sexta-feira, outubro 24, 2008

Memória Barreirense (XII)



Parceiros

A sustentabilidade do basquetebol Barreirense, pelo menos na dimensão competitiva actual, implica uma busca incessante de apoios financeiros, cuja concretização se tem revelado, e continuará muito provavelmente a revelar, particularmente difícil. Com uma estrutura amadora nessa área e num contexto económico regional e nacional claramente recessivos, a Secção de Basquetebol procurou, com toda a abnegação e a eficácia possível, salvaguardar anteriores patrocínios (ex. Cofersan no escalão sénior, Prolar e outros, nos escalões de formação) e obter novas parcerias e outros patrocinadores de grande, média ou pequena dimensão.
Foi uma luta árdua, com vitórias e derrotas, algumas inesperadas e desalentadoras. Procurei, também aqui, dar um contributo positivo, reunindo com administradores ou altos responsáveis de diversas empresas, e sensibilizando empresários locais para o nosso projecto. Valorizámos todas as formas de apoio, agradecemos todos os contributos. A carta que a seguir se transcreve, datada de 7 de Novembro de 2005, ilustra a importância que atribuímos à adequada formalização de todo e qualquer pedido de parceria ou patrocínio:

Caros amigos Rosário e Miguel Amado [Empresa Projecto]:
A Secção de Basquetebol do Futebol Clube Barreirense solicita, a exemplo de anos recentes, a vossa colaboração financeira para o patrocínio da nossa modalidade.
Permanecemos fiéis ao nosso projecto de promoção do basquetebol na juventude Barreirense, alicerçado em elevados critérios de exigência, ambição, competência e desportivismo.
Certos de podermos continuar a contar com a vossa inexcedível compreensão para as nossas dificuldades, aguardamos oportuna resposta a este nosso pedido de patrocínio.
Sem outro assunto de momento e com os melhores cumprimentos,
Paulo Calhau
(Director da Secção de Basquetebol do FC Barreirense)

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Haja Saúde

Em Setembro de 1951 e com organização do FCB, iniciou-se no Barreiro um Torneio Popular de Basquetebol. O regulamento, publicado na edição de 6 de Setembro do Jornal do Barreiro – semanário que patrocinou a competição –, referia no seu ponto terceiro que “os inscritos serão submetidos a inspecção médica antes de iniciarem os treinos preparatórios para participarem no torneio”.
Considero muito impressiva e curiosa esta preocupação pela Saúde no Desporto revelada pelo FCB em tempos já tão distantes. A exigência de acompanhamento médico dos praticantes de basquetebol e das outras modalidades tem sido uma constante no FCB. Essa foi uma das preocupações que a Secção de Basquetebol que integrei no mandato directivo de 2004-2006 perseguiu com exigência e sentido de responsabilidade. Apesar dos constrangimentos orçamentais e das limitações estruturais do nosso posto clínico, houve uma indiscutível vontade de rigor nas inspecções médicas e no acompanhamento regular dos atletas com a presença permanente de fisioterapeuta nos jogos e nos treinos (!) de todas as equipas, do escalão de Cadetes (sub-16) aos seniores.
Em Portugal, como em tantos outros países, há ainda muito por fazer no âmbito da Medicina Desportiva. É uma área nem sempre devidamente valorizada pelos clubes, que para ela canalizam investimento muito limitado a nível de recursos humanos e materiais qualificados. Foi o que pretendi alertar com o texto que publiquei em 2006, no nº 1 do Ano II da Barreirense Basket:

Morte súbita: reflectir e agir
No final da época de 2003, o avançado senegalês Khalilou Fadiga, transferiu-se do Auxerre para o Inter de Milão, camisola que não chegou a envergar, na sequência do veredicto da equipa médica lombarda: “Inapto”. Uma arritmia importante, incompatível com a prática competitiva, inviabilizou a carreira desportiva do promissor atleta.
Já em 1996, a equipa médica do Inter de Milão diagnosticara uma insuficiência valvular aórtica ao atacante nigeriano Kanu que, após cirurgia correctiva, pôde prosseguir a actividade de alta competição.
São dois exemplos, da qualidade dos serviços clínicos de um prestigiado clube, onde o rigor das avaliações médicas efectuadas aos seus atletas deverá ser motivo de reflexão. A Itália é, neste particular, um dos países mais avançados em termos de legislação e aplicação dos seus regulamentos. Desde 1971 que a Lei de Protecção Médica das Actividades Atléticas impõe a realização de um conjunto de exames preventivos com vista à obtenção da declaração de aptidão para a prática desportiva. Reafirmada em 1982, a legislação italiana impõe um electrocardiograma de esforço anual e um ecocardiograma em todos os casos de suspeita de doença cardiovascular.
As mortes do camaronês Marc-Vivien Foé, do húngaro Miklos Fehér, do português Paulo Pinto e, mais recentemente, do poste americano dos Atlanta Hawks Jason Collier, foram ocorrências dramáticas que, como é habitual nestas situações, motivaram manchetes de jornais e revistas, notícias de abertura em telejornais, mas que, infelizmente, não parecem ter merecido das entidades competentes, uma leitura e reflexão suficientemente séria e credível. No início de 2005, a morte súbita de quatro jovens suecos, de idade compreendida entre os 8 e os 15 anos, espoletou uma série de recomendações das entidades desportivas daquele avançado e próspero país nórdico. Essas normas vão de encontro à rigorosa e exigente prática italiana e às recentes recomendações da Sociedade Europeia de Cardiologia.
O prestigiado jornal francês Le Monde e outras publicações generalistas ou científicas vêm divulgando e debatendo com seriedade, rigor e bom-senso esta importante problemática. Mas muito há ainda a fazer.
Prometemos voltar a este tema.

No início desse ano, a 19 de Fevereiro, aquando da Final Four regional de Sub-16, disputada no Pavilhão do Seixal FC, o atleta João Guerreiro caiu desamparado e fracturou o antebraço esquerdo, quase a findar o primeiro período de jogo. Procedi à imobilização do membro com algum material improvisado. Contactei de imediato o Serviço de Urgência Pediátrica e a Urgência de Traumatologia do Hospital Garcia de Orta, avisando da ocorrência e da necessidade de o atleta aí ser assistido. Chegados ao Hospital e cumpridas as necessárias formalidades burocráticas, o João Guerreiro efectuou o indispensável estudo imagiológico e a colocação de uma tala gessada, a cargo do Ortopedista Mário Tapadinhas, meu particular amigo, e que curiosamente estava ligado à modalidade, uma vez que o seu filho era então minibasquetebolista do Montijo Basket. A rapidez dos procedimentos permitiu ao João Guerreiro regressar ao Pavilhão pouco tempo depois da entrega do troféu de Campeão Regional, mais uma vez conquistado pelo FCB. O que lhe facultou o festejo, com os companheiros, do seu primeiro título ao serviço do clube. Fiquei muito feliz por ter contribuído para aquele momento. Tal como os seus pais, que estiveram sempre próximo de mim, e que souberam reconhecer o meu empenhamento pessoal, que noutro contexto teria certamente inviabilizado a participação do João Guerreiro no momento da consagração da vitória recém-conquistada.
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Pais e Educadores

Apesar de muito debatida na Secção de Basquetebol ao longo da temporada 2004/2005, a necessária e justificada contribuição financeira dos pais dos atletas das nossas equipas de formação, não foi devidamente implementada nessa época. Na segunda temporada de mandato directivo, entendemos estarem criadas novas condições para mobilizar todos os pais nesse sentido. Porque: julgávamos ter demonstrado seriedade, competência e transparência no primeiro ano de gestão; tínhamos então toda a avaliação pormenorizada dos custos da Secção, nomeadamente no que respeitava a cada uma das equipas; podíamos demonstrar com rigor que essa era, numa dimensão muito mais onerosa para os pais, a realidade num número cada vez maior de clubes. O que podíamos prometer em contrapartida? A prossecução de padrões elevados de formação desportiva; a promoção de importantes valores pedagógicos e educacionais; o acompanhamento médico regular e eficiente a todos os praticantes.
Disponibilizei-me para organizar e concretizar essas reuniões de pais. Foi um trabalho interessantíssimo, com retorno positivo para todos os intervenientes. Mas, como quase sempre acontece, um percurso incompleto e inacabado. A acta que a seguir se publica é demonstrativa do que acabo de transmitir, um exemplo do que ocorreu com todos os escalões do basquetebol de formação do FCB:

Às 21h30 de 29 de Outubro de 2005 realizou-se, no Ginásio-Sede uma reunião convocada pela Secção de Basquetebol do FCB, com pais (ou seus representantes) dos atletas da equipa de Cadetes A.
Estiveram presentes:
Secção de Basquetebol: Paulo Calhau e Carlos Varandas. Pais/representantes dos seguintes atletas: Alexandre Coelho, Filipe Pinheiro, Filipe Sousa, Francisco Pires, João Duarte, João Miguel, Ruben Dias, Tiago Raimundo.
Em nome da Secção de Basquetebol, o Director Paulo Calhau enunciou os objectivos principais da reunião:
- apresentação sumária do projecto da modalidade no clube
- divulgação das dificuldades financeiras e logísticas da Secção
- pedido de colaboração activa dos pais
O Director Paulo Calhau:
- lamentou a convocação tardia da reunião, mas salientou a importância da sua realização e a necessidade da sua periodicidade (trimestral).
- destacou os custos de funcionamento da Secção, as dificuldades logísticas que se perspectivam no curto prazo (nomeadamente no que se refere ao transporte de atletas para os jogos a realizar fora do Ginásio-Sede).
- assinalou a ambição (formativa e desportiva) da Secção e a exigente atenção prestada ao acompanhamento médico e educativo dos atletas.
Do diálogo posteriormente estabelecido resultaram algumas propostas dos Pais, a saber:
- redução dos custos com a organização dos jogos da formação
- melhor difusão da revista Barreirense Basket
- implementação de Centro de Explicações no Ginásio-Sede
Foram aprovados os seguintes aspectos:
- pagamento de uma anuidade por todos os atletas (valor mínimo de setenta e cinco euros)
- colaboração dos pais para o transporte de atletas
- entrega pela Secção de um bilhete/jogo/atleta, para as partidas da equipa sénior a realizar no Pavilhão Luís de Carvalho.
Barreiro, 1 de Novembro de 2005
Paulo Calhau
(Director da Secção de Basquetebol do FC Barreirense)


O papel desempenhado pelos pais e outros encarregados de educação tem sido fundamental para a dinâmica e o sucesso do basquetebol no FCB. Conheço melhor a realidade nesta modalidade, mas julgo que as principais linhas de força são semelhantes às existentes no futebol.
A sua presença nos treinos e nos jogos é estimulante para os jovens. Fornece-lhes protecção e segurança, estímulo e confiança. Os pais podem também desempenhar outras importantes tarefas no seio dos grupos de trabalho, em áreas tão diversas como o seccionismo, estatística, audiovisual, comunicação. Prestam precioso auxílio nos transportes e nas deslocações para concentrações, jogos e torneios. Colaboram na aquisição de patrocínios e parcerias, fundamentais para a sustentabilidade financeira das equipas.
São por vezes antigos atletas, dirigentes (ou ex-dirigentes) treinadores (ou ex-treinadores), árbitros (ou ex-árbitros). O que lhes confere um outro conhecimento dos fundamentos, potencialidades e peculiaridades da modalidade. E lhes acrescenta responsabilidade na forma de estar e de agir. Nem sempre assumida de forma pedagógica e socialmente equilibrada e sensata. Como pretendi assinalar em Agosto de 2006, num texto publicado no Fórum BasketPT:

Gigantes del Basket, excelente revista dirigida por Paço Torres, revela-nos semanalmente a verdadeira dimensão, o elevado nível de exigência e a enorme dinâmica do basquetebol espanhol. Na edição de 1 a 7 de Agosto de 2006 (Nº 1083), Javier Imbroda, responsável técnico pela Selecção Nacional de Espanha de Sub-20, que teve uma decepcionante participação no Europeu disputado de 14 a 23 de Julho em Izmir (Turquia), abordou essa prestação, em entrevista a Quique Peinado.
A propósito dos graves problemas disciplinares ocorridos com José Angel Antelo e Alberto Aspe e que culminaram na sua exclusão da equipa nacional, Javier Imbroda referiu nomeadamente que “para jugar al basket hay que tener cualidades técnicas y físicas. Para pertenecer a un equipo, además, hay que tener calidad humana. (…) Sus faltas de actitud han sido gravísimas.”
E, mais adiante “Esos jugadores tienen que reflexionar, incluso otros dentro del equipo que seguían un poco su estela, aunque sin llegar tan lejos, también. Lo tienen que tener claro ellos y sus familias, que a veces no son conscientes do lo que hacen sus hijos y no solo consienten, sino que incluso protegen, estas actitudes diciendo que la decisión de apartar a estos chicos del equipo era injusta o inmerecida. En esos casos, no forman a sus hijos, sino que los deforman (…)”.
Estas últimas palavras de Javier Imbroda, experiente e respeitadíssimo treinador espanhol, remetem-nos para uma questão que é, em nossa opinião, crucial no projecto educacional (desportivo e cívico) do Barreirense Basket: o papel dos encarregados de educação dos nossos praticantes.

Quando escrevi este texto num Fórum visitado e participado por algumas centenas de cibernautas – nem sempre pelas melhores razões e com os propósitos mais recomendáveis – tive como objectivo levantar uma questão que considero muito pertinente. Procurei despertar algumas respostas, inspirar contributos para uma reflexão necessária. Nem um único post foi publicado. Registei e lamentei…

[Excerto do Capítulo II - Servir
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)