sábado, janeiro 10, 2009

Mas que coincidência...


Há coisas engraçadas.
Passadas pucas horas do início da leitura do livro de António José Vilela (Casa das Letras, 2005), ouvi, no final da tarde de quarta-feira, uma entrevista de Otelo Saraiva de Carvalho ao RCP.


Em Junho de 1976, nas eleições presidenciais ganhas por António Ramalho Eanes, 792 760 portugueses deram o seu voto a Otelo. Fui um deles.

"O Povo segue em frente. Otelo a Presidente" - ouviu-se nas ruas de Portugal, por essas semanas que antecederam o escrutínio popular.
No seu périplo nacional, Otelo fez uma breve paragem no Barreiro, com uma curtíssima e "politicamente correcta" intervenção no Campo do Luso. Para, disseram alguns, não hostilizar a força dominante local - o PCP.

Já sem ilusões revolucionárias, progressiva e irreversivelmente distante das cartilhas marxistas (leninistas, maoistas, trotskistas ou de qualquer outro matiz), ainda aderi a um voto de protesto.
Julguei então ter reafirmado, na inocência dos meus 19 anos, um ideal de esquerda, de progresso e de liberdade. Como estava ainda enganado...

No rescaldo desse momento histórico, em que não aderira a qualquer partido político, pensei que jamais viria a fazê-lo. O que aconteceu até agora, e assim continuará.

Voto sempre. Tenho convicções. Não sou equidistante nas escolhas que - nacional e localmente - convictamente assumo em cada acto eleitoral.
Mas ter “fígado” para integrar um colectivo partidário e para aceitar as realidades que julgo conhecer na sua essência…

Também Otelo diz ter-se afastado definitivamente da vida partidária. Porque o povo não o compreende(u).
Ainda bem que o fez. E, sobretudo, ainda bem que a sua ideologia (?) não fez vencimento.

Que teria sido de Portugal e dos Portugueses se acaso qualquer utopia marxista tivesse saído vencedora nos duros combates de 1975?
Que teria sido de Portugal e dos Portugueses se a ameaça permanente de qualquer associação político-partidária de vocação militar e totalitária como o Projecto Global / OUT / FP-25 tivessem continuado a espalhar ameaça, terror, sofrimento e morte?

Otelo não se distancia hoje dos erros de ontem.
Está desiludido. Mas não arrependido.
Otelo tem um discurso errático. Contraditório.
Foi uma entrevista lamentável. Deplorável.

Entretanto, a Democracia segue em frente…

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