quinta-feira, outubro 16, 2008

Memória Barreirense (VIII)



Reflexão e participação

Foi nos últimos anos que tive uma participação pública mais activa em defesa dos interesses do FCB. Sem vontade de protagonismos individuais. Mas também sem falsa modéstia, que é por vezes, como alguém já definiu, uma forma superior de vaidade.
A experiência directiva de 2004-2006, a intervenção mais frequente nas Assembleias-Gerais, a publicação de textos de opinião no Jornal do Barreiro e em Rostos, são exemplos da minha disponibilidade para participar na reflexão e na busca de soluções para um conjunto questões que me preocupam. Para as quais julgo importante a participação de todos, em particular dos que representam a massa crítica mais destacada do universo associativo Barreirense.
O basquetebol dito profissional vive mergulhado numa crise claríssima, que alguns pretendem negligenciar e escamotear. A disputa em 2006 no interior da Liga de Clubes de Basquetebol, prosseguida e agravada em 2007 com o abandono do Benfica e do Queluz e com a expansão da conflitualidade às relações da Liga com a Federação Portuguesa de Basquetebol, são exemplos da necessidade imperiosa de reflectir sobre o desporto em geral e o basquetebol em particular.
Reflexão que se deseja consistente, frontal e séria, mas que por vezes tem de ser dura, sem parcimónia e sem tibiezas. Como fiz no Verão de 2006, no Fórum BasketPT:

Vitórias morais
A derrota da proposta apresentada pelo Barreirense há cerca de 24 horas na reunião da LCB [onde se preconizou a redução do número de atletas estrangeiros por equipa] não foi surpreendente para todos aqueles que acompanham a modalidade com alguma proximidade.
A redução do número de atletas não-nacionais permitidos em cada uma das dez equipas que vão participar na edição da Liga TMN 2006/2007 era, à partida, uma bonita ilusão, e como tal, de fracasso (pré)anunciado. Bloqueios, obstáculos e omissões de índole diversa, e com fundamentos e objectivos mais ou menos transparentes, foram sucessivamente retardando e inviabilizando a discussão e a sufragação da proposta do Barreirense, que de resto nem chegou a ir a votos na supracitada reunião de ontem na bonita e simpática cidade do Liz.
Mentira, Hipocrisia e Irresponsabilidade perpassam neste momento, e de forma muito evidente, pela LCB, incapaz de compreender e assumir a realidade, de a enfrentar com realismo e coragem, de empreender a reforma do basquetebol dito profissional em Portugal. Fechada em torno de interesses e cumplicidades de maior ou menor nitidez, mas de total inaceitabilidade, a LCB parece caminhar, se o status quo prevalecer e se perpetuar, para o definhamento e agonia. Sem apostarem de forma estruturada e substantiva na fundamental Área da Formação, a maior parte dos clubes que ano após ano vêm integrando o quadro competitivo da LCB, recorrem obviamente de forma totalmente facilitista e imediatista, à importação de atletas estrangeiros para formatação dos ‘cinco iniciais’.
Esta é, também, a realidade da maior parte dos países da nossa dimensão basquetebolística (Bélgica, Inglaterra, Áustria, etc.) onde as suas competições profissionais também se alimentam de imensos atletas estrangeiros, fundamentalmente oriundos dos EUA. Daí vem resultando, de forma muito clara, e com claras e nefastas consequências, uma redução da participação dos atletas nacionais e uma maior dificuldade de afirmação de novos talentos. Paralelamente, e restringindo-me ao caso português, em que isso é por demais óbvio, a nível da Selecção Nacional sénior e da Selecção Nacional sub-20, os constrangimentos à sua qualidade e enriquecimento são avassaladores.
Parece assim poder concluir-se pela incompatibilidade evidente, nos moldes actuais, entre os interesses do basquetebol nacional e os interesses da maior parte dos clubes que integram a LCB, cujas estratégias de curto prazo e busca de êxito fácil parecem sobrepor-se aos supremos interesses da modalidade. O Barreirense tem plena consciência desta realidade e contradição, mas manter-se-á fiel a uma avaliação diferente da que neste momento prevalece na LCB. Como principal Clube Formador (clube português com maior número de praticantes de minibasket masculino, dez atletas nas Selecções Nacionais de sub-16, sub-18 e sub-20, Campeão Nacional 2005/2006 de sub-14, sub-18 e sub-20 e Vice-Campeão Nacional de sub-16) o Barreirense prosseguirá a sua Obra. Continuará a formar sucessivas gerações de basquetebolistas e a propiciar aos mais competentes um lugar na sua equipa sénior, e onde a contribuição de um número restrito de atletas não-nacionais deverá adicionar envergadura e experiência, para uma maior competitividade, factor decisivo para o crescimento e desenvolvimento dos nossos jovens praticantes.
Não há vitórias morais?
Essa agora...


Ficção

Tive uma participação efémera no Fórum BasketPT, fórum que ganhou maior expressão, dinamismo e participação após a extinção do Fórum LCB, ocorrida em 2006. Procurei ter uma postura responsável, mesmo que a coberto de um nickname protector.
A propósito da necessária e, em minha opinião, inevitável redução do número de atletas estrangeiros permitidos na competição profissional, lembrei-me de, por uma vez, entrar por caminhos da ficção e do humor, que apenas episodicamente utilizo na expressão escrita das minhas ideias e convicções. Recordo com satisfação, a peça que aí escrevi em 6 de Abril de 2007, onde ironizei acerca de um (falso) volte-face da política desportiva da Secção de Basquetebol do FCB:

Quis um oportuno e feliz acaso que duas ocorrências, recentíssimas, tenham bafejado a Secção de Basquetebol do Barreirense. Com efeito, soubemos de fonte acima de qualquer suspeita, que uma empresa portuguesa ligada à área das novas tecnologias de informação e lazer, em processo de afirmação nacional e em vias de se internacionalizar, resolveu investir no Barreirense Basket, procurando uma adequada sinergia com o projecto “jovem, dinâmico e ambicioso” que vem caracterizando o nosso histórico Clube. Por outro lado, um indefectível adepto Barreirense, há pouco contemplado com um primeiro prémio de um dos jogos de fortuna da Santa Casa, resolveu atribuir uma pequena percentagem do referido prémio (mas para nós muito significativa) à Secção de Basquetebol do Barreirense.
Segundo fomos informados, em reunião da Junta de Salvação Nacional (JSN) expressamente convocada para o efeito, foi amplamente debatida a nova conjuntura financeira da Secção, tendo sido decidido, por unanimidade e em ambiente de grande fervor clubista, reposicionar a sua estratégia desportiva, no sentido de, pela primeira vez, no histórico da sua participação na prova maior da LCB, apostar de forma clara e inequívoca no apetrechamento humano da equipa profissional. Assim, e repete-se, sem qualquer voto contra, foi decidido anular a contratação dos dois atletas norte-americanos recentemente concretizada e, avançar para um sério e criterioso reforço da equipa, com a aquisição de cinco atletas do país do Tio Sam, com créditos firmados e alguma experiência de Ligas Europeias.
Um dos elementos da JSN, mostrou-se inicialmente renitente na aceitação deste volte-face estratégico da Secção, tendo chamado a atenção para o facto de talvez ser mais prioritária, entre outras, a aquisição de um piso para o recinto do Ginásio-Sede e o reapetrechamento do seu Departamento Médico, nomeadamente pela compra de um moderno ressuscitador. Todavia, os restantes elementos da JSN, foram extremamente inteligentes e persuasivos, no sentido de convencer aquele elemento ‘juntista’ de que estavam finalmente criadas todas as condições para o Barreirense poder, finalmente (!), lutar pelo título nacional da Liga TMN, que este ano, se apresenta mais forte e competitiva que em anos transactos.
Desta forma, todos os elementos da JSN vão poder concentrar todas as suas energias na área desportiva da Secção, sendo a partir de agora despiciendos todos os esforços no sentido de angariação de receitas provenientes de dinâmicas diversas (revista Barreirense Basket, site oficial do Barreirense Basket, sorteios, espectáculos, lugares cativos, donativos individuais, pequenas parcerias, etc.) e que terão sido vitais para a sustentabilidade financeira da Secção, nomeadamente desde o processo de autonomização (administrativa, financeira e desportiva) encetada há dois anos.
É da mais elementar justiça, reafirmar que a Secção vai continuar a apoiar a sua Formação, canalizando (como nos últimos dois anos) a totalidade dos recursos provenientes da celebração do Contrato-Programa com a Câmara Municipal do Barreiro, para esse fulcral sector de actividade do Barreirense Basket.
A delegação do Barreirense que vai participar na próxima sexta-feira na reunião geral dos Clubes da LPB, foi instruída e mandatada para, de forma clara, corajosa e despojada de preconceitos, apresentar esta nova realidade do Barreirense perante os seus pares, solicitando a revogação das propostas que vinha apresentando no órgão máximo da Liga no sentido de reformar o panorama do basquetebol português e de cujo conteúdo foi dado amplo destaque por toda a comunicação social.
A confirmar-se a implementação desta nova situação, que nas últimas vinte e quatro horas foi tema de destaque, felicidade e regozijo por toda a tertúlia basquetebolística do Barreiro, importa que os ‘foristas’ Barreirenses (alguns dos quais integram, ao que julgamos saber, a JSN) que vêm pugnando por uma concepção outra da modalidade em Portugal e, por essa via, têm sido incompreendidos e maltratados por adeptos de outros clubes, dêem um sinal inequívoco de arrependimento e mea culpa.
Viva o Barreirense!

[Fim do Capítulo I - Nascer e Crescer

Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)