A entrevista concedida ao jornal semmais pelo meu amigo Sousa Marques - presidente da Associação de Futebol de Setúbal - revelou-se interessante embora, como acontece quando as redacções pretendem "meter o Rossio na Betesga", tenha sido aqui e ali necessariamente sucinta e infelizmente superficial.
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Mereceu-me particular curiosidade o facto de Sousa Marques ter chamado a atenção para o facto do
ex(?)-jogador Luís Figo não apresentar as condições necessárias e suficientes para assumir, no curto prazo, o lugar de presidente da Federação Portuguesa de Futebol.
Disse ele: «O Figo foi um excelente jogador. No entanto, penso que seria prematuro pegar no Figo e colocá-lo à frente da Federação porque é uma tarefa que requer um tipo de valências que não são só técnicas, tácticas ou físicas. Se o Figo estiver disponível para tal até poderá ser um bom dirigente, mas terá de passar por outras fases de crescimento em termos do dirigismo desportivo. Em vez de presidente pode antes, face ao prestígio internacional que tem, integrar um futuro elenco da Federação. Daí a ser presidente, acho que ainda é cedo».
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Parecem-me de todo verdadeiras, sensatas e oportunas estas ideias expressas pelo Sousa Marques.
Utilizando uma linguagem desportivo-ciclística há que lembrar que os portugueses são bons trepadores, alcançando demasiadas vezes lugares e destaques que o curriculum não explica, a capacidade não alcança, a esperteza e o oportunismo não justificam.
Não vale a pena esgrimir argumentos ou apresentar exemplos retirados de outras experiências. E, neste exemplo de Luís Figo, trazer à colação o caso de Michel Platini.
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Enquanto estruturava este post dei comigo a pensar: mas tu, Paulo Calhau, também foste director do Barreirense e da Secção de Basquetebol, sem teres passado previamente por qualquer outro lugar de menor grau de exigência (não de responsabilidade ou de dificuldade). É verdade. E tenho consciência de que alguns erros (mas também alguns sucessos) podem ter resultado dessa circunstância.
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Ainda recordo que algum tempo antes (talvez 2003), no intervalo de um jogo no "Luís de Carvalho", o meu amigo Pimentel disse numa roda de amigos barreirenses: «Aqui o doutor [referia-se à minha pessoa] é que dava um bom director». A meu lado, o Zé António - astuto e experimentado por muitos anos no terreno - rematou, ou dito mais apropriadamente, lançou de imediato: «director não digo, mas um bom seccionista...».
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Nos anos seguintes, muitas vezes estas palavras me vieram ao consciente. Fizeram-me sentido nalguns momentos. Tentei desmenti-las noutras circunstâncias.
A verdade, que muitos rapidamente pretenderam então ignorar, é que em 2004, numa crise gravíssima do Barreirense Basket, foram bastantes os que se dispuseram a "palpitar", alguns os que se prontificaram a ajudar, mas poucos os disponíveis para assumir as mais altas responsabilidades.
O que não deverá brevemente acontecer com a presidência da Federação Portuguesa de Futebol. Tantos serão os candidatos a... candidatos. Uns melhores. Outros piores.
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