sábado, setembro 18, 2010

Hoje bato eu


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Sempre dissera que não iria a Cuba antes da morte de Castro, do Castrismo e da instauração da Democracia na grande ilha.
Mas já neste século cedi. Durante uma semana conheci um país miserável, esclerosado, decrépito, triste. Um país adiado. Encontrei um povo sofredor, perseguido, silenciado, desesperado.
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Depois, e por essa ordem, li "O ano em que devia morrer" (Miguel Pinto), "O coração fantasma" (Cecília Samartin) e "A fronteira mais longínqua" (Miguel Pinto).
Não teria sido necessário. Mas ajudou a entender, a repugnar, a não tolerar tão grande embuste histórico.
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Sim. A Cuba de Fidel e dos seus indefectíveis correligionários social-fascistas (tanto sentido me faz esta velha expressão dos "MRs") foi um engano. Uma mentira. Uma patranha. Uma falsidade. Uma intrujice.
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Nunca percebi - ainda hoje não percebo - a contemporização, o benefício da dúvida que homens e mulheres de esquerda concederam a um regime e a uma nomenclatura que matou, condenou, silenciou, excluiu e perseguiu milhares de cubanos e de cubanas por divergência política, por culto religioso, por orientação sexual, por doença.
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O Socialismo não é isto. Não pode ser isto!
A Democracia Socialista não é esta coisa obscena e repugnante.
A Esquerda não se pode rever nestas concepções, muito menos nestas práticas de exercício de um poder totalitário, burocratizado e corrupto.
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Bem pode a Central de Trabalhadores de Cuba (!) vir defender este "ajustamento" do modelo cubano. E vir o Partido Comunista Português acreditar no êxito deste "projecto de construção do socialismo".
Ajustamento? Socialismo?
Quem acredita nesta "banha de cobra"?
Quem vai ainda atrás destas falácias?

Tal como no processo da perestroika e na glasnost, mais tarde na queda do Muro de Berlim, e agora em relação a Cuba, será de novo muito grande a desilusão que assolará gente simples e trabalhadora do meu país que ainda acredita nos "amanhãs que cantam".
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E num momento histórco tão difícil, com desemprego crescente, acesso mais difícil e custoso ao crédito, redução de apoios estatais à comparticipação de medicamentos, subsídio de desemprego e outras prestações sociais, é natural que muitos se interroguem acerca do passado, do presente e do futuro da Esquerda e questionem: o que é a Esquerda hoje?
Poucas perguntas terão uma resposta tão complexa e tão pouco definida.
Mas que vale a pena fazê-la, vale...
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