sexta-feira, setembro 25, 2009
Ainda não será desta vez
É minha convicção de que existe, a cada eleição, numa escala individual, mas com óbvias consequências colectivas, um voto ideológico, um voto de protesto, um voto pragmático e um voto útil.
O primeiro, o voto ideológico, é muito estável. Resulta quase sempre independente da afinidade do eleitor com o líder transitoriamente em exercício, resiste à adesão ou repulsa da sua prática, credibilidade ou carácter – sobretudo quando tem (teve) responsabilidade de governo –, não depende do maior ou menor cumprimento de um programa eleitoral ou declaração de princípios partidária.
O voto de protesto resulta de uma clara e inequívoca insatisfação do cidadão com o passado mais recente da governação. E tem alternadamente penalizado com maior expressão os dois principais partidos do arco de governo, o PS e o PSD.
O terceiro, o voto pragmático, percorre um conjunto de eleitores – numérica e sociologicamente importante – que a cada chamada às urnas julga ver numa determinada liderança uma melhor capacidade de serviço à comunidade ou de defesa dos seus interesses mais particulares. Tem sido frequente nas transferências de voto entre o PS e o PSD e, em menor dimensão entre o CDS e o PSD.
O voto útil assenta numa adesão genérica a um dos campos em disputa – "esquerda" vs "direita". Poderá corresponder no próximo acto eleitoral a uma decisiva votação no PS de potenciais ou efectivos simpatizantes do Bloco de Esquerda e, poderá também – embora talvez desta feita em menor grau – desviar votos do CDS para o PSD.
Dentro de dois dias, tudo isto se repetirá.
E na manhã de domingo o meu voto continuará a pertencer ao primeiro grupo. Em consciência. Em liberdade. Embora com justificadas reservas e legítimas desconfianças.
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