quinta-feira, junho 11, 2009

De Bénard a Barreto. Eu quero abraçar


.
João Bénard da Costa, recentemente falecido, foi um intelectual de enorme qualidade e prestígio.
Os discursos que, em anos sucessivos, proferiu nas comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, foram sempre marcados por uma invulgar qualidade literária e por uma indiscutível profundidade conceptual.
.
Ontem, na Santarém de Salgueiro Maia, um outro destacado intelectual, por quem não me canso de explicitar um respeito e admiração imensos, foi parcialmente diferente do seu antecessor.
António Barreto foi igualmente inteligente. Mas distinto na forma e no conteúdo. E claramente mais directo e... eficaz.
Três excertos do seu magnífico discurso ilustram na perfeição o que acabo de exprimir:
.
«Fizemos a democracia, mas não somos capazes de organizar a justiça. Alargámos a educação, mas ainda não soubemos dar uma boa instrução. Fizemos bem e mal. Soubemos abandonar a mitologia absurda do país excepcional, único, a fim de nos transformarmos num país como os outros. Mas que é o nosso. Por isso, temos de nos ocupar dele. Para que não sejam outros a fazê-lo»
..
«Pela justiça e pela tolerância, os portugueses precisam mais de exemplo do que de lições morais.
Pela honestidade e contra a corrupção, os portugueses necessitam de exemplo, bem mais do que de sermões.
Pela eficácia, pela pontualidade, pelo atendimento público e pela civilidade dos costumes, os portugueses serão mais sensíveis ao exemplo do que à ameaça ou ao desprezo.
Pela liberdade e pelo respeito devido aos outros, os portugueses aprenderão mais com o exemplo do que com declarações solenes»
..
«Mais do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo dos seus maiores e dos seus melhores. O exemplo dos seus heróis, mas também dos seus dirigentes. Dos afortunados, cujas responsabilidades deveriam ultrapassar os limites da sua fortuna. Dos sabedores, cuja primeira preocupação deveria ser a de divulgar o seu saber. Dos poderosos, que deveriam olhar mais para quem lhes deu o poder. Dos que têm mais responsabilidades, cujo "ethos" deveria ser o de servir»
.
O Público destacou a prestação de do orador na sua edição de hoje :
.
«Mais do que um discurso, a intervenção de António Barreto no 10 de Junho foi um repto à consciência dos portugueses, um retrato dos muitos males que, apesar dos progresso, ainda afectam o país e as suas estruturas.
Vários dos "acusados" estavam presentes, outros em casa, alheios ou atentos.
Ele pediu a cultura do exemplo.
Quem a abraçará?»
.
Eu quero abraçar.
.