quinta-feira, agosto 13, 2009

O guerreiro de Deus


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O nome, Tom Perrotta, está para a literatura, como Peter Cetera para a música.
Pouco apelativos, pelo menos para mim.

Vá-se lá saber porquê. Uma parvoíce...
Foi por isso que, e numa demonstração de indiscutível ignorância destes meandros da literatura, adquiri Abstinência (edições Contraponto, 2009) com alguma dose de desconfiança, antes da partida para as férias de verão (merecidas, digo eu!).

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O livro, tradução para português de The Abstinence Teacher, foi editado em 2007 na pátria do Tio Sam e considerado pelo prestigiado New York Times um dos 100 melhores livros desse ano.
Só soube dessa valoração ontem, já a leitura estava prestes a dar-se por concluída e uma súbita "fome curiositária" me fez mergulhar nas profundezas do Google, da Wikipedia e dos Blogues.
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Perrotta é, disse um crítico do Público, «o tipo de autor que faz a ponte entre leitores exigentes e estúdios de cinema que põem o negócio à frente de tudo».

Posso não me rever entre os primeiros (mas que entende o crítico por leitores exigentes?). E não tenho nada a ver com os segundos.
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No Ípsilon do passado 31 de Julho, pp. 34-35, o livro era assim parcialmente resumido, de uma forma que eu não escreveria mais certeiramente: «Abstinência trata de um tema que está na ordem do dia: educação sexual no ensino básico. Aqui não há alunas com gravadores escondidos, como na Escola Sá Couto, mas o treinador de futebol Tim Mason, um antigo toxicodependente que trocou as drogas duras pela religião, transformando-se numa espécie de guerreiro de Deus, tem um comportamento simétrico ao das mães que deram origem ao escândalo de Espinho […]. Se uma igreja cristã evangélica se opõe a determinadas práticas, como, por exemplo, ensinar educação sexual a menores, a luta é sem tréguas. Neste caso, o Tabernáculo Evangelho Puro, uma instituição cristã fundamentalista, opõe-se ao plano de ensino de Ruth Ramsey, professora da disciplina de Saúde e Vida Familiar do liceu de Stonewood Heights. As manchetes mais benignas dos pasquins locais identificam-na como "Dama do Sexo Oral". O pecado de Ruth é estar preocupada em alertar (e precaver) os alunos para doenças sexualmente transmissíveis. Mas nem todos pensam assim. A uma aluna que considera nojento o sexo oral, responde: "Se feitos nas devidas proporções, tanto o cunnilingus como os fellatio devem ser bem mais agradáveis e higiénicos do que beijar uma sanita. Espero que tenha respondido à tua pergunta". Para o Tabernáculo Evangelho Puro isto é pura heresia. Sodoma à porta de casa».
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Apreciei a escrita de Perrotta: simples, com poucos “rodriguinhos”, inteligente, profunda.
Gostei do livro. Para além da problemática da educação sexual nas escolas, outras mais atravessam as cerca de 300 páginas: a luta contra a toxicodependência, o amor homossexual, o totalitarismo e fanatismo religiosos.
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Depois de Abstinência, os Pecados Íntimos (edições Bico de Pena, 2007) ficam à minha espera.
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