segunda-feira, janeiro 05, 2009

Memória Barreirense (XXXVIII)


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Cinquenta pioneiros

No final do ano da fundação, os associados do FCB seriam cerca de cinquenta. Esse número veio naturalmente a engrossar ao longo das décadas, acompanhando o crescimento populacional do Concelho, a penetração que o clube foi alcançado no seu tecido social e o prestígio que foi adquirindo.
Em 1921 o FCB tinha 270 associados. E em 1931, nas comemorações do 20º aniversário, o número já ascendia a 1.100. Em 1946, coincidindo com a criação da “Grande Comissão Pró-Ginásio”, a massa associativa teve um novo impulso, cresceu progressivamente, quase quadruplicando à data da inauguração do Ginásio-Sede (Maio de 1956). O valor máximo de associados terá rondado os seis milhares.
Actualmente, o FCB tem 5.000 sócios, valor que considero aceitável, tendo em consideração as dificuldades do movimento associativo, a crise demográfica do Concelho iniciada na década de 80 e a descida do clube ao 4º escalão nacional de futebol. É ainda assim, um número insuficiente. Mas com potencial de crescimento.
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Longevidade


O FCB, distinguido pelo Governo como Pessoa Colectiva de Utilidade Pública e agraciado com a Medalha de Bons Serviços Desportivos (Presidência da República), Medalha de Mérito Desportivo (Ministério da Educação e Cultura) e Medalha de Ouro de Bons Serviços (Câmara Municipal do Barreiro), apresta-se para celebrar o seu centenário.
E assume-se como um dos clubes portugueses mais antigos. Dos dezasseis clubes participantes na última Liga Bwin, seis tiveram uma constituição claramente posterior ao FCB: Belenenses (1919), Sporting Clube de Braga (1921), Sport Clube Beira-Mar (1922), Clube Desportivo das Aves (1930), Clube de Futebol Estrela da Amadora (1932) e Futebol Clube Paços de Ferreira (1950). E três dos dez restantes foram fundados apenas alguns meses antes do FCB (Club Sport Marítimo, Clube Desportivo Nacional e Vitória Futebol Clube).
Reportando-me ainda à época de 2006/2007, dos clubes inscritos na Associação de Futebol de Setúbal e participantes nos Campeonatos Nacionais, o FCB apenas é ultrapassado em longevidade pelo Vitória Futebol Clube (1910), colocando-se bem à frente de Amora Futebol Clube (1921), Grupo Desportivo Alcochetense (1937), Clube Desportivo Cova da Piedade (1947), Clube Desportivo Pinhalnovense e Clube Desportivo do Montijo (1948).



Presidentes

De Francisco Augusto Nunes de Vasconcelos (11 de Abril a 31 de Dezembro de 1911 e de 27 de Julho de 1935 a 18 de Agosto de 1936) a Manuel Marques Lopes (em exercício desde Abril de 1996), foram cinquenta e uma as personalidades, aqui apresentadas por ordem alfabética, que até à actualidade presidiram à Direcção do FCB:

Abílio Rodrigues • Alberto Bravo • Albino Macedo • António Balseiro Fragata • António Balseiro Guerra • António Cabrita • António Ferro Gomes • António José Bravo • António Pacheco Nobre • António Manuel Ribeiro • António Parra Duarte • Armando da Silva Pais • Armando de Carvalho Miranda • Carlos Alberto Lourinho • Clarimundo Pereira • Ezequiel da Costa Cavaco • Ezequiel José Patrício • Fernando Cardoso • Fernando Vasconcelos • Francisco Nunes de Vasconcelos • Inácio Monteiro de Azevedo • Jacinto Nicola Covacich • João da Costa Figueira• Joaquim Grave dos Santos • Joaquim Quintela Paixão • José Alves Trindade • José Fernandes Júnior • José Francisco Ferreira • José Francisco dos Santos • José Luís Covacich Costa • José Maria Cardoso, • José Tiago Rodrigues • Júlio Caetano Veríssimo • Júlio de Almeida Júnior (Comissão Administrativa) • Júlio José de Macedo • Luís Correia Matias • Luís Filipe Costa Mano • Luís Raimundo dos Santos • Manuel António dos Santos • Manuel Bravo • Manuel Ferreira • Manuel Guerra Pimenta • Manuel Luís Ferreira • Manuel Marques Lopes • Manuel Monteiro Crespo • Manuel Preto Chagas • Manuel Torres Ferreira (Comissão Administrativa) • Mário Fernando Pereira (Comissão Administrativa) • Renato Matias Freire • Ulisses Ricardo da Silva • Vítor Manuel Duarte.

A tradição do FCB é, por conseguinte, a de cumprimento de mandatos de curta duração (um a dois anos), apenas episodicamente repetidos pela mesma personalidade, de forma contínua ou intermitente.
O Presidente com maior número de mandatos (11) foi Albino António da Silva Macedo, actual Presidente do Conselho Consultivo e Contas, apenas ultrapassado em longevidade presidencial por Manuel Lopes que ocupa a Presidência da Direcção há mais de 11 anos consecutivos.
Nove Comissões Administrativas – constituídas para resolver situações de impasse directivo, a primeira das quais em 1918 – não totalizaram mais de quarenta e cinco meses de gestão, exemplo de que ao longo da sua história o FCB foi, quase sempre, capaz de ser dirigido pela forma estatutária mais exemplar – a eleição de uma lista por sufrágio directo e universal.



Chutos e pontapés

Os primórdios do futebol português
Não há duas opiniões em contrário. O futebol que se joga e sempre se jogou em Portugal veio de Inglaterra, pela mão de alguns jovens lusitanos educados nos melhores colégios daquele país e, também, por cidadãos britânicos a trabalhar entre nós.
Há, porém, duas versões sobre a chegada da primeira bola a Portugal. Uma aponta para o Funchal e é atribuída a um inglês de nome Harry Hilton, que ali residia – facto assinalado, durante muitos anos, num pequeno muro do parque infantil do jardim da Camacha, inserindo, em letras metálicas, a legenda “Aqui se praticou futebol pela primeira vez em Portugal em 1875”. Outra diz terem sido os irmãos Eduardo e Frederico Pinto Basto, em 1886, os portadores de uma bola com o forte desejo de continuarem, na sua pátria, um desporto, o futebol, que muito os apaixonara.
A ideia foi acolhida com o maior interesse e entusiasmo pelo irmão maioritário dos jovens estudantes, Guilherme Pinto Basto, que, porém, não se limitou a afagar a bola, como um simples brinquedo para se divertir e pontapear num jogo. Não. Foi bem mais longe. Reuniu amigos, alguns deles ingleses, levou-os até Cascais e, nos terrenos da Parada, um pouco adiante da cidadela, onde hoje existe um jardim público, ali promoveu, numa tarde domingueira de Outubro de 1888, a primeira exibição de futebol em Portugal. Não um jogo, apenas um ensaio, como ele próprio o rotulou, para mostrar aos companheiros e ao público, que prontamente ali acorreu, como se jogava futebol.
Nesse ensaio que hoje podemos entender como exibição ou treino, intervieram, para além de quatro Pinto Basto, outros jogadores que ficaram para a história como os primeiros futebolistas portugueses… [juntamente com outros jogadores] … que, três meses depois, nos terrenos do Campo Pequeno, precisamente no sítio onde hoje se encontra a Praça de Touros, em frente ao Palácio de Galveias, participaram no primeiro jogo de futebol, já com as regras, então adoptadas, em Inglaterra.
Estes actos, em si, e outras iniciativas de Guilherme Pinto Basto, na propaganda e expansão do futebol, levaram ao justo e unânime reconhecimento do seu nome como o do verdadeiro introdutor do mais popular desporto em Portugal. E, implicitamente, o ano de 1888 ficou, assim, praticamente oficializado, como o do nascimento do futebol no nosso país.
(Henrique Parreirão, 1914 – Os anos de diamante – 1989 / No primeiro Centenário do Futebol Português, edição da Federação Portuguesa de Futebol)


Com a criação do Clube Internacional de Futebol (CIF) cresceu a prática de jogos de futebol com atletas portugueses. A zona ocidental de Lisboa foi mais permeável à novidade e os jovens casapianos facilmente contagiados.
Terá sido António Maria de Oliveira, ex-aluno da Casa Pia de Lisboa, o introdutor, em 1901, do futebol no Barreiro. E que, com a colaboração de Joaquim Rosário Costa e José de Araújo, fundou o Sport Clube Barreirense. Poucos anos depois, um grupo de aprendizes das oficinas dos Caminhos-de-Ferro do Sul e Sueste fundaram uma agremiação a que deram o nome de Sport Recreativo Operário Barreirense, que veio a ser a precursora do FCB.
O primeiro jogo de maior cartel disputado no Campo do Rossio, disputou-se em 23 de Julho de 1916, quando o segundo team do Sport Lisboa e Benfica se deslocou à Vila do Barreiro para um “sensacional desafio” com a primeira equipa do FCB. “O Povo Barreirense ficará electrisado ante a demonstração soberba do futebol que os players do glorioso Sport Lisboa e Benfica farão n´este desafio” – assim anunciava um cartaz, densamente impresso, de promoção do desafio.
Em 1 de Dezembro de 1923 o Campo do Rossio, entretanto alvo de melhoramentos, foi palco do primeiro jogo internacional, com vitória ‘alvi-rubra’ por 2-0 sobre o Real Union de Huelva.
O FCB iniciou a sua participação no Campeonato de Portugal em 1927, com uma vitória retumbante sobre o Olhanense (9-4), tendo perdido com o Vitória de Setúbal (1-0) nos quartos-de-final. Na época de 1929/1930 perdeu a final com o Benfica (3-1, com 1-1 no tempo regulamentar). Em 1931/1932 foi semi-finalista derrotado pelo Belenenses. E na época de 1933/1934 voltou a ser finalista do Campeonato de Portugal (derrotado pelo Sporting 4-3, após prolongamento).
Mas, como já foi antes referido, a década de 50 foi a mais consistente, com oito participações consecutivas na I Divisão e três presenças nas meias-finais da Taça de Portugal. A época de 1978/1979, última presença na I Divisão, marcou o início de um declínio persistente e demasiado duradouro.


[Excerto do Capítulo VI - Quase Centenário
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)a