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General sem tropasA Assembleia-Geral de 4 de Abril de 2005 deu início à discussão da “viabilidade de construção para o campo de jogos D. Manuel de Mello e do anteprojecto para as infra-estruturas desportivas a construir no terreno da Verderena” (ponto 2 da Ordem de Trabalhos). Assunto que teve continuidade nas Assembleias de 26 de Abril, 3 e 25 de Maio. Nesta última data, a Ordem de Trabalhos foi a seguinte: “Apreciação de eventuais propostas de compra e autorização para a Direcção efectuar a venda das parcelas de terreno onde está implantado o Campo D. Manuel de Mello; autorização para a Direcção efectuar a compra de um parcela de terreno sita em Palhais para a construção de infra-estruturas desportivas; autorização para celebração de contrato de urbanização com a empresa Teodoro Rúbio e Filho Lda., relativamente aos terrenos da Verderena”.
A sessão não começou bem para Manuel Lopes. A sua proposta de alienação patrimonial encontrou desconfiança entre vários associados que manifestaram as suas críticas e reservas. Foram as intervenções de Carlos Pires, de Manuel Fernandes e de mim próprio que, com argumentos consolidados e de forma serena e tranquila, inverteram o curso dos acontecimentos. E a proposta de Manuel Lopes foi aceite por larga maioria. De forma peculiar, tinham sido três personalidades conotadas com o Basquetebol, sobretudo as duas últimas, a ‘dar a cara’ por Manuel Lopes, que apenas um ano antes ameaçara ferir de morte o basquetebol de alta competição no FCB. Curioso…
Uma equipa de acompanhamento constituída inicialmente por Carlos Pires, José Almeida Fernandes e Mário Pereira, veio a incluir mais tarde João Paulo Prates e João Pimentel. Dificuldades e obstáculos de índole diversa condicionaram o seu papel fiscalizador. Mas, em minha opinião, podia e deveria ter-se feito mais e melhor…
Lamentavelmente, a minha intervenção nessa Assembleia-Geral não ficou registada na respectiva acta. Também a minha abstenção, com dois outros consócios, na votação do relatório e contas de 2002 (Assembleia-Geral de 26 de Maio de 2003), não foi contemplada na acta da reunião. E a minha intervenção em defesa do basquetebol sénior na Assembleia-Geral de 17 de Maio de 2004, que ainda hoje considero ter sido determinante para o processo de reorganização do basquetebol Barreirense, foi omitida.
Na reunião de associados, realizada na noite de 13 de Junho de 2007, preparatória da Assembleia-Geral de 18 desse mês, chamei a atenção dos membros dos Órgãos Sociais presentes para a gravidade e a importância desses lapsos e daquelas omissões. A minha interpelação teve uma resposta imediata e consequente do Presidente da Assembleia-Geral do FCB, António Sardinha. Com efeito, cinco dias depois, todas as intervenções efectuadas foram gravadas para posterior utilização na redacção da respectiva acta.
A leitura de muitas das actas das Reuniões de Direcção e das actas das Assembleias-Gerais, disponíveis em arquivo na sede do FCB, e que contribuíram para a realização deste livro, permitiu-me concluir que, nos últimos anos, a qualidade da redacção, o rigor da execução, a quantidade de informação disponível, têm vindo a baixar de forma assinalável e, em minha opinião, perigosa. Perdeu-se alguma exigência formal, desvalorizou-se a importância dos conteúdos. De que vêm resultando imprecisões desnecessárias e injustas omissões. Este é um aspecto que aqui realço por estar convicto da sua importância para uma instituição respeitada e respeitável, em que a História quase centenária deve ser feita a partir do relato sério e verdadeiro e da interpretação fidedigna e rigorosa dos factos que a fermentam, aprofundam e enriquecem.
Participar
A presença de associados nas Assembleias-Gerais dos clubes é habitualmente diminuta. Excepto em momentos mais problemáticos de crise, de propostas fracturantes, etc.
No FCB, como na generalidade dos outros clubes. É esta a tradição em Portugal. Os portugueses não têm uma cultura de participação cívica muito arreigada. São pouco intervenientes. E pouco exigentes, consigo próprios, sobretudo. Depositam docilmente, com demasiada frequência, nas mãos de salvadores, profetas e mecenas, a solução dos problemas.
Como já deixei subentendido, tenho estado presente desde os 18 anos, na generalidade das Assembleias-Gerais do FCB. E, mais recentemente, tenho apelado de forma pública à participação dos meus consócios, como aconteceu em 7 de Maio de 2006 em Rostos:
O direito e o dever de participar
Realiza-se hoje, pelas 21 horas, uma importante Assembleia-Geral Ordinária do Futebol Clube Barreirense, com a seguinte ordem de trabalhos:
1. Apreciação, discussão e votação do relatório e contas de 2005
2. Eleição de corpos gerentes para o biénio 2006-2008.
O panorama presente do Associativismo, e em particular do Associativismo Desportivo, atravessa momentos de crise, cujas diversas causas não cabem no espaço e objectivo deste texto, mas que configuram e traduzem as profundas alterações económicas, sociais e culturais ocorridas no nosso país nas últimas décadas.
Um número significativo e crescente de famílias portuguesas está progressivamente afectado por um perigoso e insustentável endividamento, a situação económico-financeira do pequeno e médio empresariado comercial e industrial está altamente fragilizada, a capacidade de endividamento ultrapassada em muitos municípios e praticamente esgotada nos restantes. Consequentemente, o apoio e o investimento, individual e colectivo, dos associados, das empresas e dos executivos autárquicos, têm vindo paulatinamente a decrescer, limitando e pondo em causa a capacidade de afirmação e mesmo de sobrevivência, de um número importante das agremiações desportivas portuguesas.
O Futebol Clube Barreirense, ao contrário de outros prestigiados, históricos e respeitados clubes, tem conseguido ao longo dos últimos anos responder, ainda que com extrema dificuldade, a crescentes dificuldades e estrangulamentos financeiros, decorrentes de uma preocupante e duradoira conjuntura económica do país. Há cerca de um ano, a venda de património (Campo D. Manuel de Mello e parcela de terreno do futuro Complexo Desportivo da Verderena) correspondeu, como foi inequivocamente demonstrado em Assembleia-Geral, e aí maioritariamente sufragado pelos nossos consócios, a uma decisão indispensável à sobrevivência do Futebol Clube Barreirense.
Assegurada a sua viabilidade de curto prazo, importa agora que os Barreirenses, todos os Barreirenses, tenham consciência do momento decisivo que o seu Clube atravessa, em que a legítima ambição de um sério e moderno projecto desportivo deve obrigatória e necessariamente adequar-se às exigências e rigores orçamentais, garante da sua sustentabilidade e perenidade. Uma parte significativa da receita decorrente da alienação patrimonial, deverá ser orientada para o desenvolvimento das débeis e obsoletas infra-estruturas desportivas do Futebol Clube Barreirense, condição indispensável para a disponibilização da prática desportiva a um número crescente de cidadãos, a sedução da nossa juventude, o fomento de talentos que possam ser uma base essencial e maioritária na constituição das nossas equipas de alta competição.
No entretanto, e enquanto não se concretizarem os projectos imobiliários que permitam a obtenção, dentro de 4-5 anos, de um suporte financeiro mensal indispensável à cobertura parcial das suas despesas, o nosso Clube permanecerá controladamente deficitário, factor imprescindível para a manutenção das suas modalidades mais representativas, o futebol e o basquetebol, em patamares competitivos dignos e suficientemente atractivos para os nossos adeptos.
A informação, o esclarecimento e a participação dos associados é fundamental neste importante momento de viragem, pelo que a sua presença na Assembleia Eleitoral de hoje assume, mais uma vez, enorme relevância e pertinência. A presença, activa e empenhada, dos meus consócios esta noite, no mítico Ginásio-Sede, que completará 50 gloriosos anos de vida em 20 de Maio próximo, será a demonstração da sua inabalável vontade de construir um Barreirense novo, um Barreirense com futuro, um Barreirense de sucesso.
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FinalmenteEm 11 de Abril de 2007, na cerimónia solene comemorativa do 96º aniversário, António Sardinha, Presidente da Assembleia-Geral, pronunciou um discurso muito importante, em que alertou os presentes para a necessidade de o FCB conter a sua despesa corrente e, saldadas dívidas inadiáveis com parte da verba resultante da venda de património, partir para a construção de infra-estruturas desportivas fundamentais para a sua sustentabilidade desportiva e financeira. Foi uma intervenção notável num tipo de sessões em que, como alertei em texto publicado dias antes em Rostos, o politicamente correcto é a prática dominante. Estava dado o mote, para uma actuação mais empenhada, atenta e exigente do Presidente da Assembleia-Geral. Creio que a Direcção do FCB, ou pelos menos o seu Presidente e Vice-Presidente, se sentiu acossada, controlada, como não experimentara antes.
A Assembleia-Geral Ordinária, tardiamente marcada para 18 de Junho de 2007, reforçou a minha intuição. Aprovado o Relatório e Contas de 2006 e ratificado o mandato do Órgãos Sociais em exercício por mais um ano, António Sardinha tomou a palavra para transmitir aos associados a sua vontade de pedir a demissão da Presidência da Assembleia-Geral. E reafirmou a sua grande preocupação pelo presumível destino das verbas decorrentes da venda do Campo D. Manuel de Mello e de uma fracção de terreno sita na Verderena. A votação ocorrida minutos antes, para ratificação dos Órgãos Sociais, apresentara resultados inesperados para a Direcção reeleita, com uma vantagem de apenas 9 votos (42-33). E Paulo Pardana, Vice-Presidente da Direcção, não se conteve e, de um só fôlego, disparou contra a ‘Assembleia’ – que não expressara o apoio por si esperado – e contra o Presidente da Assembleia-Geral – por suposta quebra de solidariedade institucional. A posição de António Sardinha teve, entre outros, o mérito e o condão de agitar algumas águas, excessiva e artificialmente calmas.
A 19 de Julho decorreu uma Assembleia-Geral Extraordinária convocada para “Apresentação, discussão e votação do Plano de Actividades e Orçamento, época 2007/2008”. Foi apresentado e divulgado um trabalho que reputo de importante, contemplando a previsão de um défice de menor dimensão que o previsto anteriormente mas, ainda assim, distante do desejo de défice zero, exigido na reunião magna anterior por António Sardinha. Efectuei uma intervenção, onde tentei ser conciliador, destacando a redução da dimensão do défice prevista para a temporada 2007/2008 e a transparência e rigor que me pareciam caracterizar o referido documento. Mas na impossibilidade de o ter feito no final da Assembleia-Geral de 18 de Junho, não deixei passar e oportunidade para me solidarizar com a posição então assumida por António Sardinha, que motivara uma reacção a quente mas destemperada e pouco simpática de Paulo Pardana. E salientei a independência, competências e especificidade de funções que devem caracterizar os Órgãos Sociais do FCB. Mantendo algumas reservas, legítimas e partilhadas por muitos outros associados, a propósito das opções de funcionamento do clube, e que expressou com toda a clareza e frontalidade, António Sardinha disponibilizou-se para, sob certas condições, prosseguir como Presidente da Assembleia-Geral. No final da sessão senti-me feliz mas perplexo. Feliz pelo facto de, em finais de Julho, com uma nova época desportiva à porta, a estabilidade directiva do FCB ter sido preservada. Perplexo porque não vi da parte de Manuel Lopes uma abertura claramente assumida para a resolução, de questões aparentemente tão simples como a alteração do modelo de exploração do Café do Ginásio-Sede, quanto mais para o debate e a assumpção de propostas mais profundas da gestão do clube, que considero urgentes e potencialmente conflituais. Transmitindo alguma satisfação, ainda assim contida, pelo desenrolar da Assembleia-Geral, António Sardinha admitiu estarmos a assistir a um momento de transição na vida do FCB. No final, ao descer a escadaria do Ginásio-Sede, interroguei-me:
- Transição para quê?
- Transição para onde?
[Conclusão do Capítulo V - Reuniões Magnas
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)