quarta-feira, novembro 19, 2008

Pela Democracia


a
Três pontos prévios:
1. Nunca me filiei em qualquer organização ou partido político. E provavelmente nunca me filiarei.
2. Nunca votei no PSD. E provavelmente nunca votarei.
3. Nunca gostei da política Manuela Ferreira Leite (MFL). E provavelmente nunca virei a gostar.

Volto a MFL − Presidente do PSD.
Ouvi primeiro na rádio. E vi depois na TV.
Foram palavras muito infelizes e despropositadas. No conteúdo e na forma.
Os que saíram em sua defesa − alguns dirigentes da cúpula directiva do PSD − destacaram o sarcasmo, a ironia com que as terá proferido.
Não foi isso que vi. Não foi dessa maneira que as ouvi.

A questão dos seis meses de suspensão da Democracia para pôr Portugal "na ordem" não faz qualquer sentido. Nem a brincar. Ofende o poder democrático da República, legitimado pelo voto popular. Mesmo que discordemos de todas ou algumas políticas. Mesmo que detestemos os tiques autoritários e a soberba e sobranceria de José Sócrates e de alguns dos seus ministros.

Percebo que o PS tenha respondido de imediato. Nem podia deixar de ser assim.
É a luta político-partidária em ebulição. No seu esplendor.
É a crise internacional e interna que importa ao PS “empalidecer” a todo o custo.
Estes “tiros nos pés” de MFL − recorrentes desde que se sentiu pressionada e impelida a falar mais − caem como “sopa no mel” para o Primeiro-Ministro, o seu Governo e o PS.

A resposta de Alberto Martins foi agressiva. Devastadora.
Exagerada para alguns. Não para mim.
Querer comparar uma postura firme mas teimosa deste Governo com um regime ditatorial não eleva nem enobrece quem o faz. Mesmo quando a governação parece assente − demasiadas vezes − em propostas mal fundamentadas e implementadas sem uma adequada preparação e conquista do terreno e dos protagonistas da mudança.
Que estranho conhecimento da História…
Que deplorável qualificação política…

Curiosamente, não foi a questão da “Democracia suspensa” que mais me surpreendeu nas declarações proferidas ontem por MFL.
O que mais estranho e valorizo é a ideia que transmitiu de que as reformas não podem realizadas sem questionar e afrontar os grupos e classes profissionais.
Este não é o PSD reformista, com que poucas vezes me identifiquei, mas a quem reconheço um papel fundamental na Democracia Portuguesa. Partido que, por exemplo, lutou − e bem − pela privatização da comunicação social, quando o PS pareceu enquistado em dogmas sem sentido.

Em política não conta apenas a substância. A difusão das políticas, das ideias, das propostas e das alternativas, tem de ser clara, sem segundas leituras, sem a necessidade quase permanente de se vir a posteriori explicar e esclarecer o que não se conseguiu dizer antes.
Não é uma tarefa fácil. Não está ao alcance de muitos.
A incapacidade comunicacional de MFL é assombrosa e inquestionável.
Mas a o que sinto é que MFL além da "falta de jeito" também não tem muita substância.
E isso é que é grave. Ou, pelo menos, problemático.
a
Depois das declarações de ontem que pode o país esperar de MFL?
Pouco. Muito pouco.
Daí que eu pense que chegou ao fim o curtíssimo, penoso e cinzento consulado da actual Presidente do PSD.
As espingardas voltam a ser contadas, os alinhamentos de grupos e personalidades devem estar a fervilhar.
Quem vem lá?
Pedro Passos Coelho?
Veremos…