quinta-feira, dezembro 11, 2008

Parabéns!


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Em 29 de Junho, no ROSTOS, escrevi um breve texto a propósito de Manoel de Oliveira, que hoje completa 100 anos.
Apetece-me agora reproduzir as palavras que então escrevi:
a
Quase cem

Mais de oitenta anos de carreira. Dezenas de filmes realizados. Palma de Ouro de Cannes. E Leões de Ouro de Veneza. Ele que até é portista de nascimento e dragão de simpatia clubista.
Gosta de filmar. Tem projectos – muitos. Incrível…
Gosta de viver – muito. “É uma coisa que recomendo aos meus amigos”. Tem toda a razão…
Não conheço em detalhe a sua obra cinematográfica. Não é o meu realizador de eleição. Mas é, para muitos, o “mais velho dos grandes realizadores do mundo ainda em actividade […] e um dos mais imaginativos e inovadores realizadores do cinema europeu”. (Expresso, 21 de Junho de 2008)
Que o tempo corra célere. Por uma vez. Para que chegue o 11 de Dezembro. E Manoel de Oliveira apague as cem velas. Que bem merece…
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quarta-feira, dezembro 10, 2008

Entretanto...


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... a Venezuela de Hugo Chávez "onde uma sopa de legumes custa 12 bolívares, o dobro do que custa encher um depósito de automóvel com 50 litros de gasolina, não é país que se recomende. Apesar do folclore e da demagogia"
(PÚBLICO, 7 de Dezembro de 2008).


Subscrevo.
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Não devia ser assim



O gozo de um curto período de férias permitiu que esta manhã tivesse acedido na minha caixa de correio, a uma hora bem mais precoce do que é usual, a um exemplar do semanário NOTÍCIAS DO BARREIRO.
Chegado à página 6, deparei-me com dois artigos de opinião, que li (e reli) com atenção e interesse.
O Engº Nuno Banza, a propósito de uma experiência pessoal bem recente, abordou aquilo que depreendo ser o caos instalado na Urgência Pediátrica do Hospital de N.ª S.ª do Rosário, realidade que não conheço em pormenor, mas que não deverá ser, nos seus contornos principais, particularmente diferente daquela que conheço profundamente no Hospital Garcia de Orta onde exerço funções desde a abertura do Serviço de Pediatria, completam-se dentro de dias longos e ricos dezassete anos.
A verdade é que os Serviços de Urgência, e os de Pediatria em particular, são efectivamente – e não deveria ser assim! – locais para atendimento permanente de todo o tipo de situações – as emergentes e as urgentes (obviamente!), mas também para toda a plétora de doença aguda e não aguda que não deveria encontrar aí o local (às vezes único) de resolução atempada.
Ninguém beneficia com esta situação. As crianças sofrem. Os pais desesperam. E nós, profissionais de saúde, acreditem, também não nos sentimos nada confortáveis.
Cansado desta situação, exausto de uma pressão inaceitável e injusta, lá acabei por cumprir esta semana uma pausa nesta rotina semanal (às vezes bi-semanal) infernal e insustentável, apenas gratificada nas vidas que se salvam, nos sofrimentos que se aliviam e nos “obrigado” que aqui e acolá vamos recebendo.
Hoje, em Almada (e por esse país fora) sei que a generalidade dos meus colegas está a dar o melhor de si pelas crianças. As situações emergentes e urgentes serão prontamente atendidas. As outras… logo que possível.
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segunda-feira, dezembro 08, 2008

Eternamente belo




Léo Ferré, La Solitude

FCB: que futuro?



Na sua magnífica crónica dominical do PÚBLICO de 7 de Dezembro de 2008, o sociólogo António Barreto referiu-se ao livro “Colapso” de Jared Diamond, recentemente editado em Portugal pela Gradiva.
Segundo o autor americano – e cito António Barreto – “há povos, países ou Estados que “escolhem” acabar, morrer ou desaparecer. Os maias, os povos da ilha de Páscoa ou das ilhas da Gronelândia e populações do Ruanda contemporâneo são alguns dos exemplos. Por várias e complexas razões, tais povos, a partir de um certo momento, desistiram e caminharam direitos para o fim. Uns fizeram tudo o que era necessário para destruir ou esgotar as bases da sua sobrevivência, outros renderam-se aos inimigos humanos ou às ameaças naturais. Podem as escolhas não ser datadas e deliberadas, mas são actos de vontade motivados, talvez não pelo desejo de morrer, mas sim pela ilusão de outra vantagem ou pela complacência com que se vive uma circunstância conhecida.”
Passando para a realidade nacional, António Barreto aflorou a crise/colapso do Parlamento, do PSD e do regime democrático. Não sem antes advertir os seus leitores: “A analogia [com as teses de Jared Diamond] pode parecer forçada. Os processos históricos demoram séculos, aqui estamos a falar de anos. Aqueles dizem respeito a povos inteiros, aqui referem-se instituições ou regimes”.

Que tem este texto introdutório a ver com uma crónica como DESPORTO À PORTUGUESA, que aqui venho regularmente publicando no ROSTOS?
À primeira vista nada. Mas na verdade tem. E muito!
É que ao ler António Barreto – a leitura de Jared Diamond ficará em lista de espera... – pensei de imediato no “meu” Futebol Clube Barreirense. Instituição de Utilidade Pública, quase centenária, assolada por uma grave e profunda crise.

Em Janeiro de 2007, em resposta a um texto poucas semanas antes publicado no JORNAL DO BARREIRO escrevi: “O Barreirense não está num marasmo ou moribundo! O Barreirense está vivo e tem futuro!”.
As minhas palavras pretenderam então reagir a uma opinião – violenta mas respeitável –, abrir (?) uma porta de esperança – emotiva e apaixonada –, testemunhar uma vontade pessoal – sentida e sincera.

Em Janeiro de 2008, na página derradeira do livro PROVA DeVIDA, escrevi: “Será através do contributo mais activo e alargado dos seus Associados, do talento, criatividade, empenhamento e bom senso dos seus Dirigentes, e da capacidade de diálogo e colaboração solidária, harmoniosa, transparente e moderna, com a Câmara Municipal do Barreiro e com os Agentes Económicos da Cidade, que o FCB [Futebol Clube Barreirense] poderá ultrapassar as graves dificuldades e constrangimentos actuais. E prosseguir um percurso desportivo de mérito na formação e na alta competição, um desempenho de relevo na sociedade Barreirense, um estatuto de Utilidade Pública tão legitimamente adquirido. Caso contrário, não estarão criadas, em minha opinião, as condições mínimas para a prossecução de objectivos desportivos competitivos semelhantes aos actuais, e o FCB será obrigado a recuar para patamares bem menos ambiciosos, de alcance e consequências ainda muito pouco discutidas e consciencializadas pela imensa maioria dos Barreirenses”.
Sabia então – como sei hoje – que a crueza dos números e a realidade dos factos são muitas vezes mais fortes que as nossas legítimas intenções e genuínas aspirações.

Quando no biénio 2004-2006 integrei os Órgãos Sociais do Futebol Clube Barreirense, tive uma oportunidade única de mergulhar nas “profundezas” do meu clube de sempre, e de entender – com uma clareza até então limitada e parcelar – a dimensão dos problemas e a dificuldade das soluções.

Ainda em PROVA DeVIDA escrevi: “Concordei com a venda do terreno do Campo D. Manuel de Mello. Tornei pública a minha posição nas Assembleias-Gerais que precederam essa decisão. Persuadi alguns associados a apoiarem o Presidente Manuel Lopes. Defendi a Direcção das suspeições que alguns quiseram atribuir-lhe.
O “Manuel de Mello” foi vendido. O FCB arrecadou uma verba substancial. Saldou as dívidas ao Fisco e à Segurança Social. Regularizou o pagamento de outras dívidas. Safou-se! E, como escreveu Sofia de Mello Breyner: “corpo renascido...”. Mas o desafio apenas começara. Foi uma decisão inadiável, fundamentada, mas afectivamente difícil. Ainda assim, muitos se interrogaram, e alguns disso se fizeram eco: “foram-se os anéis, mas ficarão os dedos?”.
Coube à Direcção, desde então, a responsabilidade de demonstrar que a decisão de 2005 fora correcta. E cumprir a promessa então formulada: o FCB construirá os espaços desportivos necessários e adequados ao seu Projecto Desportivo, assente na formação cívica e desportiva de jovens atletas, mas com ambições competitivas realistas e consistentes”.

Em Março de 2007 escrevi em ROSTOS: “Em vez de circulação de informação, de debate da situação, de esclarecimento das dificuldades, de apelo à mobilização, a que se assiste? Ao triunfo do silêncio, da acomodação, do desânimo e da resignação. Com gravosas consequências. E com terreno fértil para a intriga, o boato, a insinuação. Onde chegámos…”.
Foram palavras críticas para o Presidente Manuel Lopes e a sua direcção. Que caíram – uma vez mais – em “saco roto”.
A verdade é que, decorridos mais de três anos da decisão de alienar património, cresce a desilusão, falta a esperança, sobra a descrença.

Em PROVA DeVIDA escrevi também:
“O FCB do século XXI deverá ser:
- conceptualmente criativo
- desportivamente ambicioso
- estruturalmente realista
- administrativamente moderno
- política e financeiramente independente”.
Para logo de seguida acrescentar:
“Alguns conceitos programáticos deverão servir de fundamento para uma acção consequente. Assim, importa em minha opinião:
- analisar e reforçar a matriz e identidade do clube
- promover uma revisão estatutária
- definir uma nova política desportiva
- modernizar a organização administrativa
- projectar a estrutura e dimensão das instalações desportivas
- fomentar o crescimento da massa adepta e associativa
- renovar as áreas de comunicação, imagem e merchandising
- melhorar os índices de democraticidade e participação
- incrementar a inserção na juventude Barreirense
- reformular o contrato-programa com a autarquia
- atrair e conquistar o tecido empresarial
- aprofundar a ligação aos agentes culturais”.
Mantenho na sua generalidade a essência destas propostas, sendo certo que a ambição desportiva terá de ser adequada à difícil situação do clube, da autarquia e do país.

Os Órgãos Sociais do Futebol Clube Barreirense para o mandato de 2008-2010 deveriam ter sido eleitos no primeiro semestre deste ano. Tal não veio a acontecer.
Na Assembleia-Geral Ordinária de 30 de Setembro nenhuma lista se apresentou a sufrágio.
O que a prolongar-se, pode significar a acentuação de uma crise, num momento crucial para o futuro do clube.
O que a repetir-se, pode resultar num impasse na tomada de decisões fundamentais para o seu futuro – próximo e distante.

Manuel Lopes está de saída – ao que parece. Cansado e desiludido – segundo consta.
Manuel Lopes cultivou, ao longo de sucessivos mandatos, uma forma peculiar de direcção, muito centrada na sua personalidade. Desgastou-se num individualismo esforçado e exigente. Acentuou uma prática pouco mobilizadora dos associados. Não promoveu, como teria sido desejável, a formação e o desenvolvimento de equipas de trabalho. Exagerou na desconfiança com que foi enfrentando e alienando as vozes críticas – em particular as vozes construtivamente críticas.

A confirmar-se o seu afastamento, Manuel Lopes deixará um legado cuja avaliação não pode ser feita de forma superficial e leviana. Será uma herança complexa e contraditória. Com aspectos positivos. E com aspectos negativos.
Como alguém referiu teria sido possível que Manuel Lopes viesse a sair pela “porta grande”, com elogios maioritários e provas abrangentes de reconhecimento e de gratidão.
Mas receio que não venha a ser assim. E tenho pena...
Porque acredito na sua boa vontade.
Porque elogio a sua dedicação plena.
Porque reconheço a sua perseverança.

A concretizar-se o abandono, a sucessão de Manuel Lopes não será fácil.
Não vislumbro uma solução directiva a curto prazo.
Competirá ao Dr. António Sardinha – Presidente da Assembleia-Geral – promover uma alternativa.
Mas não se pense que será uma tarefa linear e de sucesso garantido. E que todos nós, Barreirenses, nos possamos excluir ou distanciar desse esforço.

O Futebol Clube Barreirense é hoje uma instituição desmobilizada e descrente. Rarefeita de boas vontades e de indispensáveis disponibilidades.
Os associados mostram-se maioritariamente distantes e indiferentes. Estão-se simplesmente “nas tintas”.
O dirigismo desportivo não é, nos tempos que vivemos, uma actividade socialmente gratificante e valorizada.
Oxalá não se venha a cair num perigoso vazio directivo, que poderia significar o colapso do clube.

O Futebol Clube Barreirense atravessa um momento particularmente difícil da sua história, mas em que paradoxalmente parece estarem criadas as condições objectivas para que seja reformulada a sua orgânica interna, a sua política desportiva, a sua dimensão estrutural.
O Futebol Clube Barreirense necessita de se reprojectar. E, eventualmente, de se refundar.
Victor Hugo escreveu que “os homens honestos procuram tornar-se úteis, enquanto os intriguistas tentam apenas ser necessários”. O clube precisa de todos os Barreirenses honestos. E dispensa todos os intriguistas, todas as “aves agoirentas” e todos os profetas da desgraça que não desejam o seu bem.

Tenho sido ao longo destes últimos uma voz relativamente isolada, mas persistente, clamando pelo rigor, pela participação e pela transparência no Futebol Clube Barreirense.
Sei que as minhas posições públicas foram aqui e ali entendidas como manifestações de um inconfessado desejo de poder e de protagonismo. Nada mais errado.
Sei que as minhas posições públicas foram por vezes retorquidas com expressões do tipo “vá p´ra lá você!”. Nada mais injusto.
O direito à opinião e à crítica é intrínseco e inalienável da minha condição de associado. É um direito de cidadania. Mas não me impõe qualquer obrigatoriedade de integrar os Órgãos Sociais.
Razões profissionais e pessoais – de dimensão inultrapassável nos próximos anos – inibem-me, ou melhor dito, impedem-me o exercício de funções executivas num futuro elenco directivo. O que não é – nunca será – sinónimo de afastamento, de abandono, de deserção.
Como escreveu António José Seguro no artigo “O valor da opinião” (EXPRESSO de 6 de Dezembro de 2008): “Pela minha parte tenciono continuar por este caminho, reflectindo e dando os meus contributos”. Que outros, dentro das respectivas disponibilidades e competências, possam fazer e dar mais… e melhor.

Quem poderá abraçar o exigente mas estimulante desafio de dirigir o Futebol Clube Barreirense com rigor, competência, modernidade?
Quem poderá assumir-se como líder de um projecto participado e descentralizado?
Quem saberá honrar o património histórico do clube?
Quem poderá dar o impulso decisivo à concretização dos projectos de construções desportivas de que carecemos?
Quem lutará pela salvaguarda do justo equilíbrio entre as duas modalidades mais representativas – o futebol e o basquetebol?
Não sei! Não sei mesmo!

Apesar de tudo, questiono ou imagino uma hipótese.
Mas “esse alguém” não parece disponível – pelo menos para já. O bom desempenho que, estou certo, efectuaria, seria a concretização de um sonho antigo, aqui e acolá já expressado. E poderia catapultá-lo para outros níveis de participação e responsabilidade – cívica e política – na Cidade e no Concelho do Barreiro. Com indiscutível credibilidade. Com acrescida visibilidade.
“Esse alguém” sabe – como eu sei – que há um tempo próprio para as coisas aconteceram. Que há um momento próprio para as grandes decisões. E que os adiamentos e as indecisões têm muitas vezes um elevado preço. Um não retorno.
Esse momento pode estar a passar por ti, caro Amigo. Se agarrares esse momento – com ambas as mãos – terás o meu total apoio. E a minha colaboração – muito limitada mas leal… como bem sabes.

Seria dramático chegar à conclusão que o Barreiro e os Barreirenses não entendem a utilidade do Futebol Clube Barreirense ou que, no limite, admitem que a sua existência é dispensável.
Seria dramático chegar à conclusão que o Barreiro e os Barreirenses não percebem que o fim do Futebol Clube Barreirense pode já ter começado.

[DESPORTO À PORTUGUESA, www.rostos.pt]

domingo, dezembro 07, 2008

Memória Barreirense (XXIX)



Que importa que nos vençam desenganos
Se pudermos contar os nossos anos
Assim como degraus duma subida?
Florbela Espanca

a
20 de Maio de 2006

Em tarde de 50º aniversário da sua inauguração, o Ginásio-Sede teve cerca de centena e meia de presenças, numa cerimónia que decorreu com bom gosto e dignidade mas, em minha opinião, muito aquém do que merecia tão relevante momento da história do FCB.
Logo no início de 2006, em reunião de Direcção, sugeri a necessidade e a premência de constituição de uma comissão organizadora das comemorações. E disponibilizei-me para a integrar. Não vi da parte do Presidente grande entusiasmo pela ideia que formulara. Ainda voltei a levantar a questão por uma segunda vez, mas com igual retorno.
Como em tantos outros aspectos da vida do clube, Manuel Lopes entendeu depositar nas suas mãos a responsabilidade e a quase totalidade das tarefas organizativas da Sessão Solene comemorativa do 50º aniversário do Ginásio-Sede. Carlos Silva Pais, fiel e inteligente depositário de um valioso espólio herdado de seu pai, Armando da Silva Pais – Presidente da Direcção e da Assembleia-Geral do FCB na década de 50 – deu uma preciosa colaboração. Disponibilizando um vasto conjunto de documentos, que serviu para uma exposição que se prolongou por alguns dias no Ginásio-Sede e que foi depois possível apreciar na Galeria Municipal de Arte. Apesar deste meu desalento pelo seu comportamento solitário e auto-suficiente, dei os parabéns a Manuel Lopes pelo trabalho realizado. Podíamos ter sido mais abrangentes e ambiciosos, mas...
Poucos dias antes, escrevera em Rostos um texto de apelo à participação dos meus consócios, e de evocação da grande epopeia que constituiu a edificação do Ginásio-Sede.
a
Sábado, eu vou lá estar
Corria o ano de 1956…
Na Europa, o XX Congresso do PCUS, assistia à corajosa denúncia dos crimes de Staline. Ventos libertadores sopravam na Polónia e na Hungria, mas foram brutalmente reprimidos por tropas do Pacto de Varsóvia. O Portugal de Craveiro Lopes e Salazar seguia triste, atrasado e inculto, ignorado e votado ao ostracismo pelas nações livres do Ocidente democrático. No Barreiro, vila operária de ricas e profundas tradições associativas e de luta pela Liberdade, o seu clube mais pujante, representativo e popular, o Futebol Clube Barreirense, inaugurou a 20 de Maio o seu mítico e grandioso Ginásio-Sede. Quinze anos antes, em 22 de Outubro de 1941, o designado “Movimento Pró-Sede” procedera à aquisição (5$10/m2) de um terreno de 1.512m2, colocado em hasta pública pela Câmara Municipal do Barreiro e arrematado por Albino José de Macedo em nome do Futebol Clube Barreirense, então presidido por Jacinto Nicola Covacich. Em 8 de Maio de 1947 efectuou-se o assentamento da primeira pedra e em 27 de Agosto de 1949 começou a encher-se o primeiro cabouco. Sob a orientação de António Balseiro Fragata (Presidente da Comissão Administrativa do Ginásio-Sede), esta obra, ímpar no panorama desportivo nacional e avaliada em 2400 contos, beneficiou da contribuição de diversos subsídios oficiais, nomeadamente do Ministério das Obras Públicas (550 contos), Ministério da Educação Nacional (80 contos), Câmara Municipal do Barreiro (30 contos) e Governo Civil de Lisboa (15 contos).
Mas a sua enorme riqueza e singularidade resultou, para além do contributo gracioso do autor do projecto (Manuel Nunes Machado) e dos técnicos responsáveis (Luís Raimundo dos Santos, João da Luz, Luís Alberto Figueiredo do Vale, Leonardo de Carvalho, Luís Carvalho da Costa e Jorge Feio), do trabalho voluntário de centenas de Barreirenses que, em horário pós-laboral e aos fins-de-semana, ergueram o edifício com um empenhamento, dedicação, zelo e competência inigualáveis. A cedência de materiais de construção, de invulgar qualidade e bom gosto, viabilizou e deu excelência à primeira obra do género em Portugal. A realização de espectáculos, sorteios (automóvel, vivenda, etc.) e concursos, o recurso a cotizações e donativos de sócios e simpatizantes, constituíram também formas criativas e generosas de um imprescindível suporte financeiro à construção do Ginásio-Sede.
A manhã de 20 de Maio de 1956 nasceu chuvosa, mas a tarde desse inesquecível domingo virou solarenga e primaveril, associando-se alegremente às distintas e nobres cerimónias de inauguração do Ginásio-Sede. Desde Coina, um imenso cortejo percorreu o Concelho, saudou e foi emocionadamente ovacionado pela sua população. Ilustres personalidades nacionais, com realce para o Ministro da Educação Nacional e o Director Geral dos Desportos, associaram-se a diversas entidades concelhias e distritais, nomeadamente o Governador Civil de Setúbal, o Presidente da Câmara Municipal do Barreiro e o Provedor da Santa Casa da Misericórdia. António Balseiro Fragata procedeu à entrega das chaves do edifício ao Presidente do Futebol Clube Barreirense, Armando da Silva Pais, acompanhado de outros dirigentes, entre os quais Jacinto Nicola Covacich (Presidente da Assembleia Geral) e Francisco Pereira Mendes (Presidente do Conselho Consultivo e de Contas). Sobrelotado de adeptos transbordantes de emoção e alegria, o Ginásio-Sede abriu finalmente as suas portas, ao serviço do Desporto e da Cultura Barreirense, prenúncio de uma história de constantes e inolvidáveis momentos de afirmação desportiva e cívica.
O saudoso jornalista Barreirense Alfredo Zarcos foi indiscutivelmente o mais brilhante e consequente divulgador da heróica construção do Ginásio-Sede. Os seus relatos dos inesquecíveis Comboios da Pedra são testemunhos emocionados, arrebatadores e empolgantes da epopeia mais grandiosa da história do Futebol Clube Barreirense. Na edição de 24 de Maio de 1956, com a sua assinatura, podia ler-se no Jornal do Barreiro: “ Ao cabo de quase sete anos da mais canseirosa, da mais esforçada, da mais heróica cruzada, de tantas que o Barreiro é rico de exemplos, inaugurou-se o maravilhoso Ginásio-Sede do Futebol Clube Barreirense, lar imenso do popular e prestigiado clube da nossa terra (...). Agora tudo é já realidade, facto consumado. Certeza também o era há muito, desde o dia em que os primeiros esforços das gentes Barreirenses abriram, largas e profundas, as fundações de onde começaram surgindo para a luz das grandes realizações, as paredes poderosas desse sonhado lar, tão fortes, tão resistentes, como a vontade rubra que dominava os seus obreiros (...). Está em festa o Barreirense! ”
No próximo sábado, no cinquentenário da sua inauguração, eu quero estar presente no Ginásio-Sede do meu querido Futebol Clube Barreirense. Para honrar a obra e a memória de todos quantos souberam concretizar um sonho lindo, erguer uma obra que tanto orgulha o Barreiro e os Barreirenses. Sei que a alegria e a emoção estarão presentes em todos nós, que as lágrimas escorrerão dos meus e de muitos outros olhos. Nós, Barreirenses, somos assim: emotivos, apaixonados, vibrantes. Assim temos feito História. E assim queremos continuar a Ser.
a
Entre os presentes na cerimónia destacou-se, embora já debilitada, a poetisa Maria Helena Bota Guerreiro, que veio a falecer em Fevereiro do ano seguinte. A D. Maria Helena, “emérita trovadora do F. C. Barreirense” (Carlos Silva Pais, Prefácio do livro Giesta em Flor, 2007), brindou-nos com a leitura, sentida e arrebatada, de um magnífico poema alusivo à efeméride.
Foi com ela que aprendi a gostar de poesia, embora não seja, ainda hoje, o meu género literário predilecto. Lembro-me que, quando da publicação em 23 de Outubro de 1967 do livro Brisas e Nortadas, Maria Helena presenteou a minha mãe com um exemplar que li e reli, sempre com muito agrado. Em sua memória, e também de ‘Abril’, permito-me transcrever um poema de sua autoria, que muito recentemente descobri na Biblioteca Municipal do Barreiro, ao folhear o seu segundo livro Poemas do Meu Horizonte, publicado em 1980:
a
1º de Maio de 1974

O dia amanheceu de sol radioso
Nas almas, corações, na natureza.
Tudo foi alegria e tal beleza
Que eu nunca vi um dia tão formoso!

O gesto fraternal e generoso
Surgiu na amplitude da grandeza.
Por toda a parte o riso e a gentileza
Nesse dia de Maio maravilhoso.

Deitámos fora os preconceitos velhos
Sorriso lindo o dos cravos vermelhos!
Que encantadora essa alegria sã!

Bendito o dia do trabalhador!
Lutemos hora a hora com amor
Pla liberdade e paz do Amanhã!
a
a
Epopeia

A construção do Ginásio-Sede foi uma das realizações mais extraordinárias e consequentes do associativismo Barreirense. Em honra de Alfredo Zarcos, ilustre jornalista e meu estimado consócio, que tão valioso contributo deu à História do Barreiro e do FCB, apresento excertos de um dos seus textos mais belos, publicado no Jornal do Barreiro (25 de Janeiro de 1951) quando, passo a passo, mas com uma coragem e dedicação incomensuráveis, os Barreirenses erguiam já a sua futura casa-mãe.
a
II Comboio da Pedra
Seis horas e meia da manhã. Um nevoeiro cerrado envolve o Barreiro que dorme, que repousa na cama a merecida manhã de domingo. A luz mortiça, pobre, da nossa iluminação são pontos baços que o nevoeiro mal deixa distinguir. Reina o silêncio e a humidade da madrugada. Mas lá para as bandas do parque, junto à obra do Barreirense vai grande azáfama. Faz-se ali a concentração para a partida do II “Comboio da Pedra”, organização dos “cem aos duzentos” que vão aparecendo, surgindo de todos os lados como sombras fantásticas saindo da neblina. O infatigável Fragata dirige tudo. Partem as primeiras camionetas e os primeiros carros; vão cheios de gente alegre e voluntariosa. Saem mais carros, motos e até bicicletas! (…)
Chegámos. Eis a pedreira imensa. Lá está o comboio, disperso, recebendo a carga. Vista de cima a enorme clareira afigura-se-nos um formigueiro. Trabalha-se afanosamente. Novos e velhos, gente de variadas posições na vida, nivelados ali pelo mesmo ideal clubista numa manifestação impar de dedicação colectiva de que só a gente da nossa terra é capaz. (…)
Em Coina, uma caravana de trezentos ciclistas aguarda o comboio, escoltando-o; e na manhã, toda luminosidade, triunfante o imenso desfile atinge grandiosa imponência. (…)
A imponente construção está pejada de alto a baixo de gente entusiasta que recebe o comboio em apoteose. (…)
A tarde avançava já, quando a jornada triunfal findou.
Assim se faz colectivismo, no Barreiro e assim o nosso povo se enobrece.
a
A Bola, na sua edição de 21 de Maio de 1956, em reportagem assinada por Afonso Lacerda, com o título “Do Sonho à Realidade…”, dedicou toda a sua última página ao acontecimento. Quatro fotos ilustraram a peça, uma das quais a de António Balseiro Fragata, intrépido activista da sua construção, Presidente da “Grande Comissão Pró-Ginásio”, a quem Afonso Lacerda dedicou as seguintes palavras:

Alma grande em corpo franzino, autêntico repositório de energias e exemplo vivo do muito que os homens podem fazer quando lutam por um ideal e sabem vencer com fé e entusiasmo os obstáculos que para outros constituem barreiras intransponíveis (…)
Lutou, mas sentiu sempre à sua volta outras vontades, igualmente fortes e decididas, de homens que queriam levar avante essa iniciativa.
Conjugou esforços e dedicações. Orientou vontades e entusiasmos, de modo a tirar o mais alto rendimento das possibilidades que se lhe ofereciam.
Durante sete anos, sem tréguas, sem férias, sem descanso, António Balseiro lutou e venceu. Venceu as dificuldades e os cépticos, dotando o seu clube, a sua terra e o seu país duma obra que é motivo de orgulho de todos os que nela colaboraram e daqueles que a podem agora admirar, como desportistas e como portuguesesa
a
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O infatigável Fragata
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Tive o prazer de conhecer e conviver com António Balseiro Fragata. Funcionário da Câmara Municipal de Lisboa, nasceu em Leiria, mas residiu no Barreiro desde muito novo. Amigo de meu pai, guardo dele a imagem de um homem muito sério, educado, apaixonado pelo seu clube e respeitadíssimo por toda a Família Barreirense. Feliz o clube que teve no seu seio tão ilustre personagem e protagonista.
Mas se a história da construção do Ginásio-Sede passa inevitavelmente pela referência a António Balseiro Fragata, é obrigatória a exortação de todos os Barreirenses que contribuíram para a sua edificação, com trabalho generoso, gratuito, empenhado e competente. E, também de populares anónimos, alguns dos quais não residentes no Barreiro, como se conclui deste exemplo espantoso, expresso na seguinte carta, assinada por José Jesus Duarte (Lisboa), em representação de sete desconhecidos entusiastas do clube ‘alvi-rubro’, publicada na secção de Alfredo Zarcos “Coisas da Nossa Terra” (Jornal do Barreiro, 27 de Dezembro de 1951).

Eu e mais sete colegas, todos vidraceiros, propusemo-nos auxiliar-vos na colocação de todos os vidros do vosso Ginásio-Sede, se acaso esse trabalho não está começado ou concluído.
Seríamos sete homens, a quem os senhores nada teriam que pagar e nós sentiríamos grande prazer em podermos deste modo ser úteis `a vossa obra e em prol do Desporto.
a
A primeira sede do FCB situara-se na Rua do Conselheiro Serra e Moura (actual Rua Almirante Reis), nº139. Em Maio de 1912 transferiu-se para a Rua Aguiar, nº 49, em 1918 para o nº 111 e posteriormente para o nº 150 (no Largo do Casal). Entre 1932 e 1937 a sua sede localizou-se em Lisboa, regressando ao Barreiro em 1939, ocupando o Chalet Rebelo (2 pisos), sito na Rua Dr. António José de Almeida. De Abril de 1940 a Maio de 1956, o FCB teve a sua sede social localizada no nº 154 da Rua Marquês do Pombal.
a
A construção do Ginásio-Sede revestiu-se de enorme importância. A dinâmica criada a partir de 1941, com a formalização do “Movimento Pró-Sede” e, sobretudo a partir de 1946, pela criação da “Grande Comissão Pró-Ginásio”, teve consequências imediatas:
- o número de associados cresceu vertiginosamente; quadruplicou de cerca de 500 em 1947 para aproximadamente 2000 em 1950
- perspectivou-se e consolidou-se um alargamento da influência do clube no tecido económico, social e cultural do Concelho
- verificou-se um revigoramento das actividades desportivas
- reforçou-se a mística e a identidade Barreirenses.
Ao longo de mais de cinquenta anos, o Ginásio-Sede tem sido local de convívio e de tertúlia. Frequentado por muitos sócios do clube. De há vários anos a esta parte é raro encontrar, à excepção dos vogais do basquetebol, dirigentes dos Órgãos Sociais no Ginásio-Sede, para além das noites de Reunião de Direcção, Assembleia-Geral ou Cerimónias Solenes. E, mesmo nesses momentos, é vê-los entrar e sair apressados e fugidios. Não é aquela a nossa Sede? Não era dali que uma multidão de sócios debandava nas tardes de domingo rumo ao ‘Manuel de Mello’? Não foi ali, que em noites de magia, comemorámos as grandes vitórias de todas as modalidades? A quem convém ocultar e fazer esquecer esta verdade e esta tradição? A quem?
a
[Excerto do Capítulo IV - Locais de Culto
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)

terça-feira, dezembro 02, 2008

Memória Barreirense (XXVIII)


a
Os ‘pintainhos’
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Na temporada de 2005/2006, o FCB foi contemplado com o Prémio Cremildo Pereira, atribuído pela Federação Portuguesa de Basquetebol ao(s) clube(s) com mais atletas de Minibasket – masculino, feminino e soma dos dois géneros.
Para a recepção do bonito troféu, desloquei-me em representação do FCB à Anadia, onde decorreu em 2 de Abril de 2006, a Final a 8 da LII Taça de Portugal. Pavilhão lotado, em tarde de muito calor, para um sempre apetecível FC Porto-Benfica. Cheguei cedo, com o objectivo de distribuir largas dezenas de revistas Barreirense Basket pelos convidados presentes. No intervalo do jogo, recebi o troféu Cremildo Pereira – Minibasket masculino. O Barreiro foi também premiado no sector feminino, tendo Vasco Marques, Presidente do Grupo Desportivo da Escola Secundária de Santo André, recebido o respectivo troféu. Arala Chaves, Presidente da S.A.D. da Associação Desportiva Ovarense, recebeu o prémio correspondente ao clube com mais praticantes (masculinos e femininos).
Sinal da cordialidade existente entre os dois clubes solicitei ao fotógrafo de serviço na cerimónia, que efectuasse um registo com Vasco Marques e eu próprio, imagem que foi divulgada na edição seguinte do Jornal do Barreiro.
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“– Lisboa é Portugal – gritou o outro. – Fora de Lisboa não há nada. O país está todo entre a Arcada e S. Bento!...” (Eça de Queirós, Os Maias, edição Círculo de Leitores).
O Portugal dos nossos dias, apesar do excessivo centralismo que ainda o caracteriza e penaliza, já não é o mesmo que o grande romancista nos retratou com tão reconhecido talento. No basquetebol e, felizmente, em tantos outros sectores, certamente mais importantes da vida do país. Há mesmo quem atribua ao Barreiro o epíteto de Capital do Basquetebol. De facto, o FCB no sector masculino e o Grupo Desportivo da Escola Secundária de Santo André (GDESSA) no basquetebol feminino, têm sido expoentes das boas práticas a que a modalidade pode aspirar. Com fortes escolas de formação, do Minibasket aos Juniores. E equipas seniores competitivas, com presença significativa de atletas oriundos dos escalões jovens dos respectivos clubes.
É fundamental que os clubes praticantes da modalidade no Barreiro tenham relações exemplares e se articulem – com o tecido empresarial e com a autarquia – de forma inteligente e consequente. Nos dois anos de mandato directivo, tive consciência dessa necessidade, mas a sua implementação sofreu, aqui e ali, obstáculos e incompreensões. No final do meu exercício directivo escrevi a Vasco Marques e também a António Fernandes, Director do Galitos FC:
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Caro Vasco Marques:
Consumada a eleição dos novos Órgãos Sociais do FC Barreirense e o meu abandono da sua Direcção, permita-me que saúde e lhe agradeça, em nome individual, a forma cordial, responsável e construtiva, como se pautou a relação entre a Secção de Basquetebol do Grupo Desportivo da Escola Secundária de Santo André e a Secção de Basquetebol do FC Barreirense, que procurei defender, servir e engrandecer, ao longo de exigentes quão estimulantes dois anos.
Muito ficou certamente por fazer, articular e implementar.
Espero e desejo sinceramente que as Secções de Basquetebol dos nossos clubes possam aprofundar os vínculos de colaboração e solidariedade, ao serviço do Basquetebol.
Com os meus cumprimentos,
Paulo Calhau
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Na época seguinte (2006/2007), o FCB voltou a receber tão relevante troféu, manifestação inequívoca da nossa força, sustentabilidade e coerência.
Derivado da expressão Biddy Basketball (tradução à letra: bola ao cesto para pintainhos) o Minibasket foi idealizado por Jay Archer, norte-americano nascido em 1912, Sranton - Pensilvânia. Nos finais da década de 50, após outras experiências, teve a ideia de baixar a altura das tabelas dos campos de basquetebol, fazendo uma adaptação das tabelas oficiais. Resolveu ainda reduzir as dimensões e o peso da bola.
Rapidamente divulgado nos Estados Unidos da América, Canadá e Porto Rico, o Minibasket chegou à Europa em 1961 (Espanha) e a Portugal (Moçambique, 1964 e Porto, 1966), devido à acção respectivamente de Cremildo Pereira e de Eduardo Nunes, campeão nacional pelo FCB. A partir de 1970 o Minibasket registou em Portugal um grande desenvolvimento a nível escolar e, posteriormente, foi implementado por um número crescente de clubes.
O FCB tem dedicado uma particular atenção à prática e desenvolvimento do Minibasket. Assumindo-se como Clube Formador, e indiscutivelmente como um dos mais relevantes do panorama basquetebolístico nacional. Com uma política desportiva assente na promoção e integração dos seus juniores mais qualificados na formação sénior, pode dizer-se que o sucesso dessa opção tem estado directamente ligado aos naturais ciclos de crescimento e desenvolvimento do Minibasket Barreirense.
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Revelação
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Em Abril de 2006 tive o prazer de acompanhar o Miguel Graça a Oliveira de Azeméis. O valoroso basquetebolista tivera, com apenas 19 anos, uma prestação altamente meritória na sua primeira temporada na Liga Profissional e, decorrente da sua eficácia, foi contemplado com o prémio Revelação.
Foi um dia bem agitado, cansativo mas igualmente feliz e gratificante. Apressei as tarefas hospitalares e, ao início da tarde, regressei ao Barreiro para recolher da mãe do Miguel Graça, calçado e indumentária mais consentânea com a importância da cerimónia prevista para essa noite. O Miguel estava próximo de Mira - Aveiro, em estágio da Selecção Nacional de sub-20, preparatório para o Campeonato da Europa - Divisão B, que viria a decorrer em Lisboa no mês de Julho, com a presença de mais três atletas Barreirenses, António Pires, David Gomes e João Santos. Depois de uma primeira etapa da viagem, cheguei ao local de estágio. Confirmada a autorização de Pires Antunes, responsável da delegação federativa, para uma ‘saída precária’ do Miguel, lá partimos rumo a Oliveira de Azeméis. Foi uma noite bem bonita para o nosso atleta. Sem vaidade, algo tímido até, mas não disfarçando natural alegria, o Miguel foi muito bem recebido por todos os colegas que iriam ser igualmente premiados, bem como pela generalidade dos dirigentes e treinadores presentes no Hotel Dighton. Jantámos em mesas diferentes. O Miguel com outros atletas. Eu, com dirigentes de diversos clubes da Liga de Clubes de Basquetebol. Foi um jantar que me desiludiu. Conversa desinteressante. Onde se falou muito de futebol, quase nada de basquetebol...
Concluído o repasto, foi tempo de discursos e da entrega dos prémios, da pose para as fotografias da praxe e das despedidas. O regresso adivinhava-se fisicamente exigente. Teríamos que regressar primeiro ao ‘Hotel da Selecção’. Para mim, faltariam ainda muitos quilómetros de estrada, já a madrugada se iniciava. Em Leiria, não resisti ao sono e ao cansaço. Na A1, decidi pernoitar num hotel na área de serviço respectiva. Poucas horas depois, voltei à estrada para comparecer no meu Serviço de Pediatria, como habitualmente, antes das oito e trinta da manhã.
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Com Mário Gomes e… Edson
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Foi a primeira Final Four em que estive presente, após ter concluído funções directivas. Na Capital do Móvel tivemos uma excelente prestação e alcançámos o 3º título nacional de Juniores A. Assisti aos jogos junto de Mário Gomes, que fora treinador da equipa sénior nessa temporada trabalhara com a quase totalidade dos atletas presentes em Paços de Ferreira.
Recordo quatro momentos dessa viagem: a emoção de um habitualmente mais contido Francisco Cabrita no final da prova; a deslocação de António Pires e Miguel Graça à bancada onde nos situávamos, para um abraço efusivo a Mário Gomes; a homenagem a Edson Fernandes, que David Gomes protagonizou com os seus colegas, no final da última e decisiva vitória; o jantar que tive num restaurante do Porto, com Francisco Cabrita, Mário Gomes e companheira, e que reforçou importantes laços de amizade.
Mantive posteriormente uma relação de proximidade com Mário Gomes, mesmo quando abraçou novo projecto profissional, ao serviço da Federação de Basquetebol da Jordânia. Nas vésperas do 25 de Abril de 2007 enviou-me um e-mail onde emergia alguma amargura e pessimismo pelo percurso decorrido após Abril de 1974. Para ele e outros amigos, escrevi a esse propósito um texto para Rostos, no dia 25 de Abril de 2007:
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Ainda e sempre!
“Portugal, o Estado, a administração pública e as grandes empresas privadas estão a mudar de pele. E talvez a sociedade. Mais uma vez. Ainda é difícil saber se para melhor ou pior. Ou se voltaremos em breve ao que éramos. Mas ninguém tenha dúvidas de que a operação está em curso. Mais Espanha. Mais concentração empresarial. Mais ligações perigosas entre o Estado e a empresa privada. Mais dependência das multinacionais. Menos dinheiros europeus. Mais emigração de portugueses para o estrangeiro. Mais controlo do governo sobre a sociedade. Mais vigilância sobre os cidadãos. Mais precariedade do trabalho. Mais saúde privada. Menos protecção social. Mais turismo de massas. Mais destruição dos centros históricos das cidades. Mais aviltamento do que resta do litoral. Menos urbanismo. Como sempre, ninguém conhece o resultado. Mas vale a pena estar atento ao caminho.” (António Barreto, Público de 22 de Abril de 2007).
Estas palavras do destacado sociólogo que semanalmente me oferece um olhar independente e lúcido da realidade portuguesa contemporânea foram publicadas a escassos três dias da celebração do 33º aniversário da Revolução de Abril.
Alguns, porventura mais precipitados, poderão ver nelas um desencanto desmedido com a evolução da Democracia e da Liberdade no Portugal que António Barreto tão bem ajudou a construir e a consolidar. Com muito amor pela justiça, pela lei, pelo bom-senso. E que lhe valeu ataques de tal forma indignos e soezes, e tentativas de enxovalho público do seu carácter, da responsabilidade de alguns profissionais da política – já então velha e decrépita, embora pretensamente igualitária e popular.
Também eu tenho como verdadeiras as palavras de António Barreto. Também eu tenho pena de alguns dos caminhos da nossa política. Também eu tenho nojo de alguns, demasiados, protagonistas da nossa classe política. Mas hoje, apetece-me sobretudo lembrar que o 25 de Abril me (nos) deu: mais Paz, mais Liberdade, mais Pão, mais Saúde, mais Educação. Acham coisa pouca e secundária?
Hoje, 25 de Abril, vou comemorar a Revolução dos Cravos. Com recato e de forma intimista. E vou lembrar Amigos, os antigos e os recentes, que hoje não poderei abraçar, de Leça da Palmeira a Amã.
Quero-te tanto, Abril!
Ainda e sempre!

[Conclusão do Capítulo III - Viagens na minha terra.
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)

sábado, novembro 29, 2008

Pelo SNS

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Apetece-me voltar a 3 de Fevereiro.
Dia em que escrevi em www.rostos.pt
na minha coluna AOS DOMINGOS TAMBÉM SE ESCREVE:
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Boa sorte Ana
Conheço bem a recém-empossada Ministra da Saúde do XVII Governo Constitucional, a minha amiga Ana Jorge.
Com o Professor Torrado da Silva e alguns outros pioneiros, fundámos, em Dezembro de 1991, o Serviço de Pediatria do Hospital Garcia de Orta. E fizémo-lo crescer, desenvolver-se, tornar-se um dos melhores Serviços de Pediatria do nosso país.
Depois da morte de Torrado da Silva, a Dra. Ana Jorge soube honrar a memória do nosso Mestre, assumindo a direcção do Serviço até à passada 3ª feira, com uma comissão intercalar de serviço (Janeiro de 1997 a Dezembro de 2000) na presidência da Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo. E o nosso Serviço manteve a matriz humanista, a qualidade assistencial, a vocação pedagógica, a democraticidade interna, aprendidas e desenvolvidas com e por Torrado da Silva.
É com tristeza que a vejo partir, para talvez não mais voltar. Mas é com renovada esperança que acredito na sua capacidade de reformar o Serviço Nacional de Saúde. Com competência, serenidade, inteligência e persuasão. Afinal, da forma como sempre desenvolveu a sua actividade cívica e profissional, numa carreira de mais de trinta anos de sucesso curricular e de devoção à causa pública.
Boa sorte, Ana.

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Depois do 8 de Março, quando esteve comigo no lançamento de "PROVA DeVIDA - estórias e memórias do meu Barreirense", não voltei a ver a minha amiga Ana Jorge.
Acredito que os dias não lhe têm sido fáceis. Foi preciso um novo estilo de governação. Prosseguir alguns caminhos. Reinventar outros.
Acabo de ler a sua entrevista de hoje ao Expresso. Honesta na assumpção das dificuldades. Genuína na demonstração das "angústias". Convicta na importância do diálogo e do esclarecimento.
Quero acreditar que o Serviço Nacional de Saúde não morrerá. E que nós - Ana Jorge incluída -, devotados servidores da causa pública, seremos melhor recompensados pelas nossas convicções, pela nossa persistência e pela nossa dedicação... exclusiva.
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É Novembro. Chove...


Guns N´Roses
November rain

Comunicação e Imagem

A Comissão Pró Pavilhão do Futebol Clube Barreirense, no âmbito da sua diversificada actividade, dedicará particular atenção à Comunicação e Imagem.

O renovado VOZ DO BARREIRO de 18 de Outubro destinou uma página à divulgação inicial do nosso projecto, tendo-se constituído como o primeiro órgão de comunicação social a ter uma atitude e uma disponibilidade que pretendemos ver estendida a muitos mais.
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Nos anos cinquenta do século passado o JORNAL DO BARREIRO, quase sempre pela pena do saudoso Alfredo Zarcos, foi um veículo fundamental na informação e mobilização dos Barreirenses para a construção do Ginásio-Sede.
Foram textos arrebatados, fervorosos. Com um estilo próprio. De extrema utilidade e enorme eficácia.
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Reconhecemos a importância da Comunicação e Imagem na transmissão da nossa mensagem, na mobilização dos nossos associados e adeptos, na demonstração da justeza e oportunidade dos nossos propósitos.
Sabemos que só assim poderemos chegar a sectores mais diversificados da opinião pública e das forças vivas do Concelho do Barreiro.
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Amanhã, 30 de Novembro, será lançado o Blogue da Comissão Pró Pavilhão do Futebol Clube Barreirense.
Publicaremos o novo Manifesto.
Divulgaremos o Regulamento aprovado na Assembleia-Geral Extraordinária de 30 de Setembro.
Falaremos da primeira reunião com a Câmara Municipal do Barreiro, decorrida no passado dia 11 de Novembro.
Abriremos espaço para comentários e sugestões.
Estimularemos a opinião de diversas personalidades ligadas ao Desporto, à Administração Central e Local, ao Mundo Empresarial.
Contamos consigo.


[DESPORTO À PORTUGUESA, www.rostos.pt]

sexta-feira, novembro 28, 2008

Memória Barreirense (XXVII)



Deixem passar o histórico

Penúltima jornada do Campeonato Nacional de Futebol da II Divisão - Série D. Com quatro pontos de vantagem, o FCB deslocou-se ao Pinhal Novo, procurando assegurar a subida à Divisão de Honra. Grande entusiasmo entre os nossos adeptos, que se deslocaram em número significativo. Tarde de sol e muito vento. Derrota por 3-0. Um piso sintético duro, o vento e o grande empenhamento dos Pinhalnovenses, adiaram a nossa festa, por uma semana. Assim pensei na altura. E bem! Como a generalidade dos Barreirenses presentes…
Seis dias depois, na tarde de sábado de 28 de Maio de 2005, o ‘Manuel de Mello’ viveu o último grande momento de triunfo e exaltação da sua longa e rica história. Mais de 5.000 adeptos rumaram ao nosso estádio e quase lotaram as suas bancadas. Grande ambiente. Confiança ilimitada. Como não se via há muitos anos.
Vitória tranquila, embora tangencial. Com o apito final, a explosão de alegria. Nas bancadas e no relvado, para onde convergiram algumas centenas de foliões. E no balneário Barreirense, onde me dirigi com o Ricardo e com Francisco Cabrita. Vimos muita alegria e algumas lágrimas estampadas naqueles rostos. Não faltaram o champanhe e os banhos da praxe. Cumprimentámos efusivamente Manuel Lopes, Paulo Pardana e Daúto Faquirá, o treinador responsável pelo sucesso.
A festa continuou cá fora, nas principais artérias da cidade. Na Avenida Alfredo da Silva, o trânsito foi parcialmente interrompido, algumas viaturas balançaram sob o efeito de braços mais atrevidos, as bandeiras agitaram-se e os slogans dos nossos adeptos ecoaram vibrantes e triunfais de gargantas já enrouquecidas. Tudo isto presenciei e partilhei com a alegria, a emoção e as lágrimas que nunca consigo conter nestes momentos.
“Deixem passar o histórico…” titulou A Bola no dia seguinte.
E o Jornal do Barreiro de 3 de Junho de 2005, pela mão de Nelson Pereira destacou: “Do sonho à realidade”.

Dois anos depois, a 11 de Abril de 2007, Daúto Faquirá foi o convidado de honra da cerimónia comemorativa do 96º aniversário. No final da sessão, voltei a cumprimentá-lo, na companhia de Francisco Cabrita. Evocámos, naturalmente, aquela tarde inolvidável de Maio de 2005.
Creio que os resultados obtidos no FCB, na sequência das suas anteriores experiências enquanto treinador de futebol e confirmado na época passada no primo-divisionário Estrela da Amadora, foram o corolário mais natural do trabalho de um profissional muito competente, sério e culto. Antevejo uma carreira de sucesso para Daúto Faquirá. Que assim seja!
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Ovos moles

A fase regular da Liga Profissional de Basquetebol aproximava-se do final. A esperança de apuramento para os playoff continuava intacta, mas para a concretização de tão importante objectivo, era fundamental vencer em Aveiro, frente a um adversário difícil, ainda que mergulhado numa profunda crise financeira.
Resolvi organizar, com a colaboração do Renato Covas, uma excursão à bonita cidade da ria. Preparei a divulgação da viagem, através de uma notícia que publiquei no site oficial www.fcbarreirense.pt e que, como sempre, enderecei a um vasto grupo de adeptos do Barreirense Basket, através de correio electrónico: a
Caro(a) Amigo(a):
É já no próximo sábado, 11 de Fevereiro, que a equipa sénior de basquetebol do FC Barreirense se desloca a Aveiro para defrontar o Aveiro Basket, em partida decisiva para o nosso apuramento para o playoff de atribuição do título de campeão 2005/2006 da Liga TMN. Conscientes da importância transcendente deste jogo, a Secção de Basquetebol organiza uma excursão à Cidade do Vouga, para que a nossa jovem equipa tenha o apoio e o calor humano dos nossos Adeptos.
Há quase um ano, aquando da eliminatória para a Taça de Portugal que nos apurou para a Final a 8, obtivemos uma importante vitória em Aveiro, numa noite fria de terça-feira (!). Ainda assim, a nossa equipa foi acompanhada por uma dúzia de adeptos que, com o seu contributo galvanizaram a equipa para a vitória, nomeadamente nos momentos finais da decisão da eliminatória. Desta vez, num dia de sábado, no conforto de um excelente autocarro, ao preço acessível de dez euros, após uma empolgante exibição frente ao Benfica e com perspectivas de apuramento para o playoff perfeitamente ao nosso alcance, julgamos criadas as condições para que esta iniciativa seja coroada de êxito.
Noutros tempos, algo distantes, mas ainda na memória de muitos, a realização de iniciativas equivalentes à que agora propomos, foi fundamental para o sucesso desportivo do Clube, para o reforço da identidade do Barreirense Basket e para a fraterna comunhão dos Adeptos.
A sua inscrição é importante! Colabora connosco na divulgação da excursão a Aveiro! Traz um(a) Amigo(a) também!
Toda a Esperança é legítima. Força Barreirense!
Paulo Calhau
(Director da Secção de Basquetebol do FC Barreirense)


Tivemos também a ideia de produzir um texto que os basquetebolistas e o restante grupo de trabalho imediatamente acederam assinar, em que se apelou à presença de um número maciço de adeptos, numa jornada tão importante para as nossas aspirações, e que foi igualmente publicado em
http://www.fcbarreirense.pt/ e lido no Campo D. Manuel de Mello, no intervalo do jogo de futebol que precedeu a jornada de Aveiro.

Carta Aberta aos Adeptos do Barreirense
Agora que a fase regular da Liga Profissional de Basquetebol se aproxima do final, estamos todos unidos e muito empenhados em alcançar um dos oito primeiros lugares da classificação para podermos ir aos playoff.
Na vitória sobre o Benfica, que felizmente passou na TV, sentimos grande apoio dos Adeptos Barreirenses e pensamos que assim deverá continuar até ao fim do campeonato, para atingirmos os nossos objectivos.
Por isso gostaríamos que de vos ver em força em todos os jogos a realizar em casa e fora, para que todos juntos possamos lutar e conseguir as vitórias de que necessitamos.
O próximo jogo será em Aveiro e sabemos que há um grupo que está a organizar uma excursão para ver a partida, apoiar-nos e, assim esperamos, comemorar a vitória pela qual lutaremos arduamente.
Juntem-se a nós neste momento tão importante e decisivo.
Força Barreirense!
A Equipa Sénior de Basquetebol do FC Barreirense
(17 assinaturas)

Apesar do esforço de mobilização, fomos apenas escassos doze os que comparecemos na manhã de sábado de 11 de Fevereiro de 2006, junto ao Ginásio-Sede. Levámos bandeiras, cachecóis e… muita esperança.
A viagem para Aveiro iniciou-se com boa disposição, ambiente alegre e descontraído. O almoço na Tasca do Confrade foi, como ali é regra, delicioso. Junto ao Pavilhão do Beira-Mar, nova ‘casa’ do Aveiro Basket, incumpridor das responsabilidades financeiras de utilização do bem mais agradável Pavilhão do Galitos, esperava-nos o amigo José Guerreiro com a sua esposa. Antigo atleta do FCB, a residir há muito em Oiã, manteve sempre, apesar da distância, um acompanhamento regular da vida do seu clube. E, fadista emérito, colaborou graciosamente nas duas Noites de Fado Barreirense, que organizei em 2005 e 2006.
O desafio decorreu de forma muito negativa. Uma lesão, com escassos três minutos de jogo, do internacional tunisino Slimene Radhouene – bom praticante que em Julho revi no Torneio Internacional Cidade de Elvas, preparatório da participação de Portugal no Campeonato da Europa – retirou-nos capacidade. E perdemos…
O regresso foi triste. Os objectivos desportivos não tinham sido alcançados. Logo à entrada da auto-estrada A25 a nossa camioneta avariou. E regressámos ao Barreiro, no veículo que transportava a equipa, que para o efeito nos recolheu, já a noite caíra. Por portas travessas reviveu-se um pouco da experiência passada quando, uma parte da lotação da camioneta de transporte da equipa se destinava a associados do FCB, o que para além do convívio e da familiaridade do contexto, propiciava alguma receita suplementar à Secção de Basquetebol. Outros tempos…
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[Excerto do Capítulo III - Viagens na minha terra
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)

quinta-feira, novembro 27, 2008

Reflexão e acção


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Confesso que não sei para que servem os gabinetes de estudo dos partidos políticos. E, embora, vendo-os do lado de fora, interrogo-me acerca da sua verdadeira utilidade.
Quando na oposição, parece ser uma preocupação de cada um deles potenciar a reflexão interna das políticas globais e sectoriais que virão (viriam) a aplicar em caso de triunfo eleitoral e de assumpção de responsabilidades governativas.
Mas, logo que chegados ao poder, as políticas implementadas parecem resultar mais da individualidade ministerial escolhida para cada área do que do “trabalho de casa” entretanto efectuado.
Os exemplos das políticas de saúde e de educação dos diversos ministros socialistas e social-democratas parecem-me paradigmáticos deste meu registo.

António José Seguro e Pedro Passos Coelho são apontados como candidatos à sucessão de José Sócrates e de Manuela Ferreira Leite. Hipóteses que as tendências pré-eleitorais ou os resultados pós-eleitorais poderão vir a tornar mais ou menos plausíveis.
Será que estas duas personalidades –­ curiosamente ex-lideres das organizações de juventude dos respectivos partidos ­– estão neste momento a amadurecer conceitos, a estudar dossiers e a planear estratégias governativas futuras?
Ou ­– talvez pré-candidatos à liderança do PS e do PSD – estão mais preocupados com a delimitação de espaços de influência, em incursões nos aparelhos partidários, em apostas na "rota da carne assada", em avanços ou recuos mais ou menos "tacticistas" na abordagem pública dos factos políticos que se vão sucedendo?

Portugal precisa de líderes políticos carismáticos – com um estilo de comunicação directo e claro – mas não pode dispensar, ou melhor dito, exige que se apresentem à opinião pública e ao eleitorado com uma perspectiva reflectida, séria, fundamentada, criativa e responsável do país que ambicionam dirigir.
Serão António José Seguro e Pedro Passos Coelho as personagens mais bem colocadas para a repetidamente prometida e sucessivamente adiada renovação da política em Portugal?
Talvez não falte muito para o sabermos.

quarta-feira, novembro 26, 2008

Memória Barreirense (XXVI)



Águas Santas

De 25 a 27 de Maio de 2001 estive em Águas Santas, arredores do Porto, para presenciar a Final Four de Juniores A (sub-20). Cheguei àquela localidade ao cair da noite de sexta-feira, cerca de meia hora antes do nosso primeiro jogo, contra o FC Porto (de Paulo Cunha e outros promissores executantes). Acontece que em Águas Santas existem três pavilhões desportivos, designados por Águas Santas I, II e III. E aí surgiu a primeira contrariedade. Só acertámos à terceira, e com muita dificuldade. Resultado: cheguei atrasado, já o segundo período se iniciara.
Curiosamente, tive outras experiências em que foi difícil obter por parte da população, informação simples e objectiva acerca da localização dos pavilhões locais. Recordo-me de um episódio curioso: na primeira vez que fui a Oliveira de Azeméis, interpelei um transeunte que, algo confuso e pouco preciso, me disse que o Pavilhão Dr. Salvador Machado, que tardávamos em localizar, ficava próximo da “casa das crianças”. Casa das crianças? Viemos então a descobrir que se queria referir a uma… escola secundária!
Em Águas Santas perdemos os três jogos (FC Porto, Benfica e Sangalhos) por escassas diferenças pontuais. Uma lesão no ombro esquerdo, limitou significativamente a prestação de Pedro Silva, um atleta preponderante na equipa dirigida por António Paulo Ferreira, treinador que nos quatro anos seguintes veio a sagrar-se, por outras tantas vezes, campeão nacional (sub-16, sub-18 e sub 20) e é presentemente o responsável principal da equipa sénior.
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Capitão não chora?

Na última década têm-se sucedido a um ritmo fabuloso as participações dos escalões de formação do FCB (sub-14, sub-16, sub-18 e sub-20) nas fases finais dos Campeonatos Nacionais de Basquetebol. Assisti a todas elas, à excepção das Final Four de sub-16 realizadas em Belmonte (2001/2002: campeões) e Macedo de Cavaleiros (2005/2006: vice-campeões).
Década de ouro do basquetebol Barreirense, em que as nossas equipas têm marcado presença assídua nas fases derradeiras e alcançaram até agora um número impressionante de títulos nacionais – quinze!
De 4 a 6 de Junho de 2004, FC Porto, Esgueira, Seixal e FCB lutaram em Oliveira de Frades pela conquista do título nacional de Juniores B (sub-18). Como sempre, muitos adeptos, treinadores, dirigentes, clínicos e demais colaboradores, acompanharam o FCB. E emprestaram voz e cor a um ambiente alegre, mas por vezes despropositadamente tenso e conflitual.
Melhor apetrechada, a nossa equipa totalizou três vitórias em outros tantos despiques, e sagrou-se campeã nacional. No final da derradeira partida, em que o FCB averbou uma vitória indiscutível sobre o FC Porto (89-77), abracei, emocionado, o capitão Luís Chucha que, contagiado pelos meus sentimentos, verteu também algumas lágrimas de alegria. O seu filho, Gonçalo Chucha, fora um dos grandes obreiros de uma vitória difícil mas merecida, perante três adversários muito dignos e qualificados. Em 28 de Setembro de 2006, no Fórum BasketPT, lembrei aquele episódio:

Para ti, Luís
Naquele início de tarde de domingo primaveril, quase Verão, abraçámo-nos e algumas lágrimas correram dos nossos olhos.
Acabáramos de ganhar mais um título nacional de sub-18.
Disseste, mais tarde, que nunca choras.
E, num momento de grande dor e tristeza da tua vida, pude constatá-lo, não sem alguma emoção.
Recordar este e outros momentos em que fomos Solidários, Fraternos e Amigos, faz-me abraçar a Vida com mais energia, conforto e alegria.
Abraço Capitão.

O Gonçalo Chucha veio a abandonar o FCB em Setembro de 2006 para ingressar no Galitos FC, equipa que disputou pela primeira vez, com assinalável êxito, a Proliga – o mais importante campeonato organizado pela Federação Portuguesa de Basquetebol. Sei que não foi uma decisão fácil. Depois de tantos anos ao serviço das nossas cores, com cinco títulos nacionais, o Gonçalo Chucha tinha legítimas esperanças de seguir um percurso mas afirmativo. Mas entendeu sair…
Seu amigo, da mãe Paula, e do pai Luís, com quem reforcei fraternos e solidários laços de companheirismo e amizade nos dois anos em que fui Director do FCB e um dos responsáveis pela Secção de Basquetebol, decidi transmitir a minha tristeza pelo seu abandono. No Fórum BasketPT escrevi, em 27 de Setembro de 2006:

Para o Gonçalo e Família
Há sempre o momento da partida

Reflectido...
(quase sempre bem)
Doloroso...

(às vezes)
Sofrido...
(com ou sem lágrimas)
Obrigado Gonçalo!
Barreirense 4ever!

A resposta da família Chucha, no mesmo local, foi pronta e emotiva:

“As pessoas grandes não querem chorar, e fazem mal, porque as lágrimas gelam dentro delas, e o coração fica duro.” (Maurice Druon, em O Menino do Dedo Verde).
Sempre apreciei a expressão “olhos marejados”. É, para mim, de uma beleza plástica incrível. Os olhos, as “janelas da alma”. E o mar, com seu ir e vir das ondas. Olhos marejados são assim. Lágrimas que pensam em deixar o conforto dos olhos, mas que se retraem como quem diz: “Ainda não é a hora” ou “Ainda não posso me despir”. A lágrima revela tudo. Insólita por natureza, carrega consigo dor, tristeza, alegria, emoção. A lágrima marejada contém-se em si mesma. Ela é suficiente para cobrir toda a superfície ocular. Faz os olhos brilharem, reflectindo a transparência da alma.
Os médicos aprendem a ser heróis sem coração. Heróis porque lutam contra a engenhosidade ardilosa da doença que busca refúgio nos recônditos da complexidade do corpo humano, procurando dificultar o trabalho de sua descoberta. É um jogo de caça, no qual o bem luta para triunfar enquanto o mal, uma vez instalado, dá-se por vitorioso desde o início, nada tendo a perder. Entretanto, por actuarem numa batalha tão desigual, muitas vezes patrocinada pela desestrutura, os médicos, esses heróis aprendem a dominar as suas emoções. Afinal, são tantos dias, dias após dias, horas e mais horas, enfrentando as adversidades, testemunhando a amargura velada ou silenciosa dos seus pacientes, acompanhando o desespero e, por vezes, o destempero de familiares – que transitam com as suas faces avermelhadas e os seus óculos escuros, e não em decorrência do esplendor do sol – que tudo aquilo se torna rotineiro. Cena do quotidiano, e as lágrimas secam. Não obstante, os céus, em sintonia, harmonia e deferência, também derramam as suas lágrimas, através da chuva que, misturada às lágrimas, anuncia a purificação, a renovação e a mensagem de que a vida segue.
Tu choras meu amigo, tu aprendes todos os dias a ser herói mas com coração, choras de alegria pelo nosso Barreirense, e eu é verdade… também choro, mas raramente choro sozinho, hoje após ler a tua prosa aqui em casa chorámos os três.
Um abraço Doutor

Ouvi, por diversas vezes, ex-atletas lamentarem-se pelo facto de, após desempenhos e contributos duradouros e significantes ao serviço do FCB, não terem os mesmos sido alvo de reconhecimento pelos dirigentes do clube.
Jorge Ramos foi um atleta que, por impossibilidade de conciliar a sua actividade profissional com a exigente disponibilidade requerida pelo basquetebol da Liga TMN, optou por abandonar o clube. Representou o FCB desde tenra idade com o máximo empenho, zelo e competência. Foram para si estas palavras que escrevi na secção “Bolas Soltas” da revista Barreirense Basket, nº 3, Janeiro de 2005:

Jorge Ramos, base-extremo de 27 anos e 1,85m, é um basquetebolista formado nas escolas do Barreirense, clube onde se formou como praticante e desenvolveu toda a sua carreira desportiva até à época transacta.
Tem sido um dos jogadores mais valiosos na magnífica prestação que o Galitos vem desempenhando no CNB2 (Zona Sul / A), traduzida no 1º lugar que esta equipa ocupa na classificação.
Barreirense Basket saúda o valoroso atleta e deseja-lhe um ano de 2005 repleto de sucesso pessoal e desportivo.

No ano seguinte, antes de se iniciar a temporada de 2005/2006, António Carrilho solicitou a libertação do seu vínculo ao FCB, para abraçar uma nova experiência desportiva, em representação do Basket Clube de Almada. Desejo a que eu, Francisco Cabrita e Rosário Pina, Directores da Secção de Basquetebol, acedemos sem qualquer contrapartida, embora lamentando a opção de saída.
Fora um atleta valoroso ao serviço do nosso clube. Entendi da maior justiça, com maior formalismo mas igual sinceridade que para o Jorge Ramos, dedicar-lhe as seguintes palavras, endereçadas por carta datada de 18 de Novembro de 2005:

Caro António Carrilho:
Foi com mágoa que, em Setembro último, tomámos conhecimento da sua intenção de abraçar o projecto de outro clube, na época 2005/2006.
Ao longo de todos estes anos, o António Carrilho serviu o Basquetebol do FC Barreirense com todo o Desportivismo, Dedicação, Competência, Fervor Clubista. O António Carrilho foi exemplo, pela sua Atitude e Inteligência, para colegas de equipa e atletas de escalões inferiores. O seu contributo para a obtenção de um número invejável de vitórias e títulos regionais e nacionais, bem como a representação das Selecções Nacionais, são marcas valiosas e inesquecíveis do seu percurso desportivo.
Sei que a sua decisão foi elaborada com toda a ponderação, procurando acautelar fundamentalmente a sua participação mais efectiva na competição, facto que poderá traduzir-se, estou certo, numa maior progressão e consolidação das suas imensas e reconhecidas qualidades.
Cessa, espero que transitoriamente, o seu vínculo competitivo com o nosso Clube, mas tenho a certeza que um dia próximo, o regresso será uma realidade. As portas desta Casa permanecerão sempre abertas para quem, de forma tão exemplar, dignificou as cores vermelha e branca das nossas camisolas.
Em nome de toda a Família Barreirense, desejo-lhe os maiores sucessos desportivos, escolares e pessoais e endereço-lhe os maiores agradecimentos e os melhores cumprimentos, extensivos a seus pais.
Paulo Calhau
(Director da Secção de Basquetebol do Futebol Clube Barreirense)

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[Excerto do Capítulo III - Viagens na minha terra
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)

terça-feira, novembro 25, 2008

Também eu sonhei...


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Retrato implacável. De Pedro Rosa Mendes. No Público. Hoje.
Num ensaio porventura inesperado. Talvez demasiado cruel. Mas com toda a certeza pleno de verdade. De oportunidade.
"Timor-Leste - A ilha insustentável".
"Este é um retrato implacável de uma realidade que não podemos continuar a fingir que não existe. Estas são algumas das verdades, duras como punhos, sobre um país que sonhou ser diferente - e nos fez também sonhar".
Dói (ler). Esmaga. Revolta.

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Melancolia


Perry Blake (Álbum California, 2002)
Dizem ter influências de Leonard Cohen, David Sylvian, Scott Walker e Nick Drake.
A doçura e a melancolia. Da Irlanda.

segunda-feira, novembro 24, 2008

Memória Barreirense (XXV)


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Por um se ganha…

No ano da segunda participação do FCB na Liga Profissional de Basquetebol, o Leiria Basket aderira à mais importante prova do basquetebol nacional. Sem um pavilhão local devidamente apetrechado para cumprir os requisitos impostos pela Liga de Clubes de Basquetebol, a equipa sedeada na cidade do Liz optou por realizar os seus jogos na qualidade de visitada na Nazaré. Terra com tradição piscatória e turística. Mas sem qualquer passado ou presente relacionado com o basquetebol.
Foi num pavilhão moderno e funcional, mas desoladoramente despido de público que, na tarde fria de 10 de Novembro de 2001, presenciei o Leiria Basket-FCB, jornada sete da 7ª edição da Liga TMN. Empertigado pela entrada do novo treinador João Moutinho, o Leiria Basket com três atletas ex-FC Porto (Rui Santos, Raul Santos e João Rocha) e um poste norte-americano poderoso na luta das tabelas (Allen Ledbetter), vendeu cara a derrota perante a nossa equipa, claramente melhor apetrechada. Foi nos segundos finais que o FCB obteve a vitória, por margem tangencial, que em basquetebol é sempre dramática para quem perde e vibrantemente comemorada por quem a alcança.
Coincidente com o apito final, vejo Alexey Carvalho estendido e inerte no solo. Pensei na altura que se tivesse lesionado, com gravidade. Como estava na primeira fila da bancada, ao nível do recinto de jogo e sem qualquer limitação de acesso, corri a socorrer o atleta brasileiro. Puro engano! Alexey não estava lesionado. Simplesmente emocionado pela vitória que ajudara a conquistar. Ao percebê-lo, abracei-o e disse: “Foi à Barreirense!”.

O projecto Leiria Basket teve vida efémera. Como antes e depois sucedeu com outros mais: Montijo Basket, Gaia, Santarém Basket e Aveiro Basket. Pouca consistência, planeamento ineficaz, aventureirismo, escassez de recursos humanos e de massa crítica, foram factores determinantes para o insucesso daqueles clubes.
No presente, pode com toda a propriedade falar-se de uma crise no desporto profissional em Portugal. Não uma crise de crescimento, mas pelo contrário de definhamento. De abandonos sucessivos. De que o exemplo mais recente, grave e ridículo, foi a deserção do Benfica – primeiro classificado no ranking nacional da modalidade – da Liga Profissional. E que se junta a outros, também recentes, de clubes com resultados assinaláveis: Portugal Telecom, Seixal, Oliveirense e Queluz.
Em ano de participação, surpreendentemente positiva, no Campeonato da Europa – que acompanhei na primeira fase, disputada em Sevilha de 3 a 5 de Setembro de 2007 –, o futuro próximo do basquetebol profissional português parece, paradoxalmente, muito nebuloso. Exige-se ponderação, realismo, bom-senso e diálogo entre os diversos agentes e responsáveis da modalidade. Ainda não é tarde…
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E… por um se perde

Playoff de apuramento do título de campeão da Liga TMN 2003/2004. Queluz, 4 de Maio de 2004. Quinto e decisivo jogo dos quartos-de-final. Cerca de três centenas de adeptos Barreirenses deslocaram-se ao Pavilhão Henrique Miranda. Na bancada, António Pires, atleta internacional, ex-base da equipa sénior, estudante de medicina, e à época atleta da equipa de sub-18, liderou uma claque ruidosa, alegre e disciplinada. Os cânticos ‘alvi-rubros’ ecoaram pelo recinto – antes, durante e no final do desafio.
José Luís Damas substituíra no início da temporada o histórico Francisco Cabrita, técnico principal ao longo de dez temporadas. João Betinho Gomes cumpria a sua primeira época sénior e Miguel Minhava estava em pleno processo evolutivo e de afirmação na alta competição. Os norte-americanos Tiray Pearson e Ronnie McCollum, revelavam-se excelentes praticantes e profissionais, bem acompanhados pelos utilitários Dusan Macura (sérvio) e Juan Farina (espanhol).
Última posse de bola no desafio. Pertença do Queluz. Escassos sete segundos para jogar. Vantagem de dois pontos para o FCB. Rápida transição do base Armando Costa e triplo mortífero de Francisco Rodrigues. Desespero nas nossas hostes. Consternação, desalento, raiva. Um sonho lindo que se desvaneceu em vorazes segundos. Lágrimas em alguns olhos. Vi, pela primeira vez, Edson Silva chorar.

Um ano depois, fomos nós que chorámos por Edson Silva, secretário técnico do basquetebol do FCB.
De férias, junto às margens do Douro, fui informado do súbito internamento do Edson e da necessidade de realização de um cateterismo cardíaco urgente no Hospital Garcia de Orta. O exame correu bem, Edson regressou ao Hospital de Nossa Senhora do Rosário, na sua terra adoptiva, e teve alta pouco depois. No dia de regresso de férias, junto à área de serviço de Antuã, recebo um SMS de António Libório, então colaborador da Secção e actual responsável máximo do Barreirense Basket, anunciando a morte do nosso amigo e companheiro.
Edson foi justamente lembrado e homenageado na Gala de Apresentação da temporada 2005/2006. E nas Final Four de sub-20 que disputámos e vencemos em 2006 e 2007, respectivamente em Paços de Ferreira e no Barreiro, o Edson esteve presente no momento da consagração, com uma shirt branca com a sua imagem impressa, rodeado em silêncio por todos os membros da equipa.
Na Barreirense Basket de Março de 2006 (Ano II - Nº1) dediquei-lhe o seguinte texto:

Até Sempre, Edson!
O Barreirense ficou mais pobre!
Há aproximadamente seis meses, o 24 de Agosto de 2005 foi para todos nós, Barreirenses em particular, um dia de tristeza e luto, pelo desaparecimento inesperado, doloroso e brutal, de um nossos membros mais devotados, sérios e lutadores.
Edson Silva, antigo atleta e treinador de basquetebol, desempenhava desde há alguns anos a tarefa, estimulante mas exigente, de secretário administrativo da Secção de Basquetebol do FC Barreirense. Responsável por essa importante área do basquetebol profissional do clube, o Edson foi, desde a nossa admissão na Liga de Clubes de Basquetebol em 2000, um elemento fundamental no projecto de afirmação e relançamento da modalidade no clube. A competência, dedicação, simplicidade e honestidade que revelou em todos os momentos, granjearam-lhe enorme simpatia e consideração entre os seus companheiros e amigos Barreirenses, mas também por todos os diversos sectores e entidades da modalidade.
O elevado número de mensagens de condolências chegadas ao FC Barreirense e a presença de muitas centenas de familiares e amigos nas cerimónias fúnebres, desenroladas na Capela da Misericórdia e no Cemitério da Vila Chã, foram o testemunho inequívoco do pesar que a sua morte representou.
O Edson deixou-nos na juventude e pujança dos seus 40 anos, quando se perspectivava o reinício de mais uma época competitiva, onde voltaria a desempenhar as suas relevantes funções com redobrada energia, alegria e desportivismo.
O FC Barreirense renova à família enlutada as mais sentidas condolências, acompanhando-a na dor de ver partir tão repentina e precocemente o nosso companheiro de todos os dias.
Obrigado Edson!
Até sempre, Edson!

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Regresso à Ilha

Regressei à Ilha da Madeira em finais de Setembro de 2002, desta feita para apoiar a equipa de basquetebol. Desde a entrada na Liga Profissional que vinha acompanhando, com o meu filho Ricardo, a quase totalidade dos jogos do FCB pelo continente. Resolvemos viajar à ilha colonizada a partir de 1419 por João Gonçalves Zarco e outros navegadores.
No final da tarde de dia 26 (sexta-feira, antevéspera do jogo com o CAB Madeira), chegámos ao novo e moderno Aeroporto do Funchal, interessante e complexa obra pública de engenharia. Chuva copiosa, quase torrencial, acompanhou-nos no percurso até ao hotel, onde uma acolhedora piscina coberta permitiu um agradável e relaxante banho. Normalizado o clima, partimos no dia seguinte à conquista da Madeira. O regresso a Porto Moniz, ao Machico e a outros locais mais anódinos, mas muito belos, constituiu uma antecâmara agradável para um domingo de sucesso.
Foi, com efeito, uma grande vitória. Num pavilhão simpático, mas modesto, perante escassas dezenas de espectadores, eu e o Ricardo fomos os únicos adeptos que acompanharam a comitiva Barreirense. Sentados na primeira fila da bancada, dispersámos uma bandeira do FCB no espaço contíguo, o que pareceu surpreender alguns adeptos do CAB. Apesar do início menos conseguido, com um primeiro período em que a diferença negativa para as nossas cores se cifrou em nove pontos, o FCB recompôs-se e terá beneficiado de algum excesso de confiança da equipa treinada por Jorge Fernandes que, apetrechada com dois norte-americanos, dois jugoslavos e dois espanhóis, parecia teoricamente mais apta para alcançar a vitória. Foi uma segunda parte demolidora do FCB, com destaque para as prestações de Jorge Ramos, Miguel Minhava, Gerson Monteiro, David Kruse, Darius Dimavicius e Ian Stanback. No final, um justo triunfo (91-97) deu azo a momentos de grande alegria. De forma simpática, José Manuel Tenório, responsável pelo basquetebol sénior, chamou-nos para, com todo o grupo, saudar a vitória e gritar em uníssono “Barreirense!”.
A visita à ilha demonstrara-me, mais uma vez, uma pujança e uma imagem de progresso, que apesar de alicerçada num responsável político com um perfil muito peculiar e uma concepção muito discutível de exercício de poder e de (des)respeito pela democracia, não deixou de me surpreender pela positiva.
Regressámos ao continente na noite de domingo. A concentração de equipas das modalidades mais diversas emprestou ao Aeroporto do Funchal um cunho particular e colorido, com rostos mais ou felizes. Nós, vencedores, viemos radiantes!
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[Excerto do Capítulo III - Viagens na minha terra
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)

sábado, novembro 22, 2008

Só faltava mais esta


Parece que anda por aí alguma censura na comunicação social.
Porquê?
Até quando?
A mando de quem?

Um apelo. Um desafio









No exterior de uma renomada loja de material de desporto do recém-inaugurado Fórum Barreiro, pode avistar-se uma interessante e apelativa reprodução de uma das equipas de basquetebol sénior do Barreirense que alcançou uma Taça de Portugal. Em pé, no extremo direito dessa imagem, está o antigo dirigente Chico Zé.
Conheci o Chico Zé pessoalmente, mas de forma muito superficial. E, apesar de à época acompanhar regularmente as prestações das equipas do Barreirense, não estava por dentro da realidade da Secção de Basquetebol, nem dedicava particular interesse ou importância aos méritos e às aptidões dos dirigentes que se sucediam na enorme e difícil responsabilidade de manter bem alto a tradição e a qualidade da modalidade no clube.
Mas habituei-me a ouvir de diversas proveniências a informação de que o Chico Zé foi um grande dirigente, com uma invulgar dedicação e empenhamento. Ouvi por várias vezes o Arqº Carlos Pires afirmar que o Chico Zé não perdia um momento, uma oportunidade, para “vender” a marca Barreirense, somar um parceiro ou patrocinador publicitário, atrair mais um adepto para uma ajuda individual.

Dirigentes com aquela têmpera e convicção não abundam. E, eu, que assumi funções directivas durante “apenas” dois anos, sei bem a exigência e a responsabilidade necessárias, o esforço e o sacrifício solicitados, as alegrias mas também as desilusões acumuladas.
Felizmente que antes e depois de Chico Zé houve sempre um punhado de homens que manteve acesa a chama do basquetebol no Barreirense.
Foi assim que milhares de jovens, ao longo de tantos e tantos anos, usufruíram da possibilidade de praticar uma modalidade histórica do Barreiro, fortaleceram laços de amizade com companheiros, treinadores, seccionistas e outros membros, cresceram como cidadãos e adquiriram indispensáveis e salutares hábitos de conduta, solidariedade, disciplina.
Muitos deles são hoje pais, alguns avós, encarregados de educação, educadores. Reconhecem, porventura, justeza nas minhas palavras.
Na última década, a vertente competitiva do basquetebol no Barreirense adquiriu alguns contornos particulares, com o recrutamento de jovens oriundos de outros concelhos (e mesmo de África). Com manifesta melhoria dos resultados desportivos – quase vinte títulos nacionais alcançados neste período. Esta realidade estimulou a difusão e a atractividade da modalidade pelo tecido escolar do concelho, sem coarctar de forma excessiva a afirmação competitiva dos jovens naturais do Barreiro.

Hoje, o espaço disponível para a aprendizagem, o treino e a competição do basquetebol de formação no Barreirense é claramente limitado e deficitário, claramente desproporcionado às necessidades. Disperso pelo “velho” Ginásio-Sede e por ginásios ou pavilhões escolares com apetrechamentos nem sempre adequados às exigências.
A construção de um Pavilhão Desportivo Polivalente, propriedade do Barreirense, permitirá colmatar estas dificuldades. Será então possível proporcionar condições mais adequadas a um número ainda maior de “Bambis” e jovens do “Minibasket”. E os atletas dos escalões competitivos – “sub-14” a “sub-20” – beneficiarão da possibilidade de disporem de um espaço único para treino e competição e com maior número de horas semanais de exercício da modalidade.
Os pais – de hoje e de ontem – conhecem esta realidade.
É para Eles que hoje me dirijo. Dêem a vossa opinião, manifestem que estão solidários na nossa ambição, juntem-se a nós com ideias, propostas, contributos. E, se for caso disso, contradigam-nos, polemizem, exerçam a saudável e estimulante prática do contraditório. Neste e noutros espaços comunicacionais. Mas não fiquem calados. Por favor…


[DESPORTO À PORTUGUESA, www.rostos.pt]