua formação basquetebolística no clube e o representaram no escalão senior - estão igualmente presentes.
Integram a Selecção Nacional de sub-20 quatro atletas do FC Barreirense: Eugénio Silva, João Guerreiro, Miguel Queiroz e Tiago Raimundo. E na Selecção de sub-18 estão outros tantos: Daniel Coelho, Daniel Margarido, João Álvaro e Henrique Sicó.
É uma realidade incontornável, que me sabe bem, me envaidece enquanto associado e que julgo merecedora de adequada divulgação.
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segunda-feira, julho 12, 2010

Eu, tu e nós


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"A partir de hoje, Miguel Esteves Cardoso vai passar a escrever só no PÚBLICO, todas as semanas no P2, no ípsilon, no Cidades, no Fugas, no público.pt ou na Pública e todos os dias aqui, no primeiro caderno"
(PÚBLICO, 12 de Julho de 2010)
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Pois é.
Uns pensarão que será Miguel Esteves Cardoso (MEC) a mais.
Outros talvez não.
A avaliar pelos textos de hoje – primeiro caderno e P2 – é caso para dizer: que venha o MEC!

Este mês casei-me com o PÚBLICO que, como disse o meu amigo José Cardoso, fez de mim uma mulher honesta.
Sou muito feliz com o PÚBLICO, meu marido em caixa alta. É bom pertencer ao PÚBLICO e fazer o que ele me diz e ele deixar-me fazer o que eu quero.
Foi longo e picante o namoro. Mas até a mais eufórica das noivas sabe que, a certa altura, começa o casamento em si. Devagarinho, vão-se revelando, de parte a parte, hábitos irritantes e manias. Mas também inesperadas graças e doçuras. Havendo amor, fazem-se pequenos pactos, trocam-se aceitações e abdica-se de importâncias.
Tenho a sorte de saber, graças à Maria João, como cresce um bom casamento. Nos primeiros três anos a ordem dos pronomes é eu, tu, nós. No deslumbramento do tu, o eu começa a ser menos eu, mas o nós quase não existe: só eu e tu e "que giro ou que mau tu seres isto e eu ser aquilo!" Passados três anos, já há um nós. É um nós para além da soma do eu e do tu. É um casal de que gostamos e de que dependemos. Embora o eu ainda tenha medo. E fica: eu, nós, tu.
É duro o tu ficar em último mas logo se arranja companhia quando o nós passa para primeiro e fica: nós, eu, tu. Depois, para aí no nono ano, troca de lugar com o eu e fica: nós, tu, eu. É esta a fase de casamento em que estou. Não sei o que vem a seguir mas suspeito que não ficarão na mesma linha e que será, por cima, nós e, por baixo, tu e eu. Deus me livre que seja assim com o PÚBLICO. Mas caso com ele à mesma.
Miguel Esteves Cardoso
(O meu novo casamento, PÚBLICO de 12 de Julho de 2010)

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Uma delícia!
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domingo, julho 11, 2010

Música, Poesia e algo mais

Espanha


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E a Espanha venceu!
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Venceu a Qualidade.
Venceu a Disciplina.
Venceu a Personalidade.
Venceu a Estratégia.
Venceu a Táctica.
Venceu a Ambição.
Venceu o Colectivo.
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Aprendamos com isso...
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sábado, julho 10, 2010

Aceito, com muita honra


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Defrontei-me há alguns meses atrás com a espinhosa e ingrata tarefa de constituir a Comissão de Honra das Comemorações do Centenário do meu Futebol Clube Barreirense.
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Hoje, pela manhã, fui surpreendido pelo convite do Dr. Júlio Freire - digníssimo Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Barreiro - para integar a Comissão de Honra das Comemorações dos 450 anos da Misericórida da minha cidade natal.
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Que fiz eu para merecer tal distinção?
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Vou responder afirmativamente a tão honrosa deferência.
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Uma noite inesquecível

Noite de sexta-feira.
Estoril.
Casino.
Auditório "DU ARTE LOUNGE".
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Dee Dee Bridgewater (voz).
Edsel Gomez (piano).
Kenny Davis (contrabaixo).
Lewis Nash (bateria).
Craig Handy (sax tenor, clarinete e flauta).
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Se elenco o Dee Dee Bridgewater Quintet é porque desde logo me apetece dizer que não foi apenas a voz magnífica de Lady Dee que uma plateia alegre e vibrante desfrutou na noite de ontem.
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Foi uma verdadeira explosão de sons, de palavras, de afectos, de seduções, de partilhas que percorreu o auditório. E lhe deu cor, brilho, felicidade, amor.
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Conhecia mal Dee Dee Bridgewater.
Claro que me surprendeu muito. E bem. Pela voz, pela presença em palco, pela interacção com os quatro excelentes músicos, pela relação de empatia e fraternidade que estabeleceu com o (seu) público.
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"Um animal de palco". Dizia alguém a meu lado. Com todo o acerto e oportunidade.
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Como antevira a produção do espectáculo, Dee Dee propôs-nos uma "recriação moderna de algum do repertório mais fascinante da sua homenageada [Billie Holliday], como Mother’s Son-in-Law, Fine and Mellow, Don’t Explain, God Bless the Child ou Strange Fruit".
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Uma voz poderosa.
Músicos fantásticos.
Público embevecido pelo talento e arte do Dee Dee Bridgewater Quintet.
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Uma noite de sonho. Uma noite inesquecível.
Que venham muitas outras.
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quarta-feira, julho 07, 2010

Viva a Liberdade!


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O regresso a casa, depois de mais uma maratona hospitalar, trouxe-me uma excelente notícia que, curiosamente, surgiu apenas 24 horas depois do meu post anterior "Rumo à Liberdade".
Guilhermo Farinas pode ter comprometido a sua sobrevivência mas viu uma heróica greve de fome - que ousou cumprir com rara determinação - condicionar as autoridades do seu país e resultar na libertação próxima de 52 presos políticos cubanos.
Pela Liberdade. Sempre!
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terça-feira, julho 06, 2010

Rumo à Liberdade


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Carlos Dominguez [Miguel Pinto] aterrou em Abril de 1976 no Aeroporto de Belas - Luanda, procedente de Havana.
Jovem médico, militante da União de Jovens Comunistas de Cuba, acreditava no Socialismo e na Revolução. E, ao abrigo da cooperação entre as autoridades do seu país e a nova nação africana, fora enviado para exercer a sua actividade de cirurgião.
A paixão por uma angolana "suspeita" fê-lo cair em desgraça entre a nomenclatura comunista.
No regresso a Cuba suportou a despromoção profissional e o desterro para uma área montanhosa e periférica no extremo oriental da ilha e depois a prisão e a tortura – física e psicológica.
Cercado por uma terrível intriga de espionagem envolvendo a CIA e os serviços secretos cubanos, uma ardilosa e bem conseguida "regeneração política" e a sua inegável competência profissional valeram-lhe o regresso a Havana e a ascensão à direcção do Serviço de Cirurgia e à docência num Hospital Universitário.
A rotura com o regime permanecia incólume. E, na mesma dimensão, a vontade de fugir e de conquistar a Liberdade.
Finalmente, a fuga – para Espanha. Definitiva. Abençoada.
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Miguel Pinto reside em Portugal desde 1992. É cirurgião no Hospital Fernando da Fonseca e docente universitário na Faculdade de Medicina de Lisboa.
"O ANO EM QUE DEVIA MORRER" (Sopa de Letras 2008) e "A FRONTEIRA MAIS LONGÍNQUA" (Sopa de Letras, 2010) são dois excelentes livros. Um exorcismo de mágoas do passado. Uma prosa admiravelmente fluida.
Já fizera referência neste blog ao primeiro, em 2008. Aconselho hoje a leitura de ambos.
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segunda-feira, julho 05, 2010

Erasmus


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Na noite de 6ª feira conversara com uma boa amiga - conhecedora directa dessa realidade - acerca das potencialidades e dos méritos do projecto Erasmus.
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Curiosamente, o tema foi abordado numa excelente entrevista do Prof. Doutor Pedro Pita Barros (jovem catedrático de Economia da Universidade Nova de Lisboa) a Teresa de Sousa, publicada na edição de hoje do PÚBLICO.
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Retive a importância que atribue à geração Erasmus. Uma pleiade de jovens com outra visão, percepção e vivência do espaço e do projecto europeu. Que poderão contribuir, quando chegarem mais expressivamente ao poder político - em Portugal e nos outros Estados comunitários - para uma transformação da forma de pensar e de executar o ideal europeu.
Acredito plenamente nisso.
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De Lady Day a Lady Dee


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Não me é nada habitual. Assistir a um concerto de alguém cuja discografia conheço mal.
Seguro do bom gosto de quem me convidou, estarei na noite de sexta no Estoril Jazz 2010 para ouvir Dee Dee Bridgewater, uma ilustre Jazz singer norte-americana que completou recentemente 60 anos.
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Em Março, numa entrevista ao GUARDIAN, respondeu a Laura Barnett:
- Does jazz deserve a wider audience?
- Yes. It suffers from being marketed incorrectly: people think it's intellectual, like classical music, and inaccessible unless you've had some training. The recession is changing that, though: jazz clubs are thriving in the US because it's cheaper for young people to go to them than to go to concerts.
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Lady Dee estará no Estoril para um tributo à música de Billie Holliday, num concerto subordinado ao título To Billie With Love: A Celebration of Lady Day.
Promete.
Depois conto-vos como foi.
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domingo, julho 04, 2010

Velhos são os trapos


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Curioso.
Várias vezes (me) tenho interrogado:
- como vêm os jovens aqueles que, como eu, já passaram a "fasquia dos 50"?
Seremos velhos aos olhos dos nossos adolescentes?
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Parece que sim.
Uma sondagem do Instituto Social Europeu, ontem citada por Fernando Madrinha no EXPRESSO, revelou que "a maioria dos jovens portugueses considera que a velhice começa aos 51 anos".
Em contraste com esta visão (tão horrível, digo eu) está a juventude do espaço europeu que "situa, em média, o começo da velhice nos 72".
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Fernando Madrinha questiona possíveis razões para tão grande e preocupante discrepância. Com ou sem razões (nacionais) a verdade é que 21 anos de diferença é muito ano.
Dá que pensar! Mas talvez não preocupar...
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E, para alguém que adora Florbela Espanca, e de quem muito gosto,
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Pior Velhice
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Sou velha e triste.
Nunca o alvorecer
Dum riso são andou na minha boca!
Gritando que me acudam, em voz rouca,
Eu, náufraga da Vida, ando a morrer!
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A Vida, que ao nascer, enfeita e touca
De alvas rosas a fronte da mulher,
Na minha fronte mística de louca
Martírios só poisou a emurchecer!
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E dizem que sou nova... A mocidade
Estará só, então, na nossa idade,
Ou está em nós e em nosso peito mora?!
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Tenho a pior velhice, a que é mais triste,
Aquela onde nem sequer existe
Lembrança de ter sido nova... outrora...
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Florbela Espanca
in Livro de Mágoas
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sexta-feira, julho 02, 2010

Foguetes e cabeçudos


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Barreiro em Festa.
Sol e calor em tarde de quarta-feira, 16 de Setembro de 1970. Apesar do horário laboral, 7.000 espectadores concentraram-se no Campo D. Manuel de Mello para assistir à primeira participação do FCB numa competição oficial da UEFA.
O Dínamo de Zagreb, equipa jugoslava com alguma experiência internacional, deslocou-se ao Barreiro para defrontar o neófito FCB, em jogo relativo à 1ª eliminatória da edição 1970/1971 da Taça das Cidades com Feira – hoje denominada Taça UEFA.
Tambores e foguetes, cabeçudos, banda de música e fanfarra dos bombeiros, forneceram um ambiente peculiar, nunca antes vivido naquele espaço.
Em superação e num jogo de boa qualidade, a nossa equipa, treinada pelo brasileiro Edsel Fernandes, galvanizou-se e venceu com dois golos sem resposta, o primeiro por Serafim ainda na primeira parte, o segundo por Câmpora no penúltimo minuto, com uma execução que jamais esquecerei. Um golaço!
Não foi, em minha opinião, a nossa vitória mais transcendente, mas foi, pelo seu circunstancialismo histórico, uma jornada muito bonita que presenciei no lugar cativo do meu pai que não pôde comparecer por motivos profissionais.
A Bola de 17 de Setembro dedicou largo espaço a este jogo, pela pena de Homero Serpa e de Santos Serpa:

Glorioso caloiro entra pela porta grande (2-0)
Era dia de festa no Barreiro. O Barreirense, menino bonito da laboriosa vila, quis que a sua estreia em competições internacionais ficasse inesquecível do seu público, do seu fiel público que nunca o desamparou mesmo quando na 2ª divisão, se esforçava, se batia para voltar ao convívio daqueles que sempre o tiveram como adversário.
(crónica de Homero Serpa)

Quando a partida terminou, a hora era de euforia. O público debruçava-se no parapeito sobre o túnel que levava às cabines para uma última manifestação de apreço à sua equipa.
(reportagem de Santos Serpa)

Duas semanas depois, o avançado uruguaio Câmpora torna a marcar e o FCB podia ter chegado ao intervalo a vencer por 0-2, não fora a invalidação de um golo regular de Serafim, rápido e acutilante ponta de lança.
Na segunda parte, com a complacência do alemão Helmuth Bader, o Dínamo efectuou um exemplar volte-face perante os seus 15.000 fiéis, com seis golos sem resposta.
A violência dos jugoslavos e a habilidade do árbitro foram denunciadas pelo treinador Barreirense, que à reportagem de Justino Lopes (A Bola) declarou que “trouxemos 11 jogadores em vez de 11 pugilistas” para concluir, amargurado e vencido, “hoje, aqui em Zagreb foi um exército a jogar futebol e outro a fazer guerra”.
Terminara com honra, mas sem brilho, a única participação do FCB nas competições europeias.

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[Texto inserido no meu livro PROVA DeVIDA – ESTÓRIAS E MEMÓRIAS DO MEU BARREIRENSE, e publicado na edição de hoje do JORNAL DO BARREIRO, na série RECORDAR E VIVER, alusiva ao Centenário do Futebol Clube Barreirense]

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quinta-feira, julho 01, 2010

Começar de novo

Regresso (lusófono)


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REGRESSO
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E contudo perdendo-te encontraste.
E nem deuses nem monstros nem tiranos
te puderam deter. A mim os oceanos.
E foste. E aproximaste.
Antes de ti o mar era mistério.
Tu mostraste que o mar era só mar.
Maior do que qualquer império
foi a aventura de partir e de chegar.
Mas já no mar quem fomos é estrangeiro
e já em Portugal estrangeiros somos.
Se em cada um de nós há ainda um marinheiro
vamos achar em Portugal quem nunca fomos.
De Calicute até Lisboa sobre o sal
e o Tempo. Porque é tempo de voltar
e de voltando achar em Portugal
esse país que se perdeu de mar em mar.
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[Manuel Alegre]
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Mamãe Velha, venha ouvir comigo
o bater da chuva lá no seu portão.
É um bater de amigo
que vibra dentro do meu coração.
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A chuva amiga, Mamãe Velha, a chuva,
que há tanto tempo não batia assim...
Ouvi dizer que a Cidade-Velha,
- a ilha toda -
Em poucos dias já virou jardim...
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Dizem que o campo se cobriu de verde,
da cor mais bela, porque é a cor da esp´rança.
Que a terra, agora, é mesmo Cabo Verde.
- É a tempestade que virou bonança...

Venha comigo, Mamãe Velha, venha,
recobre a força e chegue-se ao portão.
A chuva amiga já falou mantenha
e bate dentro do meu coração!
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[Amilcar Cabral]
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Regresso às fragas de onde me roubaram.
Ah! Minha serra, minha dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram,
Mal eu surgi, cansado, na distância!
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Cantava cada fonte à sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.
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Depois o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos
Aos deuses do meu velho paraíso.
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[Miguel Torga]
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Recomeçar com Torga


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Recomeçar
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Recomeça...
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
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E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
..
Miguel Torga
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À descoberta


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- Só agora?
(dirão alguns)
- Ainda vou a tempo.
(penso eu)
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Foi por estes dias que descobri a poesia de Carlos Drummond de Andrade.
Gosta-se logo à primeira.
Pelo menos foi assim comigo.
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Por exemplo, com...
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A Palavra Mágica
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Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
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Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
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Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.
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Carlos Drummond de Andrade
in "Discurso da Primavera"
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Regresso


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“O regresso, em grego, diz-se nostos. Algos significa sofrimento. A nostalgia é portanto o sofrimento causado pelo desejo insatisfeito de regressar.”
in A IGNORÂNCIA (Milan Kundera, Edições ASA, 2001)

Não o nego.
A nostalgia esteve presente.
Seis longos meses...

"Talvez volte um dia."
Escrevi-o em 31 de Dezembro de 2009.
Um adeus. Um até logo.

Resolvi voltar.
No mesmo formato. Com a mesma concepção. E os mesmos objectivos.
O contrário, afinal, do que então admitira.

É assim. A Vida.
Contraditória. Estimulante.

Regresso.
Ainda mais livre.

Beijos e abraços,
Paulo

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