sábado, janeiro 24, 2009

Memória Barreirense (XLVI)


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Promessa para cumprir
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Concordei com a venda do terreno do Campo D. Manuel de Mello. Tornei pública a minha posição nas Assembleias-Gerais que precederam essa decisão. Persuadi alguns associados a apoiarem o Presidente Manuel Lopes. Defendi a Direcção das suspeições que alguns quiseram atribuir-lhe.
O ‘Manuel de Mello’ foi vendido. O FCB arrecadou uma verba substancial. Saldou as dívidas ao Fisco e à Segurança Social. Regularizou o pagamento de outras dívidas. Safou-se! E, como escreveu Sofia de Mello Breyner: “corpo renascido...”.
Mas o desafio apenas começara. Foi uma decisão inadiável, fundamentada, mas afectivamente difícil. Ainda assim, muitos se interrogaram, e alguns disso se fizeram eco: “foram-se os anéis, mas ficarão os dedos?”
Coube à Direcção, desde então, a responsabilidade de demonstrar que a decisão de 2005 fora correcta. E cumprir a promessa então formulada: o FCB construirá os espaços desportivos necessários e adequados ao seu Projecto Desportivo, assente na formação cívica e desportiva de jovens atletas, mas com ambições competitivas realistas e consistentes. Quais são essas necessidades? Depende.
Em teoria, a nossa imagem, projecção e independência serão mais substantivas se dispusermos de património próprio: Estádio para o futebol (10.000 lugares), Arena/Pavilhão Multiusos (4.000 lugares, para o basquetebol, espectáculos, exposições, etc.), campos para treino e competição das equipas dos escalões de formação. No concreto, sabemos que um desejo-sonho dessa dimensão é incomportável para a realidade económico-financeira do FCB. A construção de estruturas desportivas é muito onerosa e a sua manutenção, aspecto nem sempre devidamente considerado, um encargo relevante. Por isso, deverá haver realismo e rigor. E acreditar que o Estádio Alfredo da Silva e o Complexo Desportivo anexo possam vir a ser municipalizados num prazo não muito distante. E esperar que o Masterplan – ou qualquer outro plano de utilização do território da Quimiparque – seja implementado, erguendo-se o Pavilhão Multiusos projectado para esse projecto estruturante da renovação urbana, económica, cultural e social do Barreiro. Essa seria, em minha opinião, a solução qualitativa, geográfica e financeiramente ideal. Mas essas hipóteses poderão revelar-se uma improbabilidade. Seria então necessário continuar a disputar a Liga Profissional de Basquetebol no Pavilhão Luís de Carvalho (adequado mas algo periférico) e partir para a construção de um Complexo na Verderena. Com um Estádio com lotação inicial para cerca de 2.500 espectadores, funcional e confortável, integrado de forma harmoniosa no Polis, e um Pavilhão para treino e competição de algumas das equipas de formação e da equipa sénior do basquetebol. As equipas de futebol treinariam e competiriam em espaços com relva sintética, em terrenos a adquirir no perímetro geográfico do Barreiro, mas eventualmente mais periféricos. O Ginásio-Sede permaneceria local de prática do Basquetebol, Ginástica, Kickboxing e Xadrez. E a Piscina Municipal actual, ou a aprovada recentemente em reunião da Câmara Municipal, a estrutura destinada à Natação. Para o desporto de recreio, convívio e lazer, a construção de um Polidesportivo (coberto, mas não necessariamente fechado) e de um Health Club seriam duas estruturas fundamentais para o crescimento e afirmação do FCB. Se a epopeia da construção do Ginásio-Sede, completada há 50 anos, foi exemplar e paradigmática da capacidade empreendedora dos Barreirenses, a demolição do histórico ‘Manuel de Mello’ será um momento de tristeza. Mas também de Esperança. Um virar de página…
O Barreirense não está num marasmo ou moribundo! O Barreirense está vivo e tem futuro!
Bem sei que os tempos são outros. Mas há que (re)criar a Raiz e a Utopia. Acredito que conseguiremos erguer as estruturas de que carecemos. Vamos aproveitar a comparticipação estatal prevista na lei. Vamos dialogar e persuadir a Autarquia. Vamos atrair o tecido produtivo do Concelho, para a parceria e o mecenato. Vamos mobilizar os Associados para novas formas de colaboração. Mãos à Obra, Barreirenses!
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Conquistar a Juventude

Abril de 2004: cerca de quinhentos adeptos do FCB visitam Queluz, para o quinto e decisivo jogo dos quartos-de-final do playoff de atribuição do título de campeão da Liga TMN. Frente à poderosa equipa local – que veio a sagrar-se campeã – a nossa jovem e talentosa equipa foi derrotada no último segundo da partida. Incredulidade e tristeza invadiram os rostos Barreirenses.
Maio de 2005: cerca de seis mil espectadores lotaram o ‘Manuel de Mello’, no jogo decisivo para a subida do FCB à Divisão de Honra. Reviveram-se momentos de magia e fervor clubista. No final, consumada a vitória, uma onda de emoção e alegria extravasou os muros do velho recinto e estendeu-se, eufórica e demoradamente, pelas principais artérias da Cidade.
Novembro de 2006: situado na cauda da tabela classificativa, o FCB recebe o Messinense, em jogo da 8ª jornada do Campeonato Nacional de Futebol da II Divisão - Zona D. Pouco mais de duas centenas espectadores, em bonita tarde outonal, conferem um aspecto desolador ao recinto e transmitem pouco calor humano, a uma equipa à procura de vitórias e de… tranquilidade.
É assim. No FCB, como na generalidade dos clubes portugueses. Resultados sequencialmente positivos atraem mais e mais adeptos, e esta convergência e simbiose conduz a mais vitórias. No oposto, com a sucessão de derrotas, cresce o desânimo e a frustração, o distanciamento instala-se e progride.
A prossecução de uma política orçamental rigorosa, sustentável e realista, não se saldará pela obtenção previsível, nos próximos anos, de resultados brilhantes pelas equipas de alta competição do Barreirense. Então, neste contexto, tradicional e cultural, há que perceber que dificilmente se conseguirá alcançar um significativo incremento do número de associados através da obtenção de níveis muito elevados de competitividade desportiva, que manifestamente não estão ao nosso alcance, sobretudo no futebol.
Há que relembrar, por outro lado, o real e preocupante problema demográfico do Barreiro. Comparados os censos de 1991 e de 2001, conclui-se que se verificou uma perda populacional global do Concelho do Barreiro e que a nossa população está envelhecida, com uma percentagem de jovens com idade inferior a 14 anos menor que a da generalidade dos outros Concelhos do Distrito de Setúbal. Quando me recordo que o Plano Director Municipal de 1993 apontava para uma previsão de cerca de 200.000 habitantes e que a população actual é inferior a 80.000…
São óbvias as consequências desta evolução demográfica que, a confirmar-se nos próximos anos, constituirá grave handicap para o rejuvenescimento da massa associativa do FCB, para o recrutamento de um número significativo de atletas e para a probabilidade de formação de talentos. Vamos estar certamente muito dependentes da evolução de alguns projectos decisivos para que o Barreiro ultrapasse o marasmo e a decadência actuais. Refiro-me, em concreto, à construção da Ponte (ferro-rodoviária!) Chelas-Barreiro, ao desenvolvimento e implementação do Masterplan, à conclusão do Polis, ao sucesso do Fórum Barreiro.
Pessimismo? Não!
Realismo? Sim!
Então, que fazer? Esboço duas propostas.
Primeira proposta: fortalecer a inserção do Barreirense na juventude. O FCB está algo envelhecido na sua estrutura etária. Os associados com idade inferior a 18 anos apenas representam 29% do total. Como atrair mais jovens ao associativismo Barreirense?
- incrementando a qualidade e a quantidade das estruturas desportivas de treino, competição e lazer
- divulgando as modalidades nas escolas, do ensino básico ao politécnico, seduzindo a prática desportiva no clube pela presença de atletas mais mediáticos em acções de promoção, difundindo a agenda desportiva semanal, realizando concursos, torneios e outras iniciativas
- promovendo organizações lúdicas e desportivas diversificadas, alternativas e atractivas
- aproveitando o Café e a Esplanada do Ginásio-Sede para atrair uma massa imensa de jovens, que em tempos não muito distantes, deram fulgor e alegria às noites daqueles espaços.
Segunda proposta: promover a captação de outros estratos populacionais. Algumas das medidas a seguir propostas foram já tentadas por diversos executivos, mas os seus fracos resultados não deverão constituir factor de desânimo nem de desistência. Como captar novos associados?
- promovendo parcerias com agentes económicos muito diversificados e concretizando um Cartão do Sócio, com descontos atribuídos na aquisição de bens e serviços
- concretizando a construção de um Health Club (‘franchisado’?) que seja, pela sua qualidade e modernidade, uma forma credível e consequente de atracção de novos sectores da população do Concelho
- repetindo formas tradicionais de angariação de novos associados, pela filiação de todos os nossos praticantes e estendendo essa proposta aos seus familiares e amigos
- identificando ex-sócios, cujo processo de refiliação deverá ser incentivado
- promovendo a reaproximação de ex-atletas, ex-treinadores e ex-dirigentes ao clube, aproveitando a comemoração de datas significantes dos seus percursos competitivos, …
Uma outra questão parece-me merecedora de uma breve avaliação e comentário: as massas associativas reagem invariavelmente mal e com desconfiança a qualquer proposta de aumento do valor da quotização. Ainda há relativamente pouco tempo, em Assembleia-Geral do Belenenses, as escassas dezenas de associados presentes reprovaram a proposta de incremento de €1 mensal. E isto acontece num clube histórico do desporto nacional, eclético, que participa ao mais alto nível em quatro modalidades. A verdade é que a maioria dos sócios dos clubes desportivos têm uma objectiva inapetência para conhecer, compreender e aceitar, os desafios imensos que consócios dedicados e militantes assumem, quando se disponibilizam para integrar cargos de responsabilidade directiva. Com culpas repartidas: por deficiente informação e escassa pedagogia dos Órgãos Sociais; por incapacidade de assumpção de deveres e responsabilidades por parte dos associados. No FCB, a cena é recorrentemente dejá vu. A cada subida do valor da quota segue-se o decréscimo do nosso número de associados. De forma simplista, mas não demagógica, relembro que o valor da quota mensal (adulto: €3) apenas representa o preço de um maço de tabaco ou de um bilhete (de segunda-feira!) numa sala de cinema. Mas a realidade tem mostrado uma perturbadora incapacidade de obter resultados positivos neste esforço de incremento da nossa massa associativa.
Concluindo, o caminho poderá ser então o de (re)criar novas formas de atracção dos cidadãos Barreirenses, pela renovação e rejuvenescimento da imagem do clube, pela construção de novos e diversificados espaços para a prática desportiva, pelas contrapartidas financeiras inerentes à condição de associado na aquisição de bens e serviços muito diversos e significantes para o seu dia a dia. É um trajecto difícil, mas não impossível. Os desafio e os obstáculos são muitos. As receitas e as soluções contingentes…
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[Excerto do Capítulo VIII - Amanhã
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)