quarta-feira, janeiro 07, 2009

Memória Barreirense (XXXIX)



Chegar, ver e vencer

Os enciclopedistas escreveram que “o Basquetebol – o popular jogo da bola ao cesto – é um jogo de equipa, jogado com uma bola e dois cestos, feitos de rede ligeiramente estrangulados, para impedir a saída súbita da bola”.
De origem inglesa, o primitivo método incluía sete jogadores. Mas foi James Naismith, canadiano, professor de educação física do YMCA Training School de Springfield - Massachusetts - USA, que o regulamentou em 1981 e lhe deu a forma ‘actual’.
O basquetebol foi introduzido em Portugal no ano de 1919 pela Associação Cristã da Mocidade de Coimbra. As delegações de Lisboa e Porto adoptaram-no imediatamente, mas só em 1927, com a fundação da Federação Portuguesa de Basquetebol, com primeira sede no Porto, se generalizou e oficializou a sua prática.

No intuito de iniciar entre nós a propaganda do novo desporto que é o “basket-ball” o Barreirense trouxe até o seu campo atlético duas “equipes”, uma do Triangulo Vermelho de Lisboa e outra do Carcavelinhos F.C., que muito se têm distinguido no campeonato lisbonense daquele jogo.
Fizeram uma animada partida, criando na assistência, que era relativamente numerosa, apreciável interesse pelo “basket”.
Venceu o Triangulo Vermelho por 30 pontos contra 8.
(Éco do Barreiro, 1 de Março de 1928)


A notícia do “quinzenário independente, defensor dos interesses do Concelho do Barreiro”, editado por Manuel A. dos Santos, anunciou os primórdios da modalidade no FCB, primeiro clube de basquetebol a sul do Tejo. Eram então Presidentes dos Órgãos Sociais do FCB: Joaquim Vicente França (Assembleia-Geral), Luís Correia Matias (Direcção) e Manuel Pacheco Nobre (Conselho Fiscal).
Os primeiros treinos decorreram em 1927 e a apresentação pública da equipa ocorreu em Fevereiro do ano seguinte, tendo o FCB efectuado em 3 de Novembro de 1928 a filiação na Associação de Basquetebol de Lisboa. O basquetebol era então um jogo sem tácticas, sem descontos de tempo e sem substituições. Nos primeiros sete anos de competição o FCB conquistou o título de Campeão de Lisboa de Primeiras Categorias por quatro vezes, três das quais consecutivas. Com “numerosos adeptos e entusiastas à sua volta” e no mais “puro e honroso amadorismo”, conquistou rapidamente o estatuto de segunda modalidade do Barreiro. A equipa de 1931/1932, Campeã de Lisboa, era composta por António Martins, Berardo Soeiro, Gil Ferreira, Joaquim Guilherme e Manuel Tavares Rodrigues. Todos naturais do Barreiro.
O FCB foi, com o Luso F.C., Grupo Desportivo “Os Celtas”, Grupo Desportivo dos Ferroviários do Barreiro, Império F.C. Barreirense, Sport Lisboa e Barreiro, um dos fundadores, em 11 de Dezembro de 1937, da Associação de Basquetebol do Barreiro, data em que abandonou a Associação de Lisboa. O FCB conquistou todos os campeonatos organizados pela Associação de Basquetebol do Barreiro (1938/1939 a 1942/1943) que em 12 de Novembro de 1943, com a extinção das Associações Regionais e a constituição das Associações Distritais, deu origem à Associação de Basquetebol de Setúbal, desde sempre sedeada no Barreiro.
O segundo período áureo do basquetebol decorreu entre 1950 e 1964. Correspondeu à conquista de 2 Campeonatos Nacionais da I Divisão, 3 Taças de Portugal (foi ainda finalista vencido por três vezes) e 3 Campeonatos Nacionais de Juniores.
O terceiro período mais destacado decorreu entre 1974 e 1986, com participações permanentes e relevantes no Campeonato Nacional da I Divisão (3 vezes Vice-Campeão) e a obtenção de 3 Taças de Portugal e 4 Campeonatos Nacionais de escalões jovens.
O ano de 2000 representou o início de um novo ciclo de relevo, com a participação na Liga Profissional. Sempre com equipas muito jovens, constituídas por mais de 50% de atletas procedentes da Formação – área bem estruturada e com um percurso extraordinariamente ganhador.

Vencedores

Ao longo da nossa história, a quase totalidade dos Presidentes atrás nomeados ergueu taças e outros troféus, obtidos com brilho e mérito, em número invejável.
O Basquetebol tem sido de forma inequívoca a modalidade mais vitoriosa. Cerca de 140 títulos regionais atestam a superioridade que o FCB vem demonstrando no Distrito de Setúbal. Mas o maior relevo vai, obviamente, para os 37 títulos nacionais alcançados. Ocupamos o 3º lugar do ranking nacional, atrás do Benfica e do FC Porto:

Campeonato Nacional da I Divisão
1956/1957 • 1957/1958

Campeonato Nacional da II Divisão
1974/1975 • 1988/1989

Taça de Portugal
1956/1957 • 1959/1960 • 1962/1963
1981/1982 • 1983/1984 • 1984/1985

Campeonato Nacional sub-20
2001/2002 • 2005/2006 • 2006/2007

Campeonato Nacional sub-18
1953/1954 • 1954/1955 • 1955/1956
1956/1957 • 1965/1966 • 1974/1975
1976/1977 • 2000/2001 • 2002/2003
2003/2004 • 2004/2005 • 2005/2006

Campeonato Nacional sub-16
1970/1971 • 1975/1976 • 1994/1995
1997/1998 • 1998/1999 • 2001/2002
2002/2003 • 2003/2004 • 2004/2005

Campeonato Nacional sub-14
1974/1975 • 2002/2003 • 2005/2006


No Futebol, os destaques vão para:
- 24 participações no Campeonato Nacional da I Divisão
- Taça Ribeiro dos Reis (1967/1968)
- 6 Campeonatos Nacionais da II Divisão: 1942/1943 • 1951/1952 • 1959/1960 • 1961/1962 • 1966/1967 • 1968/1969.
Somos o 23º classificado no ranking nacional, apesar de não disputarmos a competição máxima desde a longínqua temporada de 1978/1979. Completam o nosso valioso palmarés cerca de 75 títulos de âmbito distrital.

O Xadrez, com 20 anos de actividade permanente, tem alcançado bons resultados, individuais (com destaque para Rui Dâmaso, Sérgio Rocha e João Leonardo) e colectivos:

Principais resultados colectivos
Taça de Portugal: 1999/2000
Campeão Nacional de Rápidas: 1991/1992
Vice-Campeão Nacional I Divisão: 1998/1999
Vice-Campeão Nacional de Semi-Rápidas: 2003/2004
Campeão Nacional da II Divisão: 1988/1999 e 1997/1998
Vice-Campeão Nacional da II Divisão: 2006/2007


A Ginástica, modalidade de tão grande tradição no FCB, “orgulha-se de ter contribuído e de continuar a contribuir para o desenvolvimento motor, físico e desportivo como sendo uma parte importantíssima e indissociável da formação integral das crianças e jovens da nossa cidade e do nosso País” (Augusto Jorge, responsável técnico, 2007). Na vertente de competição, com maior diferenciação nas disciplinas gímnicas de Tumbling, Trampolim e Acrobática, a Secção de Ginástica obteve na última década um conjunto importante de de títulos colectivos: nacionais (2001), regionais (1999, 2000, 2001, 2005 e 2006) e distritais (1998, 199, 2000, 2001, 2003, 2005, 2006 e 2007). No âmbito da Ginástica Geral há a registar a presença de dezenas de atletas do FCB integrados na representação de Portugal na Gimnastrada Mundial – a maior concentração de ginastas do mundo – de 1999 em Gotemburgo - Suécia (33 atletas) e de 2007 em Dornbirn - Áustria (43 atletas). Há a registar também, como corolário da qualidade do trabalho desenvolvido ao longo dos anos, a presença dos nossos atletas nas grandes manifestações gímnicas distritais e nacionais: saraus, concentrações e demonstrações. O destaque individual vai para as campeãs nacionais Sofia Gião e Nádia Santos, agraciadas com a Medalha de Mérito Desportivo da Cidade do Barreiro.
O Kickboxing, praticado há cerca de uma década no FCB sob a orientação técnica de José Calado, reconhecido com o grau máximo de treinador pelo Centro de Estudos e Formação Desportiva, alcançou diversos títulos regionais e nacionais, protagonizados por atletas internacionais de reconhecido mérito, como Marisa Pires, Ricardo Calado, Ruben Ferro e Rui Lança.

Ecletismo

Apesar de assinaláveis dificuldades estruturais e financeiras, o FCB tem no presente mais de 500 atletas, e prossegue um esforço de ecletismo, que o situa em posição mediana no panorama desportivo nacional.
As modalidades actualmente existentes no FCB são as seis seguintes: Basquetebol, Futebol, Ginástica, Kickboxing, Natação, e Xadrez.
Algumas outras modalidades foram também praticadas ao longo da história do FCB, em períodos relativamente limitados, por vezes mesmo episódicos: Pólo Aquático, no final dos anos 20; Ciclismo, Columbofilia, Hóquei em Campo e Râguebi (década de 30, sem dúvida a mais eclética do nosso percurso); Atletismo (1942); Voleibol (1953/1954 e 1965); Halterofilismo (1959/1960); Andebol de 7 (1960). O Basquetebol feminino teve existência nos anos 60 e 70, com um percurso oscilante e competitivamente pouco relevante.

Vermelho e branco

Os Estatutos de 28 de Fevereiro de 1992 consagram no seu artigo 7º que “o equipamento do F.C.B., para todas as modalidades desportivas, será constituído por camisola com cinco faixas verticais brancas e vermelhas, alternadas, e calção branco, tendo na camisola, do lado esquerdo, o emblema”.
Na época de 2000/2001, primeira participação na Liga Profissional de Basquetebol, o FCB utilizou em algumas partidas o amarelo – uma das quatro cores que integram o nosso emblema – como cor alternativa ao vermelho e branco. Recordo-me de que a opção então tomada foi alvo de comentário e crítica por parte de alguns associados mais arreigados às cores tradicionais do clube. O calção branco foi desde sempre a regra nos basquetebolistas barreirenses. Mas no que se refere à camisola de jogo, até à utilização regular a partir da temporada de 1929/1930 das listas verticais vermelho e brancas, outras cores e outros grafismos – amarela e verde, castanha, vermelho e branco (bipartida) – foram utilizados nos primeiros dois anos.
Os futebolistas equiparam quase sempre alternativamente com camisola e calção branco, meia branca com canhão vermelho ou, menos frequentemente, com camisola e meia brancas e calção vermelho. Quando da participação na Liga de Honra, época de 2005/2006, o castanho claro foi escolhido como cor do segundo equipamento, opção que veio a recolher muito pouco agrado e simpatia por parte dos nossos associados. Nunca vi qualquer adepto envergando o nosso mais recente equipamento alternativo de futebol, sinal da apreciação negativa com que foi recebido.
Os associados do FCB são muito sensíveis a esta e outras questões, que se prendem com as nossas referências históricas. E os seus dirigentes não se podem alhear dessas preocupações, devendo auscultar as opiniões, gostos e sensibilidades daqueles que os elegeram.
Os principais clubes de futebol têm procurado, sobretudo na última década, algumas receitas suplementares decorrentes da venda de material desportivo, com recurso a um restyling regular. Mas em agremiações de dimensão associativa média, como é o caso do FCB, esta actividade de merchandising tem uma expressão infelizmente pouco relevante.

Falta pouco

Em 11 de Abril de 2011, o FCB completará 100 anos. Será uma data histórica. E um ano mágico…
Vem longe! Dirão alguns…
Não penso assim!
A cerca de três anos de distância, creio que é tempo de começar a pensar, a programar, a agir. Para que a Festa do Centenário tenha a participação, a grandeza e o brilho que se impõem e exigem. Os associados deverão contribuir com o seu fervor clubista, esforço e talento. A autarquia deverá colaborar com empenho e determinação. Os agentes económicos, desportivos e culturais do Concelho deverão participar activamente.
2011 será um ano inolvidável! De celebração das vitórias. De recordação dos heróis. De perspectivação do futuro. De afirmação de uma grande instituição – o FCB. Construído por todos os Barreirenses. Para todos os Barreirenses.
Impõe-se a constituição de uma Grande Comissão Organizadora dos 100 Anos do FCB. Qualificada, democrática e plural. Quanto antes!

[Conclusão do Capítulo VI - Quase Centenário
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)