sexta-feira, outubro 31, 2008

Carta Aberta a Daúto


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Caro Daúto Faquirá:
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Escrevo-lhe estas palavras logo após o desaire sofrido pelo "seu" Vitória de Setúbal.
Fiquei triste pela derrota. Tristeza partilhada com o meu filho.
Nutrimos por si enorme estima, admiração e respeito.
Acompanhei de perto - primeiro enquanto associado (2003-2004), depois como director (2004-2005) - a sua passagem pelo FC Barreirense.
Foi, não tenho qualquer dúvida, um treinador exemplar.
Soube honrar a classe profissional que representa. E dignificar o meu Barreirense.
No livro PROVA DeVIDA dediquei-lhe uma particular atenção, num texto que aqui reproduzo:
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Deixem passar o histórico
Penúltima jornada do Campeonato Nacional de Futebol da II Divisão - Série D. Com quatro pontos de vantagem, o FCB deslocou-se ao Pinhal Novo, procurando assegurar a subida à Divisão de Honra. Grande entusiasmo entre os nossos adeptos, que se deslocaram em número significativo. Tarde de sol e muito vento. Derrota por 3-0. Um piso sintético duro, o vento e o grande empenhamento dos Pinhalnovenses, adiaram a nossa festa, por uma semana. Assim pensei na altura. E bem! Como a generalidade dos Barreirenses presentes…
Seis dias depois, na tarde de sábado de 28 de Maio de 2005, o ‘Manuel de Mello’ viveu o último grande momento de triunfo e exaltação da sua longa e rica história. Mais de 5.000 adeptos rumaram ao nosso estádio e quase lotaram as suas bancadas. Grande ambiente. Confiança ilimitada. Como não se via há muitos anos.
Vitória tranquila, embora tangencial. Com o apito final, a explosão de alegria. Nas bancadas e no relvado, para onde convergiram algumas centenas de foliões. E no balneário Barreirense, onde me dirigi com o Ricardo e com Francisco Cabrita. Vimos muita alegria e algumas lágrimas estampadas naqueles rostos. Não faltaram o champanhe e os banhos da praxe. Cumprimentámos efusivamente Manuel Lopes, Paulo Pardana e Daúto Faquirá, o treinador responsável pelo sucesso.
A festa continuou cá fora, nas principais artérias da cidade. Na Avenida Alfredo da Silva, o trânsito foi parcialmente interrompido, algumas viaturas balançaram sob o efeito de braços mais atrevidos, as bandeiras agitaram-se e os slogan dos nossos adeptos ecoaram vibrantes e triunfais de gargantas já enrouquecidas. Tudo isto presenciei e partilhei com a alegria, a emoção e as lágrimas que nunca consigo conter nestes momentos.
“Deixem passar o histórico…” titulou A Bola no dia seguinte.
E o Jornal do Barreiro de 3 de Junho de 2005, pela mão de Nelson Pereira destacou: “Do sonho à realidade”.
Dois anos depois, a 11 de Abril de 2007, Daúto Faquirá foi o convidado de honra da cerimónia comemorativa do 96º aniversário. No final da sessão, voltei a cumprimentá-lo, na companhia de Francisco Cabrita. Evocámos, naturalmente, aquela tarde inolvidável de Maio de 2005.Creio que os resultados obtidos no FCB, na sequência das suas anteriores experiências enquanto treinador de futebol e confirmado na época passada no primo-divisionário Estrela da Amadora, foram o corolário mais natural do trabalho de um profissional muito competente, sério e culto. Antevejo uma carreira de sucesso para Daúto Faquirá. Que assim seja!
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Infelizmente as coisas não lhe estão a correr de feição.
O chicote espreita. Leviano, cobarde, injusto.
Não me surpreenderam os lenços brancos que lhe acenaram no Estádio do Bonfim. Mas desgostaram-me.
No final da partida, no flash interview, apreciei - uma vez mais - a elevação, a tranquilidade e o desportivismo de sempre.
Esta foi, curiosamente, a semana em que vi a reportagem que a SportTV lhe dedicou.
Quando lhe solicitaram uma expressão telegráfica a propósito de cada um dos clubes por onde já desempenhou funções de direcção técnica, declarou a propósito do Barreirense: "uma paixão".
Sei que foi sincero. E genuíno. Porque é esse o seu sentimento.
Como lhe posso neste momento retribuir o muito que fez pelo meu clube? Não sei.
Mas sei que é merecedor de toda a sorte deste mundo. Para prosseguir uma carreira de mérito. Porque o resto não lhe falta: a competência, a dedicação, a integridade.
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Aceite um abraço sincero e votos de felicidades,
Paulo Calhau

[DESPORTO À PORTUGUESA, www.rostos.pt]