terça-feira, maio 26, 2009

Coragem



“Duas coisas indicam fraqueza: calar-se quando é preciso falar,
e falar quando é preciso calar-se!”
(Provérbio persa)


1. O momento actual no Futebol Clube Barreirense não aconselha silêncio nem convida ao distanciamento.
Por isso decidi redigir algumas palavras que são a expressão de posições que tenho assumido nos últimos anos, em particular após a minha participação na direcção do Barreirense no biénio 2004-2006.

2. Por razões que me dispenso aqui e agora de pormenorizar, não me foi possível integrar a Comissão Administrativa aprovada com 142 votos (4 votos nulos) expressos na Assembleia-Geral decorrida na noite passada.
Essa impossibilidade, que sei desapontar alguns amigos mas que julgo ser compreendida por outros, não significa – nem significará – desinteresse, alheamento, inacção, fuga às responsabilidades, abandono.

3. Não sei se estamos mergulhados na crise mais grave da nossa História. Mas sei que estamos num momento muito especial. De viragem. De rotura.
No início de 2007, numa série de dez artigos publicados no Jornal do Barreiro com o título genérico “Barreirense: que futuro?” escrevi: “O Futebol Clube Barreirense necessita de uma redefinição estratégica e programática, de uma reformulação da política desportiva e de uma contenção orçamental, dolorosa mas inevitável. Quase me apetece falar em refundação do Barreirense. Exagero?”.
Não! Creio que não exagerei. Bem pelo contrário…

4. Fui um defensor público da venda de património, em Assembleia-Geral e em textos entretanto publicados. E hoje, passados três anos, apesar de confrontado com muitas vicissitudes e imensas desilusões, tomaria precisamente a mesma posição.
É verdade que alguns associados manifestaram desde logo, de forma absolutamente legítima, críticas e desconfianças em relação a essa opção. Outros, pretensamente mais iluminados, vieram depois – ­e também porque as coisas não correram mesmo nada bem (!) –­ encontrar o espaço ­e o tempo para criticar a solução que foi então inadiável e inevitável, que permitiu evitar uma eminente rotura financeira e que possibilitou a continuação da actividade regular do clube, pelo menos nos moldes a que estávamos habituados. Mas muitos destes associados nunca se assumiram nos locais próprios para esse efeito – as Assembleias-Gerais –, nunca deram a cara.
Acontece que – e as respectivas responsabilidades terão de assumidas por alguns – o processo de alienação patrimonial decorreu de forma lamentável, pouco clara e de consequências ainda imprecisas. E, para tudo complicar, agravou-se a crise económica e financeira nacional e internacional, pelo que a situação presente é certamente, e para nosso desgosto, ainda mais difícil do que a que muitos de nós admitiram e anteciparam há três anos.

5. Em 1958, dois anos após a inauguração do Ginásio-Sede, sensibilidades diversas no seio do clube dificultavam a sua acção e ameaçavam a sua unidade. No Jornal do Barreiro de 20 de Fevereiro desse ano, o associado Fernando de Alenquer, escreveu: “O Barreirense precisa de todos: dos que só podem pagar a sua quota e dos que, acima de tudo, lhe podem dar a sua inteligência e a sua dedicação”.
Como parecem sábias e actuais estas palavras…
Por mim, a exemplo do que venho concretizando em tempos e modos muito diversos, estarei disponível para colaborar.

6. Estou consciente das enormes dificuldades que se perspectivam.
É minha convicção que a Missão – a grande Missão – daqueles que se aprestam para tomar posse esta noite (Ginásio-Sede, 21:30) e assumir funções directivas no Futebol Clube Barreirense, terá tanto mais sucesso quanto maior:
- o respeito pela história, tradição e mística deste clube
- a abertura, serena e sincera, a todos os contributos individuais ou colectivos
- a coesão interna, a coragem e a clarividência dos membros da recém-eleita Comissão Administrativa.

7. Vi e ouvi ontem manifestações e testemunhos de alegria, esperança e confiança no futuro. Nos olhos e nas palavras de muitos dos consócios que comigo partilharam uma “Grande Noite Barreirense”. Mas também ouvi os habituais profetas da desgraça, os pessimistas militantes – por estilo, convicção ou interesse.
O Barreirense do presente e do futuro construir-se-á com os primeiros. Não com os segundos. Alguém duvida?

8. É tempo de refundar o Barreirense!
Que grande desafio!
Que belo desafio!

9. Aqueles que neste momento crítico de indiscutível embaraço tiverem a audácia, a disponibilidade, a competência e a honestidade de realizar tudo aquilo que tem de ser feito, passarão à história deste clube quase centenário como nossos heróis, fiéis depositários e ilustres continuadores da esperança, da paixão e da obra dos que em 11 de Abril de 1911 fundaram o Futebol Clube Barreirense.

10. É indispensável um corte com o passado recente. É desejável o aparecimento de uma nova equipa de dirigentes. É revigorante a emergência de uma nova linhagem de Barreirenses, descomprometidos com visões parcelares e sectárias, e independentes dos interesses partidários que por vezes nos sufocam e condicionam. É fundamental que uma nova geração de Barreirenses – nas concepções e nas práticas – traga um arejamento de palavras e de atitudes que nos devolva a esperança e o optimismo que vêem sendo progressivamente quase feridos de morte.

11. O que tem de ser feito? Com que programa? Com que estratégia? Com que recursos humanos? Com que meios financeiros?
Os próximos responsáveis saberão certamente encontrar as propostas e as respostas mais justas e mais adequadas.

12. Há uma pergunta que vem sendo colocada por muitos de nós. Não é provavelmente a pergunta mais importante. Mas podemos e devemos questionar-nos:
- vamos ter na próxima época equipas sénior de futebol e basquetebol?
Dependerá de todos:
- dos associados, que terão de contribuir financeiramente dentro das suas possibilidades, sem hipocrisias
- dos dirigentes, que deverão ter a capacidade de reduzir custos em todas as áreas (administrativa, desportiva, sala de bingo, etc.) de forma porventura cruel mas inevitável
- dos treinadores, de todos os escalões, que num assomo de amor clubista, saberão entender que os sacrifícios devem ser extensivos a todos os Barreirenses
- dos atletas, os nascidos aqui e os entretanto chegados a esta cidade e a este clube, que sabem que o Barreirense também lhes deu muito até hoje, pelo menos tanto quanto eles o gratificaram.

13. Vítor Serpa, director de A Bola, escreveu em editorial de 27 de Janeiro de 2005: “A mística vem da história, atravessa gerações e projecta-se para o futuro. Acompanha os tempos, as mudanças, as novidades da moda. Tem o peso da alma, a grandeza das utopias, a intensidade do sagrado”.

14. O Barreirense não está moribundo! O Barreirense não morrerá!
Em Setembro acredito que vamos reviver, no Ginásio-Sede ou noutro qualquer espaço, as inesquecíveis Galas de 2004 e 2005. Não será desta vez a Gala do Basquetebol, mas a Gala de todos os Atletas, a Gala de todas as Modalidades – a Gala do Barreirense.
É que… só há um Barreirense!
Repito: só há um Barreirense!

15. Todos não seremos demais para reerguer o nosso clube, acreditar no seu futuro, lutar pela sua perenidade.
Viva o Barreirense!!!
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