segunda-feira, outubro 20, 2008
Memória Barreirense (X)
Primeiros passos
A eleição da nova equipa directiva apenas em finais de Julho revelou-se particularmente inoportuna, pelas dificuldades acrescidas na programação da época desportiva que se iniciaria cerca de um mês depois.
Após um ano de actividade profissional intensa e exigente, era imperioso recarregar baterias e dedicar algum tempo à companhia da família, a quem eu prometera dentro de limites razoáveis, não penalizar excessivamente pela decisão de integrar durante dois anos os Órgãos Sociais do meu clube.
Com uma viagem para a República Dominicana há muito programada, foi com alguma ansiedade e inquietação que, no início de Agosto, parti de férias. Quando havia tanto para fazer no FCB…
Apesar da distância, fui acompanhando diariamente alguns desenvolvimentos da Secção de Basquetebol. Por telemóvel e através da Internet. A leitura de http://www.lcb.pt/, Fórum da Liga de Clubes de Basquetebol, trouxe uma surpresa inicial bem desagradável, que me despertou imensa desilusão. Porque surgiram as primeiras críticas, insidiosas ou frontais, caluniosas até, à figura de Francisco Cabrita. Eu próprio, que supunha não ter muitos anticorpos internos, fui também alvo de insinuações e agravos, que me magoaram e entristeceram. Parecia afinal que a memória de alguns, demasiado curta e parcial, tinha esquecido, rápida e malevolamente, as dificuldades e ameaças recentes, que tinham espoletado um importante e inesquecível movimento de dinamização do basquetebol Barreirense. Por isso entendi como claramente injustas, prematuras e despropositadas as críticas de que começava a ser alvo. Devo todavia esclarecer, em abono da verdade, que os protagonistas dessas e outras manifestações de desagrado, ciúme e outros afectos com que fui presenteado, se revelaram, ao longo dos dois anos em que exerci funções directivas, manifestamente minoritários no conjunto dos muitos, leais e indefectíveis servidores da Secção de Basquetebol.
De Punta Cana para Lisboa, tentei influenciar um bom amigo para um hipotético patrocínio da instituição bancária de que era funcionário. E em momentos diversos da minha estadia por terras centro-americanas fui reflectindo e projectando algumas acções a implementar na temporada que estava aí à porta.
Duas semanas depois, regressado a Portugal, sabia que as tarefas que me aguardavam seriam imensas, as minhas limitações inevitáveis. Mas tinha uma enorme vontade de servir o FCB – não apenas na vertente do basquetebol – e acreditava nas minhas capacidades e no grupo de trabalho que estávamos construindo. Condições que supunha suficientes para encetar e desenvolver com êxito os compromissos que tinhamos assumido.
A aceitação de um cargo dirigente constituiu um imperativo de consciência. Tive a noção, desde muito cedo, das previsíveis consequências pessoais, familiares e profissionais que essa decisão poderia vir a acarretar. Julguei-me preparado para as enfrentar. À Isabel e ao Ricardo pedi compreensão pelas ausências e outros distanciamentos. À Ana Jorge, Directora do Serviço de Pediatria do Hospital Garcia de Orta, prometi continuar a cumprir com zelo e competência a minha actividade clínica, mas antecipei um decréscimo de intervenção nas áreas formativa e científica.
Vertigem
Ainda com cerca de três semanas de férias por cumprir, prescindi de qualquer outra actividade de recreio e de lazer, e abracei com paixão e devoção, porventura excessivas, a causa do FCB em geral, e do basquetebol em particular.
Tínhamos uma ideia, uma visão para a Secção de Basquetebol. Era necessário definir as tarefas mais imediatas e iniciar a sua concretização. E planear as estratégias de médio e longo prazo, que abrissem novos horizontes, combatessem inércias (e inépcias) antigas, sustentabilizassem o futuro da modalidade no FCB. Avançando com realismo, nomeadamente pelos crónicos constrangimentos financeiros, mas com muito empenho e confiança.
Num Barreiro quase deserto e com Francisco Cabrita ainda ausente em gozo de férias, passei horas solitárias no segundo andar do Ginásio-Sede, na Secção de Basquetebol. Consultando documentos, lendo regulamentos e organizando ficheiros.
Tudo se acelerou em finais de Agosto. Foram reuniões consecutivas, nem sempre fáceis e pacíficas. Longas maratonas, em horário pós-laboral, com bolachas e água mineral que faziam as vezes de uma refeição digna desse nome, que se ia sucessivamente adiando. Para contratar os treinadores das equipas de formação, os atletas e os membros do corpo clínico. Para endereçar convites a seccionistas e outros futuros colaboradores da Secção. Para tanto mais…
A contratação do treinador principal da equipa sénior – escolha que veio a recair em José Luís Damas – foi demasiado protelada. Num processo complicado, aqui e ali inquinado por experiências passadas, a sua concretização foi indiscutivelmente tardia, responsabilidade cuja quota-parte assumo com frontalidade. A formulação do plantel sénior que iria participar pelo quinto ano consecutivo na Liga Profissional, pecou igualmente por tardia, neste caso com culpas mais repartidas – Direcção e Equipa Técnica.
Paralelamente, uma imensidão de tarefas necessitavam de planeamento e execução, a um ritmo quase sempre frenético, com um nível de exigência que me fragilizou física e psiquicamente, até porque, repito, assumira o compromisso de continuar a cumprir, com rigor e exigência, a minha actividade hospitalar de Pediatra.
A criação de uma revista dedicada à modalidade e de um site oficial do basquetebol foram projectos que definimos como prioritários, e para os quais dediquei precocemente uma particular atenção e um grande esforço. A organização e divulgação dos jogos no Pavilhão Luís de Carvalho, os protocolos com a Câmara Municipal do Barreiro e com outras entidades, o esforço de aquisição de novos e significantes patrocínios da equipa sénior e das equipas de formação (além da preservação dos já estabelecidos anteriormente) foram tarefas particularmente exigentes. A reorganização do departamento clínico e a implementação das inspecções médicas a um número muito elevado de atletas dos escalões de competição, foram algumas outras actividades que me ocuparam e assoberbaram, por vezes quase até à exaustão.
As reuniões da Secção prolongavam-se pela noite fora, com enorme participação e democraticidade, mas com exasperante e por vezes injustificada duração. Não deveria ter sido assim. Mas a verdade é que foi assim.
A Revista
A área de comunicação, pela qual fui o principal responsável, foi entendida como prioritária pela generalidade do colectivo da nova Secção de Basquetebol. Pretendeu-se, de forma mais intensa e objectiva que anteriormente, estender a divulgação das nossas actividades e dos nossos protagonistas a um número alargado de adeptos.
Com a participação de Carlos Pires, José Almeida Fernandes, José Seixo e Manuel Fernandes, caminhámos com segurança e com criatividade para a estruturação da revista Barreirense Basket, em que assumi o cargo de Director. Procurámos cativar a grande massa adepta Barreirense com um produto novo, atractivo e de qualidade. Conseguimos uma carteira significativa de anunciantes. Uma parceria com a Miopia permitiu a gratuitidade da sua composição e impressão. Levámos a Barreirense Basket a todos os clubes da Liga de Clubes de Basquetebol e a muitos outros clubes, organismos e entidades ligadas à modalidade.
“O regresso, em grego, diz-se nostos. Algos significa sofrimento. A nostalgia é portanto o sofrimento causado pelo desejo insatisfeito de regressar.” (Milan Kundera, A Ignorância, Edições ASA, 2001).
A apresentação pública do primeiro número da Barreirense Basket, realizado no Ginásio-Sede, na noite de 24 de Novembro de 2004, marcou o meu regresso às actividades directivas, após uma interrupção de algumas semanas, por doença. Ainda convalescente e debilitado tive um enorme prazer em divulgar a primeira edição, na companhia do Vereador Amílcar Romano, de Manuel Lopes e de Francisco Cabrita, e perante uma larga audiência de companheiros e amigos. Foi uma noite que não esquecerei.
A capa do número inaugural, com uma magnífica fotografia de João Betinho Gomes, destacava os principais temas desenvolvidos no interior: entrevista ao grande atleta, efeméride da vitória da Taça de Portugal de 1983/1984, reportagem da Gala de Apresentação da época 2004/2005 e entrevista com Francisco Barrenho, velha glória do dirigismo Barreirense. No editorial escrevi:
Nasceu a revista Barreirense Basket!
Representa uma nova aposta enquadrada no projecto editorial e comunicacional da Secção de Basquetebol do Barreirense.
Saudamos, neste momento particularmente relevante da nossa actividade, todos os amantes desta extraordinária modalidade, praticada no Barreirense desde 1927.
Em cada edição estarão presentes a notícia, a reportagem, a entrevista, a opinião, o comentário, a efeméride. Acompanharemos todas as actividades desportivas do basquetebol do Barreirense, do minibasket à equipa sénior que participará no X Campeonato da Liga TMN. Estaremos atentos às prestações das nossas Selecções e ao acompanhamento da NBA e das principais ligas europeias. Daremos particular atenção a temas de áreas tão diversas como a arbitragem e as leis do jogo, a medicina desportiva, a nutrição e a psicologia.
Apelamos à participação de todos quantos se sentirem estimulados por este projecto e agradecemos a valiosa colaboração dos nossos leitores, assinantes, patrocinadores e anunciantes, fundamental para a sustentabilidade financeira da revista.
Barreirense Basket assinala a vitalidade do basquetebol Barreirense, evidenciada mais uma vez com invulgar brilho, participação e alegria, na noite de 15 de Setembro, em memorável cerimónia de abertura da época 2004/2005, realizada no mítico Ginásio-Sede do Barreirense e testemunhada por cerca de mil pessoas.
Francisco Barrenho, glória do dirigismo Barreirense, foi justamente distinguido por 35 anos de dedicação ao clube e ao basquetebol, num momento de incontornável emoção e significado. Foram apresentados cerca de 200 atletas (14 internacionais), acompanhados pelas respectivas equipas técnicas, médicas e de seccionistas. Foi o testemunho claro e inequívoco da riqueza de um património humano de invejável qualidade, garante do presente da modalidade e de um futuro que se deseja alicerçado num projecto moderno, ambicioso e competitivo.
A época de 2003/2004 foi espectacular para o basquetebol Barreirense. Obtivemos um excelente 7.º lugar na fase regular da Liga TMN e a consequente participação no playoff de apuramento do título, onde estivemos muito perto de eliminar o Queluz no 5º e decisivo jogo, que perdemos de forma injusta e infeliz no último segundo. Num conjunto muito jovem e valioso de atletas, destacou-se o norte-americano Tyray Pearson, MVP do campeonato. Merece ainda todo o destaque e o nosso mais genuíno orgulho, a conquista dos títulos de Campeão Regional de Cadetes e Juniores A e de Campeão Nacional de Cadetes e Juniores B.
Barreirense Basket deseja que a época competitiva que agora desponta, se desenrole no mais salutar fair play, acompanhada de forma vibrante e entusiástica pelos nossos adeptos e com resultados pelo menos tão relevantes como os alcançados na época anterior.
Força Barreirense!!!
Os cinco números publicados nessa temporada foram um exemplo de sucesso comunicacional e financeiro, confirmando o enorme potencial de crescimento e sustentabilidade de um projecto deste tipo. Um conjunto de dificuldades e incompreensões criou obstáculos à sua publicação na época de 2005/2006, que veio apenas a conhecer uma edição, com novo grafismo, renovação editorial e idêntica aceitação.
O sítio
Outro dos projectos desenvolvidos e concretizados foi a criação do site oficial do basquetebol. Também aqui a colaboração empenhada, inteligente e criativa de José Almeida Fernandes se revestiu de assinalável importância na concepção, formulação e manutenção do site. Carlos Garcia, da empresa Inforsantos, e meu velho amigo, foi o responsável pela área informática.
Em 3 de Fevereiro de 2005, num texto inaugural, pré-anunciando o http://www.fcbarreirense.pt/, escrevi:
Está prestes a nascer o site oficial do basquetebol do FC Barreirense. A exemplo da revista Barreirense Basket, representa mais uma aposta enquadrada no projecto editorial e comunicacional da Secção de Basquetebol do Barreirense. Depois de alguns meses de concepção, preparação e experimentação, eis chegado o momento de o inaugurar oficialmente. É com muito agrado que registamos o esforço até agora desenvolvido por um conjunto alargado e competente de adeptos do basquetebol Barreirense. É com natural ansiedade e expectativa que aguardamos pela sua aceitação e divulgação.
Tal como a revista, também o nosso site é, e será sempre, uma obra inacabada, imperfeita, sedenta do contributo de todos quantos apreciam e se revêem neste projecto. Poderemos a partir de agora comunicar de forma mais célere, acessível e ampla. Divulgaremos a agenda desportiva da semana e, tão rápido quanto possível, os resultados, comentários e avaliação estatística dos jogos de todas as nossas equipas. Estaremos atentos às notícias do basquetebol praticado em Portugal e no estrangeiro, dedicando particular atenção à NBA. Estimularemos a crítica, o comentário e a opinião. Apelaremos à vossa participação numa sondagem semanal.
Ainda na fase experimental, o nosso site foi, desde o primeiro dia, visitado diariamente dezenas de cibernautas. Estamos certos que, com a sua entrada a todo o vapor, seremos acompanhados por um número crescente de visitantes, ávidos de notícias e informações do basquetebol Barreirense.
Mãos à obra!!!
Este projecto, em boa hora implementado, veio a revelar-se fundamental para a divulgação das nossas actividades e para a mobilização dos adeptos. Com uma média diária de mais de 250 hits, a sua continuidade e renovação atestam a força deste magnífico veículo comunicacional, que importa preservar e melhorar a cada dia.
[Excerto do Capítulo II - Servir
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)