quarta-feira, dezembro 31, 2008

Maravilhoso


Eric Clapton. Wonderful tonight

Memória Barreirense (XXXVI)


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General sem tropas

A Assembleia-Geral de 4 de Abril de 2005 deu início à discussão da “viabilidade de construção para o campo de jogos D. Manuel de Mello e do anteprojecto para as infra-estruturas desportivas a construir no terreno da Verderena” (ponto 2 da Ordem de Trabalhos). Assunto que teve continuidade nas Assembleias de 26 de Abril, 3 e 25 de Maio. Nesta última data, a Ordem de Trabalhos foi a seguinte: “Apreciação de eventuais propostas de compra e autorização para a Direcção efectuar a venda das parcelas de terreno onde está implantado o Campo D. Manuel de Mello; autorização para a Direcção efectuar a compra de um parcela de terreno sita em Palhais para a construção de infra-estruturas desportivas; autorização para celebração de contrato de urbanização com a empresa Teodoro Rúbio e Filho Lda., relativamente aos terrenos da Verderena”.
A sessão não começou bem para Manuel Lopes. A sua proposta de alienação patrimonial encontrou desconfiança entre vários associados que manifestaram as suas críticas e reservas. Foram as intervenções de Carlos Pires, de Manuel Fernandes e de mim próprio que, com argumentos consolidados e de forma serena e tranquila, inverteram o curso dos acontecimentos. E a proposta de Manuel Lopes foi aceite por larga maioria. De forma peculiar, tinham sido três personalidades conotadas com o Basquetebol, sobretudo as duas últimas, a ‘dar a cara’ por Manuel Lopes, que apenas um ano antes ameaçara ferir de morte o basquetebol de alta competição no FCB. Curioso…
Uma equipa de acompanhamento constituída inicialmente por Carlos Pires, José Almeida Fernandes e Mário Pereira, veio a incluir mais tarde João Paulo Prates e João Pimentel. Dificuldades e obstáculos de índole diversa condicionaram o seu papel fiscalizador. Mas, em minha opinião, podia e deveria ter-se feito mais e melhor…
Lamentavelmente, a minha intervenção nessa Assembleia-Geral não ficou registada na respectiva acta. Também a minha abstenção, com dois outros consócios, na votação do relatório e contas de 2002 (Assembleia-Geral de 26 de Maio de 2003), não foi contemplada na acta da reunião. E a minha intervenção em defesa do basquetebol sénior na Assembleia-Geral de 17 de Maio de 2004, que ainda hoje considero ter sido determinante para o processo de reorganização do basquetebol Barreirense, foi omitida.
Na reunião de associados, realizada na noite de 13 de Junho de 2007, preparatória da Assembleia-Geral de 18 desse mês, chamei a atenção dos membros dos Órgãos Sociais presentes para a gravidade e a importância desses lapsos e daquelas omissões. A minha interpelação teve uma resposta imediata e consequente do Presidente da Assembleia-Geral do FCB, António Sardinha. Com efeito, cinco dias depois, todas as intervenções efectuadas foram gravadas para posterior utilização na redacção da respectiva acta.
A leitura de muitas das actas das Reuniões de Direcção e das actas das Assembleias-Gerais, disponíveis em arquivo na sede do FCB, e que contribuíram para a realização deste livro, permitiu-me concluir que, nos últimos anos, a qualidade da redacção, o rigor da execução, a quantidade de informação disponível, têm vindo a baixar de forma assinalável e, em minha opinião, perigosa. Perdeu-se alguma exigência formal, desvalorizou-se a importância dos conteúdos. De que vêm resultando imprecisões desnecessárias e injustas omissões. Este é um aspecto que aqui realço por estar convicto da sua importância para uma instituição respeitada e respeitável, em que a História quase centenária deve ser feita a partir do relato sério e verdadeiro e da interpretação fidedigna e rigorosa dos factos que a fermentam, aprofundam e enriquecem.
Participar
A presença de associados nas Assembleias-Gerais dos clubes é habitualmente diminuta. Excepto em momentos mais problemáticos de crise, de propostas fracturantes, etc.
No FCB, como na generalidade dos outros clubes. É esta a tradição em Portugal. Os portugueses não têm uma cultura de participação cívica muito arreigada. São pouco intervenientes. E pouco exigentes, consigo próprios, sobretudo. Depositam docilmente, com demasiada frequência, nas mãos de salvadores, profetas e mecenas, a solução dos problemas.
Como já deixei subentendido, tenho estado presente desde os 18 anos, na generalidade das Assembleias-Gerais do FCB. E, mais recentemente, tenho apelado de forma pública à participação dos meus consócios, como aconteceu em 7 de Maio de 2006 em Rostos:

O direito e o dever de participar
Realiza-se hoje, pelas 21 horas, uma importante Assembleia-Geral Ordinária do Futebol Clube Barreirense, com a seguinte ordem de trabalhos:
1. Apreciação, discussão e votação do relatório e contas de 2005
2. Eleição de corpos gerentes para o biénio 2006-2008.
O panorama presente do Associativismo, e em particular do Associativismo Desportivo, atravessa momentos de crise, cujas diversas causas não cabem no espaço e objectivo deste texto, mas que configuram e traduzem as profundas alterações económicas, sociais e culturais ocorridas no nosso país nas últimas décadas.
Um número significativo e crescente de famílias portuguesas está progressivamente afectado por um perigoso e insustentável endividamento, a situação económico-financeira do pequeno e médio empresariado comercial e industrial está altamente fragilizada, a capacidade de endividamento ultrapassada em muitos municípios e praticamente esgotada nos restantes. Consequentemente, o apoio e o investimento, individual e colectivo, dos associados, das empresas e dos executivos autárquicos, têm vindo paulatinamente a decrescer, limitando e pondo em causa a capacidade de afirmação e mesmo de sobrevivência, de um número importante das agremiações desportivas portuguesas.
O Futebol Clube Barreirense, ao contrário de outros prestigiados, históricos e respeitados clubes, tem conseguido ao longo dos últimos anos responder, ainda que com extrema dificuldade, a crescentes dificuldades e estrangulamentos financeiros, decorrentes de uma preocupante e duradoira conjuntura económica do país. Há cerca de um ano, a venda de património (Campo D. Manuel de Mello e parcela de terreno do futuro Complexo Desportivo da Verderena) correspondeu, como foi inequivocamente demonstrado em Assembleia-Geral, e aí maioritariamente sufragado pelos nossos consócios, a uma decisão indispensável à sobrevivência do Futebol Clube Barreirense.
Assegurada a sua viabilidade de curto prazo, importa agora que os Barreirenses, todos os Barreirenses, tenham consciência do momento decisivo que o seu Clube atravessa, em que a legítima ambição de um sério e moderno projecto desportivo deve obrigatória e necessariamente adequar-se às exigências e rigores orçamentais, garante da sua sustentabilidade e perenidade. Uma parte significativa da receita decorrente da alienação patrimonial, deverá ser orientada para o desenvolvimento das débeis e obsoletas infra-estruturas desportivas do Futebol Clube Barreirense, condição indispensável para a disponibilização da prática desportiva a um número crescente de cidadãos, a sedução da nossa juventude, o fomento de talentos que possam ser uma base essencial e maioritária na constituição das nossas equipas de alta competição.
No entretanto, e enquanto não se concretizarem os projectos imobiliários que permitam a obtenção, dentro de 4-5 anos, de um suporte financeiro mensal indispensável à cobertura parcial das suas despesas, o nosso Clube permanecerá controladamente deficitário, factor imprescindível para a manutenção das suas modalidades mais representativas, o futebol e o basquetebol, em patamares competitivos dignos e suficientemente atractivos para os nossos adeptos.
A informação, o esclarecimento e a participação dos associados é fundamental neste importante momento de viragem, pelo que a sua presença na Assembleia Eleitoral de hoje assume, mais uma vez, enorme relevância e pertinência. A presença, activa e empenhada, dos meus consócios esta noite, no mítico Ginásio-Sede, que completará 50 gloriosos anos de vida em 20 de Maio próximo, será a demonstração da sua inabalável vontade de construir um Barreirense novo, um Barreirense com futuro, um Barreirense de sucesso.
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Finalmente

Em 11 de Abril de 2007, na cerimónia solene comemorativa do 96º aniversário, António Sardinha, Presidente da Assembleia-Geral, pronunciou um discurso muito importante, em que alertou os presentes para a necessidade de o FCB conter a sua despesa corrente e, saldadas dívidas inadiáveis com parte da verba resultante da venda de património, partir para a construção de infra-estruturas desportivas fundamentais para a sua sustentabilidade desportiva e financeira. Foi uma intervenção notável num tipo de sessões em que, como alertei em texto publicado dias antes em Rostos, o politicamente correcto é a prática dominante. Estava dado o mote, para uma actuação mais empenhada, atenta e exigente do Presidente da Assembleia-Geral. Creio que a Direcção do FCB, ou pelos menos o seu Presidente e Vice-Presidente, se sentiu acossada, controlada, como não experimentara antes.
A Assembleia-Geral Ordinária, tardiamente marcada para 18 de Junho de 2007, reforçou a minha intuição. Aprovado o Relatório e Contas de 2006 e ratificado o mandato do Órgãos Sociais em exercício por mais um ano, António Sardinha tomou a palavra para transmitir aos associados a sua vontade de pedir a demissão da Presidência da Assembleia-Geral. E reafirmou a sua grande preocupação pelo presumível destino das verbas decorrentes da venda do Campo D. Manuel de Mello e de uma fracção de terreno sita na Verderena. A votação ocorrida minutos antes, para ratificação dos Órgãos Sociais, apresentara resultados inesperados para a Direcção reeleita, com uma vantagem de apenas 9 votos (42-33). E Paulo Pardana, Vice-Presidente da Direcção, não se conteve e, de um só fôlego, disparou contra a ‘Assembleia’ – que não expressara o apoio por si esperado – e contra o Presidente da Assembleia-Geral – por suposta quebra de solidariedade institucional. A posição de António Sardinha teve, entre outros, o mérito e o condão de agitar algumas águas, excessiva e artificialmente calmas.
A 19 de Julho decorreu uma Assembleia-Geral Extraordinária convocada para “Apresentação, discussão e votação do Plano de Actividades e Orçamento, época 2007/2008”. Foi apresentado e divulgado um trabalho que reputo de importante, contemplando a previsão de um défice de menor dimensão que o previsto anteriormente mas, ainda assim, distante do desejo de défice zero, exigido na reunião magna anterior por António Sardinha. Efectuei uma intervenção, onde tentei ser conciliador, destacando a redução da dimensão do défice prevista para a temporada 2007/2008 e a transparência e rigor que me pareciam caracterizar o referido documento. Mas na impossibilidade de o ter feito no final da Assembleia-Geral de 18 de Junho, não deixei passar e oportunidade para me solidarizar com a posição então assumida por António Sardinha, que motivara uma reacção a quente mas destemperada e pouco simpática de Paulo Pardana. E salientei a independência, competências e especificidade de funções que devem caracterizar os Órgãos Sociais do FCB. Mantendo algumas reservas, legítimas e partilhadas por muitos outros associados, a propósito das opções de funcionamento do clube, e que expressou com toda a clareza e frontalidade, António Sardinha disponibilizou-se para, sob certas condições, prosseguir como Presidente da Assembleia-Geral. No final da sessão senti-me feliz mas perplexo. Feliz pelo facto de, em finais de Julho, com uma nova época desportiva à porta, a estabilidade directiva do FCB ter sido preservada. Perplexo porque não vi da parte de Manuel Lopes uma abertura claramente assumida para a resolução, de questões aparentemente tão simples como a alteração do modelo de exploração do Café do Ginásio-Sede, quanto mais para o debate e a assumpção de propostas mais profundas da gestão do clube, que considero urgentes e potencialmente conflituais. Transmitindo alguma satisfação, ainda assim contida, pelo desenrolar da Assembleia-Geral, António Sardinha admitiu estarmos a assistir a um momento de transição na vida do FCB. No final, ao descer a escadaria do Ginásio-Sede, interroguei-me:
- Transição para quê?
- Transição para onde?

[Conclusão do Capítulo V - Reuniões Magnas
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Coisas que eu li


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“O reduzido público leitor português (…) não perde pitada dos livros que lhe expliquem brevemente o que é isto, porque é que é isto, e como vai ser isto. Em todo o caso, isto. E se juntar à informação que pretende o quanto-baste de escândalo ou de humor, melhor. Às vezes, o riso, mesmo entre as quatro paredes do quarto em que se lê, é tragicamente a única possível forma de defesa. Ou de tendencial ataque.”
(excerto de texto de PEDRO TAMEN enviado para publicação no EXPRESSO de 29 de Dezembro de 1973, mas que o risco azul censório de um abjecto “exame prévio” censurou, sem dó nem piedade. Rubrica “O que a censura cortou”.
EXPRESSO, 27 de Dezembro de 2008)
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“O olhar sábio e penetrante do falecido escritor Manuel Vásquez Montalbán ajudou a dar peso intelectual ao discurso e uma qualidade mitológica ao Barcelona, definindo-o como «exército desarmado da Catalunha». Cada artigo seu agigantava o poder simbólico do clube.”
(JORGE VALDANO. Crónica “No princípio era a bola”.
A BOLA, 27 de Dezembro de 2008)

“Já não se trata de discutir se a RTP, canal "generalista" idêntico aos piores, presta o célebre "serviço público": trata-se de perceber em que medida prejudica a saúde pública. (...) A RTP é uma fonte deliberada e contínua de tortura mental, ainda por cima cruelmente financiada por muitos dos que a sofrem. O facto de semelhante suplício se processar ao abrigo da lei não atenua, antes reforça a crueldade.”
(ALBERTO GONÇALVES. Crónica “Dias contados”.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 28 de Dezembro de 2008)

“O que se sabe é que Portugal poderá tirar bom proveito do facto de ter construído estádios novos para o Europeu (…) Não haveria outra maneira, outro investimento e outro sector para colocar Portugal no mapa? A resposta histórica é: não. E, como se sabe, apesar dos lobbies de uma cultura de elites pindéricas, a culpa não é, de todo, do futebol.”
(VÍTOR SERPA. Editorial “A questão do Mundial Ibérico”.
A BOLA, 28 de Dezembro de 2008)

“Gostaria que alguém explicasse ao primeiro-ministro, ou que ele percebesse por si mesmo, que o excesso de propaganda, de demagogia e de publicidade enganosa pode ter efeitos contraproducentes, parecidos com os verificados durante a revolução de 1975, que se traduzem no facto de os governantes acreditarem no que eles próprios mandam dizer. De caminho, poderia também compreender que a crispação autoritária não se pode confundir com determinação. Mudasse ele esses atributos, trouxesse ele à vida pública um novo estilo, mais adequado às dificuldades dos tempos, e até talvez voltasse a ganhar as eleições.”
(ANTÓNIO BARRETO. Crónica “Retrato da semana”.
PÚBLICO, 28 de Dezembro de 2008)
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domingo, dezembro 28, 2008

Quase famosos no RCP


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Redescoberta - ao início desta tarde - de um magnífico programa de Pedro Adão e Silva e Nuno Costa Santos.
Pássa no Rádio Clube Português (104.3 FM).
Aos domingos, entre as 13 e as 15 horas.
É o QUASE FAMOSOS.
São "as músicas que marcam as nossas vidas", como se lê no blogue que editam em
Aí podemos aceder ao alinhamento dos programas.
Uma ajuda preciosa na identificação das nossas referências e em futuras aquisições discográficas.
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Para que conste, a sua lista dos melhores de 2008:
Fleet Foxes - White winter hymnal
Vampire Weekend - M79
Robert Foster - Demon days
Hercules and Love Affair - Blind
Silver Jews - Candy jail
Pete Molinari - Sweet Louise
American Music Club - The dance
Spiritualized - Soul on fire
Okkervil River - Lost costlines
The Mountain Goats - San Bernardino
Bon Iver - For Emma, forever ago
Walkmen - Red moon
The Last Shadow Puppets - My mistakes were made for you
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Sonho renascido


Pat Metheny Group
(Álbum Letter from home. 1989)
Dream of the return
(Texto: Pedro Aznar. Música: Pat Metheny)

E nós, Barreirenses?


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Aprovado o Plano de Pormenor da Cidade Desportiva.
Local: Sines.
Área: 20 hectares.
Orçamento: 18.8 milhões de euros.
Barreiro Cidade Desportiva?
Uma treta!
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sábado, dezembro 27, 2008

Luís Freitas Lobo

Escreve n´A Bola e no Expresso. Comenta na RTP.
É culto.

E inteligente.
É exímio na palavra.

E sucinto na frase.
Adivinham a sua cor clubista?

Eu não.
Pois é…
O meu jornalista de 2008.

Também acho!

"Um partido pode (e deve) ter uma maioria parlamentar. Isso não é uma ameaça à liberdade. É uma necessidade governativa.
A verdadeira ameaça à liberdade reside na ´maioria absoluta` institucional, a filha bastarda da maioria parlamentar".
(Henrique Raposo
Expresso 27/12/2008)

Memória Barreirense (XXXV)


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Gostava de lá ter estado
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Em 29 de Abril de 1991, um mega-almoço juntou em Fernão Ferro (Concelho do Seixal) 400 Barreirenses que, com vínculos muito diversos ao basquetebol do FCB, prestaram homenagem a antigos campeões nacionais, e aproveitaram a oportunidade para uma saudável e gratificante confraternização.
Estiveram presentes na Mesa de Honra: Justino Marques (Direcção Geral dos Desportos), Júlio Freire e Luís de Carvalho (Câmara Municipal do Barreiro), Carlos Pires (Federação Portuguesa de Basquetebol), Armindo Pereira (Associação de Basquetebol de Setúbal), Emanuel Góis (Presidente da Assembleia-Geral do FCB), Luís Filipe Costa Mano (Presidente da Direcção do FCB) e Joaquim José Guilherme (jogador da primeira equipa de basquetebol do FCB). Não estive presente. E tive pena! Apesar de acompanhar desde há muito a modalidade, não fora praticante, nunca fora convidado para qualquer contribuição e, naturalmente, não fui convidado para o repasto.

Em Junho dos anos de 2002 e 2003, no final das épocas competitivas, estive presente em jantares realizados, respectivamente, no Ginásio-Sede e no restaurante Acordeon, a convite dos responsáveis da Secção de Basquetebol do FCB.
Foram magníficas concentrações de Directores, Seccionistas, Clínicos, Atletas e Pais, que demonstraram uma grande vitalidade do basquetebol de formação do clube. Senti-me bem, junto de gente boa, que fui conhecendo ao longo de muitos anos, em momentos de triunfo e de alegria, mas também, por vezes, em contextos de derrota e desilusão.
Guardo também uma grata recordação de um jantar realizado em Abril de 2004 no restaurante Fragata e que serviu para confraternização de todo o grupo de trabalho da equipa sénior de basquetebol. Liderado tecnicamente por José Luís Damas – que sucedera no cargo a Francisco Cabrita – o FCB teve nessa época uma prestação meritória, dolorosamente interrompida no quinto jogo da primeira eliminatória dos playoff de atribuição do título de campeão da Liga TMN, por um cesto de Francisco Rodrigues obtido no último segundo da partida. Tal como nas temporadas precedentes de participação na Liga Profissional, acompanhara a equipa em praticamente a totalidade dos jogos caseiros e forasteiros. E tivera ainda outros níveis de contribuição para a Secção. Por essa razão, o Director José Manuel Tenório teve a gentileza de me convidar.
No final do jantar, em tempo de discursos, fui surpreendido com a oferta de uma bola assinada por todo o staff, o que me deixou muito feliz. Emocionado, agradeci tão grande deferência. E proferi uma intervenção, traduzida em inglês por António Carrilho e Ricardo Gomes para três dos atletas estrangeiros que tão competentemente haviam servido as nossas cores: Tiray Pearson e Ronnie McCollum (norte-americanos), Dusan Macura (sérvio). As minhas palavras tiveram dois destinatários principais: Manuel Lopes, que vinha alertando para a sua intenção de diminuir drasticamente o orçamento do basquetebol para a temporada seguinte e Emídio Xavier, Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, a quem agradeci o apoio concedido ao FCB através de um Contrato-Programa e a quem solicitei a manutenção dos apoios da autarquia a uma modalidade de tão grandes tradições no clube e um veículo tão importante de difusão do Barreiro por esse país fora.
Estava então muito longe se supor que, escassas semanas depois, as contingências e as exigências de uma delicada situação da modalidade me tornariam Director do FCB e interlocutor da Secção de Basquetebol junto da Câmara Municipal do Barreiro…
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Saco escondido
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Graves dificuldades económicas assolavam o FCB, uma vez mais. Em Assembleia-Geral realizada a 8 de Novembro de 1991, os associados presentes em número razoável no Ginásio-Sede, viram uma luz ao fundo do túnel. António Parra Duarte, Presidente da Direcção, disponibilizou-se para emprestar uma parte considerável da dívida, para pagamento de compromissos inadiáveis.
O ‘mecenas’ aí estava para – com mais ou menos custos para o FCB, maior ou menor transparência, mais ou menos interesse pessoal e/ou empresarial – assegurar a continuidade do clube, pelo menos no modelo organizacional e competitivo vigente nos últimos tempos. Naturalmente que a sua ‘generosa’ disponibilidade mereceu pronta aceitação e emotivo reconhecimento por parte dos associados que, como eu próprio, votámos favoravelmente, sem grandes hesitações.
De pé, junto à ala esquerda da mesa onde os membros da Mesa da Assembleia-Geral dirigiam os trabalhos, António Parra Duarte, homem de estatura baixa, parecia nervoso e tenso. Curiosamente, os seus movimentos pareciam limitados por algo que se vislumbrava debaixo da sua axila esquerda. A dúvida e a curiosidade ocorreram-me e, a avaliar pela reacção dos que me rodeavam, também invadiu o espírito de muitos dos presentes mais atentos. Que seria aquilo?
Apresentadas as suas promessas e aprovadas as propostas imobiliárias, financeiras e desportivas, António Parra Duarte deslocou-se para a zona mais central da mesa e pousou um volumoso, incómodo e certamente pesado saco de papel. O mistério estava desfeito! Do saco escondido brotaram notas e notas de conto. Afinal… os 11.400 contos [cerca de 57.000 euros] que o Presidente prometera, para ‘salvação’ do FCB.
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Tributo a Albino Macedo

A Assembleia-Geral Extraordinária de 4 de Abril de 2005, presenciada por 116 associados, foi convocada para “deliberação da atribuição de emblema de diamante e louvor ao associado Albino António da Silva Macedo pelos altos serviços prestados ao FCB”.
Efectuei uma breve intervenção em defesa daquela proposta. Alves Pereira, ilustre jurista e Presidente da Assembleia-Geral em vários mandatos, efectuou uma brilhante intervenção, de grande conteúdo e com a qualidade oratória que o caracteriza. A proposta veio a ser aprovada por unanimidade.
Uma semana depois, realizou-se a sessão comemorativa do 94º aniversário do FCB. Por solicitação de Manuel Lopes, proferi uma intervenção dedicada a Albino Macedo, que seria depois galardoado com o Emblema de Diamante, por 75 anos de filiação clubista.
Conheci Albino Macedo há mais de quatro décadas. Amigo do meu pai, que integrou elencos directivos por si presididos. Foi com enorme prazer, mas também com algum constrangimento, que aceitei o desafio. Perante uma vasta audiência de Barreirenses e ilustres convidados, onde se destacava Vicente Moura, Presidente do Comité Olímpico Português, li um texto que preparara com todo o cuidado:

Exmo. Presidente da Assembleia-Geral do Futebol Clube Barreirense
Exmo. Presidente da Câmara Municipal do Barreiro
Exmas. Individualidades presentes na Mesa desta Sessão Solene Comemorativa do 94º Aniversário do Futebol Clube Barreirense
Caros Consócios e demais presentes

Como muitos de nós, Albino António da Silva Macedo, é associado do Futebol Clube Barreirense desde o seu dia de nascimento.
Ao longo de 75 anos, Albino Macedo dedicou-se de corpo e alma ao engrandecimento e fortalecimento do nosso histórico clube. Como atleta, destacou-se no basquetebol, tendo apenas representado as nossas cores, ao longo de uma carreira de 17 anos (1946 a 1963). Para a história ficam muitos momentos de glória, daquele que foi capitão do Futebol Clube Barreirense, campeão nacional sénior nas épocas de 1956/1957 e 1957/1958 e capitão da Selecção Nacional sénior de 1957 a 1959. Como dirigente, Albino Macedo foi pela primeira vez Presidente do FCB com apenas trinta e quatro anos de idade, sendo ainda hoje o associado com maior número de anos como Presidente do clube, onze, entre 1964 e 1992. Desempenhou outros cargos directivos e é, como sabem, actualmente Presidente do Conselho Consultivo e Contas. A sua dedicação, a sua honestidade, a sua simplicidade, o seu desprendimento material, elevam-no sem qualquer dúvida, ao patamar mais alto de todos quantos têm servido este clube ao longo de noventa e quatro anos.
Em 1958, apenas dois anos após a inauguração do nosso Ginásio-Sede, sensibilidades diversas no seio do clube, dividiam a sua eficácia, dificultavam o seu crescimento, ameaçavam a sua unidade. No Jornal do Barreiro de 20 de Fevereiro desse ano, o associado Fernando de Alenquer, escrevia em artigo de opinião: “O Futebol Clube Barreirense é uma colectividade especial. Pode ser igual a outras, ter pelo menos afinidades que em certos aspectos tornem comum o seu destino; mas nenhuma lhe é paralela no caminho do esforço criador… Mas a sua massa associativa está dividida. O haver numerosos grupos, cada um constituindo, muito naturalmente, um núcleo de opinião e de crítica, não significa divisão perniciosa; pelo contrário, se cada grupo se orientar no sentido do engrandecimento da colectividade, opinando e criticando construtivamente, a revalorização será inevitável e mais rápida… O Barreirense é um clube especial, cheio de popularidade. Mas precisa de unidade. Precisa de que dentro dele se difundam doutrinas que lhe mostrem a sua obra inacabada; que lhe revelem não estar ainda concluída a estrada do seu destino; que lhe mostrem a necessidade de aproveitar valores e de os conjugar no sentido de nunca se perder esse tino que lançou a primeira pedra do ginásio e depois tornou, pelo esforço criador, a obra una e indivisível. É difícil o desiderato? Não se nega a canseira a que obrigará. Mas as tarefas cívicas que decorram dessa obrigação de indivisibilidade, no sentido construtivo, serão benditas. Elas eliminarão, a pouco e pouco a dificuldade de construir elencos directivos e tornarão o Barreirense mais Barreirense – mais progressivo… O Barreirense precisa de todos: dos que só podem pagar a sua quota e dos que, acima de tudo, lhe podem dar a sua inteligência e a sua dedicação”.
Como parecem sábias e actuais estas palavras. Num momento em que tanto pode mudar tão depressa neste grande clube, importa fortalecer a unidade entre todos os Barreirenses, afirmar a sua matriz identitária, onde se destaca a prática tradicional e gloriosa de duas modalidades muito queridas: o futebol e o basquetebol. Albino Macedo, personifica esta perspectiva, passada, actual e futura, de um clube que se quer plural, realista mas ambicioso.
Albino Macedo acompanha com intensidade e paixão todas as actividades do clube. Aos sábados, vemo-lo no Pavilhão Luís de Carvalho, apoiando a equipa sénior de basquetebol, já não amadora como no seu tempo, mas ainda assim peculiar no panorama da modalidade em Portugal, pela afirmação tão forte da sua escola de formação e que a tornam tão respeitada e tão admirada. Aos domingos, é fácil encontrar o Albino no ‘Manuel de Mello’ ou em qualquer outro campo onde se desloca a nossa mais representativa equipa de futebol.
O Futebol Clube Barreirense sabe honrar e homenagear as suas glórias, os seus mais devotados, competentes, sérios e ilustres associados. Em Novembro de 1959, sendo Presidente Renato Freire, Albino Macedo, ainda praticante de basquetebol, carreira que apenas encerraria cinco anos depois, foi alvo de uma inesquecível festa de homenagem e consagração, promovida no Ginásio-Sede pelo seu clube de sempre. Recebeu com todo o merecimento a Medalha de Mérito e Dedicação do Futebol Clube Barreirense, entregue pelo associado número um, António Maria da Costa. No palco, numa cortina aveludada, podia ler-se: “Obrigado Albino Macedo”.
Essas são, também hoje, as minhas últimas palavras, as nossas últimas palavras: “Obrigado Albino Macedo”.
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[Excerto do Capítulo V - Reuniões Magnas
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Feliz Natal 2008


Na abundância ou à míngua,

Em paz ou em guerra,

Na saúde ou na doença,

Com alegria ou tristeza...

É Natal. BOAS FESTAS

Memória Barreirense (XXXIV)


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Unidade Barreirense
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Na época de 1965/1966, o FCB procedeu ao arrelvamento do Campo D. Manuel de Mello. A equipa não assegurou a manutenção na I Divisão e a descrença instalou-se. Sucederam-se as críticas ao Presidente Albino Macedo.
Luís Raimundo dos Santos, Presidente da recém-eleita Direcção, decidiu promover a 1ª Festa da Unidade Barreirense. Objectivo: “dinamizar novas relações, estreitar velhas amizades, apaziguar longevas desavenças e espraiar a atmosfera densa que se respirava no seio do Futebol Clube Barreirense, fazendo com que todos estendessem as mãos uns aos outros num cordial civismo e amor clubista. Enfim… era necessário fazer ressurgir o ‘velho’ Barreirense para que o futuro fosse encarado, por todos, com maior confiança!” (José Rosa Figueiredo, 70 Anos de Vida do Futebol Clube Barreirense).
Constituiu-se uma Comissão de Associados, com a seguinte composição: Albino da Silva Macedo, Albino da Silva, Armando da Silva Pais, Eduardo Espírito Santo, Fernando Silvério do Nascimento, Francisco Tavares Câmara, Jacinto Nicola Covacich, Jaime Diniz Abreu, Joaquim Pedro Pacheco, Luís Raimundo dos Santos, Manuel Costa Seixo e Victor Rodrigues Adragão. Desenvolveu-se um grande esforço de mobilização. Na edição de 6 de Outubro de 1966, o Jornal do Barreiro publicou a seguinte carta-circular, difundida por sócios e amigos do FCB:

Neste período de bem necessária renovação e maior revigoramento desportivo do Futebol Clube Barreirense, ao reabrir as portas do seu campo atlético após as obras de arrelvamento e outras complementares (embora ainda não concluídas), uma comissão de sócios acaba de tomar a iniciativa de organizar uma grande “Festa de Unidade Barreirense” que demonstre bem significativamente, a maior unidade, a mais íntima união de todos os “Barreirenses” à volta do pavilhão “alvi-rubro” de tão belas tradições na defesa da Causa Desportiva, irmanados todos no mesmo desinteressado objectivo de bem servir, e relegadas, portanto, ao esquecimento as pequenas divergências que algumas vezes cindiram o bloco de dedicações e sacrifícios que alicerçou, lenta mas proficuamente, a grandeza do Futebol Clube Barreirense e o tornou admirado e respeitado, como clube de primeiro plano.

A 22 de Outubro de 1967, o Ginásio-Sede fervilha de alegria e entusiasmo. Os esforços desenvolvidos pela comissão organizadora culminam numa presença impressionante de 1.000 Barreirenses – associados, atletas, treinadores, dirigentes.
Depois da audição do Hino do FCB, coube a Luís Raimundo dos Santos o discurso inaugural, seguido de outras intervenções, da leitura de cartas de Barreirenses ausentes que, como Luís Casimiro Vasques, residente em Paris há alguns meses, não quiseram deixar de marcar a sua presença.
Os testemunhos da grandiosa noite, a que não assisti, são eloquentes dos momentos inolvidáveis que a marcaram, um dos quais foi a reconciliação dos irmãos João e Pedro Pireza, desavindos e de relações cortadas há 18 anos.
Maria Helena Bota Guerreiro, com enorme emoção, recitou o:

Poema de Unidade Clubista

Ninguém faltou à chamada!
Sabemos que estão presentes
Quer em corpo, quer em espírito, que importa?
Pois todos cabem cá dentro
Ao transpor aquela porta!

Vinte anos depois, a 17 de Maio de 1986, assisti no Ginásio-Sede à 2ª Festa da Unidade Barreirense. Impulsionada, tal como a primeira, por esse grande vulto do dirigismo, Luís Raimundo dos Santos.
A 11 de Abril, comemorara-se o 75º aniversário, em cerimónia solene realizada no Ginásio-Sede. O futebol ficara num modesto 12º lugar no Campeonato Nacional da II Divisão. O basquetebol tivera mais uma boa prestação: semi-finalista da Taça de Portugal e 3º lugar no nacional da divisão principal.
Centenas de Barreirenses, oriundos de diversas regiões do país, convergiram mais uma vez para o Ginásio-Sede, numa tarde de grande amor clubista e exemplar fraternidade Barreirense. Um lanche volante favoreceu a circulação dos presentes que comungaram lembranças e reforçaram laços de amizade que a distância física não consegue apagar. Recordo o grande discurso de Alves Pereira, num registo profundo, sentido, enérgico. Jamais me esquecerei daquela tarde. Luís Raimundo dos Santos foi justamente premiado pela sua dedicação. Mas o FCB foi o grande triunfador da jornada que o Jornal do Barreiro de 23 de Maio de 1986 classificou de “grande, humana e bonita a Festa da Unidade”.

Tal como há 40 anos, o FCB voltou a cair para um escalão competitivo no panorama futebolístico nacional nada condizente com a sua tradição. E debate-se com preocupantes dificuldades financeiras e estruturais. Com uma apatia de sectores generalizados da massa associativa e adepta. E divisões internas, nomeadamente entre grupos mais activos afectos às duas modalidades mais representativas – futebol e basquetebol. Divisões que, apesar de antigas e recorrentes, são estéreis e perigosas.
Impõe-se uma outra concepção do clube. E outra praxis.
3ª Festa da Unidade Barreirense?

Sim, pois claro!
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Deixaram cair a prenda

Aníbal Cavaco Silva, actual Presidente da República, foi o Primeiro-Ministro do XI Governo Constitucional (1987-1991). Foi nessa qualidade que visitou o Ginásio-Sede, em Março de 1989. Em tarde primaveril de sábado.
Na mesa da cerimónia estiveram ainda presentes: Alves Pereira (Presidente da Assembleia-Geral do FCB), Hélder Madeira (Presidente da Câmara Municipal do Barreiro), Álvaro Monteiro (Presidente da Assembleia Municipal do Barreiro), Irene Aleixo (Governadora Civil de Setúbal), Carlos Pimenta (Deputado no Parlamento Europeu) e os Ministros do Plano, da Educação e dos Transportes. O Ginásio-Sede esteve lotado de uma assistência politicamente muito heterogénea, mas que soube receber o Primeiro-Ministro com respeito e cordialidade.
Na sua alocução, Aníbal Cavaco Silva manteve a promessa governamental de auxiliar o FCB na edificação do Pavilhão, velha aspiração dos seus adeptos que para o efeito tinham constituído uma “Comissão Pró-Pavilhão”, presidida por João Manuel Prates – antigo atleta e médico do clube, e destacado cidadão Barreirense. Embora sensibilizado para a importância da obra desejada, Aníbal Cavaco Silva exigiu uma adequação do projecto a uma dimensão menos ambiciosa e dispendiosa. E disponibilizou uma verba compreendida entre 100.000 e 150.000 contos [500.000 a 750.000 euros].
Dificuldades, incapacidades e indecisões de diversos matizes impediram até hoje a concretização de tão necessária estrutura desportiva. O tempo foi passando, a verba sucessivamente cativa para a edificação, mas todos os limites se esgotaram. Pelo que os apoios estatais indispensáveis à sua realização terão de ser novamente discutidos e revistos com a tutela. Uma pena…
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Fusão, essa ilusão

A primeira abordagem pública de uma ideia de fusão de alguns dos principais clubes do Barreiro terá sido efectuada pelo conceituado jornalista Domingos Lança Moreira, em data e contexto que não consegui precisar.
Em artigo publicado na edição de 5 de Setembro de 1957 do Jornal do Barreiro, o jornalista Oliveira e Silva defendeu publicamente um processo de fusão que abrangesse, pelo menos, o FCB e o Grupo Desportivo da CUF. Apesar das críticas de imediato desencadeadas pela sua posição, Oliveira e Silva voltou à carga em 3 de Outubro.
Foram muitas as vozes discordantes dessa pretensa solução para os problemas estruturais, financeiros e desportivos dos, à época, principais clubes do Barreiro: FCB, Grupo Desportivo da CUF, Luso Futebol Clube e Clube Naval Barreirense.
O Jornal do Barreiro, onde parecia dominante uma perspectiva favorável à fusão, voltou a levantar a questão em 23 de Fevereiro de 1958, informando que Jorge de Mello, líder do grupo CUF, estava a estudar essa possibilidade com alguns clubes. A demissão de Armando da Silva Pais, Director de O Barreirense, jornal do FCB, foi reveladora da delicadeza e conflitualidade da questão e pelo clima gerado no interior do FCB. E o assunto pareceu morrer, ou pelo menos adormecer…

Em Junho de 1990, por influência de Pedro Canário, Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, realizou-se no Auditório da Biblioteca Municipal do Barreiro, uma reunião patrocinada pelo autarca, onde estiveram presentes algumas dezenas de associados em representação do FCB e do Grupo Desportivo da Quimigal (que sucedera em 1980 ao Grupo Desportivo da CUF e que em 2000 passou a designar-se Grupo Desportivo Fabril).
Albino Macedo, Presidente da Direcção do FCB, convidara-me uns dias antes para estar presente, o que prontamente aceitei. Na Biblioteca do Ginásio-Sede realizou-se uma reunião preparatória, onde a Direcção expôs a sua visão do problema. O Grupo Desportivo da Quimigal debatia-se então com graves problemas organizativos, desportivos e financeiros. E, admitia-se em alguns círculos supostamente bem informados, que a administração do Grupo Mello estava disposta a vender as instalações do Complexo Alfredo da Silva. O FCB perfilava-se aos olhos de alguns dos seus dirigentes como potencial comprador. Confesso que apesar de ter crescido num ambiente de muita crispação e algum ódio em relação ao Grupo Desportivo da CUF, não considerei aquela hipótese particularmente digna e interessante.
O desenrolar da reunião, presidida por Pedro Canário, veio a revelar uma clara ausência de estratégia por parte dos dirigentes do meu clube. E a determinada altura, resolvi pedir a palavra. De improviso, até porque não perspectivara qualquer intervenção, critiquei qualquer eventual proposta de fusão dos dois clubes e mostrei concordância e sintonia com a posição formulada por Álvaro Monteiro, em rota de colisão com o Partido Comunista Português, no sentido de ponderar devidamente os benefícios da municipalização do ‘Alfredo da Silva’. Pareceu-me que Albino Macedo e os seus colaboradores não apreciaram o meu arrojo e independência, mas, passados dezassete anos, creio ter assumido uma posição genericamente justa e correcta, importante para a sustentabilidade e autonomia de ambos os clubes, e adequada à vida desportiva do Barreiro.
O tema não mereceu atenção do Jornal do Barreiro, que não lhe dedicou qualquer espaço noticioso. Desta vez, não houve debate público, nem polémica…
O debate acerca da municipalização do Complexo Desportivo do Grupo Desportivo Fabril – opção de que sou assumido e público defensor – voltou a ser desencadeado recentemente, na sequência da venda do ‘Manuel de Mello’.

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[Excerto do Capítulo V - Reuniões Magnas
Liv
ro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)

terça-feira, dezembro 23, 2008

Eu sei!


Gal e Tom. Concert for Planet Earth. Rio de Janeiro, 07 de Junho de 1992

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Memória Barreirense (XXXIII)



A Democracia é a pior forma de governo,
exceptuando-se todas as outras

Winston Churchill


9 de Julho de 1975

Fui o 117º dos 181 associados que, nessa noite, assinaram o livro de presenças. Realizava-se mais uma Assembleia-Geral do FCB.
Como escreveu Daniel Sampaio (A Cinza do Tempo, Editorial Caminho 1997) “Aos 16 anos já se é grande para muita coisa. Se tudo correu bem, já se ‘curtiu’ ou se ‘andou’ mesmo com alguém. A guerra com os pais ainda está forte, mas muitas vezes já não é tão vital. Já se saiu à noite e aquela magia tão ansiosamente aguardada já não é tão brilhante”.
Então com 18 anos, tinha adquirido a maioridade e uma maior consciência dos meus direitos e deveres associativos. Estávamos em pleno Verão Quente [período explosivo da política portuguesa entre 11 de Março e 25 de Novembro de 1975], assim resumido por Henrique Monteiro e José Manuel Fernandes em nota introdutória ao livro Os dias loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira (edição conjunta dos jornais Expresso e Público, 2006):

(…) os “meses da brasa” em que Portugal esteve à beira da guerra civil, entre a liberdade e um novo totalitarismo, foi – visto hoje, e já com a distância de olhar que apenas o passar dos anos confere à História – um dos períodos mais ricos do nosso passado comum. Nele debateram-se sonhos e realidades, boas e más intenções, esperanças e desencantos. O seu desfecho resultou no Portugal que conhecemos, com todos os seus defeitos e virtudes, mas acima de tudo um país livre. País que devemos aos protagonistas da época, às vezes por razões contraditórias, mas quase sempre porque se tratava de um tempo em que todos os riscos se corriam e todas as soluções pareciam possíveis.

A proliferação de uma miríade de conflitos laborais (com a ocupação de fábricas e latifúndios), a polémica acerca da Unicidade Sindical, o boicote a Mário Soares e ao Partido Socialista nas celebrações do 1º Maio, os conflitos da Rádio Renascença e do República, constituíram alguns dos focos de enorme tensão que vieram agudizar perigosamente a situação política e fazer perigar a nossa jovem Democracia.
A esquerdização global da vida portuguesa envolveu os partidos políticos, os militares, os deputados à Assembleia Constituinte e, de uma maneira geral, quase toda a sociedade portuguesa. Os ventos de mudança também se fizeram sentir nos clubes desportivos e muitas das contradições e combates político-ideológicos foram igualmente transpostos para o seu seio. Na Assembleia-Geral de 9 de Julho, para além de uma proposta recusada de aumento de quotas e da eleição de novos Órgãos Sociais, a Ordem de Trabalhos incluía a discussão e votação da extinção dos lugares cativos do Campo D. Manuel de Mello, “considerados elitistas e pouco de acordo com uma sociedade sem classes”.
Dez dias depois, a Fonte Luminosa em Lisboa foi palco de um gigantesco comício do Partido Socialista, apoiado por todas as forças políticas à sua direita. E o prenúncio, confirmado a 25 de Novembro, de que os portugueses que não se reviam em novas utopias totalitárias podiam garantir, em sinergia com importantes sectores democráticos do Movimento das Forças Armadas, a prossecução, em Liberdade, dos três grandes objectivos do Movimento dos Capitães: Descolonizar, Democratizar e Desenvolver.
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Turbulência

António Manuel Ribeiro, Presidente da Assembleia-Geral do FCB (Presidente de Direcção: José Tiago Rodrigues), convocara para 9 de Abril de 1976 uma Assembleia-Geral Ordinária.
Uma semana antes, a 2 de Abril, a Constituição da República Portuguesa fora aprovada apenas com o voto contrário dos deputados do Centro Democrático Social.

A Constituição de 1976 foi profundamente marcada pelas transformações revolucionárias ocorridas desde 1974 em Portugal. A “transição para o socialismo”, as nacionalizações e o seu carácter irreversível definido pelos limites materiais impostos a futuras revisões, as estruturas populares de base, o Serviço Nacional de Saúde, o carácter gratuito do ensino nos seus vários graus e ramos, a reforma agrária eram, a par do sistema semi-presidencialista e da dupla responsabilidade política do Governo (perante os deputados e perante o Presidente da República) e do sistema proporcional para a transformação dos votos em mandatos, os traços mais característicos de uma Constituição saída de um processo muito turbulento e expressão constitucional da complexidade e das contradições do Portugal revolucionário de 1974 e 1975.
(César Oliveira, Os Anos Decisivos, Editorial Presença, 1993)

A Assembleia-Geral destinou-se a “Apreciar, discutir e votar o Relatório e Contas da gerência de 1975 e respectivo parecer do Conselho Consultivo e Contas. Eleição dos Corpos Gerentes para a gerência de 1976”.
Compareceram 182 associados, numa sessão marcada pela intervenção de Carlos Carvalho, militante do PCP e antigo atleta de basquetebol do clube. O orador, à data membro do denominado Núcleo Desportivo e Cultural do FCB, apresentou uma proposta, cujo teor se transcreve:

Proposta
Considerandos:
- considerando que os Estatutos e Regulamento Geral do FCB foram elaborados em pleno período fascista e por servidores desse regime
- considerando que por esse motivo eles estão completamente ultrapassados neste momento nem defendem os interesses dos sócios do clube
- considerando que a estrutura do clube é arcaica e não funciona bem
- considerando que o clube tem de servir a educação e cultura dos seus sócios através da prática desportiva e cultural
- considerando que o clube deve participar, como aliás tem participado desde a existência do Núcleo, nas acções mais importantes que visem a construção de um desporto novo neste País, propomos:
Formação de Comissão (elementos do Núcleo, da direcção e outros), para:
- estudo e elaboração de um projecto de alteração dos Estatutos e Regimento Geral do Clube de acordo com os interesses dos sócios, do Clube, e dentro do espírito do desporto ao serviço de todos os sócios
- elaboração de um programa de actividades do clube por um período de um ou dois anos dentro da óptica do desporto Direito do Povo
- proposta de nova direcção, já regendo-se pelos novos estatutos e Regulamento Geral e pelo programa apresentado.


Apesar de estatutariamente irregular, a proposta foi admitida para discussão e mais tarde sufragada, com 35 votos favoráveis, 14 votos negativos e 14 abstenções. A comissão entretanto constituída teria dois meses para concretizar a proposta. E a Direcção continuaria em funções até então.
A Assembleia-Geral prosseguiu os seus trabalhos em 15 de Junho, desta vez com um acréscimo significativo de associados presentes. Os 496 inscritos revelavam desde logo uma mobilização importante das partes em confronto. Apresentaram-se a sufrágio duas listas para a Direcção. Presentes na mesa de trabalhos o seu Presidente, o 1º e 2º Secretários (Alfredo Augusto Zarcos da Costa e Domingos das Neves Barroso, respectivamente) e também um representante de cada lista (A: Ângelo Francisco Pinheiro Candeias; B: Jesuíno de Sousa Matoso).
Houve um claro esforço de controlo e legalidade, tendo apenas sido admitidos para votação os sócios com apresentação de cartão e quota do mês anterior. A votação ditou a vitória da lista B (251 votos), com mais 25 votos que a lista derrotada, afecta ao Núcleo Desportivo e Cultural. Quase no final, o Presidente da Assembleia-Geral enalteceu a “forma correcta como os trabalhos haviam decorrido, congratulando-se pelo civismo patenteado por todos… e, não obstante terem estado em votação duas listas opostas, não terem havido vencidos nem vencedores, pois só verdadeiramente o Barreirense ganhara, perante tão expressiva manifestação de interesse clubista”.
Álvaro Monteiro, representante da lista A, propôs-se impugnar a Assembleia-Geral, alegando infracção do parágrafo único do artigo 68 dos Estatutos: “Os sócios enquanto empregados do clube não poderão tomar parte nas AG, eleger ou ser eleitos, sendo-lhes rigorosamente proibido discutir ou criticar os actos dos corpos gerentes” [tinham estado presentes dez atletas da equipa sénior de futebol, entre os quais Câmpora, Piloto e Serra]. Invocou ainda que a lista B incluía um elemento inelegível. Passavam dez minutos das três horas da madrugada, quando os trabalhos foram dados por encerrados.
Na sequência do processo eleitoral, a nova Direcção passou a ser presidida por Albino Macedo, sendo Fernando Fagundes o Presidente da Assembleia-Geral (1º Secretário: Álvaro Pinheiro Calhau, meu pai).
Simpatizante de ideias políticas esquerdistas, embora sem qualquer alinhamento partidário formal, não compreendi o que estava verdadeiramente em jogo nesse momento crucial da vida do clube. E distanciei-me das posições em confronto, numa postura neutral, que poderia ter contribuído para uma evolução perigosa do FCB, pretensamente a coberto de ideais respeitáveis mas com um enorme potencial de deriva totalitária. O que pouco depois, felizmente (!), entendi, com clareza e arrependimento.
O Núcleo Desportivo e Cultural prosseguiu entretanto a sua actividade. Em 30 de Agosto de 1976 emitiu um comunicado, sem conhecimento prévio da Direcção do FCB, criticando publicamente a demissão do até então Director Geral dos Desportos, Melo de Carvalho. Albino Macedo não tolerou essa atitude, invocou falta de confiança nos elementos do Núcleo Desportivo e Cultural e, sustentado nos Estatutos, procedeu à sua suspensão, ratificada numa Assembleia-Geral Extraordinária, realizada em 8 de Novembro de 1976, muito participada, com 456 associados inscritos, número particularmente significativo, para um clube que tinha então 4.000 filiados. O Núcleo Desportivo e Cultural dissolveu-se, e veio a constituir-se como Núcleo Desportivo e Cultural do Barreiro, de efémera duração.
Mais liberto de alguma guerrilha político-partidária, o FCB estabilizou e a Assembleia-Geral seguinte (15 de Abril de 1977) foi de novo caracterizada por um número menos relevante de sócios, apenas 42 presenças.
a
[Excerto do Capítulo V - Reuniões Magnas
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)

terça-feira, dezembro 16, 2008

Memória Barreirense (XXXII)



Falsa despedida

Assisti na curva poente do topo norte, ao que julguei ser o último jogo oficial do FCB no Campo D. Manuel de Mello. Na companhia do Zé António e do Francisco Barrenho, dois bons amigos. Barreirenses que, como eu, sempre tiveram uma visão plural e não redutora do clube, sustentada na força das suas duas modalidades mais representativas – o futebol e o basquetebol.
A 29 de Maio de 2007, o milhar de Barreirenses que para aí se deslocou, tinha ainda uma réstia de esperança. Embora dependente de uma obrigatória conjugação favorável de resultados, a manutenção na II Divisão era matematicamente possível. O Louletano, adversário dessa tarde de domingo, em luta pela subida à Liga de Honra, não seria um adversário fácil, muito menos acomodado. Empatámos 1-1, mas a vitória, teria ainda assim significado a nossa descida ao quarto escalão nacional.
Em duas temporadas consecutivas baixámos dois escalões competitivos, desenlace que apenas ocorrera entre 1978 e 1980, quando num ápice transitámos da I para a III Divisão.
Nessa tarde, nublada e triste de Maio, fui dos últimos a abandonar o ‘Manuel de Mello’. Junto à rede da bancada central preferi, mais do que ancorar-me na tristeza e desilusão da descida de divisão e da demolição anunciada do Manuel de Mello, lembrar-me de todos os belos e inesquecíveis momentos que ali vivera, em mais de quarenta anos de visitas regulares e apaixonadas.


Até sempre!

Afinal o derradeiro jogo oficial no ‘Manuel de Mello’ veio a desenrolar-se cerca de quatro meses depois, a 16 de Setembro de 2007. O FCB foi anfitrião do Silves, em partida relativa à 3ª jornada da Série F da III Divisão. Voltei a estar acompanhado pelo Zé António e pelo Francisco Barrenho, mas desta vez também com o meu filho, o Francisco Cabrita e o Frederico Cabrita.
Despedida com honra, mas sem glória. Com duas pequeníssimas consolações: a vitória (2-0) e o facto do último golo ter sido obtido por Pedro Saianda, jovem atleta oriundo dos escalões de formação. E uma esperança, entretanto algo esmorecida: que o FCB seja capaz de construir as estruturas desportivas de que carece para a continuidade do seu caminho.
No final do prélio, não houve emoção nem drama. Sinal dos tempos…


Festa ao Domingo

Recordo com saudade, as muitas tardes de domingo que vivi no Campo D. Manuel de Mello. Como foram belas as grandes romarias populares que vi convergirem para aquele espaço, que embora sem as necessárias condições de conforto e de estruturas de apoio, foi palco de grandes jornadas futebolísticas, sobretudo quando participámos na I Divisão.
A deslocação ao Barreiro do Benfica, Sporting e FC Porto, mas também de outros emblemas históricos como o Belenenses e o Vitória de Setúbal, era sinónimo de Festa. Muitos dos nossos associados concentravam-se logo após o almoço no Ginásio-Sede que, por esses dias, tinha um movimento e ambiente inigualáveis. Um café e o convívio numa roda de amigos, um jogo de bilhar ou de snooker, uma engraxadela dos sapatos, precediam o grande momento, da convergência no ‘Manuel de Mello’, onde a aquisição do célebre bilhete Pró-Autocarro era obrigatória. Os demais Barreirenses e os adeptos da equipa visitante convergiam nas imediações do estádio pelas Avenidas Bento Gonçalves e Alfredo da Silva e pela Rua Miguel Bombarda.
A sobrelotação chegou a provocar a colocação, quase sempre ordeira e civilizada, de adeptos para cá da vedação do peão, baixa e acessível à transgressão.
No pelado, mais tarde relvado, desfilaram as ‘estrelas’, mas também os ‘operários’. Muitos e bons por lá passaram e deslumbraram. Não os esquecerei…
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[Conclusão do Capítulo IV - Locais de Culto
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Ainda uma criança


Foi em 2004, quando assumi funções directivas no FC Barreirense, nomeadamente na área de comunicação e imagem da sua secção de basquetebol, que incrementei um gosto muito particular pela escrita – tardio, é certo, mas crescente.
Foi então que iniciei uma colaboração regular com o ROSTOS.
Foi aí que, verdadeiramente, conheci o ROSTOS.
Foi também por isso que, felizmente, me deixei seduzir pelo ROSTOS.
Aos 7 anos, ROSTOS é ainda uma criança - curiosa, irreverente, frágil.
Como será o ROSTOS na adolescência?
Arrisco uma resposta: o que todos quisermos que seja.
Um abraço para o António Sousa Pereira e a sua equipa, extensivo a todos os colaboradores e leitores de ROSTOS.
PARABÉNS!

domingo, dezembro 14, 2008

Em Cáceres...


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Últimos dias de Dezembro de 2001. Em visita por Cáceres, presenciei um magnífico jogo de basquetebol entre o Cáceres Club Baloncesto e o Estudiantes de Madrid, referente à Liga ACB (primeiro escalão do melhor campeonato europeu da modalidade).
Noite de sexta-feira. Pavilhão Multiusos. Municipal. Magnífico. Grande assistência (3.000 espectadores de acordo com os números oficiais, algumas centenas dos quais proveniente da capital espanhola). Ambiente extraordinário. Partida vibrante e intensa.
Algum tempo mais tarde, creio que no final da época 2004-2005, o Cáceres Club Baloncesto morreu. Mergulhado numa grave crise financeira, e com uma S.A.D. enredada nas disputas político-partidárias entre o Município e o Governo da Extremadura, o Cáceres Club Baloncesto sucumbiu, para grande tristeza e desânimo dos seus adeptos, como então acompanhei no sítio do clube.
Cáceres é uma pequena cidade espanhola, com 91.606 habitantes (censo de 2007), população apenas cerca de 20% superior à do Barreiro. Será uma das Capitais Europeias da Cultura em 2016.
Os “cacereños” gostam muito de basquetebol – tal como os barreirenses. O basquetebol de Cáceres não tem, todavia, o historial de títulos e protagonismo à escala nacional minimamente equivalente ao que é detido em Portugal pelo FC Barreirense.
A verdade é que, poucos anos passados, o basquetebol renasceu na histórica e monumental cidade da Extremadura, que ostenta o título de Património Mundial da Unesco. E hoje, um novo clube – Cáceres Ciudad de Baloncesto ou Cáceres 2016 Basket – disputa a Liga LEB Oro (2º escalão espanhol). Na lista dos seus principais sponsors figuram apoios públicos (“Cáceres Capital Europea da Cultura 2016” e “Marca Extremadura”) e privados (3 empresas ligadas à construção civil e imobiliário).
Na noite de sexta-feira presenciei, via internet, a parte do jogo entre o Cáceres 2016 Basket e o Ciudad de la Laguna Canárias (onde actuam Jakim Donaldson e Darrell Harris, ex-FC Barreirense). Segundo os números oficiais fornecidos pela FEB (Federación Española de Baloncesto) terão estado presentes 3.100 espectadores. Visionei a mesma animação de há 7 anos atrás, com um “zepellin” publicitário, mascotes com endereços alusivos ao património histórico de Cáceres, imensa publicidade estática.
Apoios públicos – discutíveis e sempre polémicos, bem sei – à prática desportiva de formação e de alta competição. Importância da "sponsorização" privada. Pavilhão multiusos de propriedade municipal, espaçoso, moderno, confortável e funcional. Incentivo regular dos adeptos à equipa da sua cidade.
Em Cáceres, quase tudo é diferente… do Barreiro.
Apenas (quis dizer) isso. Nada mais.


[DESPORTO À PORTUGUESA, www.rostos.pt]
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sábado, dezembro 13, 2008

Memória Barreirense (XXXI)



Do Rosário ao Rossio

Foi nuns terrenos arenosos localizados junto à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, designados Campo do Rosário, cuja ocupação terá sido autorizada pelo Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Joaquim Lobato Quintino, que o FCB iniciou, logo após a sua fundação, a prática regular de futebol.
O clube utilizou ainda episodicamente um espaço da Quinta José Alves, a poente do actual Parque Catarina Eufémia, até que em 1914 se fixou no Campo do Rossio, junto às cordoarias de Alexandre Coelho e Manuel Rebelo, com interregno de 1932 a 1937, em que utilizou o Estádio do Lumiar, em Lisboa. Em 1922, na presidência de Manuel Ferreira, foram construídas as primeiras bancadas de madeira, camarotes, balneários, bar e instalações sanitárias. Nos anos 40 uma Comissão de Obras constituída por Albino Macedo, Eduardo Nunes, Ezequiel Cavaco, José Balseiro Guerra, Luís Raimundo dos Santos e Pereira Mendes, prosseguiu um conjunto de beneficiações na bancada poente, bancada norte (por cedência de um espaço do jardim público) e peão nascente (cedido a título precário pela CUF).
Foi justamente pelo reconhecimento do contributo da CUF, que uma Assembleia-Geral, realizada em 14 de Fevereiro de 1952, aprovou a nova e definitiva designação – Campo D. Manuel de Mello. Pelo caminho, foram ficando sonhos e projectos de uma Cidade Desportiva, infelizmente nunca concretizados. O ano de 1965 foi muito importante para a remodelação do ‘Manuel de Mello’. Pelo impulso de uma nova Comissão de Obras de que fizeram parte Albino Macedo, António Maria da Costa, Eduardo Inácio Nunes, Manuel Raimundo, Raimundo José Maria, Ulisses Ricardo da Silva e Victor Rodrigues Adragão, iniciou-se a construção faseada da bancada de topo norte, bancada central coberta com camarotes, bancadas laterais, bancada de topo sul. O relvado, inaugurado a 26 de Setembro de 1966, foi um melhoramento muito significante. O custo desportivo destas obras foi grande: com a mudança dos nossos jogos caseiros para o Campo de Santa Bárbara, propriedade do Grupo Desportivo da CUF, o clube desceu à II Divisão. Mas foi uma obra inadiável, de enorme alcance para as necessidades estruturais do futebol Barreirense.
Um sistema de iluminação, ainda que elementar, foi inaugurado em 1976, o que veio facilitar o treino de equipas mais jovens em horário nocturno. A aquisição de algumas parcelas de terreno possibilitou a propriedade total para o FCB dos cerca de 9.000m2 da área de implantação do Campo D. Manuel de Mello, facto que facilitou a sua alienação em 2005. As últimas obras de beneficiação foram determinadas pela inscrição do FCB na Liga de Honra (época de 2005/2006) num investimento financeiro obrigatório, controlado mas improfícuo, numa estrutura com prazo de vida muito curto. A nossa participação na Liga de Honra de 2005/2006 foi, de resto, tal como a anterior (1990/1991), desastrosa em termos desportivos e ruinosa nas suas consequências financeiras. Que o exemplo e as opções então concretizadas tenham servido de aprendizagem…



Vender para sobreviver

Em 2005, com elevadas dívidas ao Fisco e à Segurança Social, e um défice de exploração corrente muito acima das receitas ordinárias, o FCB mergulhara numa gravíssima crise financeira. E a inscrição das suas equipas de futebol e de basquetebol nas respectivas Ligas Profissionais, estava condicionada pela regularização daquelas dívidas.
Por decisão dos associados, em Assembleia-Geral expressamente convocada para o efeito, o Campo D. Manuel de Mello foi alienado, assim como uma parcela de terreno da Verderena.
Saldadas as dívidas, parte das verbas recebidas continuaram a ser parcialmente consumidas para cobertura dos crónicos défices anuais, colocando em risco a sustentabilidade estrutural e financeira do FCB.
Este é um momento particularmente importante para o clube. Se uma deriva consumista e irresponsável persistir, as ameaças serão reais. Sem património, sem estruturas adequadas para a prática das suas modalidades, o FCB correrá o risco, grave e sério, de comprometer o seu futuro, e poderá será ultrapassado no contexto desportivo da cidade. A ver vamos...



Verderena adiada?

A doação ao FCB em Janeiro de 1972 por Abílio da Silva Pires, Joaquim Garcia Pires e Maria Manuela Pires de 39.100m2 localizados na Verderena para construção de um complexo desportivo, foi uma lufada de ar fresco. Acreditou-se que o FCB iria, finalmente, construir a sua Cidade Desportiva.
Iniciaram-se projectos de utilização de tão amplo espaço, que viessem a permitir um salto qualitativo e quantitativo das estruturas físicas – factor imprescindível para a consolidação e crescimento desportivo do clube. No ano seguinte, a 23 de Dezembro, foi inaugurado um campo pelado de futebol de 11 para treinos e jogos das equipas de formação. Pensava-se que num prazo não muito distante, se reunissem as condições financeiras necessárias para a continuação das obras. Pura ilusão!

Vinte anos antes, em 1952, um ante-projecto da Câmara Municipal do Barreiro, a cargo do arquitecto Joaquim Cabeça Padrão, previra a construção de um estádio com 20.000 lugares sentados a sul da Avenida da Bélgica (actual Avenida Alfredo da Silva). E em 1956 uma comissão de Barreirenses encabeçada por Arménio Pedrosa, Luís Raimundo dos Santos e Ory de Oliveira, propôs a Alfredo Garcia, Presidente da Edilidade, a alteração do ante-projecto anterior. E sugeriu nova localização, a cerca de cem metros da Escola Alfredo da Silva, onde seriam edificados um estádio de futebol com campo de treinos, pavilhão para basquetebol, complexo de piscinas, pista de atletismo e campos de ténis. O custo dos aterros e das fundações seria elevadíssimo, pelo que o projecto foi considerado inviável. E morreu.
No presente, a redução da área disponível na Verderena, por efeitos de venda de património e reorganização urbana da zona de implantação do complexo, apenas permitirá erguer um pequeno estádio de futebol, com capacidade máxima de 4.000 lugares, e um pavilhão para o basquetebol, com dimensão e polivalência distantes das necessidades do FCB.

[Excerto do Capítulo IV - Locais de Culto
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Para a História

Conclusão da leitura desta extensa obra de Irene Flunser Pimentel.
Valeu a pena o tempo e a atenção dedicadas.
Pesquisa bibliográfica e testemunhal exaustiva e rigorosa.
Estilo de escrita frio e distanciado.
Um trabalho científico que ficará para todo o sempre.
A não perder.

Serge e Jane


Serge Gainsbourg & Jane Birkin (1969)

Ouvi "isto" clandestinamente (naquele tempo foi assim...) num 1º andar de uma das lojas do Carlos Silva (Prolar).
Terá sido logo em 1969? Ou em 1970? Não importa.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Vale a pena LER

Número de Dezembro da LER.
Direcção de Francisco José Viegas.
Ilustração na capa. Pela 1ª vez.
Belíssima. De João Fazenda.
Conteúdos interessantíssimos. Acessíveis. Plenos de actualidade.
André Freire seleccionou "as mais relevantes 10 obras de Ciência Política".

A propósito de Os Partidos Políticos. Modelos e Realidades na Europa Ocidental e em Portugal, de Fernando Farelo Lopes, André Freire - politólogo, professor e investigador no ISCTE - escreveu que "muitos classificaram já as democracias e os regimes políticos modernos como democracias de partidos ou Estados de partidos".

Uma realidade que o triste exemplo português vem demonstrando de forma implacável.
O resultado? Menos Democracia. Pior Democracia.

Memória Barreirense (XXX)



Ler para Saber

Por iniciativa de Francisco Luís Maria Faquinhas, António Horta Rodrigues e Alfredo Zarcos, a primeira biblioteca do FCB foi inaugurada na Rua Aguiar, nº 50, a 11 de Abril de 1931, aquando da comemoração do seu 20º aniversário.
Pouco tempo antes, tinham sido constituídas as bibliotecas da Sociedade Instrução e Recreio Barreirense “Os Penicheiros” (6 de Março de 1926) e da Sociedade Democrática União Barreirense “Os Franceses” (7 de Setembro de 1930). Foram iniciativas “não de diplomados, mas de simples empregados e de elementos do operariado local” (Armando Silva Pais, Barreiro Contemporâneo, Volume II, edição da Câmara Municipal do Barreiro, 1966). Todas elas, e algumas outras entretanto criadas, desempenharam relevantes serviços no acesso à cultura e à instrução da população Barreirense.
Em 1969, a biblioteca do FCB beneficiou de um importante impulso, pela acção enérgica e determinada de Francisco Barrenho e de Francisco Joaquim Bandeirinha, convidados por Simões Coimbra. As receitas do aluguer de livros, bem como as provenientes do café, bilhares, adega da cave e organização de espectáculos, constituíam importantes contribuições para a Comissão do Ginásio-Sede. E... muito apetecíveis para a tesouraria do FCB, o que foi, aqui e acolá, factor de divisão e conflitualidade.
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Mui Nobre

Não recordo quando o visitei pela primeira vez. Mas lembro-me que desde logo me fascinou, e continua a impressionar sempre que o percorro. Ali se pode admirar o esplendor da Taça Simpatia, a beleza e harmonia das 6 taças de Campeão Nacional da II Divisão de Futebol, a Taça Ribeiro dos Reis. E as 6 Taças de Portugal e as 2 de Campeão Nacional e os já quase incontáveis troféus nacionais e regionais alcançados pelas equipas de formação de basquetebol. Uma imensidão de outras taças, troféus, medalhas, galhardetes e outros objectos, testemunham de forma clara a riqueza da nossa história, a multiplicidade de títulos alcançados pelas suas modalidades.
O Salão Nobre é hoje um espaço limitado para conter tanto espólio. Aquele que ali se alberga, mas também muito outro que poderia integrar, nomeadamente a nível de equipamentos de jogo e de património audiovisual. A construção de um moderno e interactivo Museu seria uma forma adequada de alargar a divulgação do nosso clube, e de captar novos associados e adeptos.
A cada 11 de Abril, as suas portas são franqueadas a todos quantos, no final da Sessão Solene comemorativa de mais um aniversário do FCB têm gosto em participar num convívio e beberete que o clube faculta a todos os associados e ilustres convidados.



Visita Real

A edição de 20 de Fevereiro de 1958 do Jornal do Barreiro noticiava: “De comum acordo entre o Barreirense, campeão nacional e o Real Madrid, campeão de Espanha, foram já escolhidas as datas dos encontros da eliminatória [da Taça dos Campeões Europeus] a realizar entre os dois campeões da Península”.
Barreiro, noite de quarta-feira, 12 de Março. Foi o maior espectáculo de basquetebol disputado no Barreiro. Protagonistas: os basquetebolistas do FCB e do Real Madrid, gigante europeu e mundial da modalidade. No recinto do Ginásio-Sede improvisaram-se bancadas, aproveitaram-se todos os espaços. Aspecto impressionante. Entre 1.500 e 2.000 espectadores sobrelotaram o anfiteatro. Não coube mais ninguém. Catorze contos [70 euros] de receita!
Presentes muitas entidades e ilustres convidados: Miguel Bastos (Governador Civil de Setúbal), Alfredo Garcia (Presidente da Câmara Municipal do Barreiro), Ayala Boto (Direcção Geral dos Desportos), Comandante Militar Capitão Pimenta de Castro, Conselheiro da Embaixada de Espanha, etc. Raimundo Zaporta, Tesoureiro do Real Madrid e mais tarde seu Presidente, referiu “a satisfação que todos sentiam em estar no Barreiro, terra que sabiam ser de gente operosa e de muito valor desportivo e grande centro industrial” (recepção nos Paços do Concelho). E acrescentou “estar ansioso por ver jogar os basquetebolistas Barreirenses os quais, por ostentarem o título de campeões de Portugal deviam possuir excelente categoria...”
Extraordinária exibição do meu amigo José Macedo – valoroso atleta que ainda tive o prazer de ver actuar na fase final da sua brilhante carreira, depois prosseguida em funções técnicas. Concretizou 21 pontos e foi o melhor marcador da partida. A equipa profissional madrilena venceu por 68-51 um FCB muito abnegado, mas com índices físico-atléticos deficitários, decorrentes de uma envergadura inferior e de um genuíno amadorismo, traduzido na realização de apenas dois treinos semanais.
A RTP transmitiu directamente todas as fases do jogo (o Barreiro foi a primeira localidade depois de Lisboa com direito a um directo televisivo). Foram instalados três aparelhos de TV no Ginásio-Sede para todos os que não conseguiram entrar no recinto de jogo. E também nas montras de alguns estabelecimentos comerciais. A transmissão também despertou muito interesse noutras localidades.
A 20 de Abril, acompanhada por quatro centenas de adeptos que se deslocaram a Madrid em autocarros e carros particulares, a nossa equipa foi muito bem recebida, apesar dos tristes acontecimentos do Espanha-Portugal em futebol, recentemente disputado. No esgotado Fronton Fiesta Alegre, o FCB não resistiu ao poderio espanhol e foi claramente derrotado por 86-40.


Tardes e noites de Glória

Apenas gatinhava quando o Ginásio-Sede foi palco dessa jornada. Ainda pequeno, tornei-me um espectador assíduo dos jogos da equipa sénior de basquetebol que aí decorriam. Mas foi com a vinda de Earnest Killum no final de 1972 que o meu interesse pela modalidade se reforçou. O atleta norte-americano, proveniente dos Los Angeles Lakers, acentuou o grande e tradicional interesse dos Barreirenses pelo basquetebol. Não fui, naturalmente, indiferente a essa onda de entusiasmo e vibração, que fez lotar sistematicamente o acanhado Ginásio-Sede. Onde, em jornada dupla aos fins-de-semana, cheguei a comparecer duas horas antes do início dos prélios, para poder disputar um lugar aceitável, com algumas centenas de outros aficionados.
Vi grandes atletas e grandes jogos no Ginásio-Sede. Vitórias espectaculares e derrotas amargas. A pressão sobre atletas e treinadores adversários, e sobre as equipas de arbitragem era enorme. Algumas vezes exagerada, e noutras, felizmente esporádicas, segundo cânones menos desportivos. No balcão, galeria, palco e atrás da tabela oposta ao balcão, a multidão, apinhada, seguia as incidências dos jogos com um grau de proximidade singular, que os regulamentos vieram mais tarde a condicionar. Foi assim que, no início dos anos 90, o basquetebol sénior passou a efectuar os seus jogos na condição de equipa visitada no Pavilhão do Grupo Desportivo da Quimigal. Nessa década, a presença de público diminuiu, facto que se deveu, para além da mudança de habitat, ao menor valor competitivo das nossas equipas.
Em 2000, reformulado o projecto inicial da Câmara Municipal do Barreiro e acelerada a conclusão das obras, o Pavilhão Municipal da Luís de Carvalho, passou a ser a sede do basquetebol profissional do FCB – e também, do GDESSA e do Galitos FC. Distante do centro urbano do Barreiro e situado em local particularmente problemático, o Pavilhão Luís de Carvalho tem estado, apesar dessas contingências, ao serviço do FCB, neste importante período de reafirmação do seu basquetebol profissional.
Mas os problemas supracitados, acrescidos da limitação de espaço do Ginásio-Sede, e a dispersão dos locais de treino das equipas de formação com constrangimentos geográficos e temporais diversos, tornaram premente a necessidade de um novo espaço – moderno, funcional, com uma adequada e desejável centralidade urbana. Em 7 de Janeiro de 2007, expressei no Fórum BasketPT a necessidade de o FCB construir o seu pavilhão:

Caros ‘foristas’ Barreirenses:
O Barreirense precisa de erguer o seu Pavilhão!
Dirão alguns que esta não é uma questão temporalmente decisiva para o projecto do Barreirense Basket. Mas é, em minha opinião, uma necessidade estratégica.
Limitada ao velho, mítico e glorioso Ginásio-Sede, toda a Formação do Barreirense Basket está hoje manifestamente constrangida por limitações físicas que estrangulam o seu crescimento e prejudicam de forma objectiva a sua vertente qualitativa. O basquetebol sénior, atirado para as margens geográficas do Concelho do Barreiro, tem saído claramente prejudicado, pela dificuldade de atrair os seus adeptos (fundamentais na trajectória vitoriosa de outrora) e gerir de forma autónoma e independente o seu espaço publicitário.
O Barreirense Basket necessita de se recentrar no espaço geográfico da cidade, para consolidar a sua massa adepta e captar novos apoios (humanos, mas não só...). O Pavilhão da Verderena, moderno e funcional, com bancadas (totalmente amovíveis) para cerca de 1.000 espectadores e capacidade de utilização simultânea para três equipas, é um projecto, a meu ver, viável e realista.
Manuel Lopes, actual Presidente de Direcção, aquando das Assembleias-Gerais de que resultou a alienação de património do Barreirense (Campo D. Manuel de Mello e parcela da Verderena), assumiu o projecto de construção de um Pavilhão na Verderena. Acredito na sua palavra, mas também sei, de experiência feita, que prometer não é concretizar e que da ilusão à realidade dista, às vezes, um espaço imenso e quiçá intransponível.
Não podemos deixar cair a ideia e o projecto!
Estou disponível para essa batalha, porque acredito na importância que o Barreirense tem na vida associativa e desportiva do Barreiro, e no papel singular que o Basquetebol assume como factor de formação e educação (cívica e desportiva) de sucessivas gerações de Barreirenses.

Mais preocupados com outras questões, de relevância nem sempre evidente aos meus olhos, poucos foram os que vieram a terreiro, comentar aquele texto. Confesso que estas e outras manifestações de alheamento, ou pelo menos de não comprometimento com causas e lutas que são e serão necessariamente difíceis e custosas, me entristecem e desiludem. Adiante…

[Excerto do Capítulo IV - Locais de Culto
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)