terça-feira, outubro 14, 2008

Irresponsáveis à solta


A notícia não me surpreendeu em absoluto. Mas inquietou-me. Uma vez mais.
O jornal A BOLA publicou nas páginas interiores da sua edição de domingo último, um texto em que voltou à carga sobre a gravíssima crise financeira do Boavista Futebol Clube ­- agremiação desportiva centenária -­ e a sua S.A.D. para o futebol.
A ruinosa e ao que parece pouco transparente gestão financeira da família Loureiro, se por um lado alcandorou o Boavista a um patamar elevado do futebol português ­ culminada na obtenção do título nacional máximo na época 2000/2001 conduziu por outro à situação actual de penúria e (quase?) bancarrota.
A política desregrada de contratações e os encargos decorrentes da construção do novo Estádio do Bessa ter-se-ão constituído como os principais factores precipitantes da declaração pública de um crise de há muito prenunciada.
O Boavista foi, claramente, um clube em que o passo foi enorme para a dimensão da perna. Que está hoje mergulhado num mar de dívidas e numa imensidão de compromissos não saldados. O que lhe retira credibilidade e, quiçá, futuro.
Esta não é, como todos sabemos, uma realidade exclusiva do clube nortenho. Mas antes, e infelizmente, um exemplo entre muitos outros. Que já conduziu a valentes trambolhões. E que poderá resultar em muitos mais.
Existe neste momento um grupo alargado de clubes desportivos com a corda ao pescoço. Situação que o actual contexto financeiro ­ nacional e internacional ­ não parece ajudar em nada. Até porque a dimensão da crise se julga brutal, e a desejável recuperação de horizonte temporal incerto.
O que é “estranho” no artigo de A BOLA não é a referência à crise do Boavista, mas a forma como os actuais administradores da Boavista Futebol S.A.D. disponibilizaram 1.500 euros à claque Panteras Negras, para a apoio da equipa sénior em duas deslocações ao Algarve ­ Olhão e Portimão. O que acontece num momento de grande dramatismo para vários funcionários do clube, que têm vários meses de salários por vencer e outras remunerações por receber. Trabalhadores que vivem o presente com extremas dificuldades, beneficiando de apoios caridosos de familiares e amigos. E que denunciaram esta e outras incongruências e afrontas sob a capa de um inevitável anonimato.
Escandaloso ­- pensarão uns. Imoral -­ dirão outros. Todos têm razão.
É, de facto, escandaloso e imoral. E elucidativo da falta de qualificação de muitos dirigentes desportivos, mais interessados na sua auto-promoção individual e ­ suspeita-se ­ na obtenção de vantagens materiais de proveniência mais ou menos nebulosa. Parecem um bando de loucos e de irresponsáveis. À solta. Até quando?
[DESPORTO À PORTUGUESA, www.rostos.pt]