terça-feira, outubro 28, 2008

Memória Barreirense (XIV)



Intolerância?

A temporada de 2005/2006 foi menos pacífica que a anterior, no que se refere ao relacionamento entre os diversos componentes dos órgãos de gestão da Secção de Basquetebol.
A decisão, maioritária entre os seus doze membros, de não renovar contrato com o treinador José Luís Damas, foi o rastilho que alguns, poucos mas destabilizadores e irresponsáveis, quiseram acender. Com toda a verdade, clareza e frontalidade é preciso repetir: o processo interno de discussão e votação que conduziu à escolha do seu sucessor, Mário Gomes, foi amplamente participado, livre e democrático. E mais: foi sustentado na definição prévia de um perfil, suportado numa profunda avaliação curricular e ajustado às disponibilidades financeiras da Secção. Os vencidos nunca aceitaram a decisão da maioria. Conspiraram de forma mais ou menos velada. Deterioraram relacionamentos. Causaram danos e perdas. Enormes!
Quando em 9 de Novembro de 2005 publiquei em
www.fcbarreirense.pt o texto que a seguir se reproduz, fi-lo em defesa da Secção de Basquetebol e de Mário Gomes, escolhido para exercer o difícil mas honroso cargo de treinador da equipa sénior e coordenador da formação. Admito que possa ter sido considerado intolerante na minha postura, mas passados cerca de dois anos, não me arrependo do que então escrevi.

O direito à opinião e à crítica ou o secreto prazer de destruir

[“Até agora ainda não vi valor acrescentado pelo treinador do Barreirense”.
JB, Fórum LCB, 01 de Novembro de 2005]

Há oito dias atrás, o provável adepto Barreirense que escolheu o sugestivo nickname JB registou-se expressamente no Fórum LCB para, de uma forma seca e cínica, supostamente mordaz e mortífera, colocar em causa o treinador da equipa sénior e coordenador técnico do Barreirense Basket, Prof. Mário Gomes.
Embalado certamente pelas três derrotas que, para nosso desencanto, sofrêramos em outras tantas jornadas da edição 2005/2006, JB contava provavelmente que novo desaire surgiria na deslocação à ‘Luz’ e, com isso, nasceria qualquer hipotética onda de descontentamento para com a equipa técnica e, obviamente para a Direcção da Secção de Basquetebol do FC Barreirense. Curiosamente, com alguma surpresa (ou talvez não), quatro penosos dias terão passado para JB, que não viu qualquer resposta à sua mensagem ser endereçada ao Fórum. Ficou desiludido? Ficou desencantado? Só o próprio poderá responder.
Que leitura fazer deste isolamento a que os muitos adeptos do Barreirense Basket, que navegam e participam diariamente no Fórum lcb.pt, circunscreveram JB?
- Que há unanimismo em redor do Prof. Mário Gomes e das opções, ponderadas e criteriosas, da Secção de Basquetebol do FC Barreirense? Nem pensar!
- Que cresce a todo o momento o número dos que, nossos consócios, têm consciência das enormes dificuldades que representou, representa e representará a sustentabilidade, o fortalecimento e o crescimento deste Projecto? Porventura sim!
JB quis, provavelmente, incendiar as nossas trincheiras e desestabilizar as nossas hostes. Parece que estava, e está, particularmente isolado nos seus propósitos.
As escolhas e as opções da Secção de Basquetebol do FC Barreirense são, como é óbvio (e serão sempre), discutíveis e criticáveis.
Mas… importa ter memória, não omitir o passado, acreditar no presente, para construir o futuro. Com todos! Repito: com a colaboração de todos! Mas com lealdade, transparência, despojamento e competência. (…)
Toda a Esperança é legítima. Força Barreirense!


A carta

Desde há mais de dois meses que o vinha anunciando. E em meados de Abril de 2006, desiludido com muito do que se estava a passar na Secção de Basquetebol, cansado de guerrilhas estéreis e perigosas, incapaz de reencontrar o prazer de estar ali, resolvi reafirmar, por uma última vez, que partiria no final do mandato.
Assumo a minha quota-parte de responsabilidade nesse fluir de degradação do ambiente interno da Secção. Mas sei, como outros sabem, que não fui o principal responsável.
Foi um texto duro, mas reflectido. Emotivo, mas consciente. Escrevi então aos meus companheiros, em 12 de Abril de 2006:

Carta aos membros da JSN

Sopram ventos adversos
Junto à praia que se quis
E há sentimentos dispersos
No mar do que se não diz
(Manuela de Freitas)

A necessidade, mas também o prazer, de acompanhar o Miguel Graça [basquetebolista sénior, premiado com o Prémio Revelação, época de 2004/2005] a Oliveira de Azeméis, na passada segunda-feira, provocou-me ajustamentos na vida profissional que, muito provavelmente, condicionarão ou inviabilizarão a minha presença na reunião de dia 17.
Como venho afirmando (julgo que em Janeiro, pela primeira vez) decidi, já há algum tempo, não continuar na Direcção do FCB no mandato que resultará de eleições a efectuar, assim o espero, em Maio próximo. Posteriormente, uma reflexão mais profunda, uma avaliação mais ponderada da minha vida pessoal e profissional, determinaram uma evolução do meu pensamento, expresso em Fevereiro perante todos vós, onde afirmei a minha indisponibilidade, inalienável, total e irrevogável, para participar em qualquer actividade da próxima Secção de Basquetebol do FCB.
O tempo decorrido deste então, nada alterou e, pelo contrário, acentuou a minha decisão que, os que me conhecem de alguma forma ou têm a necessária intuição, saberão reconhecer não ter sido tomada de ânimo leve, ao sabor do vento, qualquer momento de exaltação, ou noite mal dormida. Entretanto, é minha convicção de que passaram as semanas suficientes para que se tenham pensado, arquitectado, esboçado ou mesmo concretizado (desconheço a realidade, neste particular), as perspectivas de continuidade, reforma ou ruptura do trabalho desenvolvido nestes dois anos.
Entendo que tenho toda a legitimidade para abandonar a Secção. Creio ainda que, complementarmente, nenhuma responsabilidade me pode ou deve ser atribuída no que se refere à busca de soluções directivas que urge definir. Não sou parte da solução deste (eventual) problema. Não estou interessado em participar na escolha dos protagonistas que me(nos) sucederão.
Tenho (pres)sentido que a minha decisão que, repito, é legítima e ponderada (mas também dolorosa) não tem sido levada suficientemente a sério por alguns dos membros da Secção (ainda a noite passada o constatei) e por pessoas presentemente nela não integradas organicamente. Repito, por uma última vez: não participarei em qualquer actividade da futura Secção de Basquetebol do FCB.
Estou plenamente consciente das consequências (e das causas) da minha tomada de posição, mas ao mesmo tempo, preparado para as assumir, com coragem e lucidez, incólume a todas e quaisquer incompreensões, insinuações, etc. Aludi, nas linhas iniciais desta minha breve reflexão, a questões pessoais e profissionais que, nos próximos anos, inviabilizarão de per si a minha actividade na Secção. Mas a radicalização da minha posição, que se transformou de uma vontade inicial de recuo do meu nível de atribuições, competências e responsabilidades, para uma irreversível decisão de abandono, tem fundamentos e raízes mais profundas e decisivas.
Como dizem os Psicoterapeutas, o que vale é o sentimento…
Por isso…
Não aguentarei mais algumas vozes inconsequentes que me rodeiam. Não tolerarei mais as faltas de respeito, os bloqueios, as invejas que me incomodam. E mais ainda…
Não estarei ao lado de quaisquer oportunistas ou carreiristas. Não suportarei as fraquezas dos Hércules [nickname de ‘forista’ participante no Fórum LCB], nem as misérias dos Barrax [nickname de ‘forista’ participante no Fórum LCB].
Paulo Calhau


Adeus

Em 9 de Maio de 2006 participei na última reunião de Direcção do mandato 2004-2006. Compareceu, como foi aliás regra nesses dois anos, a quase totalidade do elenco dirigente. Albino Macedo, Presidente do Conselho Consultivo e de Contas, que nos acompanhou com alguma frequência, esteve mais uma vez presente, apesar da delicadeza e instabilidade da sua situação clínica.
Como habitualmente, todos efectuaram exposições relativas a assuntos gerais do clube ou a aspectos concretos da sua actividade directiva. Manuel Lopes apresentou um balanço dos esforços desenvolvidos para dotar o FCB das estruturas indispensáveis à continuação da sua actividade desportiva. Ao contrário do que admitira inicialmente, a venda dos terrenos do ‘Manuel de Mello’, fundamental para a sobrevivência e reorganização do FCB, não foi acompanhada de um desenlace burocrático-administrativo célere e eficaz, susceptível de permitir a concretização rápida e consequente das estruturas que a nossa Direcção projectara.
A etapa final da reunião foi um tempo de balanço e de despedida. Ao reafirmar a minha indisponibilidade, por razões pessoais e profissionais, para integrar a próxima lista eleitoral, quis deixar claro que a minha passagem pela Direcção do FCB foi um experiência inolvidável e que procurei servi-lo com toda a dedicação e competência. Acrescentei que tinha pena de não poder comemorar o meu 50º ano de filiação na dupla qualidade de associado e de dirigente, mas reafirmei dois propósitos: continuar a pensar, a acompanhar e a servir o FCB, e regressar… um dia. A emoção não foi pequena. Não esqueço as palavras amigas e fraternas de alguns companheiros. Mas teve que ser assim…

[Excerto do Capítulo II - Servir
Livro PROVA DeVIDA - Estórias e memórias do meu Barreirense]
(continua)