segunda-feira, julho 12, 2010
Eu, tu e nós
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"A partir de hoje, Miguel Esteves Cardoso vai passar a escrever só no PÚBLICO, todas as semanas no P2, no ípsilon, no Cidades, no Fugas, no público.pt ou na Pública e todos os dias aqui, no primeiro caderno"
(PÚBLICO, 12 de Julho de 2010)
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Pois é.
Uns pensarão que será Miguel Esteves Cardoso (MEC) a mais.
Outros talvez não.
A avaliar pelos textos de hoje – primeiro caderno e P2 – é caso para dizer: que venha o MEC!
Este mês casei-me com o PÚBLICO que, como disse o meu amigo José Cardoso, fez de mim uma mulher honesta.
Sou muito feliz com o PÚBLICO, meu marido em caixa alta. É bom pertencer ao PÚBLICO e fazer o que ele me diz e ele deixar-me fazer o que eu quero.
Foi longo e picante o namoro. Mas até a mais eufórica das noivas sabe que, a certa altura, começa o casamento em si. Devagarinho, vão-se revelando, de parte a parte, hábitos irritantes e manias. Mas também inesperadas graças e doçuras. Havendo amor, fazem-se pequenos pactos, trocam-se aceitações e abdica-se de importâncias.
Tenho a sorte de saber, graças à Maria João, como cresce um bom casamento. Nos primeiros três anos a ordem dos pronomes é eu, tu, nós. No deslumbramento do tu, o eu começa a ser menos eu, mas o nós quase não existe: só eu e tu e "que giro ou que mau tu seres isto e eu ser aquilo!" Passados três anos, já há um nós. É um nós para além da soma do eu e do tu. É um casal de que gostamos e de que dependemos. Embora o eu ainda tenha medo. E fica: eu, nós, tu.
É duro o tu ficar em último mas logo se arranja companhia quando o nós passa para primeiro e fica: nós, eu, tu. Depois, para aí no nono ano, troca de lugar com o eu e fica: nós, tu, eu. É esta a fase de casamento em que estou. Não sei o que vem a seguir mas suspeito que não ficarão na mesma linha e que será, por cima, nós e, por baixo, tu e eu. Deus me livre que seja assim com o PÚBLICO. Mas caso com ele à mesma.
Miguel Esteves Cardoso
(O meu novo casamento, PÚBLICO de 12 de Julho de 2010)
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Uma delícia!
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