quinta-feira, dezembro 11, 2008
Memória Barreirense (XXX)
Ler para Saber
Por iniciativa de Francisco Luís Maria Faquinhas, António Horta Rodrigues e Alfredo Zarcos, a primeira biblioteca do FCB foi inaugurada na Rua Aguiar, nº 50, a 11 de Abril de 1931, aquando da comemoração do seu 20º aniversário.
Pouco tempo antes, tinham sido constituídas as bibliotecas da Sociedade Instrução e Recreio Barreirense “Os Penicheiros” (6 de Março de 1926) e da Sociedade Democrática União Barreirense “Os Franceses” (7 de Setembro de 1930). Foram iniciativas “não de diplomados, mas de simples empregados e de elementos do operariado local” (Armando Silva Pais, Barreiro Contemporâneo, Volume II, edição da Câmara Municipal do Barreiro, 1966). Todas elas, e algumas outras entretanto criadas, desempenharam relevantes serviços no acesso à cultura e à instrução da população Barreirense.
Em 1969, a biblioteca do FCB beneficiou de um importante impulso, pela acção enérgica e determinada de Francisco Barrenho e de Francisco Joaquim Bandeirinha, convidados por Simões Coimbra. As receitas do aluguer de livros, bem como as provenientes do café, bilhares, adega da cave e organização de espectáculos, constituíam importantes contribuições para a Comissão do Ginásio-Sede. E... muito apetecíveis para a tesouraria do FCB, o que foi, aqui e acolá, factor de divisão e conflitualidade.
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Mui Nobre
Não recordo quando o visitei pela primeira vez. Mas lembro-me que desde logo me fascinou, e continua a impressionar sempre que o percorro. Ali se pode admirar o esplendor da Taça Simpatia, a beleza e harmonia das 6 taças de Campeão Nacional da II Divisão de Futebol, a Taça Ribeiro dos Reis. E as 6 Taças de Portugal e as 2 de Campeão Nacional e os já quase incontáveis troféus nacionais e regionais alcançados pelas equipas de formação de basquetebol. Uma imensidão de outras taças, troféus, medalhas, galhardetes e outros objectos, testemunham de forma clara a riqueza da nossa história, a multiplicidade de títulos alcançados pelas suas modalidades.
O Salão Nobre é hoje um espaço limitado para conter tanto espólio. Aquele que ali se alberga, mas também muito outro que poderia integrar, nomeadamente a nível de equipamentos de jogo e de património audiovisual. A construção de um moderno e interactivo Museu seria uma forma adequada de alargar a divulgação do nosso clube, e de captar novos associados e adeptos.
A cada 11 de Abril, as suas portas são franqueadas a todos quantos, no final da Sessão Solene comemorativa de mais um aniversário do FCB têm gosto em participar num convívio e beberete que o clube faculta a todos os associados e ilustres convidados.
Visita Real
A edição de 20 de Fevereiro de 1958 do Jornal do Barreiro noticiava: “De comum acordo entre o Barreirense, campeão nacional e o Real Madrid, campeão de Espanha, foram já escolhidas as datas dos encontros da eliminatória [da Taça dos Campeões Europeus] a realizar entre os dois campeões da Península”.
Barreiro, noite de quarta-feira, 12 de Março. Foi o maior espectáculo de basquetebol disputado no Barreiro. Protagonistas: os basquetebolistas do FCB e do Real Madrid, gigante europeu e mundial da modalidade. No recinto do Ginásio-Sede improvisaram-se bancadas, aproveitaram-se todos os espaços. Aspecto impressionante. Entre 1.500 e 2.000 espectadores sobrelotaram o anfiteatro. Não coube mais ninguém. Catorze contos [70 euros] de receita!
Presentes muitas entidades e ilustres convidados: Miguel Bastos (Governador Civil de Setúbal), Alfredo Garcia (Presidente da Câmara Municipal do Barreiro), Ayala Boto (Direcção Geral dos Desportos), Comandante Militar Capitão Pimenta de Castro, Conselheiro da Embaixada de Espanha, etc. Raimundo Zaporta, Tesoureiro do Real Madrid e mais tarde seu Presidente, referiu “a satisfação que todos sentiam em estar no Barreiro, terra que sabiam ser de gente operosa e de muito valor desportivo e grande centro industrial” (recepção nos Paços do Concelho). E acrescentou “estar ansioso por ver jogar os basquetebolistas Barreirenses os quais, por ostentarem o título de campeões de Portugal deviam possuir excelente categoria...”
Extraordinária exibição do meu amigo José Macedo – valoroso atleta que ainda tive o prazer de ver actuar na fase final da sua brilhante carreira, depois prosseguida em funções técnicas. Concretizou 21 pontos e foi o melhor marcador da partida. A equipa profissional madrilena venceu por 68-51 um FCB muito abnegado, mas com índices físico-atléticos deficitários, decorrentes de uma envergadura inferior e de um genuíno amadorismo, traduzido na realização de apenas dois treinos semanais.
A RTP transmitiu directamente todas as fases do jogo (o Barreiro foi a primeira localidade depois de Lisboa com direito a um directo televisivo). Foram instalados três aparelhos de TV no Ginásio-Sede para todos os que não conseguiram entrar no recinto de jogo. E também nas montras de alguns estabelecimentos comerciais. A transmissão também despertou muito interesse noutras localidades.
A 20 de Abril, acompanhada por quatro centenas de adeptos que se deslocaram a Madrid em autocarros e carros particulares, a nossa equipa foi muito bem recebida, apesar dos tristes acontecimentos do Espanha-Portugal em futebol, recentemente disputado. No esgotado Fronton Fiesta Alegre, o FCB não resistiu ao poderio espanhol e foi claramente derrotado por 86-40.
Tardes e noites de Glória
Apenas gatinhava quando o Ginásio-Sede foi palco dessa jornada. Ainda pequeno, tornei-me um espectador assíduo dos jogos da equipa sénior de basquetebol que aí decorriam. Mas foi com a vinda de Earnest Killum no final de 1972 que o meu interesse pela modalidade se reforçou. O atleta norte-americano, proveniente dos Los Angeles Lakers, acentuou o grande e tradicional interesse dos Barreirenses pelo basquetebol. Não fui, naturalmente, indiferente a essa onda de entusiasmo e vibração, que fez lotar sistematicamente o acanhado Ginásio-Sede. Onde, em jornada dupla aos fins-de-semana, cheguei a comparecer duas horas antes do início dos prélios, para poder disputar um lugar aceitável, com algumas centenas de outros aficionados.
Vi grandes atletas e grandes jogos no Ginásio-Sede. Vitórias espectaculares e derrotas amargas. A pressão sobre atletas e treinadores adversários, e sobre as equipas de arbitragem era enorme. Algumas vezes exagerada, e noutras, felizmente esporádicas, segundo cânones menos desportivos. No balcão, galeria, palco e atrás da tabela oposta ao balcão, a multidão, apinhada, seguia as incidências dos jogos com um grau de proximidade singular, que os regulamentos vieram mais tarde a condicionar. Foi assim que, no início dos anos 90, o basquetebol sénior passou a efectuar os seus jogos na condição de equipa visitada no Pavilhão do Grupo Desportivo da Quimigal. Nessa década, a presença de público diminuiu, facto que se deveu, para além da mudança de habitat, ao menor valor competitivo das nossas equipas.
Em 2000, reformulado o projecto inicial da Câmara Municipal do Barreiro e acelerada a conclusão das obras, o Pavilhão Municipal da Luís de Carvalho, passou a ser a sede do basquetebol profissional do FCB – e também, do GDESSA e do Galitos FC. Distante do centro urbano do Barreiro e situado em local particularmente problemático, o Pavilhão Luís de Carvalho tem estado, apesar dessas contingências, ao serviço do FCB, neste importante período de reafirmação do seu basquetebol profissional.
Mas os problemas supracitados, acrescidos da limitação de espaço do Ginásio-Sede, e a dispersão dos locais de treino das equipas de formação com constrangimentos geográficos e temporais diversos, tornaram premente a necessidade de um novo espaço – moderno, funcional, com uma adequada e desejável centralidade urbana. Em 7 de Janeiro de 2007, expressei no Fórum BasketPT a necessidade de o FCB construir o seu pavilhão:
Caros ‘foristas’ Barreirenses:
O Barreirense precisa de erguer o seu Pavilhão!
Dirão alguns que esta não é uma questão temporalmente decisiva para o projecto do Barreirense Basket. Mas é, em minha opinião, uma necessidade estratégica.
Limitada ao velho, mítico e glorioso Ginásio-Sede, toda a Formação do Barreirense Basket está hoje manifestamente constrangida por limitações físicas que estrangulam o seu crescimento e prejudicam de forma objectiva a sua vertente qualitativa. O basquetebol sénior, atirado para as margens geográficas do Concelho do Barreiro, tem saído claramente prejudicado, pela dificuldade de atrair os seus adeptos (fundamentais na trajectória vitoriosa de outrora) e gerir de forma autónoma e independente o seu espaço publicitário.
O Barreirense Basket necessita de se recentrar no espaço geográfico da cidade, para consolidar a sua massa adepta e captar novos apoios (humanos, mas não só...). O Pavilhão da Verderena, moderno e funcional, com bancadas (totalmente amovíveis) para cerca de 1.000 espectadores e capacidade de utilização simultânea para três equipas, é um projecto, a meu ver, viável e realista.
Manuel Lopes, actual Presidente de Direcção, aquando das Assembleias-Gerais de que resultou a alienação de património do Barreirense (Campo D. Manuel de Mello e parcela da Verderena), assumiu o projecto de construção de um Pavilhão na Verderena. Acredito na sua palavra, mas também sei, de experiência feita, que prometer não é concretizar e que da ilusão à realidade dista, às vezes, um espaço imenso e quiçá intransponível.
Não podemos deixar cair a ideia e o projecto!
Estou disponível para essa batalha, porque acredito na importância que o Barreirense tem na vida associativa e desportiva do Barreiro, e no papel singular que o Basquetebol assume como factor de formação e educação (cívica e desportiva) de sucessivas gerações de Barreirenses.
Mais preocupados com outras questões, de relevância nem sempre evidente aos meus olhos, poucos foram os que vieram a terreiro, comentar aquele texto. Confesso que estas e outras manifestações de alheamento, ou pelo menos de não comprometimento com causas e lutas que são e serão necessariamente difíceis e custosas, me entristecem e desiludem. Adiante…
[Excerto do Capítulo IV - Locais de Culto
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)