sábado, julho 18, 2009

Muito mais para contar



«E acreditem: há muito mais para contar»
Fernando Mendes e Luís Aguilar
JOGO SUJO
Livros d´Hoje, 2009


De quando em vez o mercado livreiro nacional é “abanado” por obras que nos pretendem trazer de forma mais ou menos explícita, clara e honesta as nebulosas que pairam sobre o futebol indígena. Foi assim, e por ordem cronológica de edição, com GOLPE DE ESTÁDIO de Marinho Neves (excelente), ESTÁDIO DE CHOQUE de Rui Santos (sofrível), VOCÊS SABEM DO QUE ESTOU A FALAR de Octávio Machado (medíocre) e, muito recentemente, JOGO SUJO de Fernando Mendes e Luís Aguilar.

Fernando Mendes foi um jogador profissional de futebol, internacional, com um percurso competitivo rico e uma personalidade peculiar. Os títulos que ajudou a conquistar ocorreram sobretudo numa fase algo tardia da sua carreira, quando representou o Futebol Clube do Porto. Teve uma excepcional multiplicidade de experiências. Terá sido, e julgo não estar equivocado, o único atleta que representou os seis clubes portugueses com melhor palmarés: Sporting CP, SL Benfica, Boavista FC, FC Porto, CF os Belenenses, Vitória Futebol Clube [Vitória de Setúbal], aqui indicados pela ordem com que envergou as suas camisolas.

Recordo de Fernando Mendes um futebolista competitivo, tecnicamente evoluído, disciplinarmente problemático.
Perguntarão alguns: o Fernando Mendes de “feitio difícil” e “verbo fácil” será a personagem mais credível e melhor apetrechada para nos ofertar um livro com as pretensões enunciadas? Não sei. Mas também não parece que isso seja agora o mais relevante.

JOGO SUJO é um livro interessante. Está razoavelmente bem escrito. Não é repetitivo. Parece sincero.
Mas… Fernando Mendes e Luís Aguilar não disseram a verdade toda. Terão escrito a que lhes foi conveniente. Apenas a possível? Não creio.

A obra enferma, em minha opinião, de um “pecado fatal”.
Em nota final, os seus autores afirmam que «Este livro é uma segunda versão da obra inicialmente escrita. A primeira versão apontava nomes, locais e datas dos momentos mais sórdidos que aqui são relatados. Infelizmente, o clima de medo e de censura instalado no futebol português tornou impossível juridicamente que essas mesmas pessoas fossem expostas, deixando esse primeiro livro condenado a viver numa gaveta».
Porquê então deixar implícitos, embora sem os citar, apenas um clube, um presidente e um técnico, quando os autores trouxeram à colação a problemática do doping no futebol português?

Uma coisa é certa: não seria indispensável o contributo de JOGO SUJO para mergulharmos nas profundezas mais tristes e deploráveis do futebol português. Mas não deixa de ser mais um contributo. O que se aplaude. Que outros lhe sucedam.

A utilização de substâncias “energizantes”, os estágios “coloridos”, os árbitros “amigos”, os presidentes e técnicos “chupistas”, não foram realidades apenas contemporâneas do período (longo) durante o qual Fernando Mendes pisou os relvados portugueses. A esse respeito ninguém tem dúvidas: começaram antes e prosseguiram depois. Pedurarão para todo o sempre?

Verdade desportiva. Sabem o que é?
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