domingo, outubro 19, 2008

Inépcia e...



Portugal não derrotou a Albânia. E comprometeu as aspirações − legítimas − de estar presente na África do Sul, em 2010.
Os adeptos portugueses ficaram tristes. Mas acredito que a tristeza maior ficou com a equipa técnica nacional. E com os atletas que integraram a convocatória.
Li e ouvi que houve displicência dos jogadores. Não me pareceu. Houve, isso sim, muita inépcia. E alguma infelicidade.
Inépcia pelas oportunidades de golo que se desperdiçaram − poucas, mas flagrantes. Inépcia pelas opções técnicas e tácticas de Carlos Queiroz − muito discutíveis e com os resultados que estão à vista.
Infelicidade pela bola que caprichou em não ultrapassar a linha de golo − por um poste malandro, um ressalto caprichoso, um penalty não assinalado.

Portugal não tem hoje uma grande Selecção Nacional. Porque não dispõe de um defesa-lateral esquerdo ofensivo. Porque está carente − à excepção de Deco − de médios criativos talentosos. Porque não dispõe de um avançado-centro goleador. E, sobretudo, porque é um grupo de jogadores com alguma sobranceria em fases críticas do jogo e com pouco sentido colectivo. Carlos Queiroz terá, neste particular, culpas e responsabilidades acrescidas.

Portugal está a pagar − e assim vai continuar a acontecer − um preço, caro e justo, pela invasão de jogadores não-nacionais que chegaram à generalidade das equipas portuguesas.
A liberdade de circulação dos futebolistas tudo permite. Mas as consequências aí estão. Evidentes. Gravosas. Irremediáveis.
Já o disse noutros momentos. E reafirmo hoje, uma vez mais.

A TVI é a actual detentora dos direitos televisivos relativos à transmissão em sinal aberto dos jogos da nossa selecção.
Prestou, uma vez mais, um mau serviço. O relator de serviço na noite de quarta-feira é recorrente na forma inconsistente, contraditória e preconceituosa como analisa (?) o jogo. Deturpa factos e contextos. Privilegia a maledicência. Protege alguns atletas e persegue outros. É prepotente. É injusto. É incompetente.

Carlos Queiroz não prestou declarações à TVI no flash interview. As explicações oficiais não me pareceram convincentes. Mas compreendam o meu desabafo: nessa noite, a estação do Grupo Prisa mereceu isso e… muito mais.
Na conferência de imprensa, o técnico nacional pareceu dar razão ao que aqui já escrevi a propósito das intervenções públicas de muitos treinadores portugueses. Defesa do indefensável, deturpação de factos, explicações inconsistentes. Expressões do género “podíamos estar aqui o resto da noite que não marcaríamos” não são dignas de um alto responsável, experiente e culto.
Querem um exemplo de sinal contrário? Atentem as declarações de Daúto Faquirá − actual treinador do Vitória de Setúbal.

A imprensa desportiva portuguesa não é melhor nem pior que a restante imprensa. O que significa que tem algum défice de qualidade.
A imprensa desportiva portuguesa não é isenta nem independente. É parcial. Alinhada. Serve grupos e lobbies. Não é corajosa. O que significa que não serve os superiores interesses do futebol.
A imprensa desportiva portuguesa é “futeboleira”. Mas nem o futebol defende com propriedade. O que significa que é redutora e incapaz.

O público presente no Estádio Cidade de Braga esteve com a Selecção. Apoiou-a em diversos momentos do jogo. Incentivou-a. Com Ela quis chegar à vitória. Para comemorar. Para celebrar.
O público presente no Estádio Cidade de Braga saiu desiludido. Como a generalidade dos portugueses. Mas foi resistindo − quanto foi capaz − aos assobios e aos impropérios. O relator da TVI bem quis fazer sangue e influenciar a percepção dos tele-espectadores. Mas parece que teve poucos seguidores no palco da Cidade dos Arcebispos.

Não chegar à África do Sul afigura-se agora como mais plausível. O que a concretizar-se – e eu desejo muito que não − constituirá um lamentável revés para a história recente do futebol português.
Com mais sagacidade e melhores escolhas de Carlos Queiroz, com mais colectivismo, com Deco e Cristiano Ronaldo ao seu melhor nível, com mais fortuna e árbitros mais cumpridores das leis do jogo, o “milagre” ainda é possível.
Mas será muito difícil. Improvável − digo eu.

[DESPORTO À PORTUGUESA,
www.rostos.pt]