terça-feira, dezembro 16, 2008

Memória Barreirense (XXXII)



Falsa despedida

Assisti na curva poente do topo norte, ao que julguei ser o último jogo oficial do FCB no Campo D. Manuel de Mello. Na companhia do Zé António e do Francisco Barrenho, dois bons amigos. Barreirenses que, como eu, sempre tiveram uma visão plural e não redutora do clube, sustentada na força das suas duas modalidades mais representativas – o futebol e o basquetebol.
A 29 de Maio de 2007, o milhar de Barreirenses que para aí se deslocou, tinha ainda uma réstia de esperança. Embora dependente de uma obrigatória conjugação favorável de resultados, a manutenção na II Divisão era matematicamente possível. O Louletano, adversário dessa tarde de domingo, em luta pela subida à Liga de Honra, não seria um adversário fácil, muito menos acomodado. Empatámos 1-1, mas a vitória, teria ainda assim significado a nossa descida ao quarto escalão nacional.
Em duas temporadas consecutivas baixámos dois escalões competitivos, desenlace que apenas ocorrera entre 1978 e 1980, quando num ápice transitámos da I para a III Divisão.
Nessa tarde, nublada e triste de Maio, fui dos últimos a abandonar o ‘Manuel de Mello’. Junto à rede da bancada central preferi, mais do que ancorar-me na tristeza e desilusão da descida de divisão e da demolição anunciada do Manuel de Mello, lembrar-me de todos os belos e inesquecíveis momentos que ali vivera, em mais de quarenta anos de visitas regulares e apaixonadas.


Até sempre!

Afinal o derradeiro jogo oficial no ‘Manuel de Mello’ veio a desenrolar-se cerca de quatro meses depois, a 16 de Setembro de 2007. O FCB foi anfitrião do Silves, em partida relativa à 3ª jornada da Série F da III Divisão. Voltei a estar acompanhado pelo Zé António e pelo Francisco Barrenho, mas desta vez também com o meu filho, o Francisco Cabrita e o Frederico Cabrita.
Despedida com honra, mas sem glória. Com duas pequeníssimas consolações: a vitória (2-0) e o facto do último golo ter sido obtido por Pedro Saianda, jovem atleta oriundo dos escalões de formação. E uma esperança, entretanto algo esmorecida: que o FCB seja capaz de construir as estruturas desportivas de que carece para a continuidade do seu caminho.
No final do prélio, não houve emoção nem drama. Sinal dos tempos…


Festa ao Domingo

Recordo com saudade, as muitas tardes de domingo que vivi no Campo D. Manuel de Mello. Como foram belas as grandes romarias populares que vi convergirem para aquele espaço, que embora sem as necessárias condições de conforto e de estruturas de apoio, foi palco de grandes jornadas futebolísticas, sobretudo quando participámos na I Divisão.
A deslocação ao Barreiro do Benfica, Sporting e FC Porto, mas também de outros emblemas históricos como o Belenenses e o Vitória de Setúbal, era sinónimo de Festa. Muitos dos nossos associados concentravam-se logo após o almoço no Ginásio-Sede que, por esses dias, tinha um movimento e ambiente inigualáveis. Um café e o convívio numa roda de amigos, um jogo de bilhar ou de snooker, uma engraxadela dos sapatos, precediam o grande momento, da convergência no ‘Manuel de Mello’, onde a aquisição do célebre bilhete Pró-Autocarro era obrigatória. Os demais Barreirenses e os adeptos da equipa visitante convergiam nas imediações do estádio pelas Avenidas Bento Gonçalves e Alfredo da Silva e pela Rua Miguel Bombarda.
A sobrelotação chegou a provocar a colocação, quase sempre ordeira e civilizada, de adeptos para cá da vedação do peão, baixa e acessível à transgressão.
No pelado, mais tarde relvado, desfilaram as ‘estrelas’, mas também os ‘operários’. Muitos e bons por lá passaram e deslumbraram. Não os esquecerei…
a
[Conclusão do Capítulo IV - Locais de Culto
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)