segunda-feira, fevereiro 16, 2009

É preciso acreditar

Entrevista na SIC.
Serena.
Séria.
Sensata.
Sem chavões.
Sem lamechices.
Optimista.
Uma boa presença.
Com Mário Crespo.

Carlos Queiroz acredita no apuramento de Portugal para o Mundial 2010. Eu também.
Carlos Queiroz defende uma reorganização profunda do futebol português. Eu também.
Carlos Queiroz confia nas suas capacidades. Eu confio nas capacidades de Carlos Queiroz.
Carlos Queiroz também se engana e tem dúvidas. Sei-o bem. E compreendo-o.

Em 11 de Setembro de 2008, no rescaldo de um Portugal x Dinamarca, disputado em Lisboa, que perdemos de forma tão injusta e infeliz, tive o impulso de escrever sobre o que vira naquela noite triste de Alvalade.
Foi no ROSTOS, na minha crónica DESPORTO À PORTUGUESA.
Reassumo o que então escrevi.
Apeteceu-me aqui e agora republicá-la:

Irritação

Há muito que um jogo não me deixava com sentimentos tão contraditórios. Foi um grande espectáculo, uma batalha táctica de grande nível. Mas já não me lembrava de ficar tão irritado (Bruno Prata, “À Lupa” – Público).
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Não podia estar mais de acordo com as palavras deste interessante jornalista desportivo do diário que me acompanha desde a sua já distante fundação. Quando aos 86 minutos o soberbo luso-brasileiro Deco converteu uma grande penalidade e refez (ainda que de forma parcial) a verdade do jogo, pensei que Portugal conseguiria sair do Estádio José Alvalade com uma vitória. Desfecho que a concretizar-se teria colocado a nossa selecção em posição privilegiada para estar presente no Mundial de 2010 a disputar na África do Sul. Mas não foi assim. Num ápice de seis minutos, os dinamarqueses desfizeram as nossas pretensões com golpes desferidos com intencionalidade, mas com idêntica dose de fortuna. Como é habitual dizer nestas circunstâncias, o que conta para a história é o resultado. Mas para mim, que assisti ao vivo a uma magnífica exibição de futebol do seleccionado de Carlos Queiroz, perdurará a noite em que vi uma equipa de qualidade, que praticou um jogo de invulgar conteúdo técnico e maturidade táctica. Foi pena que os minutos derradeiros tenham sido tão arrasadores para as nossas pretensões, num sucedâneo de deslizes e infelicidades pouco habituais em tão curto lapso de tempo. Não fomos bafejados pela sorte – sempre necessária nestas coisas do desporto. Não tivemos a bênção da Senhora de Caravaggio, que tantas vezes acompanhara o antecessor de Carlos Queiroz.
Percebe-se bem porque Luís Felipe Scolari forçou a contratação de Deco para reforço da sua nova experiência profissional – a liderança do Chelsea FC. O atleta, que chegou a Portugal ainda muito novo – e a quem o SL Benfica não soube reconhecer o talento (talvez então ainda vagamente oculto), facto que o FC Porto não desdenhou – é, de facto, uma “estrela” de invulgar capacidade cintilante. Na noite de ontem, fui (fomos) contemplados(s) com mais uma exibição de sonho do consagrado jogador. Observado directamente no estádio, fica mais clara a riqueza da movimentação, a leitura rápida e inteligente do jogo, as acelerações e as temporizações, as recepções, os passes – curtos, médios e longos – e os remates. O golo que marcou de pouco lhe(nos) valeu. Foi apenas um pequeno prémio, de sabor amargo e amargurado pela derrota – injusta e brutal. Deco não esteve só na manifestação dos indiscutíveis atributos individuais da Selecção Nacional. Bosingwa, Ricardo Carvalho e Pepe tiveram também prestações de elevadíssima qualidade. Paulo Ferreira, Raul Meireles e o regressado Maniche não destoaram. As insuficiências – individuais e colectivas – foram as tradicionais. E, de entre todas, ressaltou uma (in)capacidade concretizadora consentânea com a riqueza e o perfume do nosso futebol. Pecado que, a avaliar pelo escassíssimo número de avançados portugueses que disputam a Liga Sagres, não terá resolução a curto prazo.
Os cerca de 33.000 espectadores que a noite passada lotaram cerca de dois terços do Estádio José Alvalade, e os milhões que acompanharam o Portugal x Dinamarca via tv, puderam assistir a um jogo dinâmico e intenso, bem jogado (sobretudo por Portugal), viril mas disciplinado. O público foi correcto. Pelo menos nestes jogos da Selecção estamos livres daqueles mentecaptos e imbecis que, integrantes de algumas claques, estão quase sempre de costas voltadas para o jogo, mais interessados na provocação e no insulto fácil e grosseiro. Os atletas foram cordatos. Curiosamente, Pepe – jogador educado e culto – aquando da lesão traumática de um adversário podia ter de imediato orientado a bola para a linha lateral, para pronta interrupção do jogo e prestação da respectiva assistência médica a Lovenkrands. O competente e disciplinado defesa-central luso-brasileiro apercebeu-se do lapso e prontamente o corrigiu, desculpando-se perante o colega de profissão e o juiz da partida. Aplaudo!
Ao intervalo, Nelson Évora (medalha de ouro do triplo-salto de Beijing 2008) e a Selecção Nacional de Futebol de Praia (vencedora do Mundialito) receberam placas alusivas e a justa ovação do público. Foi bonito! A meu lado, um invisual acompanhou o relato radiofónico, e foi trocando comentários de circunstância com um companheiro. Como “viu” este jogo? Que sensações o percorreram? Como terá digerido a derrota?
No regresso a casa, foi tempo para fazer zapping radiofónico e auscultar a opinião de “ilustres” comentaristas e anónimos participantes nos fórum que sempre ocorrem após estes prélios. E foi tempo para confirmar, nomeadamente na conferência de imprensa prestada por Carlos Queiroz, que os abutres do costume se puseram logo a jeito, criticando – sem jeito e sem substância – a acção do nosso seleccionador e desenterrando fantasmas – velhos e novos – sem nexo e sem oportunidade. O costume…
Como já referi anteriormente em Rostos online, Carlos Queiroz não vai ter vida fácil ao serviço da Federação Portuguesa de Futebol. Esperam-no armadilhas e invejas, ciladas e ciúmes. Tem personalidade e competência para as enfrentar e ultrapassar. Mas precisa de sorte. A sorte que ontem lhe fugiu.
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