segunda-feira, junho 08, 2009

Governabilidade

Os resultados apurados nas eleições de ontem foram claramente influenciados por um previsível, elevado, lamentável e preocupante nível de abstenção.
Parece medianamente claro que terão sido os partidos do centro político - PSD e PS, talvez mais este último - os principais visados pela "preguiça" demonstrada por tantos portugueses e portuguesas.
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Nas legislativas de Outubro a "viagem às urnas" será certamente mais participada, apesar do crescente desencanto que muitos cidadãos eleitores vêem demonstrando pela (in)eficácia e pela (in)competência - técnica, política, ética - de boa parte da classe política que nos tem caído em sorte.
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Não sei quem será o partido mais votado nas próximas eleições legislativas, mas tenho como muito provável que PS + PSD se aproximarão de 70% dos votos expressos.
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Não acredito que o PS - caso seja o partido mais sufragado, o que não é todo improvável - tenha condições para qualquer coligação pós-eleitoral de incidência governativa com o BE ou o PCP/CDU.
E não creio que um entendimento de índole exclusivamente parlamentar a 12-18 meses com qualquer um daqueles dois partidos (nomeadamente para aprovação do Orçamento de Estado) se constitua como um mal menor.
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Pelo contrário, admito que uma coligação pós-eleitoral PSD-CDS/PP seria a solução politicamente mais consistente em termos de coesão e estabilidade governativa, numa perspectiva de um governo para uma legislatura.
Mas duvido que os dois partidos, venham a obter uma maioria parlamentar, caso concorram separados - a única solução esboçada, pelo menos de momento.
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Resta a hipótese “bloco central”.
Apesar da gravidade da situação económica e financeira, julgo muito difícil que aquele desenlace tenha “pés para andar”.
A deterioração de relações pessoais e políticas entre os actuais líderes (mas não só) do PS e PSD não augura qualquer possibilidade de entendimento sustentado.
Esse poderá ser, em minha opinião, o principal obstáculo a uma hipótese teórica que a complexidade da conjuntura política e um não desprezável risco de ingovernabilidade poderão vir a dar peso acrescido.
Seria preciso encontrar então novos protagonistas que corporizassem uma solução político-governamental que já fez história há mais de 20 anos, em circunstâncias então (como no final de 2009?) excepcionais.
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