sábado, dezembro 13, 2008

Memória Barreirense (XXXI)



Do Rosário ao Rossio

Foi nuns terrenos arenosos localizados junto à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, designados Campo do Rosário, cuja ocupação terá sido autorizada pelo Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Joaquim Lobato Quintino, que o FCB iniciou, logo após a sua fundação, a prática regular de futebol.
O clube utilizou ainda episodicamente um espaço da Quinta José Alves, a poente do actual Parque Catarina Eufémia, até que em 1914 se fixou no Campo do Rossio, junto às cordoarias de Alexandre Coelho e Manuel Rebelo, com interregno de 1932 a 1937, em que utilizou o Estádio do Lumiar, em Lisboa. Em 1922, na presidência de Manuel Ferreira, foram construídas as primeiras bancadas de madeira, camarotes, balneários, bar e instalações sanitárias. Nos anos 40 uma Comissão de Obras constituída por Albino Macedo, Eduardo Nunes, Ezequiel Cavaco, José Balseiro Guerra, Luís Raimundo dos Santos e Pereira Mendes, prosseguiu um conjunto de beneficiações na bancada poente, bancada norte (por cedência de um espaço do jardim público) e peão nascente (cedido a título precário pela CUF).
Foi justamente pelo reconhecimento do contributo da CUF, que uma Assembleia-Geral, realizada em 14 de Fevereiro de 1952, aprovou a nova e definitiva designação – Campo D. Manuel de Mello. Pelo caminho, foram ficando sonhos e projectos de uma Cidade Desportiva, infelizmente nunca concretizados. O ano de 1965 foi muito importante para a remodelação do ‘Manuel de Mello’. Pelo impulso de uma nova Comissão de Obras de que fizeram parte Albino Macedo, António Maria da Costa, Eduardo Inácio Nunes, Manuel Raimundo, Raimundo José Maria, Ulisses Ricardo da Silva e Victor Rodrigues Adragão, iniciou-se a construção faseada da bancada de topo norte, bancada central coberta com camarotes, bancadas laterais, bancada de topo sul. O relvado, inaugurado a 26 de Setembro de 1966, foi um melhoramento muito significante. O custo desportivo destas obras foi grande: com a mudança dos nossos jogos caseiros para o Campo de Santa Bárbara, propriedade do Grupo Desportivo da CUF, o clube desceu à II Divisão. Mas foi uma obra inadiável, de enorme alcance para as necessidades estruturais do futebol Barreirense.
Um sistema de iluminação, ainda que elementar, foi inaugurado em 1976, o que veio facilitar o treino de equipas mais jovens em horário nocturno. A aquisição de algumas parcelas de terreno possibilitou a propriedade total para o FCB dos cerca de 9.000m2 da área de implantação do Campo D. Manuel de Mello, facto que facilitou a sua alienação em 2005. As últimas obras de beneficiação foram determinadas pela inscrição do FCB na Liga de Honra (época de 2005/2006) num investimento financeiro obrigatório, controlado mas improfícuo, numa estrutura com prazo de vida muito curto. A nossa participação na Liga de Honra de 2005/2006 foi, de resto, tal como a anterior (1990/1991), desastrosa em termos desportivos e ruinosa nas suas consequências financeiras. Que o exemplo e as opções então concretizadas tenham servido de aprendizagem…



Vender para sobreviver

Em 2005, com elevadas dívidas ao Fisco e à Segurança Social, e um défice de exploração corrente muito acima das receitas ordinárias, o FCB mergulhara numa gravíssima crise financeira. E a inscrição das suas equipas de futebol e de basquetebol nas respectivas Ligas Profissionais, estava condicionada pela regularização daquelas dívidas.
Por decisão dos associados, em Assembleia-Geral expressamente convocada para o efeito, o Campo D. Manuel de Mello foi alienado, assim como uma parcela de terreno da Verderena.
Saldadas as dívidas, parte das verbas recebidas continuaram a ser parcialmente consumidas para cobertura dos crónicos défices anuais, colocando em risco a sustentabilidade estrutural e financeira do FCB.
Este é um momento particularmente importante para o clube. Se uma deriva consumista e irresponsável persistir, as ameaças serão reais. Sem património, sem estruturas adequadas para a prática das suas modalidades, o FCB correrá o risco, grave e sério, de comprometer o seu futuro, e poderá será ultrapassado no contexto desportivo da cidade. A ver vamos...



Verderena adiada?

A doação ao FCB em Janeiro de 1972 por Abílio da Silva Pires, Joaquim Garcia Pires e Maria Manuela Pires de 39.100m2 localizados na Verderena para construção de um complexo desportivo, foi uma lufada de ar fresco. Acreditou-se que o FCB iria, finalmente, construir a sua Cidade Desportiva.
Iniciaram-se projectos de utilização de tão amplo espaço, que viessem a permitir um salto qualitativo e quantitativo das estruturas físicas – factor imprescindível para a consolidação e crescimento desportivo do clube. No ano seguinte, a 23 de Dezembro, foi inaugurado um campo pelado de futebol de 11 para treinos e jogos das equipas de formação. Pensava-se que num prazo não muito distante, se reunissem as condições financeiras necessárias para a continuação das obras. Pura ilusão!

Vinte anos antes, em 1952, um ante-projecto da Câmara Municipal do Barreiro, a cargo do arquitecto Joaquim Cabeça Padrão, previra a construção de um estádio com 20.000 lugares sentados a sul da Avenida da Bélgica (actual Avenida Alfredo da Silva). E em 1956 uma comissão de Barreirenses encabeçada por Arménio Pedrosa, Luís Raimundo dos Santos e Ory de Oliveira, propôs a Alfredo Garcia, Presidente da Edilidade, a alteração do ante-projecto anterior. E sugeriu nova localização, a cerca de cem metros da Escola Alfredo da Silva, onde seriam edificados um estádio de futebol com campo de treinos, pavilhão para basquetebol, complexo de piscinas, pista de atletismo e campos de ténis. O custo dos aterros e das fundações seria elevadíssimo, pelo que o projecto foi considerado inviável. E morreu.
No presente, a redução da área disponível na Verderena, por efeitos de venda de património e reorganização urbana da zona de implantação do complexo, apenas permitirá erguer um pequeno estádio de futebol, com capacidade máxima de 4.000 lugares, e um pavilhão para o basquetebol, com dimensão e polivalência distantes das necessidades do FCB.

[Excerto do Capítulo IV - Locais de Culto
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)