sexta-feira, outubro 10, 2008

Lagos da Paz

Martti Ahtisaari, Presidente da Finlândia entre 1994 e 2000, é o “Nobel da Paz” 2008.
Sucede a Al Gore e ao IPCC.
A leitura da súmula curricular parece justificar a atribuição do prestigiado prémio.
É, obviamente, uma escolha política.
Do Mundo Livre. Para os Homens Livres.

Lemos os comentários desde já publicados na edição online do Público.
E percebemos – como se tal fosse necessário – que o Imperialismo Soviético se desmoronou em... Berlim 1989, mas os seus acólitos não desarmam. Estão no seu direito.
Como eu estou. No grande e nobre combate pela Liberdade, pela Democracia, pela Paz, pela Igualdade e pelo Progresso.

Sempre igual


Confesso que a acho gasta. A Quadratura do Círculo.
Interrogo-me se estou cansado do modelo. Se dos intervenientes. Se de ambas as coisas. Ou se é de mim…
Seja como for, já não me sinto atraído pelo seu acompanhamento regular. O que significa que não oriento o serão das quintas-feiras no seu sentido. Embora, como aconteceu ontem, o tenha visto – mas sem ponta de interesse e de expectativa.
Como leio regularmente as participações jornalísticas de José Pacheco Pereira, tudo me parce dejá vu, ou melhor, dejá lu. Sempre o mesmo criticismo anti-PS, umas vezes consistente e ajuizado - digo eu - outras parecendo “obrigatório” e obsessivo.
De António Costa, talvez eu esperasse mais e melhor. Não parece o cidadão comprometido mas livre, inteligente e acutilante de outros tempos – tolhido pelos seus envolvimentos passados e presentes no PS, no Governo e na CML.
Finalmente António Lobo Xavier. Cordato, perspicaz, aristocrático. Mais interessado na carreira profissional, não parece que o futuro da direita orgânica passe por si.
Quadratura do Círculo. Fim à vista?

quinta-feira, outubro 09, 2008

Sem açúcar, por favor



"É quando acabamos de o beber que tudo começa a acontecer"

Balzac

Diferente

Ainda me lembro da passagem pelo futebol português de Homens como Sven-Goran Eriksson e Sir Bobby Robson.
Na actualidade, as intervenções públicas do actual treinador da equipa sénior de futebol do Sport Lisboa e Benfica - Quique Flores - têm constituído uma verdadeira e imensa pedrada no charco.
Cansado de ouvir o discurso hipócrita e repetitivo de uma parte substancial dos treinadores nacionais, é com todo o agrado que venho acompanhando as declarações deste jovem madrilenho de apenas 43 anos.
Têm sido afirmações ponderadas e serenas. Educadas e sérias.

Não há ali leituras enviesadas da realidade. Não se exibem desculpas fáceis para os insucessos (não tão poucos assim). Não se projectam farpas mais ou menos cínicas e sub-reptícias - dirigidas a companheiros de ofício, árbitros ou outros intervenientes do espectáculo.
Quem me dera que os Jesualdos, os Bentos e outros que tais cá do burgo revelassem idêntica elevação desportiva e intelectual.
O futebol português ficaria certamente a ganhar com isso. Muito.

[DESPORTO À PORTUGUESA, www.rostos.pt]

quarta-feira, outubro 08, 2008

"Magalhães"


a
Ricardo [nome fictício] tem 2 anos e 9 meses.
Conheci-o ainda lactente.
O seu problema renal está aparentemente resolvido.
Dei-lhe alta da Consulta de Nefrologia Pediátrica.
É possível que nunca mais nos cruzemos.
Ao entrar na tarde de ontem no gabinete, viu-me aceder de imediato ao computador e soltou a pergunta:
- Tens Internet?
Para logo depois acrescentar:
- Conheces o You Tube?
Fiquei siderado de espanto.
Ricardo teve uma asfixia muito grave ao nascer. Nem parece que algo de tão presumivelmente inquietante lhe aconteceu então. É inteligentíssimo!
Afinal, uma asfixia grave pode não ser desastrosa para o futuro das crianças. Já o sabia. Mas ontem, a prova foi demolidora. Felizmente!
Estamos num tempo outro. Bem diferente daquele em que vivi e cresci a infância e a adolescência.
Os computadores invadem as empresas, os lares e agora também as escolas dos mais jovens. Que maravilha!
Há riscos neste novo paradigma. Mas o acesso ao conhecimento é agora mais vasto, livre e democrático.
Podemos estar conscientes de alguns excessos. E atentos.
Podemos desconfiar dos aproveitamentos políticos.
Podemos criticar a contratualização feita pelo Governo.
Mas, por favor, não crucifiquemos já o Magalhães!
a

Memória Barreirense (V)



Campeões

Cinco dias depois do 13 de Maio de 1957, o FCB sagrou-se Campeão Nacional de Basquetebol. Depois de vencer o Torneio de Abertura da Associação de Basquetebol de Setúbal, o FCB participou no 25º Campeonato Nacional da I Divisão. A prova, iniciada a 2 de Fevereiro e concluída em 25 de Maio de 1957, foi disputada por oito equipas: FCB, Sporting, Académica de Coimbra, Benfica, FC Porto, CUF, Sanjoanense e Vasco da Gama. Com onze vitórias, dois empates (Académica e FC Porto) e uma derrota (Sporting), o FCB obteve o seu primeiro título nacional sénior, tendo nas catorze partidas averbado 840 pontos e sofrido 580. Em 18 de Maio, a vitória caseira sobre o Vasco da Gama (Porto) na penúltima jornada, determinara desde logo a nossa inesquecível proeza.

O Barreirense é Campeão Nacional da I Divisão
Pode já festejar-se como acontecimento digno de todo o relevo, a conquista do Campeonato Nacional de Basquetebol da I Divisão, pelo Barreirense, a uma jornada ainda do seu termo. É mais um título nacional que o desporto barreirense se orgulha registar na sua história, este alcançado pelo popular clube da nossa terra, justo prémio do seu esforçado labor em prol da modalidade, e merecido galardão à classe dos seus jogadores que formam actualmente a melhor equipa de todos os clubes nacionais.
Está de parabéns o Barreirense, e em festa o Barreiro desportivo. A jornada de consagração, a última, não se realiza no Barreiro e é pena que tenha lugar na distante vila de S. João da Madeira, no sábado, mas de qualquer forma os valorosos basquetebolistas rubro brancos, terão a merecida apoteose no seio do seu ambiente associativo.
(Alfredo Zarcos, Jornal do Barreiro, 23 de Maio de 1957)

Foram atletas campeões:

Albino Macedo (27 anos, 1.70m) • Alfredo Guilherme (18 anos, 1.82m) • Armando Soeiro (19 anos, 1.72m) • Augusto Rosa (18 anos, 1.70m) • Eduardo Nunes (22 anos, 1.79m) • Eugénio Gabriel (24 anos, 1.84m) • José Macedo (20 anos, 1.71m) • José Valente (24 anos, 1.89m) • José Vicente (19 anos, 1.93m) • Manuel Clímaco (26 anos, 1.78m) • Manuel Ferreira (21 anos, 1.81m) • Manuel Pereira (21anos, 1.77m) • Narciso Ribeiro (27 anos, 1.84m) • Sérgio Bravo (19 anos, 1.73m).

Natural de Estremoz, Narciso Ribeiro, era o único ‘não-Barreirense’ por nascimento. Era uma equipa muito jovem (média de 21.7 anos), com altura média de 1.79m e apenas um atleta acima de 1.90m. Em 1981/1982, 25 anos depois, a equipa era ainda jovem (média de 22.9 anos) mas com uma estatura média mais elevada (1.87m), embora sem qualquer atleta com mais de 2m de altura. E 50 anos mais tarde (2006/2007) permanecia jovem (média de 21.0 anos), e mais alta (1.97m de estatura média), com 6 atletas acima dos 2 metros.
A imprensa dedicou particular atenção ao feito da colectividade da margem sul. A Bola de 20 de Maio noticiou “Título garantido para o Barreirense a uma jornada do final do CN 56/57” e, na edição de 25 de Maio, apresentou a foto da equipa na primeira página, com a legenda “Campeões” e dedicou toda a oitava (última) página ao acontecimento, com entrevista a José Godinho (treinador), apresentação dos campeões e um texto de análise “Recinto coberto – factor decisivo da vitória”.
O Jornal do Barreiro de 30 de Maio de 1957 transcreveu excertos de algumas das intervenções pronunciadas a 26 de Maio de 1957, na recepção que decorreu no Salão Nobre da Câmara Municipal do Barreiro. Ulisses Ricardo da Silva, Vice-Presidente do FCB, destacou o facto de “se tratar de um grupo de rapazes genuína e verdadeiramente amadores, o que muito mais realça o triunfo alcançado, se recordar que todas ou quase todas as outras equipas eram constituídas por profissionais do basquetebol”. Disse ainda que “constituía um forte motivo de orgulho para o F. C. Barreirense e para o Barreiro, o título, agora conseguido, o qual, passará, também a ser um belo cartaz de propaganda do desporto local”. Na ausência do Presidente da Câmara, José Alfredo Garcia, o Vice-Presidente Vítor Adragão, afirmou “sentir grande contentamento por esta tão magnífica vitória conseguida por um grupo de rapazes, autênticos desportistas na verdadeira acepção da palavra, pois que sempre deram o seu esforço e o melhor da sua energia, sem nunca terem em vista qualquer espécie de interesse material”. A terminar, o orador disse que “o Barreirense era um dos grandes clubes de Portugal, pois que, apenas por puro amadorismo e com um alto sentido do que é o verdadeiro amor clubista, conseguiram os seus jogadores, tão brilhante e invejável triunfo”.

Ano de excelência

Eliminando sucessivamente a Mundet, Atlético, Sporting e Académica de Coimbra, o FCB apurou-se para a final da 8ª Taça de Portugal em basquetebol. O derradeiro desafio, que colocou frente a frente FCB e Belenenses (Campeão Nacional da II Divisão), foi presenciado por numerosa assistência que lotou o Campo de S. Bento, em Lisboa, na noite de 29 de Junho de 1957. O FCB ganhou por 58-54, obtendo a primeira das 6 Taças de Portugal que alberga no seu historial. No final do prélio, Carvalho Pinto, Presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol, entregou a taça e as medalhas, perante a alegria dos 600 Barreirenses que se deslocaram a Lisboa, e que presentearam os vencedores com serpentinas e fogo de artifício. Era noite de S. Pedro!
Esta vitória culminou uma “época de ouro, brilhantíssima, para o popular clube local” (Alfredo Zarcos, Jornal do Barreiro de 4 de Julho de 1957), uma vez que para além dos dois triunfos atrás citados, o FCB obteve nessa temporada os títulos regionais de juniores e infantis (os dois escalões existentes à época) e veio a sagrar-se Campeão Nacional de Juniores. Na final desta prova, disputada em Almada, a 9 de Junho de 1957, o FCB derrotou o Vasco da Gama por 44-34.
Estes magníficos resultados, não estiveram certamente desligados do trabalho sério, profundo e competente, que dirigentes e técnicos do clube vinham realizando de há vários anos a essa parte. Mas foi óbvia a influência estimulante e catalizadora que a construção do Ginásio-Sede teve na qualidade e dinâmica entretanto alcançadas.
A temporada desportiva de 1956/1957 foi também muito positiva na área do futebol. Já vimos atrás que o clube alcançou as meias-finais da Taça de Portugal, eliminatória perdida para o Benfica. Refira-se, por curiosidade, que por três vezes o FCB alcançou as meias-finais da Taça de Portugal, e em todas foi eliminado pelo clube da águia. No campeonato nacional, o FCB alcançou o 11º lugar, com um final muito sofrido, após uma boa primeira volta. Embora sem repetir o excelente 6º lugar da época anterior, a manutenção no escalão principal foi alcançada.

Um ano depois

A época de basquetebol de 1957/1958 também decorreu muito favoravelmente. Para além do Torneio de Preparação da Associação de Basquetebol de Setúbal, o FCB conquistou mais um Campeonato de Setúbal, proeza que desde a fundação da Associação de Basquetebol de Setúbal em 1943, apenas não obtivera nas temporadas de 1944/1945, 1946/1947 e 1947/1948.
Apurado para o Campeonato Nacional, o FCB alcançou o 2º lugar na primeira fase (Zona Sul - 6 equipas). Na segunda fase, participaram as equipas do Sporting, FCB e Belenenses (Sul), Conimbricense, FC Porto e Académica de Coimbra (Norte). Na penúltima jornada, um empate em Lisboa, frente ao Sporting, teria sido suficiente para a revalidação do título nacional sénior. Mas uma arbitragem muito criticada pelos Barreirenses e que veio a merecer um protesto (indeferido), adiou a decisão para a derradeira jornada. Com efeito, um grave erro técnico da equipa de arbitragem que se deslocara de Coimbra, terá impedido nos últimos segundos da partida a validação de um cesto legalmente convertido por Jorge Silva, e que empataria o resultado a 49 pontos. Alfredo Zarcos fez-se eco da indignação ‘alvi-rubra’ num texto muito emotivo, publicado no Jornal do Barreiro de 19 de Junho de 1958, de que se transcreve um excerto:

Uma condenável arbitragem opôs-se ao merecido êxito dos barreirenses
Esta partida Sporting-Barreirense de tão grande transcendência para a conquista do título em disputa, foi mais uma lamentável e triste demonstração de como, no nosso meio desportivo, se continuam a praticar as mais flagrantes injustiças, e os mais clamorosos atropelos ao que devia ser, as tão invocadas ética e normas do desporto.
Continua-se a favorecer por todos os processos, três ou quatro clubes, os considerados ‘grandes’ que têm de ganhar sempre, em prejuízo de todos os outros, como se estes não fossem também portugueses, constituídos por filhos desta nossa querida Pátria.

Tudo se decidiria na última jornada. O FCB necessitava de ganhar no seu reduto ao Conimbricense, e aguardar pela derrota do Sporting em Coimbra. Assim foi!
Albino Macedo, Eduardo Azevedo, Eduardo Nunes, Eduardo Quaresma, Jorge Silva, José Macedo, José Valente, José Vicente, Manuel Clímaco e Manuel Ferreira, foram os atletas do 2º título de Campeão Nacional de basquetebol sénior. José Godinho voltou a ser o responsável técnico do ‘bi’, dando sequência ao admirável trabalho de Martiniano Domingues, e revolucionando tacticamente o jogo em Portugal, pela adopção de defesa hxh [defesa individual, homem a homem].
A Bola de 30 de Junho de 1958 destacou o acontecimento, titulando em primeira página: “O Barreirense revalidou o título!”.
O bi-campeonato alcançado pelo FCB não terá merecido da parte dos Barreirenses, a onda de júbilo e entusiasmo que, um ano antes, percorrera o Concelho. O que foi comentado por Alfredo Zarcos, no Jornal do Barreiro de 24 de Julho de 1958, nos seguintes termos:

Em muitas terras, o facto [Barreirense bicampeão] constituiria motivo para largas exteriorizações de júbilo, às quais se associariam as entidades administrativas locais, dando a sua chancela oficial a um acontecimento de larga repercussão, servindo de elemento de propaganda e de valorização de uma terra e de um povo. Mas entre nós, estas coisas processam-se com a maior simplicidade. Aceitam-se como coisa naturalíssima. Sem festa, sem reconhecimento oficial, sem mais nada. Isto, talvez porque o Barreiro, em desporto, esteja acostumado a ganhar; a ver os seus atletas a vencer, a marcar sempre entre os melhores do País e daí, o não terem os títulos conquistados o sabor do ineditismo, e serem recebidos sem o alvoroço da novidade. (...)
Todavia, a proeza da conquista de um título nacional, é sempre acontecimento de transcendente acuidade. Grita o nome de uma terra, o valor de um clube, a categoria de uma turma.

Ao perder (49-40) a final disputada em Coimbra, em 31 de Julho de 1958, frente à Associação Académica de Coimbra, o FCB não renovou a vitória na Taça de Portugal, mas tal facto não empalideceu a excelência da época percorrida.
No futebol, o clube melhorou significativamente a prestação em relação à temporada transacta: obteve um magnífico 7º lugar no Campeonato Nacional da I Divisão e foi semi-finalista da Taça de Portugal.

[Extracto do Capítulo I - Nascer e Crescer
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)

terça-feira, outubro 07, 2008

Vamos conseguir!

O Futebol Clube Barreirense vai construir o seu Pavilhão Polidesportivo.
Para proporcionar melhores condições a centenas de praticantes de Ginástica, Basquetebol e Kickboxing.

A “Comissão Pró Pavilhão do Futebol Clube Barreirense”, eleita na Assembleia-Geral Extraordinária de 30 de Setembro, reúne hoje à noite para a sua primeira reunião formal.
É o momento de arregaçar as mangas e dizer “mãos à obra”. Vamos conseguir? Espero que sim.
Com os Barreirenses. Pelo Barreirense!

segunda-feira, outubro 06, 2008

O verso e o reverso


No Blogue O CASTENDO, do militante comunista António Vilarigues, foi publicado no dia 29 de Setembro um comentário assinado por Sensei, do Blogue BARREIRO POR SENSEI.
No momento em que o PCP publica teses ao seu XVIII Congresso, desancando no PS e no Bloco de Esquerda, para vir pouco depois a público com um discurso aparentemente menos sectário, admitindo até uma eventual colaboração política com agentes individuais e colectivos da esquerda portuguesa, vale a pena transcrever a prosa de Sensei, bem definidora da “sinceridade” de propósitos do que admito ser uma parte substancial dos partidários do PCP.
Aqui vai então:
“Camarada Vilarigues: Apenas a maldade e a ignominia dos fascistas, pode afirmar o contrário quanto à liberdade de expressão e representatividade dentro do PCP. Estou contente e triste ao mesmo tempo, pois desde à longa data que venho afirmando que Mário Soares e o PS são a fachada de uma organização fascista que em 25 de Nov de 75 assassinou Abril e os seus ideais. Finalmente é público, não podemos deixar passar sem apregoarmos bem alto e com veemência isto: O PS É UMA ESTRUTURA PARTIDÁRIA DE ÍNDOLE FASCISTA E MÁRIO SOARES UM TRAIDOR”.
Esclarecedor!

Memória Barreirense (IV)



Tal pai, tal filho

Foi na Rua Júlio Dinis que, na madrugada de 13 de Maio, saltei do ventre de minha mãe. Algumas horas depois, o meu pai depositou, na Secretaria do Ginásio-Sede, a minha ficha de inscrição como novel associado do FCB. Foi-me atribuído o número 3594. Ao final da tarde de 21 de Julho de 1988, 31 anos depois, reproduzi em moldes idênticos, a actuação de meu pai. E o Ricardo, com menos de duas horas de vida, já era – com alguma admiração do Sr. Barbas, funcionário da Secretaria – sócio do FCB. Inscrito primeiro como Ricardo Jorge, uma vez que fora esse o nome próprio inicialmente escolhido – em memória do investigador e médico português. Nasci Barreirense! Nascemos Barreirenses!
Passados 50 anos, a fidelidade e longevidade associativas, tornaram-me o sócio nº 315, num clube com cerca de 5.000 filiados, e cuja numeração é revista, por imposição estatutária, a cada 5 anos.
Porque ganhamos afecto por um clube? Porque aderimos a um clube?
A propósito da sua simpatia sportinguista, Eduardo Prado Coelho escreveu a 10 de Agosto de 2005 no Público: “Não consigo descobrir se se trata de um imperativo do destino, se de uma decisão racional (mas que racionalidade poderá existir aqui?)”. De facto, as razões que nos levam a abraçar uma simpatia clubista, uma paixão clubista, ou até um fanatismo clubista, são de natureza muito diversa. Umas vezes mais racionais e previsíveis, outras com aleatoriedade e circunstancialismos muito peculiares. No meu caso, e no do Ricardo, é evidente que houve uma importância clara e decisiva do ambiente familiar, todo ele simpatizante e afecto ao FCB. Será essa ligação tão precoce uma forma coerciva e constrangedora de opção individual? Não creio!
Além de visceralmente Barreirense confesso que aprendi a gostar do Benfica, desde tenra idade. Eusébio, Coluna e José Augusto foram ídolos da minha infância, referências daquele clube, e também da Selecção Nacional que no Mundial de Inglaterra (1966) nos deixou incrédulos e maravilhados. Mas essa simpatia, que não cresceu com o decorrer dos anos, foi sempre insuficiente para me aliciar para uma segunda filiação associativa.

Associativismo

Em entrevista ao Expresso de 20 de Outubro de 2007, Miguel Sousa Tavares referiu que o Estado Novo “não foi a mais sanguinária das ditaduras. Não eram fuziladas pessoas. Mas do ponto de vista cultural e social, nada foi mais retrógrado”.
Apesar da política salazarista – antidemocrática, repressiva e obscurantista – o Barreiro foi-se impondo e afirmando, de forma corajosa e enérgica, como uma terra rica e fecunda em termos de Associativismo. No desporto, destacavam-se na década de 50, clubes como o FCB, Grupo Desportivo da Cuf, Luso Futebol Clube, Clube Naval Barreirense, Galitos Futebol Clube, Grupo Desportivo do Barreiro e Grupo Desportivo dos Ferroviários. Colectividades históricas como a Sociedade de Instrução e Recreio Barreirense “Os Penicheiros”, Sociedade Democrática União Barreirense “Os Franceses”, Clube Dramático e Recreativo “Os Leças”, Clube 22 de Novembro, Grupo Dramático Instrução e Recreio 31 de Janeiro “Os Celtas”, Sociedade Filarmónica Agrícola Lavradiense, Grupo Recreativo da Quinta da Lomba, Grupo Recreativo União de Palhais, Sociedade Filarmónica União Agrícola 1º de Dezembro, cumpriam um papel de relevo em áreas importantes e diversificadas do lazer e da cultura popular. A Associação Académica do Barreiro e o Cine Clube do Barreiro, foram espaços de cultura, debate de ideias, afirmação cívica e luta pela democracia.
Muitos cidadãos, das mais variadas condições sociais, credos religiosos e ideologias políticas, encontraram aí – Clubes, Colectividades, Associações, Cooperativas – espaços de diálogo e de liberdade. Exerceram Cidadania. Dignificaram o Barreiro.

A melhoria da situação económica e de bem-estar de uma parcela significativa das famílias portuguesas, registada nas últimas duas décadas, foi claramente decorrente da adesão à Comunidade Europeia em 1985. E apenas possível pela Revolução de Abril, que nos devolveu a Liberdade e a Democracia, prolongadamente postergadas ao longo de quase 50 anos.
A democratização da prática desportiva foi uma realidade, acompanhada pela melhoria quantitativa e qualitativa de quadros na área da Motricidade Humana e Desporto, e pela renovação e expansão das instalações desportivas. Mais recentemente, evoluiu-se para novas e diversificadas formas de organização. Nomeadamente a nível do desporto profissional, com a criação de Sociedades Anónimas Desportivas (S.A.D.).
Mas, com acesso a novos e diversificados bens de consumo, materiais e culturais, os portugueses têm hoje uma multiplicidade de interesses e de formas de ocupação dos seus tempos de lazer, que é claramente mais rica e plural que a outrora verificada. O associativismo desportivo tem sido de algum modo influenciado e prejudicado por essa evolução da sociedade portuguesa. Sobretudo nos clubes de menor dimensão, a esmagadora maioria. Por isso, não é fácil encontrar dirigentes desportivos – sérios, competentes e dedicados – disponíveis para assumir responsabilidades e enfrentar dificuldades económico-financeiras de dimensão crescente.
Um estudo recente da Marktest, parcialmente publicado na edição de 9 de Agosto de 2007 de A Bola, revelou que “em 10 anos houve um decréscimo de cerca de 26 por cento de sócios de clubes desportivos”. Em 2006 foram contabilizados “1332 mil portugueses que diziam ser sócios de clubes desportivos, ou seja 16 por cento do universo composto pelos residentes no continente a partir dos 15 anos, inclusive”, com uma relação de 3 para 1 entre os dois sexos (24.7% de homens e 8.1% de mulheres). Com crónicas dificuldades estruturais, agravadas pela recente venda de património, e com o futebol em queda de competitividade, as perspectivas de reforço associativo no FCB não parecem muito optimistas. Mas…

Ricos e pobres

Vítor Serpa, director de A Bola, escreveu em editorial de 27 de Janeiro de 2005: “A mística vem da história, atravessa gerações e projecta-se para o futuro. Acompanha os tempos, as mudanças, as novidades da moda. Tem o peso da alma, a grandeza das utopias, a intensidade do sagrado”.
O FCB dos anos 50 – como o da fundação e o da actualidade – era um clube pobre em bens materiais, com permanentes dificuldades de tesouraria. Mas com uma mística enorme. A forma lenta mas obstinada como o Campo D. Manuel de Mello foi sofrendo sucessivas beneficiações e a epopeia da construção do Ginásio-Sede, constituíram exemplos de realizações erguidas com o suor e a perseverança de muitos Barreirenses. Num processo de afirmação de identidade e de amor clubista, que não pode ser ignorado e que deve ser transmitido às actuais e futuras gerações de adeptos e associados.
Na acta da primeira Reunião de Direcção que se realizou após o meu nascimento, e onde fui formalmente admitido como sócio, consta a aprovação da aquisição de uma peça de roupa interior solicitada por um dos mais valorosos atletas de sempre do FCB. E a equipa de futebol que a 19 de Maio de 1957 se deslocou ao Estádio da Luz para a segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal, foi de barco até Lisboa onde, no Terreiro do Paço, tinha à sua espera um autocarro fretado para a levar à ‘Luz’. Solução mais económica que um percurso rodoviário Barreiro-Lisboa (via Vila Franca de Xira). Era, como se conclui destes dois episódios, um tempo de escassez material, mas também de enorme contenção e máximo rigor. A sobrevivência do clube assim o exigia. No passado, como no presente…

[Extracto do Capítulo I - Nascer e Crescer
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)

Prazeres


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Há já muitos anos que é assim: gosto do retiro caseiro nas noites de domingo.
Na antecipada ansiedade por mais uma semana de trabalho, prefiro ler, escrever, ouvir música, ver televisão.
Como foi o caso do “Câmara Clara” de ontem, na RTP2.
Dedicado à avaliação histórica do 5 de Outubro de 1910. Mas também com abordagens de outros temas do domínio cultural. Excelentemente enriquecido pela participado dos historiadores e professores universitários José Adelino Maltês e Fernando Rosas. E moderado por Paula Moura Pinheiro, como de costume de forma serena e culta.
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domingo, outubro 05, 2008

Memória Barreirense (III)



Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
Para dizer que sou eu
Aqui, dentro de mim!

(Miguel Torga)


13 de Maio de 1957

Chuva intensa na área de Lisboa, com as inevitáveis e gravosas inundações nas zonas ribeirinhas. Quadragésimo aniversário das aparições de Fátima. Presentes cerca de meio milhão de portugueses. O Diário de Notícias destacou na página de abertura as palavras proferidas na véspera, na Cova da Iria, por D. Manuel Gonçalves Cerejeira: “Está em Fátima o coração do mundo inteiro elevando ao céu um apelo de paz e de justiça”. Também preocupado pelos problemas da paz e da guerra, J. Berkowitz escreveu no mesmo diário – órgão oficioso do Estado Novo, dirigido por Augusto de Castro – “A guerra-fria atómica”, acerca do perigo nuclear soviético. Noutro registo político, o República – dirigido por Carvalhão Duarte e como sempre “visado pela Comissão de Censura” – publicou o editorial “Oportunidade”, crítica frontal a um semanário de inspiração monárquica, no qual se defendia a restauração da Monarquia. E, em página interior, o corajoso jornal “de todos os Republicanos e Democratas” não esqueceu a perseguição a Arthur Miller, prestigiado escritor norte-americano:

O dramaturgo Arthur Miller, premiado com o Prémio Pullitzer, compareceu hoje num tribunal de Washington para responder a acusações de desprezo pelo Congresso. O autor teatral asseverou que nunca fora comunista. Declarou-se não culpado das acusações originadas pela sua recusa em responder a perguntas acerca de alegadas ligações comunistas de outras pessoas, durante o inquérito feito pela Comissão de Actividades Antiamericanas da Câmara dos Representantes em 21/6/1956. Recusou-se por “questões de consciência” a identificar pessoas com as quais se supõe ter assistido a comício pró-comunista em 1947.

A Bola, dirigida por António Ribeiro dos Reis e Cândido de Oliveira, destacou em primeira página o FCB-Benfica da véspera, para as meias-finais da Taça de Portugal, e que os lisboetas venceram por 1-0. Grande enchente no Campo D. Manuel de Mello. O Benfica de Costa Pereira, Coluna e José Águas, treinado por Otto Glória, fez-se acompanhar de uma enorme massa de adeptos que, a par da falange Barreirense, deu enorme colorido e alegria à baixa da nossa vila. “A solução empate teria sido a melhor”, assim traduziu o jornalista Vítor Santos, o bom jogo da equipa visitada, treinada por José João – pai de Armando Soares, valoroso toureiro camarro –, onde se destacaram o jovem e emergente José Augusto e o acutilante Faia. Este último seria no dia seguinte convocado para o Itália-Portugal, de apuramento para o Campeonato do Mundo. Uma semana mais tarde, o Benfica confirmou a sua presença na final, ao derrotar com naturalidade o FCB por 4-0, no Estádio da Luz. Ainda no desporto, destaque nos jornais do dia 13 de Maio para o regresso do Salgueiros à I Divisão e o 4º lugar de Ribeiro da Silva – estreante nas grandes provas internacionais – na Volta à Espanha em Bicicleta. Na página 3 de A Bola, Teotónio Lima, publicou a crónica do I Portugal-Marrocos em basquetebol, realizado na véspera no Pavilhão dos Desportos, e que terminou com vitória portuguesa por 66-63. “Jogo pobre de técnica e de espectáculo” assim titulou o respeitado jornalista, treinador e professor. Dos nove seleccionados portugueses, três eram do FCB – José Valente e os irmãos Macedo (Albino e José). A RTP, com abertura prevista para as 21h30, tinha a seguinte programação: 21h33 Orquestra de arco infantil da Fundação Musical dos Amigos das Crianças; 22h Noticiário e actualidades nacionais e internacionais; 22h20 Intervalo; 22h25 Tribuna desportiva; 22h35 Teatro; 23h00 Últimas notícias; 23h05 Fecho. Na diversão lisboeta, o República anunciava “O Monstro do Cérebro Atómico” em estreia no Olímpia, “filme de terror e emocionantes aventuras” com Richard Denning e Angela Stevens (sessões às 14h e 19h). O Teatro Variedades, em sessões às 20h45 e 22h45, tinha em cena “Há horas felizes” dirigido por Henrique Santana, com Vasco Santana, Bibi Ferreira, Gisele Robert, Costinha, Raul Solnado e Carlos Coelho (maiores de 17 anos). No Barreiro, o Cinema Ginásio projectara na véspera “Não fugirás a isto” com June Alyson e Jack Lemmone (maiores de 12 anos) e o vizinho Cinema Teatro exibira ”Um caso diabólico” com Jean Gabin e Daniele Delorme (maiores de 17 anos). Na vida política local, a última reunião semanal da Câmara Municipal do Barreiro (Presidente José Alfredo Garcia, Vice-Presidente Victor Rodrigues Adragão e Vereadores Natália Tavares de Castro, Agostinho Martins Nunes, Gilberto Tavares dos Santos e José Francisco Sabino), merecera a habitual referência do Jornal do Barreiro. Destaque para a apresentação do Balancete com “existência em cofre de um saldo em dinheiro de 1.230.227 escudos e 70 centavos”, a “concessão de abono de família ao trabalhador José Fernandes para seus filhos Fradique e Amélia, e o anúncio do transporte de doentes aos Hospitais Civis de Lisboa”. A fazer crer na síntese da reunião, pode admitir-se, com alguma margem de acerto, que terá sido uma reunião de limitada duração, escassa conflitualidade e um saldo considerável em cofre. Outros tempos...

Portugal amordaçado
Multifacetada, a luta contra o Estado Novo começa antes de ele ter sido, em 1933, oficializado. Inicia-se a seguir à imposição da ditadura, consequência do 28 de Maio, através de atentados, revoluções, golpes – alguns falhados por muito pouco. Franjas diversificadas da sociedade portuguesa contestaram, na verdade, e desde sempre, o regime saído do golpe militar que pôs fim ao sistema democrático da nossa, então, jovem e atribulada República. Em todos os sectores germinaram, emergiram, repúdios a Salazar, que conseguiu, no entanto, vencê-los sistematicamente. (…) Uma eficiente máquina controladora é, entretanto montada. Prisões, torturas, assassínios, exílios, desterros, generalizam-se contra os discordantes. (…) O País torna-se um campo dividido, repartido: num lado os bons, o seu; no outro os infiéis, os opositores. (…) Um dos esforços mais exercitados publicamente pelo Estado Novo foi o de não deixar emergir ilusões sobre o nível de vida económico reservado aos portugueses. Nação pobre e periférica, a nossa, não suportaria veleidades consumistas como as que, a partir do após-guerra, passaram a vigorar nas democracias liberais europeias. Reivindicá-las (como exigiam os críticos do regime), desfrutá-las (como praticavam os filhos dos situacionistas), era pôr o País acima das suas possibilidades, comprometendo-lhe a independência e o futuro. (…) A nossa sobrevivência assentava na modéstia das ambições, escorada, num funcionalismo público (mal pago mas estável), num comércio de bairro (sustentáculo das famílias urbanas), numa agricultura de subsistência (esteio dos rurais), e numa emigração escondida, com remessas, no entanto, de cada vez maior significado. A inexistência de subsídios de doença, invalidez e desemprego, de assistência social e médica, de reformas (generalizadas) de velhice, atirava os desfavorecidos para fora das obrigações do estado, entregando-os ao voluntarismo das comunidades. (…) Os actos de inovação artística, de ousadia cultural, vêem-se neutralizados. O regime revela-se definitivamente contrário à modernidade e à universalidade, ao desenvolvimento e à experimentação, à diferença e ao pluralismo. (Máscaras de Salazar, 12ª edição 2006, Casa das Letras)

O magnífico retrato do Portugal de Salazar – atrasado e miserabilista, isolado e autoritário – que Fernando Dacosta escreveu em páginas de grande rigor e beleza, era o País triste e pessimista que me viu nascer. A nível interno, o ano de 1957 foi marcado por quatro acontecimentos de maior destaque: a visita de Isabel II de Inglaterra (Fevereiro) – testemunho de uma Aliança que, nas palavras de Winston Churchill na Câmara dos Comuns “dura há seis séculos e não tem paralelo na história do Mundo”; o início das emissões regulares da RTP (Março); a realização do V Congresso do Partido Comunista Português (Setembro) e do I Congresso Republicano de Aveiro (Outubro). Noutras paragens e noutras latitudes, ocorreu a integração do Sarre na República Federal da Alemanha (Janeiro), foi assinado o Tratado de Roma (Março), proclamada a República da Tunísia (Julho), fundado o Reino de Marrocos por Sidi Muhammad (Agosto), concretizada a independência da Malásia (Agosto). O Sputnik (Outubro) e a cadela Laika (Novembro) foram lançados pela Rússia para o espaço, a NATO aceitou a instalação de mísseis norte-americanos na Europa (Dezembro) e decorreu a Conferência do Cairo (Dezembro).
(Fonte: Centro de Estudos do Pensamento Político - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas).

Terra Camarra
Conta-se que o primeiro nome foi Camarro (cama sobre o barro), atribuído à zona pelos pescadores algarvios, que para pernoitar entre dias de pesca, a estas terras barrentas vinham procurar sossego e acolhimento. (…) O actual nome deixa no entanto mais clara a referência a uma zona conhecida por ter muito barro. (…) Em 1521 o lugar era paradisíaco, com praias de areia fina e de cor branca, uma vista deslumbrante para Lisboa, zona de boa pescaria e terras de pinhais, cereais e vinhedos. Lugar pacato em que a actividade piscatória era a sua principal actividade. Sede de Concelho desde 1521, com carta foral atribuída por D. Manuel. A sua localização, na zona em que os rios Tejo e Coina se encontram, bem como a largura dos leitos destes rios na zona, foram factores decisivos para que o seu papel nos Descobrimentos fosse relevante. Desta terra saiu madeira para reparações navais. Devido aos campos de cereais e vinhas foram construídos moinhos de vento e moinhos de marés assim como fábricas de biscoitos e fornos para cozedura de olaria e uma fábrica com forno para fabrico de vidro. (…) Após a época dos Descobrimentos, a pacatez voltou a ser notória, sendo a agricultura e a pesca as actividades principais do lugar. No entanto a época dos Descobrimentos, tinha chamado a atenção à realeza e seus pares, das qualidades "curativas dos ares das suas praias", assim como as boas produções de cereais e vinhos que estas terras davam. A nobreza investiu na compra de casas e terrenos na zona dando ao lugar, durante vários meses do ano outro movimento. Estes investimentos seriam anos mais tarde, e sem que alguém o almejasse, de enorme importância para o futuro do lugar chamado Barreiro, que era já um ponto de referência para quem do Sul demandava à capital depois de uma travessia perigosa pelas terras do Alentejo. (…) pertencem a eles [conselheiro Joaquim António de Aguiar e engenheiro Miguel Pais] os estudos, a apresentação dos projectos e a defesa em sede de parlamento, da localização do início da linha [férrea] do sul no Barreiro, assim como a construção de uma estação fluvial-ferroviária [Barreiro-Lisboa]. A linha de caminho de ferro estava a funcionar como íman, possibilitando posteriormente, o estabelecimento de outra grande indústria no Barreiro, a indústria corticeira que nas décadas de 60 e 70, trouxeram mais gente para o Barreiro, transformando a vila num autêntico pólo industrial e operário. O futuro estava traçado e outra grande mudança se preparava, orquestrada por Alfredo da Silva, com a implantação no início do século XX, das indústrias pesada e química. Não havia retrocesso. (extraído de Uma versão da história do Barreiro, 100nome.org)

Curiosamente, a linha ferroviária – que veio a privilegiar o Barreiro, com evidente benefício para o seu desenvolvimento – esteve inicialmente prevista para ligar o Montijo ao Sul. E a Ponte Vasco da Gama, a mais longa daáguas do estuário do Tejo, inaugurada a 4 de Abril de 1998, foi fortemente reivindicada pelo Barreiro, mas veio a ser construída entre Montijo/Alcochete e Sacavém, para grande desilusão e frustr Europa e a quarta mais extensa de todo o mundo, com os seus 17.2 km de comprimento, dos quais 10 estão sobre as ação da população Barreirense. A propósito do Barreiro saído da Revolução de 28 de Maio de 1926, Armando da Silva Pais escreveu:
O Barreiro, sendo embora uma vila já muito populosa e importante sob o aspecto industrial, estava impedido de se desenvolver a mais acelerado ritmo, por falta de três necessidades básicas: - rede geral de electricidade para força motriz e iluminação pública, a substituir nesta o deficientíssimo sistema de iluminação a petróleo - rede geral de água, boa e abundante, que substituísse o abastecimento pelo antigo “Poço dos Dezasseis”, do Mercado e outros, com ligações a chafarizes - rede de saneamento, com a qual terminasse o primário e anti-higiénico sistema de despejos e se melhorasse o estado do asseio da vila. (O Barreiro Contemporâneo, edição da Câmara Municipal do Barreiro, 1965)
O Estado Novo realizou um significativo conjunto de obras públicas no Barreiro: iluminação eléctrica (inaugurada em 1926); rede de abastecimento de água (inaugurada em 1937); rede de saneamento (inaugurada em 1927 e praticamente generalizada no Concelho em 1950); construção da Muralha Marginal (1932-1934); novas oficinas dos Caminhos-de-Ferro de Sul e Sueste (1933-1935); aterro da Praia Norte (1934-1936); Dispensário Anti-Tuberculoso (1934); Avenida Batalhão de Sapadores de Caminhos-de-Ferro (1935); Parque Oliveira Salazar (1939); Estação dos Correios, Telégrafos e Telefones (1943); Asilo de S. José, da Santa Casa da Misericórdia (1956); fundação dos Transportes Colectivos (1957). E, pouco depois do meu nascimento, a Central Telefónica Automática (1958) e o Hospital de Nossa Senhora do Rosário (1959). Mas, apesar de algum progresso, as carências eram muitas, nomeadamente pelos graves problemas habitacionais para as classes mais pobres. O panorama muito deficitário em instalações escolares no Barreiro da primeira República foi nas décadas seguintes significativamente melhorado, colocando o Concelho num lugar favorável no ranking distrital e nacional de percentagem de analfabetismo. Em 1957, o Concelho do Barreiro dispunha de 7 escolas primárias na freguesia do Barreiro, 2 na freguesia do Lavradio, e 6 na freguesia de Palhais. Em 1947, fora inaugurada a Escola Industrial e Comercial Alfredo da Silva, que em 1956 viu nascer novas instalações. No âmbito das escolas secundárias, o Colégio Barreirense de José Joaquim Rita Seixas fora fundado em 1930 e o Externato Moderno do Barreiro de Hélder Fráguas e José Barbado fora inaugurado em 1945. Em 1961 nasceria o Externato Diocesano Manuel de Mello, propriedade da Companhia União Fabril (CUF) e com direcção e administração da responsabilidade do Patriarcado de Lisboa. O Barreiro era em 1957 um Concelho com cerca de 35.000 habitantes, dois terços dos quais residentes na freguesia do Barreiro; o terço restante dispersava-se pelas duas outras freguesias então existentes, Lavradio e Palhais. Ocupava, no início da década, o 9º lugar na escala dos maiores centros populacionais urbanos, atrás de Lisboa, Porto, Setúbal, Coimbra, Vila Nova de Gaia, Braga, Évora e Matosinhos.

[Extracto do Capítulo I - Nascer e Crescer
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)

A luz no túnel

Confirmado. Pedro Santana Lopes - candidato 2009 à presidência da CML.
Até aqui nada se estranha. O que se lamenta - o que eu lamento - é a hipocrisia. De Marcelo Rebelo de Sousa a Manuela Ferreira Leite.
De incapaz, instável e inconsequente passou a boa escolha.
A política à portuguesa no seu esplendor.

Governo sombra


“Eles querem, podem, mas não mandam!
Um governo que não decide. Uma equipa ministerial sem consenso. Um conselho de ministros que convive bem com as fugas de informação."
Pode o humor associar-se à inteligência?
Pode. Digo mais: deve.
Então oiçam GOVERNO SOMBRA o novo programa da TSF.
Com Ricardo Araújo Pereira, Pedro Mexia e João Miguel Tavares. A moderação é de Carlos Vaz Marques, um dos melhores radialistas portugueses.
(Sextas-feiras, depois das 19h00. Com repetição aos Sábados, à 01h00 e 12h00)

Ora bolas, perdemos

Ainda bem que o provei antes do Sangalhos - Barreirense.
É que afinal perdemos.
Não totalmente inesperado. Mas sempre desagradável.
Brindemos então ao 5 de Outubro.

Viva a República!


A História não aconteceu exactamente da forma como alguns republicanos mais jacobinos nos contaram.
Ainda assim, vale a pena lembrar e celebrar o 5 de Outubro de 1910.
Sou Republicano!
Viva a República!


sábado, outubro 04, 2008

Levar a nau a bom porto


As duas Assembleias-Gerais (AG) do Futebol Clube Barreirense (FCB) decorridas na noite de 30 de Setembro no Ginásio-Sede foram importantes para o presente e o futuro do clube mais representativo da Cidade e do Concelho do Barreiro.
Inscreveram-se no livro de presenças cerca de setenta associados, mas alguns mais estiveram presentes ao longo dessa longa e frutuosa noite.
Na primeira AG - extraordinária - apresentou-se, discutiu-se e aprovou-se o Plano de Actividades e o Orçamento para 2008/2009.
Notas principais a reter:
- identificação objectiva e crua dos principais problemas do clube
- manutenção da matriz desportiva, com duas modalidades de referência (futebol e basquetebol)
- consciência da dificuldade em manter os níveis competitivos da época transacta, no que se refere às equipas do escalão sénior
- continuidade da aposta nos escalões de formação, decorrente nomeadamente da recém-criada Academia de Futebol
- esforço efectivo de controlo da despesa
- aproximação a um objectivo projectado para 2009/2010 - caminhar aceleradamente para um défice zero - prevendo-se para 2008/2009 um saldo negativo de cerca de 41.000 euros.
Ainda na AG extraordinária, foi constituída a “Comissão Pró Pavilhão do Futebol Clube Barreirense” e discutido e aprovado o seu Regulamento.
Aspectos que julgo oportuno realçar:
- o articulado contempla um esforço sincero de representatividade e transparência
- a necessidade de construção de um Pavilhão polivalente não mereceu reservas da generalidade dos presentes
- o financiamento inicial acordado com a Direcção do FCB é demonstrativo do cumprimento de compromissos anteriormente assumidos
- a Comissão, constituída por sete elementos - entre os quais me incluo - e presidida pelo Arq. Carlos Pires, tem plena consciência das dificuldades que se avizinham, mas acredita na efectiva concretização do projecto.
A segunda AG - ordinária - discutiu e aprovou o relatório e Contas de 2007.
Registos principais:
- redução do défice em relação ao ano de 2006, mas ainda assim muito elevado - cerca de 490.000 euros)
- significativo incumprimento da receita prevista
- contenção da despesa, com diminuição dos custos da actividade desportiva do futebol sénior de 761.263 euros (2006) para 480.000 euros (2007), do basquetebol sénior de 292.949 euros (2006) para 239.850 euros (2007) e do sector administrativo de 290.248 euros (2006) para 224.341 euros (2007).
O último ponto da Ordem de Trabalhos - Eleição dos Corpos Gerentes - foi assinalado pela não apresentação de qualquer lista.
Notas de destaque:
- Manuel Lopes - Presidente da Direcção – explicitou as razões da sua não recandidatura, mas deixou a porta aberta para mais um mandato se, como é de prever, nenhum outro grupo de associados se organizar para o efeito.
António Sardinha - Presidente da AG - recordou intervenções anteriores, nomeadamente as palavras proferidas em 11 de Abril de 2007, na celebração de 96º aniversário do FCB. E destacou a necessidade imperiosa de o clube investir as verbas ainda disponíveis da alienação de património na construção de estruturas desportivas - Estádio de Futebol na Verderena e Pavilhão Polidesportivo.
Foram duas AG sérias, participadas, democráticas e fecundas.
Alguns associados expressaram legítimas inquietações acerca da condução dos destinos do clube e reafirmaram a sua apreensão pelo futuro do FCB.
O medo de que, vendidos os anéis também os dedos se vão, persiste em muitos de nós - Barreirenses.
Mas é preciso acreditar que conseguiremos - com dedicação e sentido de responsabilidade, sem discussões estéreis e sem divergências artificiais - levar a nau a bom porto, e assegurar a perenidade de um clube respeitado e credível, prestes a perfazer cem anos de história.
Por mim, e citando o Dr. António Sardinha, continuarei a ser, dentro das minhas competências e das minhas possibilidades, um “militante da Verdade e da Transparência”.
[DESPORTO À PORTUGUESA, www.rostos.pt]

Vou à Bairrada

Começa hoje.
O Campeonato da Liga Portuguesa de Basquetebol.
Em Sangalhos, pelas 21 horas, quero assistir à primeira de muitas vitórias do Barreirense Basket.
Vou aplaudir.
E, no final, saborear o triunfo.
Com espumante?
Depois se verá...

sexta-feira, outubro 03, 2008

Limites do intolerável


"Para ser tolerante
é preciso fixar
os limites do intolerável"

Umberto Eco

quinta-feira, outubro 02, 2008

Eduardo PC


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Volto a Eduardo Prado Coelho.
Dele escreveu Helena Vasconcelos - sua grande amiga: "Foi a personagem da cultura portuguesa mais versátil, surpreendente, complexa e completa das últimas três décadas... A sua voracidade pelo conhecimento era memorável: literatura, música, cinema, teatro, artes plásticas, ciência, política, ciências sociais... nada lhe escapava."
Foi professor, ensaísta, escritor, crítico literário, polemista. Cronista do Público desde o número inaugural. Intelectual de esquerda, com passagem pelo PCP, pela UEDS e pelo PS.
Recordo a sua participação, inteligente e tranquila, nos debates cinéfilos do Casino da Figueira - talvez em 1978 - em mais uma edição do Festival Internacional da Figueira da Foz. Com José Camacho Costa, Jorge Leitão Ramos, Marguerite Duras e tantos outros mais ou menos anónimos. Recordo as intervenções televisivas - quase sempre na área da cultura.
Recordo as participações na imprensa escrita - cultas e multifacetadas.
Deixou-nos há pouco mais de um ano, a 25 de Agosto de 2007.
Tenho saudades de "Eduardo PC" - como alguns jocosamente lhe chamavam logo após Abril de 1974, creio que ainda militante comunista.
No sítio La Insignia Helena Vasconcelos escreveu ainda: "Perder um amigo é muito doloroso. Teres perdido a vida tão cedo - tu, que ainda tinhas tanto que fazer - é vergonhoso."
Também lamento muito a perda de Eduardo Prado Coelho. Era por ele, pelo seu Fio do Horizonte que, de segunda a sexta-feira, eu começava a minha leitura diária do Público. Sinto muito a sua falta.

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quarta-feira, outubro 01, 2008

Escárnio e mal-dizer

"A má-língua, o escárnio e mal-dizer sobrepõem-se sempre à euforia da descoberta. Coleccionam com mais facilidade as reservas do que são capazes de apreciar os méritos."

Eduardo Prado Coelho
Público, 13 Jan 2006