quarta-feira, dezembro 24, 2008

Memória Barreirense (XXXIV)


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Unidade Barreirense
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Na época de 1965/1966, o FCB procedeu ao arrelvamento do Campo D. Manuel de Mello. A equipa não assegurou a manutenção na I Divisão e a descrença instalou-se. Sucederam-se as críticas ao Presidente Albino Macedo.
Luís Raimundo dos Santos, Presidente da recém-eleita Direcção, decidiu promover a 1ª Festa da Unidade Barreirense. Objectivo: “dinamizar novas relações, estreitar velhas amizades, apaziguar longevas desavenças e espraiar a atmosfera densa que se respirava no seio do Futebol Clube Barreirense, fazendo com que todos estendessem as mãos uns aos outros num cordial civismo e amor clubista. Enfim… era necessário fazer ressurgir o ‘velho’ Barreirense para que o futuro fosse encarado, por todos, com maior confiança!” (José Rosa Figueiredo, 70 Anos de Vida do Futebol Clube Barreirense).
Constituiu-se uma Comissão de Associados, com a seguinte composição: Albino da Silva Macedo, Albino da Silva, Armando da Silva Pais, Eduardo Espírito Santo, Fernando Silvério do Nascimento, Francisco Tavares Câmara, Jacinto Nicola Covacich, Jaime Diniz Abreu, Joaquim Pedro Pacheco, Luís Raimundo dos Santos, Manuel Costa Seixo e Victor Rodrigues Adragão. Desenvolveu-se um grande esforço de mobilização. Na edição de 6 de Outubro de 1966, o Jornal do Barreiro publicou a seguinte carta-circular, difundida por sócios e amigos do FCB:

Neste período de bem necessária renovação e maior revigoramento desportivo do Futebol Clube Barreirense, ao reabrir as portas do seu campo atlético após as obras de arrelvamento e outras complementares (embora ainda não concluídas), uma comissão de sócios acaba de tomar a iniciativa de organizar uma grande “Festa de Unidade Barreirense” que demonstre bem significativamente, a maior unidade, a mais íntima união de todos os “Barreirenses” à volta do pavilhão “alvi-rubro” de tão belas tradições na defesa da Causa Desportiva, irmanados todos no mesmo desinteressado objectivo de bem servir, e relegadas, portanto, ao esquecimento as pequenas divergências que algumas vezes cindiram o bloco de dedicações e sacrifícios que alicerçou, lenta mas proficuamente, a grandeza do Futebol Clube Barreirense e o tornou admirado e respeitado, como clube de primeiro plano.

A 22 de Outubro de 1967, o Ginásio-Sede fervilha de alegria e entusiasmo. Os esforços desenvolvidos pela comissão organizadora culminam numa presença impressionante de 1.000 Barreirenses – associados, atletas, treinadores, dirigentes.
Depois da audição do Hino do FCB, coube a Luís Raimundo dos Santos o discurso inaugural, seguido de outras intervenções, da leitura de cartas de Barreirenses ausentes que, como Luís Casimiro Vasques, residente em Paris há alguns meses, não quiseram deixar de marcar a sua presença.
Os testemunhos da grandiosa noite, a que não assisti, são eloquentes dos momentos inolvidáveis que a marcaram, um dos quais foi a reconciliação dos irmãos João e Pedro Pireza, desavindos e de relações cortadas há 18 anos.
Maria Helena Bota Guerreiro, com enorme emoção, recitou o:

Poema de Unidade Clubista

Ninguém faltou à chamada!
Sabemos que estão presentes
Quer em corpo, quer em espírito, que importa?
Pois todos cabem cá dentro
Ao transpor aquela porta!

Vinte anos depois, a 17 de Maio de 1986, assisti no Ginásio-Sede à 2ª Festa da Unidade Barreirense. Impulsionada, tal como a primeira, por esse grande vulto do dirigismo, Luís Raimundo dos Santos.
A 11 de Abril, comemorara-se o 75º aniversário, em cerimónia solene realizada no Ginásio-Sede. O futebol ficara num modesto 12º lugar no Campeonato Nacional da II Divisão. O basquetebol tivera mais uma boa prestação: semi-finalista da Taça de Portugal e 3º lugar no nacional da divisão principal.
Centenas de Barreirenses, oriundos de diversas regiões do país, convergiram mais uma vez para o Ginásio-Sede, numa tarde de grande amor clubista e exemplar fraternidade Barreirense. Um lanche volante favoreceu a circulação dos presentes que comungaram lembranças e reforçaram laços de amizade que a distância física não consegue apagar. Recordo o grande discurso de Alves Pereira, num registo profundo, sentido, enérgico. Jamais me esquecerei daquela tarde. Luís Raimundo dos Santos foi justamente premiado pela sua dedicação. Mas o FCB foi o grande triunfador da jornada que o Jornal do Barreiro de 23 de Maio de 1986 classificou de “grande, humana e bonita a Festa da Unidade”.

Tal como há 40 anos, o FCB voltou a cair para um escalão competitivo no panorama futebolístico nacional nada condizente com a sua tradição. E debate-se com preocupantes dificuldades financeiras e estruturais. Com uma apatia de sectores generalizados da massa associativa e adepta. E divisões internas, nomeadamente entre grupos mais activos afectos às duas modalidades mais representativas – futebol e basquetebol. Divisões que, apesar de antigas e recorrentes, são estéreis e perigosas.
Impõe-se uma outra concepção do clube. E outra praxis.
3ª Festa da Unidade Barreirense?

Sim, pois claro!
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Deixaram cair a prenda

Aníbal Cavaco Silva, actual Presidente da República, foi o Primeiro-Ministro do XI Governo Constitucional (1987-1991). Foi nessa qualidade que visitou o Ginásio-Sede, em Março de 1989. Em tarde primaveril de sábado.
Na mesa da cerimónia estiveram ainda presentes: Alves Pereira (Presidente da Assembleia-Geral do FCB), Hélder Madeira (Presidente da Câmara Municipal do Barreiro), Álvaro Monteiro (Presidente da Assembleia Municipal do Barreiro), Irene Aleixo (Governadora Civil de Setúbal), Carlos Pimenta (Deputado no Parlamento Europeu) e os Ministros do Plano, da Educação e dos Transportes. O Ginásio-Sede esteve lotado de uma assistência politicamente muito heterogénea, mas que soube receber o Primeiro-Ministro com respeito e cordialidade.
Na sua alocução, Aníbal Cavaco Silva manteve a promessa governamental de auxiliar o FCB na edificação do Pavilhão, velha aspiração dos seus adeptos que para o efeito tinham constituído uma “Comissão Pró-Pavilhão”, presidida por João Manuel Prates – antigo atleta e médico do clube, e destacado cidadão Barreirense. Embora sensibilizado para a importância da obra desejada, Aníbal Cavaco Silva exigiu uma adequação do projecto a uma dimensão menos ambiciosa e dispendiosa. E disponibilizou uma verba compreendida entre 100.000 e 150.000 contos [500.000 a 750.000 euros].
Dificuldades, incapacidades e indecisões de diversos matizes impediram até hoje a concretização de tão necessária estrutura desportiva. O tempo foi passando, a verba sucessivamente cativa para a edificação, mas todos os limites se esgotaram. Pelo que os apoios estatais indispensáveis à sua realização terão de ser novamente discutidos e revistos com a tutela. Uma pena…
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Fusão, essa ilusão

A primeira abordagem pública de uma ideia de fusão de alguns dos principais clubes do Barreiro terá sido efectuada pelo conceituado jornalista Domingos Lança Moreira, em data e contexto que não consegui precisar.
Em artigo publicado na edição de 5 de Setembro de 1957 do Jornal do Barreiro, o jornalista Oliveira e Silva defendeu publicamente um processo de fusão que abrangesse, pelo menos, o FCB e o Grupo Desportivo da CUF. Apesar das críticas de imediato desencadeadas pela sua posição, Oliveira e Silva voltou à carga em 3 de Outubro.
Foram muitas as vozes discordantes dessa pretensa solução para os problemas estruturais, financeiros e desportivos dos, à época, principais clubes do Barreiro: FCB, Grupo Desportivo da CUF, Luso Futebol Clube e Clube Naval Barreirense.
O Jornal do Barreiro, onde parecia dominante uma perspectiva favorável à fusão, voltou a levantar a questão em 23 de Fevereiro de 1958, informando que Jorge de Mello, líder do grupo CUF, estava a estudar essa possibilidade com alguns clubes. A demissão de Armando da Silva Pais, Director de O Barreirense, jornal do FCB, foi reveladora da delicadeza e conflitualidade da questão e pelo clima gerado no interior do FCB. E o assunto pareceu morrer, ou pelo menos adormecer…

Em Junho de 1990, por influência de Pedro Canário, Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, realizou-se no Auditório da Biblioteca Municipal do Barreiro, uma reunião patrocinada pelo autarca, onde estiveram presentes algumas dezenas de associados em representação do FCB e do Grupo Desportivo da Quimigal (que sucedera em 1980 ao Grupo Desportivo da CUF e que em 2000 passou a designar-se Grupo Desportivo Fabril).
Albino Macedo, Presidente da Direcção do FCB, convidara-me uns dias antes para estar presente, o que prontamente aceitei. Na Biblioteca do Ginásio-Sede realizou-se uma reunião preparatória, onde a Direcção expôs a sua visão do problema. O Grupo Desportivo da Quimigal debatia-se então com graves problemas organizativos, desportivos e financeiros. E, admitia-se em alguns círculos supostamente bem informados, que a administração do Grupo Mello estava disposta a vender as instalações do Complexo Alfredo da Silva. O FCB perfilava-se aos olhos de alguns dos seus dirigentes como potencial comprador. Confesso que apesar de ter crescido num ambiente de muita crispação e algum ódio em relação ao Grupo Desportivo da CUF, não considerei aquela hipótese particularmente digna e interessante.
O desenrolar da reunião, presidida por Pedro Canário, veio a revelar uma clara ausência de estratégia por parte dos dirigentes do meu clube. E a determinada altura, resolvi pedir a palavra. De improviso, até porque não perspectivara qualquer intervenção, critiquei qualquer eventual proposta de fusão dos dois clubes e mostrei concordância e sintonia com a posição formulada por Álvaro Monteiro, em rota de colisão com o Partido Comunista Português, no sentido de ponderar devidamente os benefícios da municipalização do ‘Alfredo da Silva’. Pareceu-me que Albino Macedo e os seus colaboradores não apreciaram o meu arrojo e independência, mas, passados dezassete anos, creio ter assumido uma posição genericamente justa e correcta, importante para a sustentabilidade e autonomia de ambos os clubes, e adequada à vida desportiva do Barreiro.
O tema não mereceu atenção do Jornal do Barreiro, que não lhe dedicou qualquer espaço noticioso. Desta vez, não houve debate público, nem polémica…
O debate acerca da municipalização do Complexo Desportivo do Grupo Desportivo Fabril – opção de que sou assumido e público defensor – voltou a ser desencadeado recentemente, na sequência da venda do ‘Manuel de Mello’.

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[Excerto do Capítulo V - Reuniões Magnas
Liv
ro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)